Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PARTICULAR NO MUNICÍPIO DE CURITIBA, PARANÁ
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ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O COLÉGIO POSITIVO JARDIM AMBIENTAL

 

ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PARTICULAR NO MUNICÍPIO DE CURITIBA, PARANÁ.

 

Silvia Vieira de Andrade Mattar¹; Dayane May²; Leila Teresinha Maranho³

 

¹Professora titular e Coordenadora da disciplina de Ciências do ensino fundamental do Colégio Positivo, e Mestre em Gestão Ambiental da Universidade Positivo. Endereço: Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, CEP 81280-330, Curitiba – PR, Brasil. E-mail: smattar@positivo.com.br

²Professora do Curso de Ciências Biológicas e Doutoranda em Gestão Ambiental, ambos da Universidade Positivo, Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, CEP 81280-330, Curitiba – PR, Brasil. E-mail: dayanemay@hotmail.com

³Professora Titular do Programa de Pós-graduação em Gestão Ambiental e do Curso de Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Positivo, Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, CEP 81280-330, Curitiba – PR, Brasil. E-mail: maranho@up.com.br

 

 

 

Resumo

 

A preocupação mundial quanto à preservação do ambiente e seus recursos cresce a cada dia. Além de eventos pontuais (dias temáticos), do esforço dos ambientalistas e da participação da mídia, a escola surge como grande aliada nesse processo, com a abrangente proposta de vincular à educação uma concreta consciência ambiental, propondo soluções e medidas aos problemas do cotidiano. Este trabalho tem como objetivo geral o desenvolvimento de um programa de Educação Ambiental em escola particular da cidade de Curitiba, com a pretensão de capacitar os educadores e sensibilizar os alunos para a problemática ambiental, a fim de que, convictos, transformem-se em agentes multiplicadores na escola e no seu grupo social. O levantamento da percepção ambiental, do nível de conhecimento e de sensibilização dos alunos e professores do colégio Positivo Jardim Ambiental referentes aos aspectos locais foi realizado por meio da elaboração e aplicação de questionários estruturados. A proposta foi projetada a partir do diagnóstico da situação atual e formalizada após análise dos demais dados disponíveis, considerando todos os fatores que possam influenciar o sucesso das ações de intervenção. Como resposta a essas ações, espera-se, a efetiva aplicação do programa desenvolvido, com ênfase nas principais necessidades diagnosticadas, a mudança de postura e de hábitos inicialmente dentro da comunidade escolar, a redução do consumo de recursos naturais e da geração de resíduos. Implementar um projeto de Educação Ambiental possibilitará aos alunos e aos professores a compreensão das questões existentes, da presença  humana no ambiente, da sua responsabilidade e do seu papel crítico como cidadão.

 

Introdução – Educação ambiental é aquela destinada a desenvolver nas pessoas conhecimentos, habilidades, valores e  atitudes necessários para proteção e melhoria do meio ambiente, com importância ainda maior em vista das preocupações atuais com os problemas ambientais como aquecimento global, poluição, desmatamento.

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), nesta perspectiva, recomenda que as estratégias de enfrentamento da problemática do meio ambiente, para surtirem o efeito desejável na construção de sociedades sustentáveis, articulem-se coordenadamente com todos os tipos de intervenção direta, incluindo nesse contexto as ações em Educação Ambiental. Dessa forma, assim como as medidas políticas, jurídicas, institucionais e econômicas voltadas à proteção, recuperação e melhoria sócio-ambiental, despontam também as atividades no âmbito escolar.

A educação é um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Portanto, a importância da profissão do professor é muito grande nesse contexto, seja do ensino formal, seja ele alfabetizador ou trabalhe em níveis de pós- graduação, pois, será ele que despertará as aptidões naturais de seus alunos e irá orientá-los para o aprimoramento de suas idéias, disponibilizando ferramentas para o crescimento de sua essência como ser humano. O papel do professor do Ensino Fundamental é determinante para promover mudanças de atitudes que contribuam para um melhoramento geral do espaço ambiental e das relações entre os seres que coabitam os mais diversos tipos de ambientes no Planeta Terra (SILVA, 2009).

