Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 43) A FUNÇÃO DOS ZOOLÓGICOS NOS DIAS ATUAIS CONDIZ COM A PERCEPÇÃO DOS VISITANTES?
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A FUNÇÃO DOS ZOOLÓGICOS NOS DIAS ATUAIS CONDIZ COM A PERCEPÇÃO DOS VISITANTES?

 

Georgia Maria de Oliveira Aragão

Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas, na linha Avaliação do Desempenho Socioambiental, Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC.

georgia.aragao@gmail.com

 

Dr. Ricardo Kazama

Zootecnista, Mestre e Doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá, professor Adjunto do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural e do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC.

rkazama@cca.ufsc.br

 

 

Resumo

 

Os zoológicos há séculos são alvo de curiosidade do público diverso no mundo inteiro, quais são portadores de grande potencial a ser explorado, principalmente na educação. Os zoológicos são espaços que possibilitam o contato próximo com animais silvestres o que desperta a curiosidade e induz o aprendizado não formal. No entanto, os zoológicos apresentam outros papéis importantes na atualidade e que são pouco (re) conhecidas pela população, como os campos da pesquisa e conservação ambiental. Com isso, o presente artigo propôs realizar uma revisão bibliográfica sobre as funções dos zoológicos e a percepção dos visitantes de zoológicos quanto a isso. Proporcionando aos gestores e educadores desenvolverem formas inovadoras de envolver o público para inspirar um maior interesse e melhorar a sua compreensão sobre as funções e propostas que possuem, bem como sobre as questões ambientais.

 

Introdução

 

        Estudos que envolvem a percepção ambiental vêm mostrar que no bojo das discussões de dimensões paradigmáticas como sociedade/natureza não há espaço para reducionismos (Figueiredo, 2011). As aspirações, ações e decisões individuais ou coletivas, que o ser humano desenvolve acerca do seu meio “devem ser avaliadas através de uma cuidadosa análise das atitudes, preferências, valores, percepções e imagens que a mente humana tem a capacidade de elaborar” (Amorim Filho, 1992 p. 16). Castello (1996), afirma que a percepção humana sobre o ambiente é um relevante indicador de qualidade ambiental, auxiliando nas mediações de conflitos e degradação ambiental. A necessidade da pesquisa em Percepção Ambiental para o planejamento do ambiente foi ressaltada na proposição da UNESCO em 1973, através do programa “Man and Biosphere” visando propor subsídios para questões voltadas desde a conservação dos recursos naturais no mundo, até ás relações do ser humano e a natureza.  

        Nossas relações com os animais não humanos se configuram de maneira bastante diferente das décadas passadas, contribuindo para a modificação não somente de nossos hábitos, como também o papel dos zoológicos na sociedade atual. Quando os zoológicos surgiram tinham como foco atender exclusivamente as necessidades de seus visitantes. Hoje têm quatro papeis fundamentais: educação, conservação, pesquisa e lazer (Sanders et al, 2007). De acordo coma Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários do Brasil os zoológicos devem promover a educação ambiental, bem como a conservação ex-situ dos componentes da fauna, nos precisos termos da Lei nº 9.795/99, em consonância com os princípios constitucionais previstos no Art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Embora os zoológicos da atualidade tenham como base a conservação, a reprodução de espécies ameaçadas não é a única forma de contribuir para programas de conservação. Marino (2008 a) diz que o mais importante é o impacto que estas instituições produzem sobre o público, responsável por influenciar tomadas de decisões que definem o êxito ou o fracasso das políticas públicas conservacionistas. A visitação estimada em cerca de 30 milhões de visitantes por ano demonstra também a importância destas instituições como centros de educação ambiental para a população, aumentando o interesse, cuidado e conhecimento sobre a fauna silvestre (Magnani, 2002).

