Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2011 (Nº 36) Conscientização ambiental & Oficin’arte: uma experiência de extensão universitária
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Educação Ambiental em Ação 36

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL & OFICIN’ARTE: UMA EXPERIÊNCIA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

 

 

Luiza Ishikawa Ferreira

Doutora em Oceanografia Biológica, docente da Faculdade de Ciências Biológicas da PUC-Campinas e responsável pelo Projeto Conscientização Ambiental & Oficin’Arte, vinculado à Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna. Endereço para correspondência: Av. John Boyd Dunlop s/n Campus II, Jardim Ipaussurama, CEP             Campinas, SP. Telefone;(19) 3343-6835 ishikawa@puc-campinas.edu.br

 

José Donizeti de Souza

Mestre em Educação, docente da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da PUC-Campinas e coordenador da Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna, Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. Endereço para correspondência: Av. John Boyd Dunlop s/n Campus II, Jardim Ipaussurama, CEP             Campinas, SP. Telefone;(19) 3343-7216 donizeti@puc-campinas.edu.br

 

RESUMO

 

O projeto, de caráter extensionista, surgiu da necessidade de trabalharmos a conscientização ambiental para os diversos segmentos internos da universidade, por meio de atividades diversificadas, como uma forma de ampliar a atenção à comunidade universitária da PUC-Campinas. Através de palestra, oficinas, exposições e seminário, procurou-se atingir o maior número de pessoas, trabalhando o sentimento de “pertencimento”. Objetivou-se mostrar os diferentes olhares e formas de se abordar a educação ambiental,  já que proporcionou à comunidade a oportunidade de múltiplas vivências e, ao mesmo tempo, de demonstração de sentimento e percepções, através da arte. A partir dos relatos dos participantes, se pode verificar que o incentivo e as ações focadas no Campus II tiveram um alcance maior dentro da própria Universidade com a participação dos alunos e funcionários dos demais Campi. O presente trabalho relata algumas atividades realizadas por acreditarmos ter contribuído no processo de construção e transformação das pessoas, ainda que de forma embrionária: os participantes passaram a ser multiplicadores da importância da temática nos diversos espaços sociais em que vivem, no seu núcleo familiar, na vizinhança, no bairro e na sua cidade.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental, Sensibilização , Extensão Universitária, Fotografia, Campinas

 

Introdução

            Sendo uma instituição social que, de certa forma, reflete a maneira como se organiza a sociedade, a Universidade é um local de grande diversidade de pensamentos, opiniões, posturas e propostas conflitantes, etnias, riquezas culturais e classes sociais: cada pessoa possui uma história de vida diferente. Para muitos funcionários, alunos e professores, é ali onde passam várias horas do seu dia e onde dividem alegrias e angústias, trocam idéias, buscam soluções, se realizam profissionalmente e têm a oportunidade de conviver com pessoas das mais diferentes localidades e formações.

             O fortalecimento da relação com um espaço, de estudo e/ou de trabalho, se dá no momento em que o conhecemos melhor, assim como o seu entorno e as pessoas que dele participam ativamente. Para que o sentimento de pertença seja construído, gerando maior cuidado com o espaço vivido, os indivíduos e a comunidade biótica, as pessoas devem não só (re)aprender a valorizar o meio ambiente em que vivem (natural ou modificado) mas refletir a respeito dessa face da Educação Ambiental, num processo coletivo de educação. Como nos afirma Boff (2004, p.135), ao abordar as diversas dimensões do cuidado com o ambiente: ”O cuidado com a Terra representa o global. O cuidado com o próprio nicho ecológico representa o local. (...). Para isso cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local e da comunidade local, seja em seu aspecto de natureza, seja em sua dimensão de cultura”.

 Assim, como uma forma de ampliar e implementar a atenção à comunidade interna (docente, alunos e funcionários) do Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas (CCV), no aspecto acima mencionado, foi criado o Projeto Conscientização Ambiental & Oficin’arte, delineado no âmbito do Plano de Desenvolvimento Institucional. Sob a responsabilidade da Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna (CACI), órgão vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, em 2007, iniciou-se o trabalho, que se estendeu até dezembro de 2008.

