Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/04/2021 (Nº 47) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO DE GUAPORÉ/RS
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO DE GUAPORÉ/RS

 

Autores: 1. Mônia Zampeze (Graduanda do Curso de Ciências Biológicas, Centro Universitário UNIVATES, Autor para correspondência: Rua Elias Scalco, 144 Planalto – Guaporé-RS, 99200-000,  moniazampeze@universo.univates.br)

 

2. Andreia Aparecida Guimarães Strohschoen (Bióloga, Doutora em Ciências – Ecologia, Centro Universitário UNIVATES, Docente do Programa de Pós Graduação em Ensino, aaguim@univates.br).

 

 

 

 

Resumo: A Educação Ambiental possibilita a construção de conhecimentos e  valores, promovendo a conscientização para a preservação do ambiente. Apesar dos desafios e dificuldades enfrentados na educação, desenvolver a Educação Ambiental na escola significa ampliar o entendimento a cerca do que é o ambiente e como o homem está inserido nele. O presente estudo teve como objetivo principal analisar como a temática Educação Ambiental tem sido desenvolvida em escolas de Educação Básica do município de Guaporé/RS. Para tanto, foram aplicados questionários a professores e alunos das séries finais do Ensino Fundamental, em cinco escolas do município. Os dados obtidos através dos questionários foram tabulados e posteriormente analisados por meio da análise de conteúdo. Evidenciou-se a partir da análise dos mesmos, que este tema tem sido desenvolvido nas escolas participantes deste estudo. Os alunos afirmam que transpõem ao seu cotidiano questões relacionadas ao lixo, água e preservação do ambiente buscando um futuro melhor. Observa-se a necessidade de que ao abordar assuntos de EA nas escolas, o foco seja a construção de novas formas de integrar o homem e a natureza e ampliar a percepção de que o ser humano faz parte do meio ambiente.

 

Palavras chave: Educação Ambiental. Projetos de pesquisa. Ensino Fundamental.  

 

1 INTRODUÇÃO

Inúmeras são as dificuldades e desafios enfrentados pela sociedade no mundo inteiro, seja de ordem econômica, social, política ou ambiental. Há muitas décadas, o desenvolvimento industrial e o aumento populacional tem ocasionado  o consumo e exploração de forma exacerbada de recursos naturais.

O início da década de 50 foi marcado por catástrofes ambientais, decorrentes da poluição de origem industrial. No ano de 1952, Londres foi palco para a morte de milhares de pessoas após ter sido envolta por uma onda de poluição atmosférica. Cerca de um ano depois, na cidade japonesa Minimata, milhares de pessoas foram afetadas pela poluição causada por depósitos industriais que continham mercúrio (BRASIL, 1998). Desde então questões ligadas ao meio ambiente tem sido debatidas e passam a fazer parte de encontros e debates realizados em diversos países do mundo.

Na década de 60 passa a existir o movimento ambientalista, e no ano de 1968 é publicado em Roma o primeiro texto abordando as questões ambientais e do desenvolvimento humano (CASCINO, 2003). Na mesma década, surge na Inglaterra o termo Educação Ambiental (EA) em uma Conferência de Educação, sugerindo que esta fizesse parte do contexto educacional de todos (BRASIL, 1998). Segundo Adams (2012), a EA surge principalmente em virtude da necessidade de mudanças nos hábitos e atitudes do ser humano perante o meio ambiente.

Na década de 70 ocorrem importantes encontros, como a Conferência de Estocolmo, no ano de 1972 (PASSOS, 2009), e o primeiro Congresso Mundial de Educação, no ano de 1977 em Tbilisi, na Geórgia (CASCINO, 2003). 

No ano de 1992 o Brasil recebeu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, evento este que ficou mundialmente conhecido como Rio-92 ou Eco-92 (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1993). Para Guimarães e Fontoura (2012), o discurso a respeito do desenvolvimento sustentável atingiu níveis políticos e econômicos do Brasil de forma branda, porém continuou a partir da Rio-92.