          Além das questões de conservação e bem-estar animal a visão social pelas questões voltadas ao meio ambiente vem propiciando mudanças significativas na forma como o ser humano se relaciona com os seres não humanos (Cavalcanti et al., 2010). O reconhecimento da cognição dos animais retira-os da condição de objetos de um meio, para sujeitos do mesmo, onde diversos aspectos complexos da interação animal-homem-meio passam a ser rediscutidas e reelaboradas (Tannenbaum, 1991). Na medida em que esta perspectiva se difunde globalmente através dos meios científicos e zootécnicos, ela pode criar uma nova sobreposição de crenças tradicionais e dar um novo impulso para a consideração do bem-estar dos animais (FAO, 2009).

        Desta forma, a partir do pressuposto das questões abordadas acima se elaborou o estudo relatado neste artigo. Com o objetivo de fazer uma revisão bibliográfica sobre as funções dos zoológicos brasileiros na atualidade e avaliar, de acordo com a percepção dos visitantes, se as mensagens e informações que estão passando vão de encontro com o papel proposto. Gerando informações que possam subsidiar novas estratégias de comunicação e educação ambiental para os zoológicos.

 

Breve histórico sobre zoológicos

          Os zoológicos existem a centenas de anos, surgindo no Egito Antigo e na China (Fa et al., 2011). Naquela época, os zoológicos possuíam apenas coleções de animais vivos em exposição para entretenimento. Este hábito era visto, e ostentado, como sinal                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   de poder, principalmente entre imperadores chineses, astecas, gregos, faraós egípcios e chefes de Estado (Garcia et al., 2008). A prática durou por muitos anos, porém, em 1752 implantou-se o primeiro zoológico que permitia a visitação do público, o Zoológico de Viena, mas, o foco deste, ainda objetivava o entretenimento (Waza, 2006).

 

“As análises dos tipos de recintos construídos pelos primeiros zoológicos europeus e americanos demonstram que as principais preocupações dos projetistas estavam relacionadas com a praticidade do manejo, a facilidade da higienização e o bem-estar do visitante em observar sem restrições os animais. Daí os recintos em concreto e barras de ferro, dispostos muito proximamente ao público, sem quaisquer enriquecimentos ou preocupação com pontos de fuga e bem-estar animal” (Dias, 2003 a, p. 127).

 

          No século XVIII, o valor dos zoológicos como fonte e centros de pesquisa foi reconhecido (Carr & Cohen, 2011). No entanto, somente com a criação do zoológico de Londres em 1826, os zoológicos foram reconhecidos como centro de pesquisa. O interesse sobre conservação e bem-estar de animais de zoológicos são assuntos da modernidade, só desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial (Knowles, 2003).  Segundo Dias (2003 b), a maioria dos zoológicos europeus e americanos se estabeleceu nos séculos XIX e XX (QUADRO 1).

 

QUADRO 1- Zoológicos criados no final do século XVIII e no século XIX.

           Os zoológicos da atualidade mudaram não só na sua estrutura mas também filosoficamente, respondendo às pressões ambientais e as mudanças dos valores culturais (West et al, 2007). Apesar disso, o zoológico ainda tem como um dos principais objeitos a exposição de animais como forma de entretenimento e diversão para o público, a fim de arrecadar verba e assim desenvolver atividades para outra missão: a conservação (Patrick et al., 2007).

           No Brasil, o primeiro zoológico foi inaugurado por volta de 1882, com a criação de um anexo ao Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará (Marino, 2008 b). Atualmente, é um dos principais centros de pesquisas do país e referência internacional. Os zoológicos do século XX têm um perfil bastante diferenciado. De acordo com o IUDZG (1993), três são os objetivos que devem servir de base para que um zoológico alcance as metas voltadas para as praticas conservacionistas: apoiar ativamente a conservação das populações ameaçadas de extinção; oferecer apoio e facilidades para pesquisas científicas; promover um aumento da sensibilização do público por questões voltadas para a conservação ambiental com a criação de políticas de educação ambiental.

