Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA TEORIA À PRÁTICA - UMA EXPERIÊNCIA DENTRO DO ENSINO PÚBLICO EM NOVA OLÍMPIA, MT
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Educação Ambiental: da teoria à prática - uma experiência dentro do ensino público em Nova Olímpia, Mato Grosso

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA TEORIA À PRÁTICA - UMA EXPERIÊNCIA DENTRO DO ENSINO PÚBLICO EM NOVA OLÍMPIA, MATO GROSSO  

 

 

ENVIRONMENTAL EDUCATION: FROM THEORY TO PRACTICE - AN EXPERIENCE IN PUBLIC EDUCATION IN NOVA OLÍMPIA, MATO GROSSO

 

Luiz Carlos Machado Filho1

Thiziane Helen Lorenzon2

1 Biólogo pela Universidade de Cuiabá. Analista Ambiental da Usinas Itamarati S/A - Nova Olímpia/MT. E-mail: luiz.cbio@gmail.com

2 Bióloga pela Universidade Federal da Grande Dourados e professora orientadora do estudo. E-mail: thiziane@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

A rotina normal de um estagiário de licenciatura tem três caminhos durante o processo de estágio: aprender, participar e contribuir. A adesão desses caminhos transformou o estágio de docência em Ciências e Biologia em uma expansão educativa voltada para a visão holística dos problemas ambientais que ocorriam dentro e fora da instituição de ensino. Arte e cultura foram utilizadas no espaço interativo pedagógico formado por peças teatrais e oficinas dando início a uma avaliação da problematização da própria ação e amadurecimento da interdisciplinaridade com o projeto interventor “Arte Ecológica como Instrumento de Educação Ambiental” na Escola Estadual João Monteiro Sobrinho, Nova Olímpia / MT.    

 

Palavras-chave: Educação Ambiental; Arte Ecológica; Ensino de Biologia.

 

ABSTRACT

 

The normal routine of an Associate degree have three ways during the staging process: to learn, participate and contribute. The accession of these paths become the stage of teaching Science and Biology in an expansion of education focused on the holistic view of environmental problems that occurred inside and outside the educational institution. Art and culture were used in the space formed by interactive educational plays and workshops, initiating an assessment of the questioning of the action itself and maturation of the interdisciplinary project with the intervenor "Ecological Art as a Tool for Environmental Education" in the State School João Monteiro Sobrinho, Nova Olímpia / MT.

 

Keywords: Environmental Education; Ecological Art; Biology Teaching.

 

 INTRODUÇÃO

         Os conhecimentos adquiridos com alunados e professorados em momentos de informação, questionamento, integração e aprendizagens nos levam a repensar sobre o prazer e paixão de ser professor em nosso país. Na escola, muitas vezes esse entusiasmo desaparece ou fica adormecido quando educadores e alunos são levados a repetir práticas de ensino-aprendizagem clássicas, sem muito espaço para a participação ou a criatividade. A obrigatoriedade da realização de regência para formação de professores oculta o valor de uma ideação educativa voltada para uma transformação social, econômica e ambiental.

 

         Diante da desarmônica relação entre alunos e professores percebida durante o estágio observatório, a sensação de responsabilidade para que houvesse uma mudança educacional no estágio de regência foi decisiva. Os alunos, carentes de motivação e desenganados em relação à vertente ambiental por parte da escola, precisavam de um estímulo que pudesse valorizá-los. Partindo dessa idéia, buscamos algo que não se limitasse à exposição de técnicas, etimologias ou conceitos, mas sim de sua própria realidade, notoriamente “necessitados culturalmente/ambientalmente”.

 

         Conhecimento, cultura e respeito ao meio ambiente não se dão somente por meio de experiências externas, mas principalmente pela intensidade das emoções vividas durante uma experiência. Com a valoração dos fatos vivenciados pelos alunos surgiu o Projeto Arte Ecológica como Instrumento de Educação Ambiental. Para VASCONCELLOS, 1997 “a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra”. Nesse sentido, a Educação Ambiental - EA é que trata a complexidade e a relevância do meio ambiente em assuntos educacionais que estão frente aos nossos olhos e muito mais claros quando colocamos os “pés” fora da escola.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Estudo e Diagnóstico Ambiental na Escola

O presente estudo foi realizado na Escola Estadual João Monteiro Sobrinho em Nova Olímpia / MT durante o período de estágio de docência em Ciências e Biologia dos acadêmicos da Universidade de Cuiabá com a comunidade escolar do ensino fundamental, médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos).