Animada pela Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna, a proposta objetivou, no espaço singular e específico da comunidade universitária, fomentar a con-vivência e buscas de união dos sujeitos que ali geram a própria existência nos fazeres individual e coletivo, dentro de temporalidades diversas, visto que

Reencontrar o sentido do mundo no lugar implica em não se contentar pensar o mundo em que sou e estou. Ao invés de viver no lugar uma vida passiva, de existência privada e individualizada, é a vontade de saber o mundo, o outro, que abre as possibilidades de abandonarmos as posições emolduradas que restringem a autonomia e a liberdade. O conhecimento do outro, a interação do meu mundo com o outro é um ato de audácia que destrava os contextos ou situações herdadas, auto-referenciadas, não argumentativas, para robustecer o mundo da vida por meio de ações compartilhadas. (KAHIL, 2008, p.94)

 

Ocorrendo no espaço intramuros da Universidade, o projeto, ao afirmar seu caráter extensionista, procura revisar o entendimento daqueles que compreendem a extensão à comunidade, imaginando-a como algo que começa dos portões da universidade para fora, o que distancia ainda mais a Universidade do meio social, colaborando com a esterilidade de sua vida interior e o esquecimento de seus próprios problemas.

Pelo contrário, a proposta entende, tal como Morais, que a extensão ocorre em diversas dimensões:

Extensão é algo que deve ser pensado em níveis distintos. Concebendo a comunidade como algo que nos inclui no interior da universidade, e não como uma coisa externa à universidade, veremos que será pedida a nossa atenção sobre vários tipos de extensão, que principiam em nosso meio acadêmico (diríamos também universitário!) e caminham até os limites da sociedade maior. (MORAIS,1991, p. 45, comentário nosso)

 

Essa compreensão do fazer extensionista embasou o projeto Conscientização Ambiental, sendo completado pela visão pedagógica de Paulo Freire. De Freire, a proposta assimilou a compreensão da extensão como um fazer educativo, no qual sujeitos sociais em contínuo processo de aprendizagem se comunicam, compartilham e constroem conhecimentos, durante sua trajetória de leitura, apropriação e transformação do mundo e da própria existência (FREIRE, 1983).

O CCV reúne dez Faculdades: Ciências Biológicas, Ciências Farmacêuticas, Ciências Médicas, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Terapia Ocupacional. Apesar de apenas a primeira ser voltada à área ambiental e as demais, à área da saúde, todas se preocupam com os problemas ambientais e com a qualidade de vida das pessoas.

A Educação Ambiental é condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental e decrescente qualidade de vida. No entanto, trabalhar só os conceitos da conscientização ambiental não basta, pois muitas pessoas têm noção teórica dos problemas ambientais sem uma mudança efetiva das atitudes isoladas ou coletivas. No dizer de Guimarães (2005, p. 31), “no trabalho de conscientização é preciso estar claro que conscientizar não é simplesmente transmitir valores ‘verdes’ do educador para o educando; essa é a lógica da educação ‘tradicional’”. Na Educação Ambiental, o papel do educador se centraria no auxílio ao educando acerca da análise crítica dos valores sociais e de si mesmo, com vista a uma síntese pessoal madura que impulsiona novas atitudes.

Daí ter nascido a idéia de que deveríamos oferecer oficinas criativas, diferentes, lúdicas ou mesmo outras atividades de interesse da comunidade interna para que aos poucos despertássemos a preocupação com o cuidado com a comunidade local, aprofundando o sentimento de “pertencimento”. A sensibilização individual seria componente fundamental para a gestação de uma postura diferente em relação ao ambiente e a si mesma.