 

Papeis dos zoológicos na atualidade:

·         Educação

          Na Conferência de Tbilisi em 1977, a Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio ambiente. A meta da Educação Ambiental é desenvolver uma população que esteja consciente e preocupado com o meio ambiente e com os problemas que lhe são associados, e que tenha conhecimento, habilidade, atitude, motivação e compromisso para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções (Dias, 2003 c)        

          De acordo com a Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários do Brasil, a maioria dos zoológicos tem programas de educação formal para as escolas, com o objetivo de conectar as crianças com a natureza. No entanto, a educação informal a todos os visitantes começou apenas nos últimos 10 á 15 anos. Os visitantes são muitas vezes relutantes em ler sinais de forma independente quando em um grupo familiar, mas há evidências de que as famílias mostram aprendizagem cognitiva (Yocco et al, 2010).

           Embora a educação possa contribuir para a missão de conservação dos zoológicos, alguns não têm informação sobre como os visitantes podem realmente contribuir na troca de aprendizado (Broad et al, 1998). 

           No Brasil, pouco ainda se é pesquisado sobre percepção do público em geral em zoológicos. Screnci-Ribeiro (2010) diz que transformar um zoológico, inicialmente visto como lazer, em um projeto educacional é perceber que a realidade educacional é bem mais complexa nos tempos em que vivemos.

 

·         Conservação ex situ e Pesquisa

 

           Até o início dos anos 90, os zoológicos mudaram o foco para a reprodução de animais em cativeiro como forma de manutenção de populações ameaçadas para fins de conservação (Bowkett, 2009). Uma vez que as ameaças enfrentadas pela espécie tenham cessado, então os indivíduos podem ser (re) introduzidos no habitat natural.

          Reintroduções de animais em cativeiro foram, contudo, muito criticadas na literatura, principalmente sugerindo que os animais não estão aptos a ser reintroduzidas na natureza, devido à modificação de comportamento em cativeiro (Snyder et al., 1996). Outra crítica muito relatada é que as espécies que fazem parte de um programa de melhoramento genético internacional são muitas vezes de baixa prioridade de conservação (Conway, 2011). Conde et al. (2011) constataram que apenas 15% das espécies ameaçadas estão alojados no zoológico, deste modo sugeriram que as espécies que estão em um nível crítico de sobrevivência devem receber  prioridade, por exemplo os anfíbios que estão atualmente desaparecendo, necessitando desta forma maior planejamento, especialmente com outros projetos in situ.

           Apesar de todos os contras, muitos zoológicos estão empenhados em evoluir para centros de conservação. Especialistas como Bowkett (2009) e Dickie et al (2007) afirmam que os zoológicos não só devem  moldar em conjunto os seus objetivos relacionados a conservação ex situ, mas também equilibrar os seus esforços em programas de conservação ex situ com in situ.

            Recentemente, Gusset e Dick (2010) conduziram uma das primeiras avaliações de como zoológicos podem contribuir para conservação in situ e seu impacto. Através da avaliação de projetos de pesquisa e conservação de 113 zoológicos do Reino Unido, eles descobriram que os jardins zoológicos estão no caminho correto para a construção de um futuro para a vida selvagem. Além disso, quase metade dos projetos não teria sido viável sem a contribuição dos jardins zoológicos. Isto contradiz as críticas anteriores de que as gerações dos zoológicos não conseguiram cumprir as suas atribuições (Hyson, 2004) e que a maioria dos programas de conservação não respondem positivamente (Conway, 2003).

          A contribuição e apoio dos zoológicos à conservação também pode ser avaliada pela estimativa de investimento financeiro da instituição (Miller et al., 2004). Um dos maiores zoológicos da Disney, já financiou mais de US$ 10 milhões em projetos in situ (Stevens et al., 2007). Podemos contrastar essa afirmação visualizando o que acontece nos zoológicos brasileiros e de muitos países em desenvolvimento, quais não têm recursos próprios para além da manutenção do plantel. 