 

Durante o período de observação e coparticipação de estágio em 2011 foi realizado um diagnóstico ambiental na escola a partir de caracterização física e identificação dos principais aspectos ambientais de acordo com a (Tabela 1). Através da assimilação dos aspectos significantes para o meio ambiente foi proposto o Projeto Arte Ecológica como Instrumento de Educação Ambiental que utilizou uma peça teatral dentro dos princípios lúdicos para uma sensibilização ambiental.

 

Projeto Arte Ecológica como Instrumento de Educação Ambiental

 

Para a realização do projeto foram feitos anúncios nas salas de aula convidando os alunos interessados em participar do evento ambiental. O texto da peça teatral foi elaborado pelos estagiários juntamente com a professora de educação artística com base no diagnóstico e realidade ambiental da escola. Após a formação do grupo e elaboração do roteiro, deu-se início aos ensaios com a orientação de professores e supervisão da coordenadora pedagógica. Adotou-se para criação do figurino e do cenário o método dos “5Rs” reutilizando-se restos de TNT (Tecido Não Tecido), 100% de celulose e biodegradáveis para confecção das roupas e adereços do cenário.

 

 Com a apresentação da peça ambiental na Semana do Meio Ambiente de 2011 houve a percepção de que a EA é um processo participativo e contínuo. Durante a reunião para discussões de resultados foi consolidada a promoção de um espaço interativo pedagógico para trabalhar a interdisciplinaridade na escola durante o período de estágio utilizando a metodologia de oficinas pedagógicas com teoria e prática sobre a temática ambiental. Para GONZALES apud CANDAU, 1999, p. 23, a oficina pedagógica é “uma experiência de ensino e aprendizagem em que educadores e educados constroem juntos o conhecimento num tempo-espaço para vivência, a reflexão, a conceitualização: como síntese do pensar, sentir e atuar”, sendo um artifício dentro da educação para participação, aprendizado e sistematização dos conhecimentos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

       O levantamento dos aspectos ambientais da Escola Estadual João Monteiro Sobrinho identificou a geração de resíduos, geração de efluente sanitário e consumo de recursos naturais como principais problemas na Instituição (Tabela1). Percebeu-se que não existia programa educacional que tratasse do cotidiano ambiental da escola de maneira teórica a um caráter prático.

 

 

 


 

Tabela 1: Aspectos Ambientais da E. E. João Monteiro Sobrinho

 

O Projeto “Arte Ecológica como Instrumento de Educação Ambiental” atingiu 50% dos alunos do Ensino Fundamental e 20% dos professores, além da participação de familiares (Figura 2) como ouvintes, já que o evento contou  com um teatro ambiental aberto à comunidade. As problemáticas locais foram enfatizadas durante a história teatral encenada pelos próprios alunos (Figura1). Essa experiência proporcionou criatividade e conhecimento individual associado ao grupo que era carente cultural/ambientalmente.

 


 

Figura 1: Alunos encenando a peça ambiental.

 


Figura 2: Público que prestigiou o evento (Familiares, comunidade e alunos).

 

 

As questões temáticas abordadas na apresentação ambiental foram tratadas de maneira lúdica, divertida e dentro das vivências dos próprios alunos.  Satisfatório foi observar restos de materiais que eram vistos como lixo serem reutilizados em fantasias e decoração.

 

Nosso dever poderia estar cumprido através de um projeto com alunos do Ensino Fundamental, porém a possibilidade de ampliá-lo para a avaliação de resultados oportunizou uma idéia fundamentada nos princípios da interdisciplinaridade para concepção de um espaço interativo pedagógico (Figura 3) para abranger os conhecimentos da EA em anos seguintes, que antes do projeto não eram explorados na Instituição.

 


 

 

Figura 3: Modelo Interativo Pedagógico criado para trabalhar a interdisciplinaridade a favor da EA.