Conforme Loureiro (2006), no Brasil apesar de todas as discussões internacionais, a EA não era devidamente reconhecida. Para muitos falar em ambiente era algo que impediria o desenvolvimento do país. Contudo, em 27 de abril de 1999, foi sancionada a Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a EA e instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, a qual expressou que      

 

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

 

Conforme Adams (2012), a EA é uma prática pedagógica a qual deve ser desenvolvida em todos os níveis educacionais, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Através da EA, se torna possível a construção de atitudes e valores, que proporcionam mudanças na aprendizagem dos indivíduos (MEDINA; SANTOS 2003). Para Dias (2004), a EA deve ser abordada por toda a sociedade de forma a contemplar o meio ambiente como um todo.

            Observa-se que no Brasil diversos estudos sobre a Educação Ambiental vêm sendo realizados, principalmente estudos que ressaltam o desenvolvimento da EA nas escolas, conforme pode-se observar nos trabalhos de Guido e Tavares (2009), Mendes e Vaz (2009), Gama e Borges (2010), Cavalcanti e Amaral (2011), Pereira (2012), Távora (2012), Lago, Miranda e Silva (2013), entre outros.

Desta forma, pode-se dizer que apesar dos desafios e dificuldades enfrentados na educação, desenvolver a EA na escola significa ampliar o entendimento a cerca do que é o meio ambiente, no entanto para que isso ocorra, é necessário o engajamento de todos que se envolvem no processo educacional, para que de fato se obtenham resultados positivos. Conforme ressalta Travassos (2006), os alunos devem compreender e conhecer o meio em que vivem, para preservar o mesmo. Sendo assim, a escola tem papel fundamental na formação da capacidade crítica e reflexiva dos alunos. Ainda, segundo o autor a escola é o espaço ideal para desenvolvimento de projetos de EA, principalmente quando os mesmos proporcionam a interação do meio escolar com a sociedade em geral.

 Além disso, a escola deve ser um espaço onde alunos, professores e demais integrantes da comunidade escolar possam desenvolver atividades relacionadas à temática Meio Ambiente (BRASIL, 2001). Considerando o exposto e tendo em vista a necessidade de ampliar o desenvolvimento de projetos voltados para a EA no ensino da educação Básica, foi idealizada a presente pesquisa, a qual apresentou como objetivo principal analisar como a Educação Ambiental tem sido desenvolvida em escolas de Educação Básica do município de Guaporé/RS.

 

2 MATERIAIS E MÉTODOS

 

            A pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo e de campo, do tipo transversal e de caráter quali-quantitativo, sendo realizado no município de Guaporé-RS. Este município conta com oito escolas de Educação Básica que atendem o Ensino Fundamental de nove anos, destas uma é particular, três são municipais e quatro são estaduais.

            Obteve-se anuência da Secretaria de Educação do município e das direções das escolas para a realização do estudo. Participaram cinco escolas, sendo três estaduais e duas municipais, todas localizadas na zona urbana. Por questões éticas as instituições serão doravante denominadas pelas letras A, B, C, D e E. 

A escola C apresenta espaço externo reduzido e as demais possuem terreno amplo e contam com área verde, contudo nenhuma possui horta. Há várias praças na cidade, estando acessíveis a todas as instituições, sendo que as escolas A, B e E localizam-se próximo ao Parque Ecológico Municipal. Nos educandários C e D há maior quantidade e variedade de recursos pedagógicos disponíveis.

            A coleta de dados ocorreu no período de novembro de 2012 a maio de 2013. Participaram, respondendo a questionários, professores e alunos das séries finais do Ensino Fundamental de 9 anos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no caso dos alunos, os responsáveis.

Os questionários foram elaborados de forma diferenciada para professores e alunos, ambos com questões dissertativas e objetivas. A análise das questões objetivas se deu em termos porcentagem e para as questões dissertativas utilizou-se a análise de conteúdo (BARDIN, 2011). 

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            A seguir, tem-se a análise das respostas apresentadas por alunos e professores sobre EA, a partir dos questionários respondidos pelos participantes.

 

3.1 Alunos

Considerando o total de alunos que responderam o questionário (271), observou-se que 34% são alunos da 6ª série/7º ano, 28% são alunos da 7ª série/8º ano, 20% são alunos da 5ª série/6º ano e 18% dos alunos são da 8ª série/9º ano. 

