Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 52) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E HORTA ESCOLAR COMO SUBSÍDIOS PEDAGÓGICOS EM UMA ESCOLA DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS, AL (RELATO DE CASO)
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E HORTA ESCOLAR COMO SUBSÍDIOS PEDAGÓGICOS EM UMA ESCOLA DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS, AL (RELATO DE CASO)

 

Luan Danilo Ferreira de Andrade Melo1

Eng. Agrônomo. Doutorando em Produção Vegetal (UFAL-CECA). Email: luan.danilo@yahoo.com.br

 

João Luciano de Andrade Melo Junior2

Eng. Agrônomo. Doutorando em Produção Vegetal (UFAL-CECA). Email: luciiano.andrade@yahoo.com.br

 

RESUMO: Os projetos de hortas escolares são de suma importância para promover a educação ambiental e o estímulo à melhoria do atributo nutricional dos envolvidos. Com base nisso, o objetivo desse trabalho foi atender à demanda do Colégio Humberto Mendes, localizado no município de Palmeira dos Índios – AL, de contar com uma variedade maior de alimentos a serem oferecidos na merenda, ao mesmo tempo usar a horta escolar como uma estratégia para trabalhar com os alunos a troca de informação e a capacitação nos temas relacionados com a educação ambiental, alimentar e nutricional. O projeto permitiu relacionar educação ambiental com educação alimentar e valores sociais, adequando a chance do aprendizado coletivo e servindo como subsídio técnico para os participantes adotarem os conhecimentos adquiridos em outros locais, atuando como multiplicadores das boas práticas utilizadas.

 

PALAVRAS-CHAVE: Alunos, conscientização, sociedade.

 

1. INTRODUÇÃO

            Os comportamentos que são considerados ambientalmente adequados devem ser estudados na prática, no cotidiano da vida escolar, colaborando para a formação de cidadãos responsáveis. Sendo assim, as hortas nas escolas favorecem discussões, aprendizado e pesquisas sobre temas relacionados ao meio ambiente, alimentos e nutrição, contribuindo para uma alimentação saudável e equilibrada (RODRIGUES e FREIXO, 2009).

            A escola tem função primordial no desenvolvimento de novas políticas voltadas para a construção de sociedades sustentáveis. Segundo Maulin (2009) a educação ambiental apresenta-se como mais um mecanismo de inclusão de saberes e dispersão de novos conceitos a serem alcançados na consolidação de uma nova racionalidade, ressaltando que esta deve ser tratada a partir de uma matriz que idealize a educação como meio de modificação social sustentada no diálogo e no exercício da cidadania.

            Os projetos de hortas escolares são de suma importância para promover a educação ambiental e o estímulo à melhoria do atributo nutricional dos envolvidos. Com hábitos alimentares saudáveis, os estudantes passam a ter progressos na qualidade de vida, abandonando os alimentos industrializados. Portanto, torna-se irrefutável o dever da escola em motivar a instrução alimentar (CRIBB, 2010). Nesse sentido, a horta auxilia na sensibilização e conscientização de crianças e adolescentes quanto à possibilidade de aproveitamento integral dos alimentos consumidos, promovendo mudanças no comportamento alimentar e nas atitudes dos estudantes.

            Existe a possibilidade de se trabalhar diversas atividades em uma horta escolar, dentre as quais, os conceitos, princípios, o histórico da agricultura, a importância da educação ambiental e das hortaliças para a saúde. Além das aulas práticas onde se trabalham as formas de plantio, o cultivo e o cuidado com as hortaliças. Todos podem e devem se envolver, a comunidade escolar pode colaborar na limpeza do terreno, na formação dos canteiros e com a aquisição das sementes recomendadas pelos professores responsáveis, observando à característica do solo, as influências climáticas, a facilidade de transplantio, a resistência a “pragas”, enfim, aspectos que influenciam no desenvolvimento das plantas (CRIBB, 2010).