Com o desenvolvimento do modelo interativo pedagógico a oficina pedagógica mobilizadora de todos os professores e alunos do ensino médio e EJA noturno foi colocada em ação. Esse artifício transformou a imaginação dos alunos em extrema procura pelo saber e aguçou seus interesses aos temas expostos. Para cada assunto do cotidiano socioambiental da comunidade escolar era realizada uma prática educativa para que o interesse dos alunos pudesse ser absorvido sob a forma de conhecimento. Apesar de conhecermos a deficiência do aprendizado relacionado ao cotidiano desses alunos trabalhamos com exemplos palpáveis de artigos culinários, artesanato, teatro e dança. Ainda que o espaço escolar fosse árido a essas atividades no contexto ambiental, a soma desses artigos, tarefas e eventos representaram uma possibilidade de avanço no que diz respeito às informações sobre as questões ambientais.

 

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s estabelecem diretrizes para as práticas ambientais no âmbito escolar, sabidamente percebidas por estagiários e professores, embora não sejam seguidas, tão pouco exploradas no laboratório dos futuros professores. O Brasil, signatário de convenções ambientais e forte detentor de uma imensa biodiversidade, deveria incentivar a prática do exercício ambiental, esquecida ou pormenorizada em decorrência da falta de disposição de educadores e corpo político-administrativo. Ao uso do modelo interativo pedagógico desenvolvido durante o estágio conciliou-se a teoria à prática ambiental de maneira atrativa tanto para alunos quanto para os professores, indo de encontro à indisposição governamental de tornar sólida a arte da Educação Ambiental, que desmoraliza seu discurso econômico.

 

A capacidade de transitar habilmente entre os campos teóricos e práticos da EA acrescentou às experiências dos alunos a profundidade dos conhecimentos estimulados na execução da Oficina, em que os personagens principais eram professores, alunos e estagiários que passaram de meros expectadores para atuantes da própria problematização ambiental indo de encontro à idéia de GUERRA e GUSMÃO (2000, n.p.), “... o que torna o trabalho de implementação da EA nas escolas quase que impossível de ser realizado, são professores que acham que já estão velhos para mudar os seus métodos de trabalho...”. A motivação dos aprendizes na área educacional e o adequado planejamento de aplicação da EA foram ferramentas de persuasão para ultrapassar essa barreia.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 O salto para uma nova etapa na formação do conhecimento foi claramente percebido nesse estudo. Os alunos passaram a expressar seus saberes sem a barreira da superficialidade, sem temer o erro e a falta de incentivo. Ao mesmo tempo pudemos encontrar, no sentindo do eterno aprendiz que deve ser o professor, mecanismos para superar as dificuldades de iniciantes em uma carreira com tamanha complexidade.

 

Certificamos que medo, receio e dificuldade por parte de alunos e de todo corpo educacional em relação à prática da EA não são mais reflexo do desconhecido, uma vez que o primeiro passo já é uma realidade. Basta agora desenvolver a capacidade de resposta frente à futura problematização que não foi evidenciada e discutida neste estudo, embasando-a sempre em traço essencial para uma dialética ambiental.  Nossa experiência deve ser conhecida e compartilhada, pois as práticas ambientais no Estado do Mato Grosso, principalmente na cidade de Nova Olímpia, ainda é uma novidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANDAU, V. M. Educação em Direitos Humanos: uma proposta de trabalho. In: CANDAU,V. M., ZENAIDE, M. N. T. Oficinas Aprendendo e Ensinando Direitos Humanos, João Pessoa: Programa Nacional de Direitos Humanos; Secretaria da Segurança Pública do estado da Paraíba; Conselho Estadual da Defesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1999.

 

GUERRA, R. T.; GUSMÃO, C. R. C. A implantação da Educação Ambiental numa escola pública de ensino fundamental: teoria vs prática. João Pessoa: Anais do Encontro Paraibano de Educação Ambiental 2000 – Novos tempos. 8-10/11/2000.

 

VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

 

MORIN, E., 2000. Os sete saberes necessários a educação do futuro. 2ª ed. São Paulo,Cortez.

Ilustrações: Silvana Santos