Procurou-se conhecer o conceito de Educação Ambiental existente entre os alunos, obtendo os seguintes resultados: 45% dos alunos acreditam que EA é a conscientização, conhecimento, estudo, cuidado, respeito e conservação do meio ambiente; 23% relacionam ao estudo, respeito e preservação da natureza, porém especificando fauna e flora; 11% colocam que EA se refere a atitudes que visam evitar a poluição; 6% não sabem ou não responderam; 6% dizem que EA é a ciência que estuda o meio ambiente; 4% pensam em reciclagem ou separação do lixo como EA; 2% escrevem que é estudar água e alimentos; 2% consideram que a EA é quando não são praticadas queimadas ou desmatamento; 0,7% acreditam que EA são as pessoas que ensinam sobre o meio ambiente e 0,3% referem-se ao estudo do corpo humano.

Evidenciou-se que um número expressivo de alunos demonstra ter um entendimento amplo a respeito do conceito de EA. Essa construção de conceitos sobre a EA é demonstrada em muitas respostas aos questionários, como exemplificado abaixo: 

Educação Ambiental é cuidar do meio ambiente, separar o lixo, é destinada a desenvolver nas pessoas conhecimentos, habilidades e atividades voltadas para a preservação do meio ambiente. (Aluno da Escola E).

Pra mim Educação Ambiental é ter consciência de que devemos cuidar da natureza, pois dependemos totalmente dela para sobreviver. (Aluno da Escola E).

É conscientizar a sociedade de que o ambiente em que vivemos precisa ser cuidado. (Aluno da Escola A).

 

Conforme estudo realizado por Lago, Miranda e Silva (2013), no estado do Piauí, os alunos veêm a EA como forma de preservar o meio ambiente, o que também foi possível observar neste estudo.

Contudo, percebe-se que o conceito de EA para alguns alunos ainda é concebido de forma restrita, como transparece ao responderem que EA é evitar o desmatamento, estudar fauna e flora, estudar sobre a água e alimentos e estudar o corpo humano. Estas são temáticas que devem ser entendidas como parte de um todo, e não isoladamente. A EA não é só estudar a natureza, mas educar de forma que a sociedade compreenda a natureza, construindo novas formas de pensar (MEDINA; SANTOS, 2003).

O conceito de EA entre os alunos também foi abordado em estudo realizado por Mattar, May e Maranho (2013), com alunos de 5ª à 8ª séries de uma escola particular, na cidade de Curitiba/PR. Conforme os autores, os alunos demonstraram dificuldade em ver a EA como um processo que envolve diferentes habilidades e que visa conhecer para valorizar e conservar o ambiente.

Analisando quais os assuntos relacionados à EA abordados em suas aulas, foi possível perceber que, para os alunos diversos temas foram desenvolvidos durante o ano letivo (Figura 1).

 

Figura 1. Temáticas relacionadas à Educação Ambiental desenvolvidas nas Escolas de educação Básica, no município de Guaporé/RS, conforme informação dos alunos que participaram do presente estudo no período de Novembro de 2012 a Maio de 2013.

Fonte: a autora.

 

De acordo com os educandos, tais temas foram desenvolvidos a partir de atividades como a realização de trabalhos em grupo, utilização de livros, revistas e reportagens, elaboração de cartazes, construção de maquetes e apreciação de vídeos. Os alunos da Escola E destacaram que separam o lixo na sala de aula, fazem campanhas para arrecadação de óleo de cozinha já utilizado para a fabricação de sabão. Os alunos da Escola D destacaram a realização de uma feira de Ciências na escola, onde desenvolveram atividades de EA.  Na escola B foram confeccionadas roupas com materiais recicláveis em atividade de Gincana. Conforme a maioria dos alunos, os professores abordam assuntos relacionados à EA  em momento determinado do ano letivo.                           

Santos et al. (2011), em estudo realizado em escolas no município de Olivedos/PB, relacionaram o ensino de Química com a temática do lixo, onde propuseram atividades relacionadas a reciclagem, coleta seletiva, e ministraram seminários, minicursos, entre outras atividades. Conforme os autores, após estas atividades foi possível observar que os alunos construíram uma visão mais crítica a respeito do assunto e até propuseram soluções para alguns problemas observados por eles.