 

·         Bem-estar animal

         O bem-estar animal aqui está classificado como uma das funções dos zoológicos e para isso devemos defini-lo. O bem-estar de um indivíduo inicia com uma boa saúde física (Dawkins, 2006). Evidências como ferimentos, doenças e deformidades são geralmente as principais variáveis que geram sofrimento e, consequentemente, afetam negativamente a qualidade de vida do indivíduo. No entanto, o bem-estar é um conceito que vai além da saúde física. O bem-estar animal está ligado aos estados subjetivos de sofrimento tais como, tédio, dor, fome, sede e frustração, sendo desencadeados quando os animais são impedidos de realizar algo em que estão altamente motivados (Dawkins, 1990). Broom (1986) define bem-estar como uma boa ou satisfatória qualidade de vida que envolve determinados aspectos referentes ao animal tais como saúde, felicidade e a longevidade ou ainda, pela sua capacidade em se adaptar ao seu meio ambiente. O enriquecimento ambiental surge como uma tentativa eficiente de reduzir comportamentos anormais e aumentar a frequência de comportamentos mais apropriados para a espécie (Young, 2003a). Proporcionando, assim, melhora no seu bem-estar.

         Dentro das definições de enriquecimento ambiental está uma série de procedimentos que têm como objetivo a modificação do ambiente físico e social, e como resultado, a melhoria da qualidade de vida dos animais que vivem em cativeiro (Boere, 2001). Segundo Young (2003b), o enriquecimento ambiental pode ser dividido em alimentar, social, físico sensorial e cognitivo.

           Estudos sobre enriquecimento ambiental vêm sendo realizados desde 1925, quando Robert Yerkes escreveu "a maior possibilidade de melhoria para primatas em cativeiro encontra-se quando são introduzidos aparatos em sua instalação e lhe dê algum trabalho”, permitindo que os animais de zoológicos possam apresentar comportamentos homólogos aos que teriam em vida natural (Hediger, 1969).  Atualmente trabalhos de enriquecimento ambiental com várias espécies são desenvolvidos como, por exemplo, o simples ato de oferecer comida em pequenas quantidades e aleatoriamente para dois tigres siberianos do Zoo de Zurique, resultou na diminuição de estereotipias (Jenny et al, 2002). O uso de ervas, temperos e aromas do esterco de animais de rapina tem sido usado para aumentar os níveis de atividade em leões em cativeiro (Panthera leo) (Pearson, 2002).

         Segundo a Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários, no Brasil o zoológico de Curitiba é referência em pesquisas, e uma das bastante realizadas são com comportamento e enriquecimento ambiental para primatas. Em uma dessas pesquisas foi mostrado que um recinto ideal para a manutenção de espécies em cativeiro é aquele em que os animais possam expressar seus comportamentos naturais, em particular, para primatas do gênero Ateles, o ambiente deve ser “florestal” os animais devem ser mantidos em grupo social, a área deve ser adequada ao número de indivíduos e, finalmente, a dieta deve ser baseada nos hábitos alimentares de grupos de vida livre (Almeida et al, 2008).

          Durante as últimas décadas, as exposições de zoológicos evoluíram das clássicas gaiolas para ambientes mais próximos do habitat natural das espécies, visando melhorar o bem-estar dos animais (Hancocks, 2001). Essa mudança também provocou alteração no comportamento dos visitantes. Estudos mostram que os visitantes respondem positivamente com aumento na duração das visitas, interação social e atitudes positivas em relação aos animais (Nakamichi, 2007). Essas exposições tendem a ser esteticamente mais agradáveis, estimulando o interesse do visitante dando assim oportunidades para a educação e conservação.

 

 Percepções de visitantes sobre questões relacionadas aos zoológicos no Brasil

 

       Primeiro é importante definir o termo percepção e de acordo com Del Rio et al (1996) entendemos a percepção como um processo mental de interação do indivíduo com o meio [...] que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente cognitivos.        