   O tema tem papel relevante no âmbito da educação, participando dos currículos escolares enquanto tema transversal, a ser desenvolvido por todas as disciplinas regulares, com a finalidade de sensibilizar os alunos do Ensino Fundamental para a preservação do meio ambiente, como forma de garantir a sobrevivência do planeta para as futuras gerações.

O professor deve ser concomitantemente o educador de sua disciplina e o educador ambiental. Sua função é de ser um agente multiplicador, um referencial, um semeador do processo de sensibilização e defesa do meio ambiente visando à mudança de valores e atitudes a fim de beneficiar a qualidade de vida no ambiente no qual ele está inserido.

Segundo Dias (2004), em nenhum período conhecido da história humana o homem precisou tanto de uma mudança de paradigma e de uma educação renovadora e libertadora. Um processo completo, que promova o desenvolvimento de compreensão mais realista do mundo. A Educação Ambiental torna-se mais urgente, uma vez que quando aplicada da forma correta, representa uma importante ferramenta transformadora da sociedade, catalisando a formação de novos valores e impulsionando o conhecimento do ser humano para várias direções, inclusive a percepção do custo do resgate ambiental e dos seus padrões estéticos, além dos de sobrevivência.

Integrar programas de Educação Ambiental na escola possibilita a aproximação do ambiente natural ao aluno e faz com que este perceba que faz parte do ambiente e de como ele é importante em sua vida. Além disso, segundo Philippi e Peliconi (2000), a Educação Ambiental propõe que cada um tem importante papel a cumprir na proteção do meio em que vive. Fazer compreender que o futuro, como construção coletiva, depende das decisões políticas e econômicas que são definidas no presente, e que essas decisões influenciam diretamente na definição de novos modelos de desenvolvimento, modelos esses capazes de conciliar a justiça social e o equilíbrio ecológico que permitem manter a base do rico substrato natural e cultural de países, cidades ou comunidades, com o objetivo final de melhorar a qualidade de vida.

Trabalhar a Educação Ambiental na escola como forma de programas paralelos envolve construção de atitudes e competências com toda a comunidade escolar que, baseada no Seminário de Belgrado (1975), estruturam-se em: consciência, conhecimento, atitudes, aptidões, capacidade de avaliação e de ação autocrítica no mundo. Torna-se possível, diante dessa perspectiva, dentro da comunidade escolar, aplicar ações que abrandem as necessidades locais com intervenções no dia a dia.

   A Educação Ambiental na escola envolvendo todo o seu quadro de professores, funcionários e alunos vêm como um processo de reconhecimento de valores e esclarecimento de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio e aos princípios sociais e ambientais da coletividade.

Diante da problemática ambiental amplamente discutida nos dias de hoje, a escola aparece como um espaço onde o aluno dá sequência ao seu processo de formação de valores e socialização. O que nela é feito, dito e valorizado representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis.

Considerando a importância da temática ambiental, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) propõem que a escola deverá, ao longo dos anos do ensino fundamental, oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fatos naturais e humanos referentes a essa temática, desenvolvam suas potencialidades e adotem comportamentos pessoais e sociais que lhe permitam viver uma relação construtiva consigo mesmo e com seu meio, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa; protegendo e preservando todas as manifestações de vida no planeta e garantindo as condições para que ele prospere em toda a sua força, abundância e diversidade (MEC – Ministério de Educação e Cultura).

Objetivo – O trabalho em questão tem como objetivo geral elaborar um programa de Educação Ambiental em escola particular da cidade de Curitiba, por meio da capacitação de profissionais ligados à educação e da sensibilização dos alunos quanto aos problemas ambientais, transformando-os em agentes multiplicadores.

Metodologia – Considerando-se a proposta de elaborar um programa de Educação Ambiental voltado à educação formal, tornou-se prioritária a análise das necessidades específicas da comunidade escolar por meio da coleta e exame de dados que, posteriormente, foram utilizados para a tomada de decisões concretas e adequadas à realidade do local. A base das ações para a execução desta proposta é o modelo apresentado por Pérez-Campanero (1991), denominado Análise das Necessidades de Intervenções Sócio- educativas (ANISE).

