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"Vamos sonhar com um futuro positivo para agir de forma consistente e coerente!" (Lara Lutzemberger)
ISSN 1678-0701 · Volume XIV, Número 52 · Junho-Agosto/2015
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO FAMILIAR
José André Verneck Monteiro Pedagogo, Especialista em Educação Ambiental Mestrando em Práticas em Desenvolvimento Sustentável Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro http://lattes.cnpq.br/3632798164833445 Email: educativo@live.com
RESUMO
A partir dos pressupostos de que (I) o ser humano é fruto do meio em que vive, e (II) as crianças tendem a reproduzir comportamentos influenciados pelos hábitos familiares, este ensaio foi elaborado a convite de Berenice Gehlen Adams para a seção Sementes, na 52ª edição da Revista Educação Ambiental em Ação, a qual é pautada pelo tema: Educação Ambiental é agir com consciência.
Sua presença é fundamental
São diversas as atividades essenciais para a vida moderna dos adultos: trabalho, estudo, planejamento financeiro, viagens profissionais, eventos sociais, manutenção da moradia, cuidados com a saúde, entre tantas outras, que diferem em cada família. Para complementar, parte das obrigações dos adultos tem de ser cumpridas em casa, com o uso de computadores e telefones, subtraindo ainda mais tempo do que poderia ser dedicado ao convívio familiar. Em meio a tantas funções, não raro o ato de cuidar e educar os filhos tem sido delegado a outras pessoas, já que justificadamente, os pais estão demasiado envolvidos nas tarefas diárias responsáveis por prover o subsídio financeiro requerido para o sustento do lar. Mas há uma demanda fundamental que não pode ser esquecida: a atenção consciente às crianças. Seja por necessidade ou descuido dos responsáveis, têm-se notado que as crianças estão passando muitas mais horas diante do televisor ou operando outros aparelhos eletrônicos, do que se divertindo e desenvolvendo em brincadeiras ao ar livre, tomando sol e interpretando a natureza. Sim, os aparelhos eletrônicos e o acesso à Internet são muito úteis e colaboram para o desenvolvimento psicológico e intelectual das crianças, desde que a utilização de tais ferramentas seja realizada com critérios e em adequada medida. Mas, sem a supervisão consciente dos adultos o uso de tais tecnologias abre uma questão complexa: o que se espera de uma geração de crianças, submetidas diariamente ao bombardeio de propagandas e incentivo ao consumismo, jogos de violência e outros conteúdos inadequados à infância?
Brincar também é educar
O ato de brincar é imprescindível ao pleno desenvolvimento psicológico, corporal, cognitivo e afetivo das crianças. Enquanto brincam, as crianças descobrem e criam seu mundo, a partir do qual constroem conhecimentos e atribuem significados à existência, a seu modo, no seu ritmo peculiar. As brincadeiras também auxiliam no desenvolvimento infantil em diversos aspectos relacionados à socialização, autoestima, disciplina, respeito às regras de covivência e à opinião alheia. Portanto a ludicidade deve ser estimulada desde a primeira idade, tanto no âmbito familiar quanto no espaço/tempo escolar. Brincar junto também é uma das formas que os adultos podem redescobrir para educar, além de ser uma demonstração de carinho e interesse, o que é percebido e muito valorizado pela criança. E no que diz respeito ao resgate e revalorização cultural, por onde andam as brincadeiras infantis de outrora? Por onde estão os folguedos movidos a entusiasmo e alegria, que não precisavam de pilhas para funcionar? Ciranda, pega-pega, amarelinha, pula-corda, bambolê, bola de gude, cantigas de roda e tantas outras, guardadas no baú de nossas memórias, ávidas por ser apresentadas à nova geração umbilicalmente conectadas à tecnologia desde tão cedo.
Leve a sustentabilidade para casa
Experimente refletir e reavaliar como tem sido os momentos de descontração e relaxamento no ambiente familiar. Como é a experiência de preparar e compartilhar as refeições, que tipo de alimento é oferecido, de que forma é aproveitado o tempo livre, que lugares são frequentados e quais os assuntos tem sido tratados quando a família se reúne? Já lhe ocorreu que para melhor compreender o que se passa em família, talvez possa vir a ser necessário o estabelecimento de um limite de utilização de televisão, computador, telefone? Até o momento não há dados científicos que comprovem malefícios ocasionados à saúde de quem permanece off-line por algumas horas.