Porém a problemática do lixo não se resolve de forma imediata e apenas na escola (SANTOS et al., 2011). É possível observar que

 

o papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva de lixo, em seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os valores consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A necessidade que existe é, na verdade de mudança de valores. (...) é necessário que haja um trabalho, a longo prazo, em cima das representações da comunidade em relação ao seu ambiente (TRAVASSOS, 2006, p.18-19).

 

Neste contexto, vê-se a necessidade de expandir as questões ambientais para além dos muros da escola, mas para que isso aconteça é indispensável o engajamento de toda a sociedade, inclusive dos órgãos gestores dos municípios.

Os resultados desta pesquisa demonstram que Ciências e Geografia são os componentes curriculares em destaque quanto ao trabalho relacionado à EA, com 98% e 57% das respostas dos alunos, respectivamente. Em estudo realizado por Kindel, Silva e Sammarco (2006) foi possível constatar que as disciplinas que abordam a questão ambiental são Biologia e Geografia. Na pesquisa realizada por Gama e Borges (2010), os autores verificaram que a EA é trabalhada pelos professores de Ciências e Geografia, por estas disciplinas possuírem conteúdos ecológicos. Nos dois estudos confirma-se tal prevalência quanto à abordagem da EA, assim como se observou neste trabalho.

Conforme Travassos (2006) e Cascino (2003) a EA deve ser trabalhada de forma interdisciplinar e não de forma isolada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) idealizados no ano de 1997 definem a EA como tema transversal (LOUREIRO, 2006).

 

A proposta de trabalhar questões de relevância social na perspectiva transversal aponta para compromisso a ser partilhado por professores de todas as áreas, uma vez que é preciso enfrentar os constantes desafios de uma sociedade, que se transforma e exige continuamente dos cidadãos a tomada de decisões, em meio a uma complexidade social crescente (BRASIL, 1998, p.50).

             

Nas escolas participantes da pesquisa, 58% dos alunos relataram que foi realizado algum projeto relacionado à EA no ano de 2012, 28% não sabem, 13% dos alunos afirmam que não existem projetos de EA e 1% não respondeu. Em estudo realizado por Barros e Fonseca (2012), os alunos de escolas públicas participam dos projetos, muitas vezes com a participação inclusive dos pais, o que não foi relatado pelos alunos na presente pesquisa.

 

(...) conseguiremos implementar, em nossas escolas, a verdadeira Educação Ambiental, com atividades e projetos não meramente ilustrativos, mas fruto da ânsia de toda a comunidade escolar em construir um futuro no qual possamos viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e com nossos semelhantes (NARCIZO,2009,p.92).

 

Os alunos enfatizam a sala de aula, o laboratório de informática, sala de vídeo, laboratório de Ciências como os espaços mais utilizados pelos professores para desenvolver aulas de EA.  Ambientes como Parque Ecológico, trilhas e horta na escola, foram itens que obtiveram o menor percentual de respostas, conforme pode ser observado na Figura 2.

 

Figura 2. Espaços e recursos utilizados pelos professores nas Escolas de Educação Básica, para o estudo da Educação Ambiental, no município de Guaporé/RS, conforme informação dos alunos que participaram do presente estudo no período de Novembro de 2012 a Maio de 2013.

Fonte: a autora

Em estudo realizado por Costa et al. (2012), em uma escola rural de Manaus/AM, a horta é utilizada por uma professora para o desenvolvimento das aulas. Segundo Pereira et al. (2012), a utilização de espaços como uma horta na escola permite associar a EA aos valores sociais, despertando o interesse e promovendo a sustentabilidade.  A utilização de trilhas ecológicas favorece a relação entre a teoria e a prática, fortalecendo a consciência ecológica e auxiliando no processo de aprendizagem (SILVA et al., 2012). Neste sentido, é possível perceber que as escolas participantes desta pesquisa apresentam carência de atividades realizadas ao ar livre.

Quando questionados sobre os conhecimentos em EA que mais gostaram ou que aplicam no cotidiano, 48% dos educandos responderam que é a reciclagem, separação e destinação correta do lixo e 26% a economia de água. A preservação do meio ambiente para que possam ter um futuro melhor, é apontada por 24% dos alunos.  Um aluno da escola E escreve que:

 

O que eu aprendi foi primeiramente a não botar a culpa da poluição somente aos agricultores, pois eles não são os únicos culpados, e no geral a descartar corretamente o lixo eletrônico, a não consumir mais que o necessário, cuidar e proteger as nossas águas, a fauna e a flora, enfim, preservar para que possamos morar em um lugar limpo e saudável.

