Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 52) A PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS DA MEGAFAUNA PLEISTOCÊNICA DE RONDÔNIA, COMO INSTRUMENTO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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A PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS DA MEGAFAUNA PLEISTOCÊNICA DE RONDÔNIA, COMO INSTRUMENTO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Luana Cardoso de Andrade

Biól. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Grupo de Pesquisa Geociências, Universidade Federal de Rondônia, UNIR. Campus José Ribeiro Filho. Porto Velho, Rondônia.

E-mail: luanacardosodeandrade@gmail.com

 

 

Resumo

A paleontologia é uma importante ciência que permite o diálogo com diferentes áreas do conhecimento. Na cidade de Porto Velho, Rondônia, há o conhecimento acerca dos fósseis da megafauna pleistocênica da localidade de Araras, proveniente de depósitos fluviais da Formação Rio Madeira. Um estudo inédito desses fósseis revela condições de preservação excepcionais devido à fossilização do tipo carbonificação. Essas informações aliadas a instrumentos didáticos relacionados a educação ambiental tendo como base estratégias didáticas bem sucedidas outrora realizadas, se constituem uma importante ferramenta para promover a preservação dos fósseis da megafauna pleistocênica da localidade de Araras, Rondônia além de possibilitar a compreensão desse tema aliado à fauna atual, contribuindo para cidadãos mais críticos.

Palavras-chave: fósseis, educação ambiental, preservação, Rondônia.

Abstract

Paleontology is an important science that allows dialogue with different areas of knowledge. In Porto Velho city, State of Rondônia, there is the knowledge of the fossils of Pleistocene megafauna Araras county, from fluvial deposits Rio Madeira Formation. A new study of these fossils reveals exceptional preservation conditions due to the fossilization of the type carbonification. This information combined with the teaching tools related to environmental education based on successful teaching strategies once held constitutes an important tool to promote the preservation of fossils of Pleistocene megafauna Araras county, Rondônia and enable the understanding of this issue together with the current fauna, contributing to more critical citizens.

Keywords: fossil, environmental education, preservation, Rondônia.

 

INTRODUÇÃO

            Uma das discussões da educação ambiental é a necessidade de formar uma cultura de sustentabilidade e assim diversas áreas do conhecimento convergirem entre si para resolver problemas e contribuir para a formação de cidadãos mais aptos a preservar o meio em que vivem (PIRANHA & CARNEIRO, 2009). A paleontologia nesse cenário é uma importante ciência que permite o debate interdisciplinar na educação ambiental, pois dialoga com diversas áreas do conhecimento. Segundo Henriques (2010) a Paleontologia contribui para  a  formação de cidadãos comprometidos com a sustentabilidade na Terra, tornando-os mais aptos a participarem em debates acerca de problemas ambientais relacionados com alterações do clima e da biodiversidade.

            Em Rondônia, com a intensa exploração do garimpo de ouro nas décadas de 1970 a 1990, na localidade de Araras, Formação Rio Madeira, foi coletada uma quantidade significativa de fósseis de mamíferos, com idade estimada em 40 mil anos, extintos no Final do Pleistoceno. Dentre estes fósseis de mamíferos, havia “preguiças-gigantes” (Eremotherium laurillardi) e animais semelhantes ao hipopótamo atual (família Toxodontidae). Por terem sido animais de grande porte, são chamados de “megafauna”.           A diversidade da megafauna do Estado de Rondônia é relativamente conhecida, porém as condições de preservação desses fósseis aliado ao diálogo com temáticas na educação ambiental são ainda pouco discutidos a nível local, com raras exceções. Ações educativas realizadas na cidade de Porto Velho e proximidades (ANDRADE  et  al.,  2010;  2012;  PEREZ  et  al.,  2009;  2010;  2011) mostram as diversas estratégias de ensino na temática paleontológica aliada à temática ambiental com a obtenção de resultados positivos, além despertar grande curiosidade nos diferentes públicos trabalhados.

             Este trabalho tem o objetivo de mostrar a relação entre as condições de preservação dos fósseis de megafauna pleistocênica da localidade de Araras, Rondônia e a temática ambiental, contribuindo para a elaboração de estratégias nessa temática na cidade de Porto Velho.

 

METODOLOGIA

            A pesquisa[1] consistiu no levantamento bibliográfico relacionado a temática paleontológica e a educação ambiental. Os fósseis selecionados para o estudo pertencem à coleção do Serviço Geológico do Brasil-CPRM, unidade Porto Velho, Rondônia. Os fósseis da megafauna pleistocênica foram coletados por garimpeiros entre 1970 e 1990 em depósitos fluviais da Formação Rio Madeira, na localidade de Araras, Rondônia.

            Para auxiliar o entendimento das condições de preservação desses fósseis (tipo de fossilização que preservou os fósseis, grau de alteração, se há substituição da matéria óssea original, etc.), foram realizados estudos anatômicos, taxonômicos, microscópicos e químicos, incluindo dados de Petrografia, Microscopia Eletrônica de Varreadura-MEV e análises químicas no Espectrômetro de Energia Dispersiva-EDS.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

            Os dados anatômicos, taxonômicos, microscópicos e químicos mostram que houve condições excepcionais que possibilitaram a preservação dos fósseis da megafauna pleistocênica da localidade de Araras, Rondônia, correspondendo à espécie Eremotherium laurillardi (“preguiça-gigante”) e à família Toxondontidae (animal semelhante ao hipopótamo atual). Essas condições são características microestruturais idênticas aos ossos de mamíferos recentes, preservadas pela fossilização do tipo carbonificação, processo raro e pouco citado na literatura relacionada ao tema. Os fósseis de Eremotherium laurillardi e Toxondontidae possuem até 90% de carbono preenchendo microestruturas ósseas (Canais de Havers e Volkmann), com porções bem preservadas e outras mal preservadas, indicando que carbonificação possibilita diferentes estágios de degradação das microestruturas dos fósseis, sem substituição da matéria óssea original.

