Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
ENTREVISTA COM ALDEM BOURSCHEIT PARA 51ª EDIÇÃO DA
REVISTA ELETRONICA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO O entrevistado desta edição é o jornalista Aldem
Bourscheit, formado em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS/RS). Aldem tem mais de 15 anos de experiência nas áreas
Socioambiental, Agropecuária e de Ciência. A sua formação inclui diversas
especializações: Resíduos Sólidos, Ecologia, Criação em TV. É Pós-graduado em
Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino Americana de Ciências
Sociais (Flacso). Ao longo destes anos, Aldem atuou em jornais, rádios,
governos, ongs e setor privado e hoje é Especialista em Políticas Públicas na
WWF-Brasil. Com toda esta bagagem, temos muito o que aprender com ele, então,
vamos lá, conhecer mais um pouco desta trajetória exemplar: Bere Adams – Como surgiu o seu interesse pelas
questões ambientais? Aldem Bourscheit – Sempre complexo apontar esses momentos ditos como decisivos quando sabemos que a vida se desenrola em processos, mas posso apostar que começar um trabalho voluntário na União Protetora do Ambiente Natural (Upan) poucos anos após a Rio92 teve grande influência em despertar o interesse e um engajamento com as questões socioambientais. A hoje Oscip tem cerca de 40 anos e é uma das mais antigas ainda em atividade no Brasil. Foi criada nos anos 1970 pelo pioneiro ecologista Henrique Luiz Roessler, patrono da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) do Rio Grande do Sul. Foi na entidade que comecei a tomar conhecimento da amplitude e das ramificações da problemática socioambiental, tendo o município de São Leopoldo e o Vale do Rio dos Sinos como alvos principais de nossas ações pela conservação e recuperação ambiental. AB – Ter acesso a informações bem construídas e fundamentadas é base para uma qualificada tomada de decisões. Ou seja, quanto melhor forem as informações a que você tem acesso, por exemplo pelos cada vez mais variados meios de Comunicação, melhores poderão ser as direções que você escolhe na sua vida pessoal ou profissional. Todavia, nem sempre está claro para a população sobre a celeridade em que essas informações devem ser transformadas em ação e muito menos com que meios, a quais órgãos públicos recorrer ou que atitudes pessoais tomar. Assim, frente a indefinições basais como essas, podemos ter como resultado uma perigosa inanição, especialmente frente a problemas que exigirão muitos recursos e muito tempo para serem solucionados. Por exemplo, para livrar o Rio Tejo (Portugal) do despejo histórico de esgotos urbanos foram investidos 800 milhões de Euros, cerca de R$ 2,6 bilhões. Esse processo de poluição ocorreu ao longo das décadas, sob informes e alertas de ambientalistas, mas nada de concreto foi feito para contê-lo. Agir apenas quando a situação se torna aguda é sempre muito mais caro. AB – A gestão da Política Nacional de Educação Ambiental, definida por uma lei de 1999, e a coordenação do Programa Nacional de Educação Ambiental, cabem aos ministérios do Ministério do Meio Ambiente e da Educação. Na teoria, esses política e programa deveriam estar permeando políticas federais, estaduais e municipais de educação. Nesse sentido, um Jornalismo que alcance com qualidade essas mesmas esferas poderia cumprir um papel de incentivador de temas a serem debatidos e aplicados dentro e fora de sala de aula, por exemplo. Assim, o bom Jornalismo auxiliria a Educação Ambiental a cumprir um de seus papéis, de ser uma ferramenta que dissemina o intercâmbio e a participação das pessoas no controle social das políticas públicas por meio do diálogo. AB – Políticas ambientais devem ser prioritariamente políticas públicas que direcionem e proporcionem a essas quatro esferas um modelo de desenvolvimento mais harmônico com o chamado meio ambiente. Pode soar como um clichê, mas vejo isso como necessidade de primeira grandeza, pois infelizmente não nos faltam exemplos de como nosso arcabouço legal desconsidera os limites e mecanismos naturais. Um caso atual extremo é o do colapso hídrico que assola o Sudeste e outras regiões do país. Acreditar que Deus é brasileiro é acionará São Pedro para nos salvar da falta de chuvas não é função de um gestor público. Enquanto isso, as soluções apontadas pelo Poder Público apostam em fórmulas comprovadamente ineficazes, como mais obras para transposição de águas de outras regiões. Frente a variações climáticas e no regime de chuvas, podemos aumentar nossa resiliência enquanto sociedade com a recuperação e com a conservação de bacias hidrográficas, especialmente daquelas vitais para o abastecimento humano. Esse descolamento entre prática política e necessidades reais e concretas da sociedade é uma das maiores chagas de nosso tempo. Infelizmente a maioria dos brasileiros ainda não relaciona a qualidade de seu voto com os rumos que o país adota para seu desenvolvimento. BA – Deixa uma mensagem para os leitores da EA em Ação, uma palavra, uma frase... BA – Aldem, agradeçemos pela tua
participação e disponibilidade em compartilhar, com leitoras e leitores da
revista EA em Ação, a sua experiência através desta breve entrevista, muito
obrigada!
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