A elaboração e desenvolvimento deste estudo, seguiram ainda Barra (2006), Oliveira (2007) e Pinto (2008), uma vez que esses autores também tem como base de seus estudos o modelo ANISE. Dessa forma, o ponto de partida para o desenvolvimento do programa de Educação Ambiental envolveu a avaliação formativa para a descrição da comunidade escolar e os processos de reavaliação necessários às propostas e ao desenvolvimento do processo educativo, visando a mudança de hábitos e atitudes e a formação de agentes multiplicadores. Portanto, a Educação Ambiental trabalhada com duas dimensões básicas: estimular as habilidades individuais e municiar esse sujeito com habilidades sociais que permitam ações coletivas na busca da cidadania ambiental.

   O presente estudo foi desenvolvido no Colégio Positivo Jardim Ambiental, escola particular da cidade de Curitiba, PR, inaugurada em 1999, situada próxima às coordenadas 25º25`18,4``S; 49º15`2,68``O. A unidade possui atualmente 1.600 alunos. O quadro de funcionários, que inclui inspetoria, administração e limpeza, possui 97 colaboradores. A equipe de professores da educação infantil, ensino fundamental I e II e ensino médio totalizam 90 educadores.          A área total da escola é de 33.000 m2, com um conjunto de edifício e uma área verde de 1.000 m2.

A pesquisa foi dirigida ao ensino fundamental II (5ª à 8ª série), por um grupo constituído de 107 alunos com idade entre 10 e 14 anos e 25 professores. Para atingir os objetivos do trabalho, estes foram convidados para responder a um questionário voltado para a análise do conhecimento e percepção ambiental. Contudo o programa envolve toda comunidade escolar e por se tratar de um projeto amplo e complexo, abrange tanto questões ligadas à infra-estrutura (depósitos, lixeiras seletivas, contratos, etc.), como a de envolvimento com os funcionários (treinamentos, campanhas, diálogos, etc.) e alunos (didática, planos de aula, materiais de apoio, etc.).     ]

Foram exploradas quatro etapas de pesquisa: reconhecimento, diagnóstico, tomada de decisões e análise dos dados obtidos. No reconhecimento, foram levantadas todas as informações que pudessem ser relevantes para a definição dos problemas. A etapa do diagnóstico, considerada a central no modelo ANISE, o objetivo foi levantar a percepção ambiental e o nível de conhecimento e sensibilização dos alunos e professores do colégio quanto aos aspectos ambientais locais. A tomada de decisões foi a última etapa do modelo ANISE. Nessa fase, estabeleceu-se um plano de intervenções a serem seguidas com um sistema de ações a serem aplicadas.

   Após levantamento, os dados obtidos através da aplicação dos questionários foram tabulados para posterior pré-análise, que envolveu a exploração do material, tratamento e interpretação dos resultados.

Resultados – Os resultados obtidos por meio da aplicação dos questionários revelaram o grau de conhecimento do público alvo e a percepção em relação ao meio ambiente, sendo fundamentais para a caracterização da comunidade escolar e para a elaboração do programa.

   Em relação à primeira classe de perguntas, relacionadas ao conhecimento e sensibilização dos alunos e professores nas questões voltadas ao meio ambiente, foi constatado que 65% dos alunos entendem o meio ambiente como o local onde vivem apenas os animais e plantas, 25% enxergam o ambiente como o lugar onde vivem, e apenas 7% acreditam que meio ambiente é o lugar onde ele próprio vive, juntamente com outros seres vivos. 

Destaca-se aqui uma incompreensão do que é meio ambiente, pois poucos percebem o ambiente como um todo e o ser humano sendo parte integrante dele. Resultados similares foram encontrados por Pelicioni (1998), ao avaliar 325 alunos de 5ª à 8ª séries do município de São Paulo, em que 84,3% dos alunos apresentaram dificuldades em perceber o ambiente construído como parte do meio ambiente.