 

Segundo Gadotti (2009), o ambiente em que vivemos passa frequentemente por alterações, sobretudo de origem antrópica. Conforme o autor, é imprescindível que as atitudes e ações humanas sejam reexaminadas em prol de vida a longo prazo no Planeta Terra.

 

 

3.2 Professores

Dos vinte e um professores que responderam ao questionário, verificou-se   que 2 (dois) são formados na área de Ciências, 5 (cinco) em Matemática, 3 (três) em Geografia, 1 (um) em Educação Física, 4 (quatro) em Português, 2 (dois) em Artes, 3 (três) em História e 1 (um) em Pedagogia/Supervisão. Apenas um atua em área a qual não corresponde a de sua formação. Do total, 33% atuam no magistério a menos de 3 anos, 29% a mais de 10 anos, 14% entre 6 e 10 anos, 10% entre 4 e 5 anos e 14% não responderam à questão.

Percebe-se carência quanto à abordagem da EA durante a graduação dos professores que participaram deste estudo, pois 38% afirmaram que o tema foi desenvolvido neste período em disciplinas de Geografia, Botânica, Zoologia, Educação Ambiental e no módulo de Ciências Naturais; 34% disseram que não foi desenvolvido, 14% não lembraram e 14% não responderam a questão. Conforme prevê a Lei 9.795/99, a EA deve estar presente em todos os níveis educativos. Costa (2009), ao analisar a EA nos cursos de formação inicial de professores, constatou que o tema é abordado de forma insuficiente nos currículos em diversas universidades.

Apesar da insuficiência de abordagem desta temática durante a graduação, 76% dos professores afirmaram participar de cursos de formação continuada que focam a Educação Ambiental. As formações são descritas com diversidade de vieses: reciclagem, água, preservação do meio ambiente, cidadania, consumismo e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Gama e Borges (2010), ao realizarem estudo em uma escola pública de Uberlândia (MG), constataram que os educadores que buscam formação continuada apresentam maior facilidade no desenvolvimento de atividades não rotineiras envolvendo a participação efetiva dos alunos.

Em todas as escolas participantes deste estudo, a maioria dos professores afirma que foram desenvolvidos três ou mais projetos ou atividades de EA durante o ano letivo de 2012 e que estes são abordados diariamente. Ressaltam que em anos anteriores também foram realizados projetos ou ações pedagógicas nesta área. Ao realizar estudo em Teresópolis (RJ), Lamosa e Loureiro (2011), constataram que o meio mais utilizado para o desenvolvimento da EA são os projetos. Os autores afirmam que a maioria dos educandários realiza projetos integrando duas ou mais disciplinas.

            Entretanto, das cinco escolas participantes deste estudo, somente os professores das escolas C e D afirmaram que os projetos foram desenvolvidos em mais de uma disciplina. Doze educadores, dentre os 21 (vinte e um) participantes, afirmam que seus projetos de EA se expandiram para a comunidade através de ações na Semana do meio ambiente, exposições, pesquisas, passeios, além de ações comunitárias como a coleta dos anéis de alumínio das latas de refrigerante e palestras.

Em relação aos temas de EA mais abordados durante as aulas no ano de 2012, houve destaque para o lixo, água, poluição em geral, limpeza da escola, consumismo e saneamento básico. No que se refere aos espaços e recursos mais utilizados para a realização de ações relacionadas à EA, 100% dos professores dizem utilizar a sala de aula, 90% o laboratório de informática, 90% a sala de vídeo, 57% o laboratório de ciências e 57% a biblioteca. Para Costa et al. (2012), apesar dos professores acharem a temática EA importante, ficam restritos a atividades em sala de aula, porém, conforme os professores participantes deste estudo os espaços são diversificados, conforme mostra a Figura 3.

 

Figura 3. Espaços e recursos utilizados pelos professores nas Escolas de Educação Básica, para o estudo da Educação Ambiental no município de Guaporé/RS, conforme informação dos professores que participaram do presente estudo no período de Novembro de 2012 a Maio de 2013.