O projeto focou a educação ambiental como atividade pedagógica de cunho interdisciplinar. A conscientização ambiental, assim

“É participativa, comunitária, criativa e valoriza a ação. (...). É transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser humano/sociedade/ natureza, objetivando o equilíbrio local e global...“. (GUIMARÃES, 2005, p. 28)

 

Como bem argumenta Edgar Morin (2001), ao conceber que uma reforma do pensamento em todos os níveis educacionais deverá unir a explicação à compreensão. A explicação é imprescindível à compreensão intelectual, mas insuficiente para a compreensão humana. Existiria um conhecimento fundado sobre a comunicação e a empatia (pathos: afetar e sentir-se afetado por algo ou alguém) intersubjetivas. Então, compreender engloba um processo de identificação e de projeção de sujeito a sujeito, e requer disponibilidade do coração, abertura, humildade e generosidade, visto que não se pode compreender o choro de uma criança pelo nível de salinidade de suas lágrimas.

Moraes (2003), consonante com Morin, também se manifesta, afirmando que os fenômenos educacionais devem ser entendidos num foco interacionista e sócio-afetivo, percebendo-o como condição sine qua non para todo processo de construção do conhecimento. O desenvolvimento do pensamento requer a definição de processos dialógicos e de cooperação, visando a possibilidade de coordenação de diferentes idéias, argumentos e visões de mundo.

Neste viés, o projeto entende o participante da comunidade interna

como um sujeito ativo no processo de observação de sua realidade e construtor, desconstrutor e reconstrutor do conhecimento, ao mesmo tempo, um aprendiz autônomo em relação ao meio, o  que significa um aprendiz/aprendente que é auto-organizador, auto produtor  e autodeterminado em relação ao seu entorno”. (MORAES, 2003, p. 157)

 

A Conscientização Ambiental & Oficin’arte teve como objetivo atingir o maior número de pessoas da comunidade universitária, mostrando os diferentes olhares e formas de se trabalhar a educação ambiental. Pela primeira vez dentro da Universidade, o tema ambiental foi abordado desta maneira: uma oportunidade não só de vivenciar, mas de mostrar e expressar, através das habilidades pessoais, os sentimentos em relação aos temas propostos.

           

Metodologia

A metodologia utilizada procurou abranger uma diversidade rica de estratégias e os diferentes segmentos da comunidade universitária da PUC-Campinas, assumindo:

·         A presença de sujeitos ativos, criativos e autônomos;

·         A existência de intercâmbios interindividuais;

·         O aprendiz como pesquisador com qualidade humana de relacionar e interagir as diferentes dimensões de uma mesma problemática;

·         A transformação como situação inerente no processo formativo;

·         A função  das emoções na aprendizagem;

·         A educação como detonadora de novas convivências, o que exige resgate ético, construção de valores humanos;

·         A inclusão dos imprevistos nas propostas veiculadas (MORAES, 2003).

Utilizamos atividades diversificadas como oficinas, palestra, seminários, mostras e exposições, a fim de proporcionar a alunos, funcionários e professores  a oportunidade de conhecer,  demonstrar e mostrar através da arte seus sentimentos e o novo olhar sobre a educação ambiental. Certamente, muito enriqueceu o projeto, o seu caráter interdisciplinar, com a presença de profissionais de diversas áreas de conhecimento com Psicologia, Ciências Biológicas, Artes Visuais, Pedagogia, Administração e Música.

A divulgação das atividades foi feita através da página eletrônica da PUC-Campinas, de mensagens eletrônicas e em salas de aula (com ajuda dos representantes de classe), e pessoalmente nas Direções das Faculdades, no Setor de Apoio Administrativo e na Secretaria Acadêmica.

As atividades foram desenvolvidas no período da tarde, com exceção de um seminário do ano de 2008 que foi realizado no período noturno.

No primeiro ano do projeto, ocorreram as seguintes atividades vinculadas ao projeto: 1 Palestra, 9 Oficinas, 1 Seminário, 1 Exposição (Mostra de Fotografias e Quadros confeccionados nas oficinas) . Em 2008, foram disponibilizados os seguintes eventos: 8 Oficinas 1 Seminário e 1 Exposição (Mostra de Fotografias, Quadros confeccionados nas oficinas e lagoa interativa com plantas aquáticas e peixes)..