O mesmo questionamento realizado com os professores indicou 67% dos docentes possuem um ponto de vista pouco profundo no que se refere ao termo meio ambiente, por isso considerado não satisfatório. Alguns exemplos destas respostas foram: o meio ambiente é “a natureza”; “o local onde vivemos”; “tudo que envolve seres vivos”; “tudo que tem vida”.

   Essa realidade está distante da visão holística tida como ideal da definição de meio ambiente, como um completo conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural e integrado sem que haja a constante intervenção humana, incluindo os componentes bióticos e abióticos.

Os dados indicam uma indefinição do conceito de meio ambiente pelos professores, o que irá refletir diretamente na dificuldade de se aplicar essa temática e suas problemáticas em sala de aula, bem como em trabalhar a percepção ambiental do aluno.

Todos professores ao serem questionados sobre sua função como mediador do conhecimento, reveleram a responsabilidade no que diz respeito à seriedade do seu papel para com o aluno. Apenas 33% deles, entretanto, afirmam atualizar os seus conhecimentos na temática ambiental com frequência, seguidos de 59% que se atualizam às vezes, seja por meio da internet, revistas, jornais ou mídia. Essa situação demonstra uma necessidade de aprimorar o conhecimento do professor, já que ele sente ser responsável pela informação adquirida pelo aluno em sala de aula.

A maioria dos professores entrevistados (59%) acredita que as questões ambientais são de caráter multidisciplinar, 33% não souberam responder e 8% não observam esta atitude multidisciplinar para abordar temas ambientais. Outro aspecto observado foi se os alunos enxergam o local onde estudam como poluído ou não. É pertinente a ressalva que a percepção da poluição visual é subjetiva, porém, o objetivo dessa questão foi avaliar se o aluno observa o meio ao seu redor, e se aquele espaço na sua visão está poluído ou não.

 A maioria (71%) não percebe a poluição presente em relação à quantidade de lixo gerada diariamente, com apenas 12% considerando seu local de estudo muito poluído, e 8% dos alunos não souberam responder a essa questão

Essa situação leva a refletir que o aluno precisa reconhecer o ambiente local e seus problemas, para então participar ativamente no processo de diagnóstico e tomada de decisões referentes aos problemas ambientais da comunidade escolar.

Os professores foram questionados ainda, quanto à abordagem de aspectos relacionados ao meio ambiente local em suas aulas, e 50% deles responderam que sempre abordam; 25% disseram que às vezes consideram o ambiente local, e os restantes 25% responderam que não.

Tuan (1980) afirma que a educação é um instrumento de melhoria da qualidade de vida, por meio de formação de cidadãos conscientes de sua participação na conservação ambiental, para tanto, é necessário o conhecimento e percepção ambiental local. O aluno não se vê como o causador da poluição ambiental local. Ao ser questionado sobre quem é o responsável pela poluição local, nenhum deles se aponta unicamente. A maioria (72%) acusa todos que freqüentam o ambiente educacional, incluindo ele, seguidos de 9% que acreditam que apenas alguns estudantes são causadores da poluição e 3% vêem a escola como responsável pela geração da poluição.

Um dado relevante nesse questionamento reside no fato de uma grande parte dos alunos (72%) acreditar que pode fazer algo para melhorar o local em que estuda. Essa informação remete ao apresentado por Ferreira (2007), que justifica a escolha dos alunos do ensino fundamental como sujeitos de pesquisas, pelo fato de que eles são potenciais formadores da base de cidadania da sociedade - são aqueles que mais estão próximos do cotidiano por meio da formação escolar nesse período, já que nas outras fases de formação (ensino médio e superior) o foco da educação desloca-se mais para a formação de competências profissionais.

Uma outra questão levantada, foi referente ao entendimento sobre o que é Educação Ambiental. Os alunos demonstraram dificuldade em vê-la como um processo que envolve diferentes habilidades e que visa conhecer para valorizar e conservar os ambientes. Observou-se que 4% dos estudantes acham que a Educação Ambiental deve apenas transmitir conhecimento, 48% responderam que a Educação Ambiental educa para preservar o ambiente, 27% assinalaram que a Educação Ambiental ensina a valorizar o ambiente, e somente 16% assinalaram mais de uma alternativa, discernindo as diferentes metas da Educação Ambiental. Ainda nessa questão 5% dos estudantes não souberam responder as finalidades da Educação Ambiental.