Fonte: a autora

 

A participação e o envolvimento dos alunos nas discussões referentes aos problemas ambientais são fundamentais, principalmente para que eles sejam críticos e mantenham equilibradas as relações uns com os outros e com a natureza (GAMA; BORGES, 2010). No presente estudo grande 67% dos professores relataram que os educandos são participativos e demonstram empenho em ações referentes a temas como consumo, poluição e reciclagem. Os demais disseram que poucos alunos se envolvem e a maioria faz isso incentivado pela nota que obterão.

            Todos os professores consideraram que os alunos podem e/ou devem transpor para seu dia a dia as questões relacionadas a EA trabalhadas na escola como o uso consciente dos recursos naturais, questões pertinentes ao lixo, conservação dos diferentes ambientes, economia de água, consciência sobre o consumo e reciclagem.

            As principais dificuldades apontadas pelos professores é o engajamento ou incentivo a participação dos alunos, pois eles só se comprometem quando a nota está envolvida há aqueles que não cuidam dos próprios materiais. Para alguns professores, existe falta de recursos disponíveis e dificuldades em dar continuidade às ações em casa.

Para Brondani e Henzel (2010), as principais dificuldades enfrentadas pelos professores em escolas municipais do município Senador Salgado Filho (RS) é a falta de continuidade do trabalho na família, além da falta de recursos materiais nas escolas. No estudo de Travassos (2006), os professores apontam a falta de conhecimento e falha em sua formação, bem como a falta de tempo para trabalhar de forma interdisciplinar.

            Neste estudo, percebeu-se que alunos e professores, em vários momentos concordam com a forma sobre como as ações pedagógicas são desenvolvidas nas escolas. Ambos afirmaram que os principais temas desenvolvidos nas escolas, durante o ano de 2012 foram lixo, água, poluição em geral, conservação e limpeza da escola. Além disso, para alunos e professores de todas as escolas, Geografia e Ciências são as principais disciplinas a desenvolver a temática EA.

Dentre os espaços e recursos elencados pelos educandos e docentes, destacam-se a utilização da sala de aula, laboratório de informática, sala de vídeo e laboratório de Ciências, como sendo os mais utilizados nas aulas envolvendo temáticas relacionadas a EA. Quanto aos espaços externos à escola, para 5% dos professores e apenas 1%  dos alunos a horta é utilizada em aulas de EA, visto que em nenhuma escola participante do estudo foi constatado a presença de alguma horta.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A partir da realização desta pesquisa ficou evidenciado que nas escolas participantes deste estudo, no município de Guaporé/RS, o tema Educação Ambiental tem sido desenvolvido. Contudo, professores e alunos nem sempre concordam sobre como as ações pedagógicas são trabalhadas.

            Os temas mais desenvolvidos em EA foram lixo, água e poluição em geral. A maioria dos alunos consegue perceber o trabalho contextualizado a partir de projetos, porém um número relevante não demonstra clareza sobre o que é um projeto, mesmo atuando como protagonistas em suas ações.

As temáticas em EA, de acordo com os professores, são realizadas em uma diversidade de espaços, dentro e fora do ambiente escolar, o que não está de acordo à percepção dos alunos, para os quais espaços externos à escola são raramente usados, e atividades relacionadas a EA são desenvolvidas em momento determinado do ano letivo.

Os alunos das escolas C e D não percebem a interdisciplinaridade mencionada pelos professores. Em todas as escolas os educandos mencionam as disciplinas de Ciências e Geografia como aquelas que enfatizam a EA.

Evidencia-se que a EA praticada nas escolas contribui para mostrar aos alunos a importância do cuidado com o meio ambiente, assim sendo, professores e alunos afirmam que transpõem ao seu cotidiano questões relacionadas ao lixo, água e preservação do meio ambiente para ter um futuro melhor.

Sugere-se que, ao abordar assuntos de EA nas escolas, o foco seja a construção de novas formas de integrar o homem e a natureza e ampliar a percepção de que o ser humano faz parte do meio ambiente. Pois conforme Jacobi (2005), a EA promove a construção de uma visão crítica, além de reforçar a necessidade de atuação frente aos problemas socioambientais.

 

REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos