Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 52) ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA – MG
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SUMÁRIO

ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA – MG

 

Várnea de Fátima Costa1, Héberly Fernandes Braga2

 

1Bióloga, Especialista em Ciências Ambientais. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – Câmpus Ituiutaba, Ituiutaba – MG. Av. Belarmino Vilela Juqueira, s./n., Bairro Novo Tempo II, CEP. 38.300.120, Ituiutaba, MG, Tel. (34) 3271-4046. e-mail: varneapiloto@hotmail.com

 

2Biólogo e Tecnólogo em Alimentos, Mestre em Engenharia e Ciência de Alimentos. Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – Câmpus Ituiutaba, Ituiutaba – MG. Av. Belarmino Vilela Juqueira, s./n., Bairro Novo Tempo II, CEP. 38.300.120, Ituiutaba, MG, Tel. (34) 3271-4046. e-mail: heberly@iftm.edu.br (Autor para correspondência)

 

RESUMO

O presente trabalho buscou analisar a intensidade e forma da realização de projetos ambientais por escolas públicas e particulares de nível fundamental do município de Ituiutaba – MG, bem como o envolvimento da comunidade escolar. A metodologia aplicada foi a pesquisa exploratória, onde foram levantadas informações sobre o objeto de estudo através de questionários apresentados aos diretores escolares, com perguntas objetivas e subjetivas, respondidas por 18 escolas de um total de 24. Verificou-se que a implantação e efetividade da temática ambiental nas escolas ainda geram dúvidas e dificuldades em grande parte dos professores da educação básica, promovendo abordagens superficiais, e que muitas vezes não promovem o envolvimento dos familiares dos educandos, agentes integrantes do processo de aprendizagem.

 

PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, parâmetros curriculares nacionais, projetos.

 

 

INTRODUÇÃO

A grande expansão das capacidades técnico-produtivas, e o acelerado crescimento demográfico mundial vêm colocando em evidência, ao longo da segunda metade do século XX, a limitação dos recursos naturais e os serviços deles derivados, e que sua escassez ou esgotamento constituem uma séria ameaça ao bem-estar humano, presente e futuro (BRAVERMAN, 1997).

Apesar da crescente conscientização pública sobre a degradação ambiental, problemas regionais e globais continuam crescendo. Mudanças de pensamento e atitude são indispensáveis para se conseguir as transformações almejadas. Nesse aspecto, o trabalho de conscientização das crianças de hoje, futuros cidadãos de amanhã, faz-se necessário. É importante se conhecer a origem dos recursos naturais, seu valor, seu uso, e as medidas traçadas pela sociedade na tentativa de se poder conservá-los.

A educação ambiental surge nesse contexto como uma ferramenta com propósito de auxiliar a mudança de mentalidade e de atitudes entre a relação homem-ambiente. Segundo Marques (1993), um trabalho de educação ambiental será mais rico se tiver como base um levantamento das formas de percepção do ambiente.

De acordo com Dias (2000), a educação ambiental, por ser interdisciplinar, por lidar com a realidade, por adotar uma abordagem que considera todos os aspectos que compõem a questão ambiental (socioculturais, políticos, científico-tecnológicos, éticos, ecológicos, entre outros), por ser catalisadora de uma educação para a cidadania consciente, pode e deve ser o agente otimizador de novos processos educativos que conduzam as pessoas por caminhos em que se vislumbre a possibilidade de mudança e de melhoria do seu ambiente total e da qualidade da sua experiência.

O ambiente escolar deve ser um espaço de transformação da sociedade, pois o saber construído atinge por ressonância todo o conjunto da comunidade, educadores e educandos, seus familiares e os ambientes de socialização. Como bem enfatiza Sato (2002, p. 23-24):

 

A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para atender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

 

Sendo assim, a presente pesquisa objetivou conhecer de que forma são trabalhadas as atividades de educação ambiental no ensino fundamental de escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba – MG, bem como as concepções dos educadores a respeito do meio ambiente e de seu envolvimento com projetos relacionados, voltados em especial à inclusão da comunidade.

 

METODOLOGIA

A presente pesquisa baseou-se na metodologia da interação socioambiental proposta por Lopes (1997), onde a mesma prevê a possibilidade de avaliar os níveis de consciência de uma sociedade através de práticas contemplativas e comunicativas, que devem expressar os mais profundos pensamentos humanos na interação com seu meio. Sendo assim, este trabalho foi desenvolvido em etapas que incluem a aplicação de questionários aos diretores de vinte e quatro escolas públicas e particulares de nível fundamental do município de Ituiutaba – MG, entre os meses de fevereiro a novembro de 2011, visando investigar a existência e o desenvolvimento de trabalhos de cunho ambiental realizados por meio de projetos de educação ambiental, com os alunos do ensino fundamental. O questionário foi composto por 11 perguntas conforme Quadro 01.