Em relação aos professores, ao serem questionados sobre o mesmo conceito, porém, na forma de uma questão aberta, 50% deles trouxeram respostas satisfatórias, ou seja, apresentando o conceito de Educação Ambiental completo e de acordo com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s 1997), com frases como “conhecer para preservar”, “educação para se adquirir conhecimentos a respeito do ambiente e mudar sua postura diante dele”. Contudo ainda metade deles (outros 50%) não tem claro o objetivo da Educação Ambiental, com respostas sem fundamentação, tais como: “ter hábitos saudáveis”, “estudar um determinado ambiente, seja ele um local, região ou um país.” Ao serem questionados em relação à importância da Educação Ambiental, os professores apresentaram em suas respostas uma preocupação reconhecendo a importância da conservação ambiental (22%), restauração de ambientes impactados (24%) e o desenvolvimento da relação do ser humano como o meio (27%).           

Todos os conceitos ainda estão distantes do ideal sugerido por Stapp et al. (1969), Mellowes (1972), Dias (2004), Jacobi (2003; 2005), Sorrentino et al. (2005) que afirmam que a Educação Ambiental como componente de uma cidadania abrangente é um processo no qual deverá ocorrer o desenvolvimento progressivo da preocupação com o meio ambiente, baseado em um completo e sensível entendimento das relações do ser humano com o meio a sua volta, ou seja, promover a reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável.  

Dentro da proposta pedagógica da escola Positivo, no Ensino Fundamental II (da 5ª à 8ª séries), o aluno adquire conhecimentos específicos de cada disciplina, desenvolvendo competências e habilidades para se comunicar, resolver situações novas e interagir intelectual e socialmente com a sua realidade. Os conteúdos são explorados em suas relações com a realidade, mostrando que a escola não é um mundo à parte: todo o conhecimento pode e deve ser aplicado no cotidiano. As aulas e projetos pedagógicos são permeados ainda pela afetividade, já que o aprendizado depende dos vínculos emocionais e de um ambiente prazeroso.

       Ao serem questionados sobre como é feita a abordagem da Educação Ambiental no projeto pedagógico da escola, apenas 33% dos professores afirmaram ter conhecimento desta abordagem que é feita constantemente por meio de diferentes projetos, o que caracteriza a falta de interação e clareza na relação entre professor e realidade escolar. Todavia, observou-se que apenas 8% dos professores participaram em 2010 de algum projeto ligado à Educação Ambiental. Esse dado torna-se preocupante, uma vez que, como Legan (2004) afirma, a verdadeira Educação Ambiental só acontece na vivência prática, descobrindo o impacto e o potencial de restauração do homem, e neste sentido, os projetos de Educação Ambiental na escola são fundamentais, pois são nessas atividades que os alunos tornam-se ativos e apropriam-se da Educação Ambiental como ferramenta de trabalho.

      Os professores, ao serem questionados se participariam de um projeto voltado à Educação Ambiental, o resultado foi  92% afirmando que fariam parte de um projeto.

   A vontade e a real participação, é explicada pelas questões sobre grau de conhecimentos em Educação Ambiental. Os professores não sentem segurança para trabalhar a temática, que ainda é muito focada na disciplina de ciências.  Foi avaliado que remete a um dado que mostra que 83% dos professores não acreditam ter conhecimento suficiente para trabalhar a Educação Ambiental em projetos multidisciplinares paralelos, confirmando, então, a necessidade de se promover a capacitação e atualização contínuas do educador.

O professor, como mediador do processo ensino-aprendizagem, é um dos responsáveis por tornar isso possível, o que justifica a importância da formação docente em Educação Ambiental, voltada para a perspectiva interdisciplinar.

Sato (2003) orienta que ao assumir que a Educação Ambiental é realmente um processo educativo, deve-se questionar qual é a base pedagógica que orienta as ações do profissional de educação. Cabe aos educadores refletir sobre os diversos paradigmas, e sobremaneira, agir para a transformação. É necessário, assim, primeiramente mudanças de atitudes para as orientações de qualificação profissional e suas ações.