Acompanhar as lições de casa e procurar saber sobre as atividades e dificuldades escolares também são importantes estímulos de integração familiar. Saber quanto tempo é dedicado pela família a experimentar atividades que permitam uma maior integração com a natureza também pode ser um bom indicador sobre a mensagem educativa que os pais querem transmitir às crianças. Experimentem juntos um dia sem usar veículos. As caminhadas ao ar livre podem ser excelentes oportunidades para toda a família reatar vínculos, praticar a respiração consciente, tocar o solo, admirar a natureza, encontrar formas nas nuvens, ou simplesmente relaxar. Que tal uma pedalada em família? Andar de bicicleta é quase um rito de passagem da infância. E a gente não esquece como se faz, mesmo depois de muito tempo sem praticar. Deixe que seus filhos mostrem o caminho e descubra a cada dia o prazer de ser criança novamente! Se for consenso, a família também pode experimentar a visita a alguma organização de apoio socioambiental para conhecer de perto outra realidade. Quando forem fazer compras, desestimule o hábito de consumir por influência de campanhas publicitárias. Discutam a lista do que realmente precisam adquirir, antes de sair de casa. Incentivem a preferência por produtos naturais demonstrando às crianças o privilégio e os benefícios de uma alimentação saudável e equilibrada, rica em vegetais. Observe que na área de entrada dos supermercados estão localizadas as seções de produtos não imprescindíveis à sobrevivência humana (bebidas alcoólicas, refrigerantes, centenas produtos de limpeza e cosméticos que prometem milagres). Estas seções de boas vindas geralmente estão repletas de embalagens multicoloridas e brilhantes, com formatos inusitados e atraentes, às quais são atribuídos cartazes com expressões do tipo: PROMOÇÃO, NOVO ou LEVE MAIS PAGANDO MENOS. Só bem lá no fundo das lojas é que estão os cereais, frutas, hortaliças, condimentos secos, produtos de origem animal. Perceba também que os produtos com menor preço são organizados nas prateleiras menos acessíveis; ao alcance dos olhos de um adulto estão os itens mais caros e os de marcas que investem mais em publicidade. Esse conjunto de detalhes tem uma razão lógico-financeira, uma estratégia desenvolvida por especialistas em comportamento humano adotada pelas principais redes de comércio varejista em todo o mundo: estimular a compra motivada por impulsos, de produtos supérfluos e mais caros. Ninguém está imune a esse conjunto de técnicas. Alguma vez já parou para pensar por qual razão há tantas guloseimas, revistinhas, pilhas e baterias localizadas à altura das crianças, nas proximidades dos caixas? Procure explicar, em linguagem adequada à faixa etária das crianças, que quando adquirimos alimentos frescos, melhoramos nossa saúde, economizamos dinheiro, diminuímos a quantidade de lixo, colaboramos para o desenvolvimento da agricultura familiar, para a redução do uso de combustíveis fósseis e consequentemente para diminuir os níveis de poluição. Experimentem, ao menos um dia por semana, um cardápio sem ingestão de carne. É ótimo para reeducar o paladar e depurar o organismo das toxinas nocivas presentes nos alimentos que nos fornecem proteínas de origem animal. Saborosos e nutritivos bolos, biscoitos e sucos podem ser preparados em casa para o lanche que será levado à escola. Em geral, as crianças se divertem e aprendem sobre nutrição e segurança, quando têm a oportunidade de cozinhar sob a supervisão de adultos. Os brinquedos que já não são os preferidos podem ser doados a outras crianças, bem como os livros e roupas. Há tantas famílias menos favorecidas que certamente darão muita utilidade às suas doações. É muito importante que as crianças saibam, desde cedo, que nem todo mundo tem o mesmo acesso aos bens e serviços essenciais, mas o ato de doar pode ser uma forma de compartilhar com outras pessoas o que para nós é excedente. Durante nossa existência terrena a solidariedade é uma virtude que deve ser encorajada nas crianças, já que nosso mundo está repleto de demonstrações de brutalidade, desrespeito e indiferença aos demais coabitantes do nosso Planeta. Há várias outras formas de ampliar a educação ambiental no âmbito familiar, e por isso não há uma receita pronta. O principal aspecto que se deve levar em consideração é que alguns hábitos familiares têm raízes no comportamento dos adultos, pois como tomadores de decisões, influenciam a todos que habitam o mesmo lar.
"Vamos sonhar com um futuro positivo para agir de forma consistente e coerente!" Lara Lutzemberger
Sendo assim, vale refletir sobre qual tipo de exemplo e comportamentos estão sendo estimulados pelos adultos e quais são seus possíveis reflexos nas mentes em formação das crianças. Quando a família compartilha perspectivas voltadas à sustentabilidade, têm motivações e comportamentos adequados à realidade socioambiental contemporânea e se sonham juntos por um mundo melhor, as crianças têm uma fonte de inspiração diária para agir de modo consciente. Agradecimentos à equipe Editorial pela oportunidade de participar desta edição de aniversário da Revista Educação Ambiental em Ação e ao amigo Ed Meirelles pela gentil ilustração inspirada neste ensaio.
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