 

Quadro 01: Questionário proposto aos diretos de escolas particulares e públicas do município de Ituiutaba, visando-se obter dados a respeito do desenvolvimento de trabalhos de cunho ambiental.

1) A escola desenvolve projetos na área ambiental?

2) Se desenvolve, quais são os projetos que estão sendo desenvolvidos atualmente?

3) Qual a formação específica de cada professor envolvido no projeto?

4) Os professores são incentivados a estarem desenvolvendo pequenos projetos? Como?

5) Quais são as principais dificuldades encontradas pelos professores que desenvolvem projetos?

6) A escola possui área arborizada, horta, ou outros espaços que poderão ser usados para trabalhar a educação ambiental?

7) Os professores realizam atividades com os alunos fora da escola? Quais são os principais locais utilizados por eles?

8) Na escola existe o processo de separação do lixo pela comunidade escolar?

9) O que é feito do lixo separado?

 

 Após o levantamento dos resultados, realizou-se a avaliação do nível de consciência e conhecimento das escolas e o envolvimento delas com o tema fazendo também o comparativo entre escolas públicas e particulares, por meio da tabulação quantitativa das respostas obtidas.

É importante ressaltar que durante toda a pesquisa a identidade das escolas e professores foi preservada.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de escolas pesquisadas, 75% (18/24) participaram respondendo ao questionário, sendo 77,78% (14/18) públicas e 22,22% (4/18) privadas. Essa porcentagem demonstra a preocupação das escolas, em especial dos seus gestores, em colaborar com pesquisas realizadas para avaliar o desempenho das mesmas em relação à implantação e desenvolvimento de projetos ambientais, e da abertura em partilhar os resultados de suas atividades.

 O total de alunos das escolas públicas que participam de projetos mantidos pela mesma somam 8.365, os quais são acompanhados por 257 professores, contra 986 alunos orientados por 40 professores nas escolas particulares.

Conforme observado na Figura 1, 78,56% (11/14) das escolas públicas e 100% (4/4) das particulares, que responderam ao questionário, desenvolvem projetos ao longo do ano.

 

 

Figura 1 – Porcentagem de escolas públicas e privadas participantes da pesquisa que desenvolvem projetos de educação ambiental ao longo do ano, no município de Ituiutaba-MG.


É importante ressaltar que das escolas públicas que desenvolvem projetos relacionados ao meio ambiente, somente uma escola pesquisada, os desenvolvem em momentos pontuais, como em junho, muito provavelmente em consequência das comemorações internacionais referentes ao dia mundial do meio ambiente. Isso demostra que uma boa parcela trabalha o tema ambiental, ao longo do decorrer do ano letivo, e não somente em momentos eventuais. Segundo Andrade (2000), a mudança de mentalidade é fruto de uma promoção contínua do exercício e da reflexão.

Verifica-se que os principais assuntos abordados em ambos sistemas de ensino nos seus respectivos projetos dizem respeito à “preservação do meio ambiente” e “reciclagem” (Figura 2). Entretanto, observa-se uma maior variabilidade de abordagens nas entidades públicas, quando comparado às privadas, evidenciando a interdisciplinaridade e alcance das propostas das primeiras.

Considerando que a educação ambiental tem por objetivo a busca do conhecimento de todas as áreas para a solução dos problemas ambientais, a fragmentação do conhecimento, ou seja, por disciplinas, pode dificultar esta porposta de trabalho. Portanto, deverá ocorrer uma relflexão profunda por parte dos educadores para que ocorra uma transformação interna possibilitando ampliar a visão da fragmentação para a interdisciplinaridade, ou para uma visão globalizante e complexa (FAZENDA, 2003). Para que isso ocorra é necessário uma reestruturação do cenário escolar e de seus autores, restituindo “ao ser humano o lugar de referência, o ponto de partida e chegada de todas as formas do conhecimento” (KACHAR, 2001, p.65).

Foi evidenciado ainda, a concentração do envolvimento de profissionais das áreas de ciências/biologia e geografia, disciplinas que tradicionalmente tratam do tema ambiental. Entretanto, pode-se notar uma participação ativa considerável dos profissionais da área de línguas (15,38% e 20%, nas escolas públicas e particulares, respectivamente (Figura 3).

 

 

Figura 2 – Principais temas desenvolvidos nos projetos, no período da pesquisa,  em escolas públicas e privadas, no município de Ituiutaba-MG.

Figura 03 –  Porcentagem dos diferentes profissionais envolvidos em projetos de educação ambiental nas escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba-MG. 

 

Aqui é importante relatar, provavelmente a falta de preparo dos profissionais de outras áreas, ou mesmo a deficiência de uma política  escolar em capacitar  seus recursos humanos a trabalharem temas ambientais, em especial, quando considera-se que os principais temas abordados nos projetos desenvolvidos nas respectivas escolas estão relacionados à preservação do meio ambiente e à reciclagem (Figura 2), assuntos esses que podem ser facilmente abordados pelas áreas da artes, matemática e mesmo da história, ao se considerar por exemplo os principais efeitos ambientais das diferentes situações e/ou fenômenos ocorridos ao longo do processo histórico.

Assim  fica evidente que a interdisciplinaridade é muito mais que uma simples integração de conteúdos. Ela não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade, integrando-as, a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalhando todas as linguagens necessárias para a construção de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados (BRASIL, 1999). 

Diferentes são os fatores relacionados a promoção das escolas em incentivar seus professores a desenvolverem projetos de educação ambiental. Entretanto, o que se nota em especial nas escolas públicas pesquisadas, é o incentivo dado pelos gestores das mesmas, além do apoio em recursos financeiros e materiais, e o apoio e participação da comunidade (Figuras 4 e 5).

Possivelmente a própria política governamental, instituída por meio da legislação do Ministério da Educação, vem de encontro com tal resultado, incentivando o gestores a alocarem esforços e recursos materiais, e humanos no desenvolvimento de temas relacionados ao meio ambiente.

 

Figura 4 –  Percentual de escolas públicas de privadas, participantes da pesquisa, do município de Ituiutaba-MG que incentivam seus professores a desenvolverem projetos de educação ambiental.

 

 

Figura 5 – Principais fatores relacionados à promoção do incentivo de escolas públicas e privadas, no município de Ituiutaba-MG, para com seus professores, no desenvolvimento de projetos de educação ambiental.

 

É importante ressaltar que o incentivo a qualquer que seja a atividade desenvolvida na escola, deve hierarquicamente passar pela aceitação dos níveis mais altos da gestão, para que o projeto flua, sem impedimentos. Um projeto desenvolvido em determinada instituição que não tenha o aval de seus gestores, muito possivelmente, tende a não dar certo. É por isso que o projeto deve ser consistente, participativo, embasado na realidade do aluno, com justificativas e objetivos claros.

Todos que fazem parte da escola, atuam e interferem um sobre o outro, interagindo, ao mesmo tempo com o contexto. Isso mostra a existência de uma relação dialética entre os sujeitos da comunidade educativa. Mesmo com funções diferentes, todos são participantes e responsáveis pelo processo, numa relação de respeito, permitindo  que aconteça o diálogo, a criatividade, a criticidade, a esperança, a afetividade, o compromisso social (GADOTTI, 2000). O autor, ainda reforça a idéia de que o projeto “sempre em construção, cria as possibilidades de definição de metas coletivas que possam conduzir à busca de um patrimônio ideal comum, e não, exclusivamente, baseado na participação comum nos processos técnicos, burocráticos ou instituídos” (GADOTTI, 2000, p. 69). Para Vasconcellos (1995, p.143), “o projeto educativo é o plano global da instituição. Construído participativamente, é uma tentativa, no âmbito da educação, de resgatar o sentido humano, científico e libertador do planejamento”.

No desenvolvimento de qualquer atividade, seja ela cultural, ambiental, política, econômica, pessoal, artística ou educacional existem fatores que contribuem para a sua não efetividade, isto é, fatores que retardam ou mesmo dificultam que o processo ocorra de forma otimizada. Empecilhos assim, foram relatados em todas as entidades consultadas, sendo que para as escolas particulares o fator mais frequentemente referenciado foi a “falta de tempo” que pode possivelmente estar relacionada à própria política do projeto político pedagógico da escola, que deve priorizar outros assuntos em detrimento da abordagem, implantação e desenvolvimento da temática ambiental (Figura 6).

Figura 6 – Porcentagem das principais dificuldades encontradas pelos professores de escolas públicas e privadas que desenvolvem projetos de educação ambiental no município de Ituiutaba-MG.

 

Com relação as escolas públicas a “falta de material” e a “colaboração familiar’’ somaram juntas aproximadamente metade dos fatores relatados como empecilho ao desenvolvimento de projetos de educação ambiental. Aqui é importante ressaltar que projetos de educação ambiental para se tornarem realmente eficazes, necessitam de uma participação e envolvimento ativo de todos os sujeitos da comunidade, gerando mudanças não somente no interior do ambiente escolar, mas principalmente fora dele. E isso é bem representado pelo relato de algumas escolas públicas no que tange à dificuldade dos projetos “em sair para fora da escola”.