        Até o século passado ir ao zoológico significava assistir a espetáculos de horror onde animais estavam confinados em jaulas desapropriadas e em alguns lugares dividiam a atenção do público com negros e escravos (Morris, 1990). Na atualidade, estudos mostram que as pessoas vão aos zoológicos para se sentirem mais próximos da natureza e em busca de melhor qualidade de vida (Meyer, 1988). Segundo Furtado et al (2003) o que move o público aos zoológicos é em primeiro lugar a busca pelo contato com a natureza, seguindo de interesse pelos animais e em terceiro para levar os filhos para uma atividade de lazer. Os mesmos autores afirmam que com base nas percepções ambientais dos visitantes dos zoológicos pode-se inferir que existe uma visão positiva perante os zoológicos o que segue uma a tendência mundial de torná-los locais apropriados para o lazer com a família junto à natureza e onde o bem estar animal deve ser prioridade.

          Visitantes do zoológico de Salvador foram questionadas sobre qual a função ou objetivo de um zoológico, 30% responderam que a instituição tem como objetivo proporcionar conhecimento dos animais as pessoas que vivem nas cidades, 25% acham o ambiente favorável para a prática de Educação Ambiental, 16,7% disseram que a função do zoo é promover lazer, 13,3% para expor animais, 11,7% espera que o zoo tenha como objetivo a conservação de espécies ameaçadas de extinção e 3,3% para proporcionar a população metropolitana contato com a natureza (Galheigo et al, 2009).  Já no Zoológico de Curitiba-PR Poles et al (2011) relata que 94% dos visitantes não têm dúvidas de que é necessária a existência do zoológico, pois se trata de um ambiente propício para a Educação Ambiental e reprodução de espécies. 52% acreditam que os zoológicos são importantes para ajudar a população a conhecer as espécies animais, alguns participantes  acrescentam que o ambiente é muito bonito para passeios e que é uma forma de Educação Ambiental para as crianças, podendo assim, criar um vínculo com a natureza e  com  os animais.

         Barreto et al (2009) relata que em uma pesquisa sobre percepção de crianças no zoológico de Aracajú (SE) dos entrevistados 58% costumam ler todas as placas de identificação, 21% leem apenas as dos animais que consideram interessantes e 21% não leem nenhuma placa; os entrevistados que leem as placas relatam a deficiência nas informações e o desgaste das placas, dificultando e até desestimulado a leitura das mesmas. Segundo Mergulhão (1997), o envolvimento das pessoas com as questões ambientais é crescente, nos grandes centros urbanos existe uma tendência da visitação aos jardins zoológicos para buscarem o contato com a natureza. No entanto, trabalhos também mostram que os visitantes identificam deficiências na questão informativa dos zoos, principalmente na sinalização e informações sobre os animais de cada recinto (Noleto et al, 2012).  Levando-nos a questionar se as questões ambientais propostas pelos zoológicos estão sendo passadas de forma coerente.

 

Considerações finais

 

      Através dos dados obtidos em trabalhos já expostos, podemos verificar que existe uma forte predisposição da população a procurar os zoológicos como alternativa de lazer, educação e contato com a natureza. No entanto, pouco foi falado sobre conservação e pesquisas. Isso se dá, provavelmente, pela falha na comunicação dos zoológicos em expor o tipo de trabalho que é desenvolvido dentro da instituição e com instituições parceiras, como universidades e centros de pesquisas. O presente artigo deixa a sugestão aos gestores de zoológicos e educadores ambientais que disponibilizem em mídia eletrônica, por exemplo, o site da instituição, placas e folders relatando as principais atividades de pesquisa e conservação de espécies para conhecimento do público visitante e até mesmo as pessoas que nunca visitaram um zoológico, quais poderão despertar interesse a partir das práticas realizadas pelos zoológicos.

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Ilustrações: Silvana Santos