            Estudos dessa natureza contribuem para o entendimento do tipo de fossilização em restos esqueletais da megafauna pleistocênica de Rondônia e permitem explanações acerca do ambiente em que viviam esses indivíduos. Esses dados científicos aliados à educação ambiental possibilitam um maior conhecimento e uma maior proteção desses fósseis. A compreensão do processo de fossilização do tipo carbonificação em fósseis de Eremotherium laurillardi e Toxodontidae no sentido de que são raras as condições ambientais para sua preservação e a importância para o entendimento do paleoambiente de Rondônia, pode contribuir também para discussões na temática da educação ambiental por meio de diferentes estratégias didáticas.

            As estratégias já realizadas no ambiente escolar (ex. ANDRADE et al. 2012; PEREZ et al.2011) direcionadas a diversos públicos da cidade de Porto Velho e proximidades, demonstram o potencial de desenvolver temas relacionados à paleontologia e educação ambiental em um viés interdisciplinar, uma vez que permitem o diálogo entre o saber local paleontológico, estimulando o pensamento crítico e a educação ambiental. Como por exemplo, a oficina “Túnel do Tempo Geológico” (PEREZ et al. 2011), que contribui significativamente para a compreensão das mudanças ambientais ao longo do tempo geológico e elucida discussões sobre nosso papel na preservação do ambiente natural, já que, ao comparar o surgimento da nossa espécie no Planeta Terra (200 mil de anos) com a idade da Terra (4,5 bilhões de anos), nota-se que estamos há pouco tempo habitando o Planeta e temos o papel de preservá-lo.

            Desta forma, compreender conceitos  geocientíficos  e  associá-los  ao  contexto  local  é  essencial  para promover uma cultura de sustentabilidade (PIRANHA & CARNEIRO, 2009). O entendimento de como se preservaram os fósseis de megafauna (Eremotherium laurillardi e Toxodontidae) por meio de estratégias didáticas já realizadas bem sucedidas (oficinas, jogos, cartilhas, etc.) inseridos em temas ambientais, possibilita a aproximação do público com a paleontologia local e a compreensão da importância de proteção a esses fósseis, ao ambiente natural e a fauna atual, por exemplo. Essas estratégias ressaltam ainda, a importância do diálogo interdisciplinar entre a paleontologia e a educação ambiental.

 

CONCLUSÃO

            A criação de estratégias para colocar em prática o conhecimento paleontológico focado nas condições de preservação de fósseis da megafauna pleistocênica da localidade de Araras, constitui-se um desafio a educação ambiental na cidade de Porto Velho. Com base em estratégias didáticas bem sucedidas aliadas a temática ambiental mencionadas aqui, como por exemplo, o “Túnel do Tempo Geológico”, é possível aliar o conhecimento acerca da preservação dos espécimes fósseis da localidade de Araras aos temas ambientais, gerando estratégias didáticas interdisciplinares aplicáveis aos diferentes níveis de ensino. Desta forma, como mostrado aqui, na cidade de Porto Velho, há um grande potencial para a aplicação de estratégias didáticas relacionadas às condições de preservação de fósseis da megafauna pleistocênica da localidade de Araras e a educação ambiental.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, L. C.; SANTOS, T.; PEREZ, C.; NASCIMENTO, E. Escavação Paleontológica: Uma alternativa para promover a divulgação e a valorização da Paleontologia In: Encontro de Iniciação Científica, 4, Porto Velho. Resumos, FIMCA/METROPOLITANA, 2010.

 

ANDRADE, L.C.; PEREZ, C.P; SANTOS, T.T.; RODRIGUES, M. F.  A oficina “O trabalho do paleontólogo como forma de promover a divulgação e a valorização da Paleontologia na educação Básica de Porto Velho, RO”.  In: Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, 8, Recife. Boletim de Resumos, Sociedade Brasileira de Paleontologia, p.86, 2012.

HENRIQUES, M.H.P.  Paleontologia – uma ponte entre as geociências e a sociedade. In: CARVALHO, I.S. (ed). Paleontologia: Cenários da Vida, 2. Rio de Janeiro, Editora Interciência, 2010.

PEREZ, C.P.; TIZUKA, M.M.; NASCIMENTO, E.R.; KIPNIS, R.  Cartilha educativa: uma ferramenta pedagógica para a divulgação da  paleontologia na cidade de Porto Velho, Rondônia.  In: Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra, 2; Simpósio Nacional  Ensino de Geologia no Brasil, 4, São Paulo. Anais, São Paulo, USP, 2009.

PEREZ, C.P.; NASCIMENTO, E.R.; TIZUKA, M.M.; BISSARO JÚNIOR, M.C.; KIPNIS, R.  Importância das atividades de educação na proteção e valorização do patrimônio paleontológico na região de Porto Velho, RO.  In: Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, 7, Rio de Janeiro. Boletim de Resumos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 72, 2010.

PEREZ, C.P.; RODRIGUES, M.F.; SANTOS, T.T.; ANDRADE, L.C.  O Túnel do tempo geológico: ferramenta didática para o ensino de geociências no Ensino Fundamental e Médio. In: CARVALHO, I.S. (ed). Paleontologia: Cenários da Vida, 4. Rio de Janeiro, Editora Interciência, 2011.

PIRANHA, J.M.; CARNEIRO, C.D.R.  O ensino de geologia como instrumento formador de uma cultura de sustentabilidade. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v.39, n.1, 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2012.



[1] Dissertação de Mestrado da Autora. Disponível em:

 

Ilustrações: Silvana Santos