Dado que a educação ambiental não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes. A Conferência de Tbilisi (1977) já demonstrava as preocupações existentes a esse respeito, mencionando, em um dos pontos da recomendação n° 21, que deveriam ser efetuadas pesquisas sobre os obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se opõem às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas (DIAS, 1992).

Escolas que possuem espaços facilitadores da vivência relacionada às questões ambientais têm mais chances de aprofundar e explorar a respectiva temática. E isso pode ser bem percebido nas escolas públicas pesquisadas (Figura 7). Segundo Vasconcelos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a educação ambiental ocorra.

 

Figura 7 - Porcentagem de escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba-MG, que possuem ambientes físicos estruturados ao desenvolvimento de projetos de educação ambiental.

 

A principal justificativa dada pelas escolas públicas que não alegaram envolvimento da família no desenvolvimento dos projetos de educação ambiental está relacionada à falta de participação da mesma em relação as atividades realizadas por seus filhos e isso faz muita  diferença no decorrer do processo ensino-aprendizagem, pois a família é a grande responsável pelo interesse e desenvolvimento desse aluno na escola e na comunidade. Na perspectiva de Vygotsky (1984) a educação recebida na família, na escola, e na sociedade de um modo geral, cumpre um papel primordial na constituição de sujeitos. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e consequentemente influenciam o comportamento da criança na escola.

A realização de atividades de educação ambiental fora dos limites da escola, propicia aos educandos a vivência das diferentes realidades e a interação com a comunidade externa, facilitando assim o melhor aprendizado dos temas referentes as questões ambientais do seu cotidiano. Observa-se que a própria falta de estrutura física das escolas particulares as condicionam a buscarem alternativas de realizarem tais atividades fora do ambiente escolar (Figura 8).

Um ponto que chama a atenção é que das cinco escolas públicas que responderam não realizar atividades externas relacionadas ao tema ambiental, quatro delas alegaram “não” por não possuir autorização da Secretaria Municipal de Educação. Nesse ponto, fica a dúvida, pois se todas as escolas são regidas por uma mesma secretaria e se todas têm as mesmas regras, por que algumas podem realizar atividades fora de suas dependências e outras não?

Os principais locais frequentados pelas escolas que utilizam espaços externos para desenvolver atividades de cunho ambiental são os “ambientes do entorno”, no caso das escolas da rede pública, e “em fazendas”, no caso de escolas da rede particular (Figura 9). Isso evidencia, a contradição existente, em especial na rede pública, no que diz respeito a liberação de recursos financeiros visando um deslocamento mais distante de seus alunos, apesar, dos recursos disponibilizados pelos próprias secretarias de ensino, para a realização de tais atividades.

Figura 8 – Porcentagem de escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba-MG, que realizam atividades de cunho ambiental fora dos limites da escola.

 

 

 

Figura 9 – Principais locais externos à sala de aula, utilizados por escolas públicas e privadas, do município de Ituiutaba-MG, que realizam atividades de educação ambiental.

 

Atitudes e procedimentos práticos do cotidiano das escolas, como a separação do lixo por elas produzido, propiciam a atuação e o desenvolvimento consciente de seus educandos. Foi observado que tal prática cotidiana simples, não é praticada por 60% das escolas públicas e 25% das escolas particulares pesquisadas (Figura 10), demonstrando a falta de envolvimento e colaboração existente entre as atividades da escola e um programa de governo do respectivo município ou organização não governamental, o qual estabelece desde o ano 2000 ações de coleta seletiva na cidade.

 

Figura 10 – Porcentagem de escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba-MG, que adotam a política de separação do lixo produzido.

 

Atitudes como estas acabam por desmerecer a credibilidade dos projetos de educação ambiental instituídos, não dando a motivação necessária aos educandos. Dessa forma a maior organização entre a teoria e a prática faz-se necessária, para se evitar as possíveis contradições intrínsecas.

O desenvolvimento da pedagogia de projetos só é realmente efetivo quando todo o processo for monitorado de forma a se verificar os reais resultados do mesmo. A elaboração, a aplicação e o tratamento dos resultados obtidos nas atividades propostas devem ser muito bem organizados e planejados, para que não se dispersem e não atinjam o seu propósito, que é o de formar os educandos com a prática. Segundo Saraiva, Nascimento e Costa (2008), a educação ambiental visa contribuir para a formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente, aptos a decidir e atuar em seu meio socioambiental, comprometendo-se com o bem-estar de cada um e da sociedade como um todo, é por isso que é fundamental que as escolas sejam agentes multiplicadores na defesa do meio ambiente e trabalhem isso com eficácia.