            Com base nisso, o objetivo desse trabalho foi atender à demanda do Colégio Humberto Mendes, localizado no município de Palmeira dos Índios – AL, de contar com uma variedade maior de alimentos a serem oferecidos na merenda, ao mesmo tempo usar a horta escolar como uma estratégia para trabalhar com os alunos a troca de informação e a capacitação nos temas relacionados com a educação ambiental, alimentar e nutricional.

 

2. DESENVOLVIMENTO

 

            O projeto foi implantado no Colégio Humberto Mendes, situada em Palmeira do Índios-AL, conforme os dados do censo disponibilizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população deste município é de 70.368 habitantes.

            A proposta teve um acompanhamento de seis meses, iniciando-se em maio e finalizando-se em novembro de 2014. Foram realizadas palestras que explicaram o processo de construção da horta orgânica desde a escolha do local adequado onde será feito os canteiros (próximo a uma fonte de água e com incidência solar na maior parte do dia); delimitação da área do plantio; capinação do mato; delimitação dos canteiros (5 x 1 m); tipos de hortaliças que podem ser cultivada na horta orgânica; adubação do solo; produção de adubo orgânico e conservação). Esta palestra foi muito proveitosa, com auxilio de fotografias e técnicas de plantio de sementes, uma verdadeira aula prática, com professores, alunos e funcionários da instituição de ensino.

           

2.1 PREPARAÇÃO DOS CANTEIROS

 

            A implantação da horta se deu em um local livre do sombreamento e voltado para o nascente, com baixa circulação de pessoas e animais, distante de sanitários e esgotos e com disponibilidade de água para irrigação e sistema de drenagem (Figura 1). Foram coletadas amostras para análise, exibindo boas condições para a semeadura. Consultou-se o calendário de sazonalidade agrícola para o conhecimento das culturas que melhor se adequariam em cada período do ano.

            A terra foi revolvida, desmanchando-se os torrões e promovendo o nivelamento do terreno. Os canteiros foram arquitetados em um nível superior ao nível da área selecionada e a eles foi adicionado o adubo orgânico obtido por compostagem.

Figura 1. Local escolhido para implantação da horta.

 

2.2 ESCOLHA DAS VARIEDADES E PLANTIO

 

            Utilizaram-se cinco espécies de hortaliças para o atendimento do consumo da escola e da comunidade envolvida, sendo duas espécies folhosas (alface e couve) e três tuberosas (cenoura, beterraba e rabanete) (Figura 2).

 

Figura 2. Espécies utilizadas.

2.3 REALIZAÇÕES DE OFICINAS

 

            As oficinas estabeleceram uma troca de informações, experiências e conhecimentos técnicos, de modo que as explanações fossem de fácil compreensão para que os participantes pudessem compreender o conteúdo repassado (Figura 3). Os alunos foram estimulados a possuir suas próprias hortas orgânicas em casa pela importância do consumo de alimentos sem o uso de agrotóxicos, potencializando-se a atuação como multiplicadores do conhecimento adquirido.

 

Figura 3. Troca de informações.

 

            Os dados foram coletados concomitantemente com a instalação da horta, onde a percepção do público atendido foi realizada a partir de pesquisa etnográfica e avaliados pelo método de análise de conteúdo proposto por Bardin (1977).

 

2.4 RESULTADOS ALCANÇADOS

            Durante o desenvolvimento do projeto, alunos, professores e funcionários da escola participaram ativamente, cuidando da horta e fazendo uso dos conhecimentos técnicos repassados. Essa união se mostrou importante para o sucesso da proposta, uma vez que a horta necessita de cuidados diários. No caso de verduras mais sensíveis à perda de água por evapotranspiração, tornando-se murchas com maior facilidade, a irrigação foi realizada duas vezes ao dia. Assim, na parte da manhã e ao final da tarde, foram feitas as irrigações a fim de suprir a necessidade hídrica de cada variedade de olerícolas.

            A alimentação escolar sofre devido à comercialização de alimentos pobres em vitaminas, como salgados industrializados ou fritos, os campeões de consumo pelos estudantes. A relação direta de consumo de alimentos impróprios colabora para que o comportamento alimentar das crianças não seja voltado para produtos considerados saudáveis, pois à ostensiva propaganda de produtos industrializados é criativa e induz a compra e ao consumo (MAGALHÃES, 2003). Com base nisso, a horta escolar entra como uma estratégia, visando estimular o consumo de hortaliças e adequando a dieta das crianças.

            Temas ligados à educação ambiental e alimentar são de extrema responsabilidade, uma vez que a comunidade sofre com falta de infraestrutura apropriada em suas casas e também na escola, dispondo de poucas áreas públicas destinadas ao lazer e a construção de hortas onde possam desfrutar de forma saudável o seu momento de descanso onde residem. Outro acontecimento reside na promoção da qualidade nutricional das hortaliças e alimentação para as crianças, visto que cerca de 80% é suprida pela alimentação fornecida na escola.

            Ao longo de seis meses avaliando os resultados desta proposta, observou-se que os alunos puderam acompanhar a germinação das sementes e desenvolvimento das plântulas vivenciando a experiência realizada. Além do aspecto citado, as hortaliças presentes no ambiente escolar passam a ter um novo significado para os estudantes, pois estes passam a entender que, antes de chegar aos mercados, os vegetais passaram por todo um processo crescimento e desenvolvimento.

            Salienta-se que entre a alimentação apropriada, sua aceitação e o entendimento de que esta é a melhor escolha, há uma grande distância que é seguramente reduzida quando o aluno tem a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do próprio alimento.

            As hortas escolares podem representar uma estratégia de organização comunitária, educação ambiental, desenvolvimento sustentável e produção de hábitos saudáveis pelo consumo dos produtos cultivados (VASCONCELOS et al., 2014). Nas escolas as atividades desenvolvidas na horta permitem trabalhar os conteúdos de alimentação, nutrição e ecologia em diversas disciplinas (matemática, ciências, geografia etc.) (SEPLAN BAHIA, 2008).

            A horta implantada não teve retornos financeiros, uma vez que sua produção é toda destinada à merenda das crianças, porém o que se conseguiu conquistar através deste projeto foi à valorização do meio ambiente visando sustentabilidade, economia e a possibilidade do aprendizado sem valor comercial.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A horta escolar permitiu relacionar educação ambiental com educação alimentar e valores sociais, adequando a chance do aprendizado coletivo e servindo como subsídio técnico para os participantes adotarem os conhecimentos adquiridos em outros locais, atuando como multiplicadores das boas práticas utilizadas.

 

 

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

 

CRIBB, S. L. S. P. Contribuições da educação ambiental e horta escolar na promoção de melhorias ao ensino, à saúde e ao ambiente. Revista Eletrônica do Mestrado Profissional em Ensino, Saúde e Ambiente, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 42-60, 2010. Disponível em: . Acesso em: 18 out. 2014.

 

MAGALHÃES, A. M. A horta como estratégia de educação alimentar em creche. 2003. 120 f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

 

MAULIN, G. C. O conhecimento intercultural: um diálogo com a educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Cuiabá, v. 4, p. 60-65, 2009.

 

RODRIGUES, I. O. F.; FREIXOS, A. A. Representações e práticas de educação ambiental em uma escola pública do município de Feira de Santana (BA): subsídios para a ambientalização do currículo escolar. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Cuiabá, v. 4, p. 99-106, 2009.

 

SEPLAN (Secretária do Planejamento da Bahia) Disponível em: http://www.seplan.ba.gov.br/pulblicações/6estrategias/Estrategias3.pdf>. Acesso em 27 de novembro de 2014.

 

VASCONCELOS, M. G.; VIEIRA, S. S.; RODRIGUES, V. W. B. Utilização de boas práticas de cultivo e manejo de hortaliças para uma alimentação escolar saudável. Em Extensão, Uberlândia, v. 13, n. 1, p. 61-69, 2014.

 

Ilustrações: Silvana Santos