Os resultados demonstraram a efetiva necessidade da aplicação do programa desenvolvido, com ênfase nas principais necessidades diagnosticadas, visando à mudança de postura e de hábitos dentro da comunidade escolar. Implementar um projeto de Educação Ambiental possibilitará aos alunos e aos professores a compreensão das questões existentes, da presença humana no ambiente, da sua responsabilidade e do seu papel crítico como cidadão.

Conclusão - Nas últimas décadas, a preocupação relacionada aos problemas ambientais e a busca pelo desenvolvimento sustentável se intensificou. Projetos com a finalidade de transmitir para as comunidades conhecimento, procurando sensibilizá-las para as questões ambientais, e mobilizá-las para a modificação de atitudes incorretas e a assimilação de costumes corretos para o equilíbrio ambiental tem se tornado corriqueiro. Por isso, a Educação Ambiental é considerada fundamental nos aspectos de sensibilização e percepção para a mudança de postura ambiental.

A eficácia desses trabalhos denominados de Educação Ambiental ainda é discutível. Embora seja considerada imprescindível como estratégia em busca de um futuro sustentável, e a legislação e todos os documentos regidos por ela priorizem a Educação Ambiental, e pronunciam que ela deve ser trabalhada de forma contínua e multidisciplinar nas escolas como tema transversal, a realidade ainda não é essa.

Incluir a Educação Ambiental no Colégio Positivo Jardim Ambiental, portanto, como essa é prevista em lei e de acordo com os PCN´s, é um grande desafio, pois exige a participação ativa e responsável de todos os envolvidos no processo e, além disso, requer a disposição de recursos financeiros por parte da instituição.

Este estudo se preocupou em analisar a percepção ambiental e o conhecimento de alunos e professores do Ensino Fundamental II referente às questões ambientais e Educação Ambiental. Nesse sentido, os resultados foram analisados e foi possível diagnosticar problemas ambientais, e prever a necessidade da implementação de um programa de Educação Ambiental voltado a todos os envolvidos na comunidade escolar. Programa esse específico para atender às necessidades da área de estudo, com base na caracterização da mesma.

Ao considerar a Educação Ambiental como um eixo do conjunto dos temas transversais, e, portanto de caráter multidisciplinar, observou-se ao analisar o grau de conhecimento dos alunos e professores, um distanciamento dessa interdisciplinaridade, uma vez que, a Educação Ambiental limita-se na escola, nos projetos que já ocorrem, em sua maioria às disciplinas de Ciências e Biologia. Fundamentada nesse resultado, a inserção da Educação Ambiental no currículo escolar deve ocorrer para atingir os objetivos propostos nos PCN, e essa inserção requer mais diálogo entre escola e professores, e maior aproximação da escola com a comunidade.

Outro fato observado durante a análise dos resultados foi a falta de habilidades e conhecimentos específicos dos professores das outras disciplinas para trabalhar a Educação Ambiental, deste modo a elaboração do programa para capacitar os professores das diferentes áreas do conhecimento para se tornarem aptos a trabalhar com a Educação Ambiental, transferindo aos alunos responsabilidades criticas de cidadãos, é uma prioridade para o Colégio Positivo Jardim Ambiental.

Como foi observado que os eventos e campanhas ambientais são pontuais, ou seja, ocorrem apenas em datas como dia do meio ambiente ou dia da Biodiversidade, aumentar consideravelmente e de forma contínua as atividades e ações que visam sensibilização e mudanças de atitudes da comunidade escolar e realizar o treinamento de todos os funcionários envolvidos no dia a dia escolar também foi incluído no programa, pois são estratégias para a mudança de hábitos e inclusão definitiva da Educação Ambiental no cotidiano da escola.

Portanto, a aplicação de um programa se torna prioridade para se alcançar a situação desejável, e consequentemente uma melhor qualidade de vida a todos os envolvidos.

 

Referências

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Ilustrações: Silvana Santos