Foi verificada grande participação tanto das escolas públicas quanto das particulares no que tange ao monitoramento pedagógico das atividades propostas, em especial pela aplicação de avaliações diagnósticas, proposição de debates e interesse e desenvolvimento dos educandos (Figuras 11 e 12).

 

Figura 11 – Quantidade de escolas públicas e privadas do município de Ituiutaba-MG que monitoram todo o processo dos projetos de educação ambiental implantados.

 

Figura 12 – Instrumentos utilizados pelas escolas pesquisadas, públicas e privadas, do município de Ituiutaba-MG, para monitorarem o desenvolvimento dos projetos de educação ambiental implantados.

 

Entretanto, para Hoffmann (1991), o processo ou o ato de realizar uma avaliação vai além disso, estando inserido dentro de um ensino integral, onde o professor acompanha o processo desenvolvido pelo educando, auxiliando-o em seu percurso escolar, fundamentando-se no diálogo, reajustando continuamente o processo de ensino, de forma a que todos consigam alcançar com sucesso objetivos definidos, revelando suas potencialidades. Para ela

 

“O sentido fundamental da ação avaliativa é o movimento, a transformação, [...] o que implica num processo de interação educador e educando, num engajamento de pessoas a que nenhum educador pode se furtar sob pena de ver completamente descaracterizada a avaliação em seu sentido dinâmico” (HOFFMANN, 1991, p.110).

 

A avaliação tem por base acolher uma situação, para então ajuizar sua finalidade tendo em vista dar-lhe suporte de mudança se necessário. Luckesi (1997) define a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, interativo, inclusivo. Dessa forma o ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do melhor resultado possível, antes de tudo, implica a disposição de acolher. Isso significa a possibilidade de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou insatisfatória, agradável ou desagradável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Acolhê-la como está é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa que possa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes de qualquer coisa, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir o que fazer. A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e não no objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da relação de avaliação, por isso ele deve possuir a disposição de acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem ela, não há avaliação (CASTILHOS, 2003).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conquista da complexidade do conhecimento numa formação interdisciplinar, da evolução dos valores humanos, da consciência ambiental, não nasce de ações padronizadas e sim de ações educativas que condizem com cada realidade.

Não é fácil trabalhar com projetos, deixar os planos de aula prontos, as facilidades apresentadas em livros, com texto e exercícios prontos, conteúdo curricular completo para cada ano. Não é fácil sair de si mesmo, ouvir o outro (aluno), aceitar a proposta dele, o interesse... Isso dá trabalho, exige tempo, desafios, conflitos, dificuldades com material, colegas de trabalho, família que muitas vezes não se envolvem. Foi assim que ficou à mostra o trabalho desenvolvido nas escolas desta cidade.

Apesar de se falar em educação ambiental há anos, muitas entidades de ensino do município ainda não trabalham com projetos, motivo pelo qual algumas se negaram a responder ao questionário, principalmente as escolas particulares. Outras, mesmo participando do questionário não o realizam ou apresentam várias falhas em sua realização.

Foi percebido também dificuldades de envolvimento e participação dos profissionais das escolas, desde o entrosamento com os responsáveis pela entidade gestora da educação municipal até os professores e a própria interação com pais e comunidade. Percebeu-se ainda que não há um estudo aprofundado do tema antes de ser proposto aos alunos, ou melhor, o tema do projeto não faz parte do interesse dos mesmos. Os projetos são normalmente curtos, estão inseridos no conteúdo da grade curricular, mas não há uma sequência ou continuidade de estudos.

Algumas escolas demonstraram interesse e há trabalhos interessantes sendo desenvolvidos, mas ainda há muito que se fazer pela educação ambiental, a começar pela conscientização do próprio professor. Enquanto ele não acreditar verdadeiramente que este trabalho deve partir da escola e houver grandes trabalhos, mobilizações e demonstrações de urgência e apelo ao planeta, a participação da sociedade também não ocorrerá.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

 

CASTILHOS, M.T.J. Avaliação escolar: contribuições do direito educacional. Rio de Janeiro: Editora WAK, 2003.

 

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KACHAR, V. A terceira idade e o computador: interação e produção no ambiente educacional interdisciplinar.  2001.  206p.  Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

                                                                                               

LOPES, J. Matemática, uma proposta de ensino a partir da teoria das inteligências múltiplas. Nova Escola: Revista do Ensino do Primeiro Grau, Rio de Janeiro, 1997.

 

LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1997.

 

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Ilustrações: Silvana Santos