Tanto os materiais utilizados como os docentes envolvidos na execução do projeto foram subvencionados pela Universidade com orçamento anual do Plano de Desenvolvimento Institucional da Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna (PROEXT). A equipe de funcionários dessa Coordenadoria incumbiu-se de todo provimento administrativo, logístico e operacional do projeto, dando-lhe condições plenas de execução.

 

 

Resultados e Discussão

Iniciamos as nossas atividades com a palestra “Sensibilizar para fotografar” ministrada pelo diretor da Faculdade de Artes Visuais[1], ocasião em que foi abordada de forma geral a fotografia e como fotografar. Na oportunidade, também foram esclarecidas as dúvidas de como melhor usar o equipamento fotográfico.

Através da fotografia pode-se registrar um momento único de cumplicidade entre o objeto de atenção e a pessoa. Os olhares são diversos e cada qual com a sua interpretação. Assim, este primeiro contato intencionou despertar nos participantes o interesse em fotografar o seu espaço de estudo e/ou trabalho, pois acreditamos que um maior conhecimento do Campus faz com que as pessoas se sintam parte e participantes do ambiente natural ou modificado.

Já que o uso da fotografia para a Conscientização Ambiental é uma das formas de chamar a atenção da comunidade universitária para o ambiente onde passa a maior parte do dia, esta foi convidada a participar da Mostra de Fotografia. Tanto na primeira como na segunda Mostra, ocorridas em 2007 e 2008, três profissionais da área selecionaram os três primeiros colocados, que foram premiados.

No primeiro semestre de 2007, foi desenvolvida uma oficina sobre  Educação Ambiental e Valores Estéticos, com duração de 4 horas. Inicialmente, houve um pré-teste, no qual os alunos responderam uma série de questões acerca de suas concepções de Educação Ambiental. Em seguida, os participantes foram orientados sobre a realização de uma caminhada pela área aberta da faculdade, quando deveriam observar atentamente todo o ambiente (seus componentes, pessoas, prédios, paisagem), além de explorar sensações e sentimentos derivados desta observação.

A caminhada durou cerca de 30 minutos, passando pela área lateral do estacionamento – de onde se observa a área verde da fazenda vizinha –, e pelo viveiro de mudas do Campus. Os participantes expressaram as suas impressões através de desenhos ou frases que, posteriormente, foram expostos durante a Mostra das Oficinas.

            Se oferecermos um local agradável e ao mesmo tempo estético, passamos a produzir melhor e com prazer. Pensando no estético, até que ponto nós compartilhamos ou observamos o nosso Campus como um local que pode ser prazeroso? De acordo com Tristão (2005), os sentidos estéticos da natureza integram a narrativa da arte, da cultura e da educação ambiental, e podem ser um mecanismo de contágio de sentimento ou da emoção vivida em comum. Essa racionalidade estético-expressiva é um dos fios condutores de sensibilidades, utopias e novas metáfora para reencantar a educação de modo geral.

Diante do fato de que o espaço universitário deva ser um local onde ensino, pesquisa e extensão estejam realmente integrados, a educação deve vir acompanhada do sentimento de respeito e partilha das vivências positivas: só o conhecimento não basta. Sabemos que todos têm uma consciência ambiental, no entanto, para atingirmos os nossos objetivos devemos primeiro trabalhar o bem estar pessoal e então despertar o sentimento de “pertencimento”, pois o que faz a diferença é a mudança de atitude em relação ao meio ambiente natural e modificado.

Segundo Mourão (2007), o enraizamento físico e biológico do sujeito humano é uma referência necessária na construção da ideia de pertencimento do sujeito vivo às suas pré-condições de vida, ou seja, à nossa autocompreensão humana como coexistentes em um cosmos e em um oikos. Perdemos a capacidade de pertencimento quando abarcamos a ideologia individualista da cultura industrial capitalista moderna e aceitamos a representação da pessoa humana como um ser mecânico, desenraizado e desligado de seu contexto.

Por usarmos muito pouco os nossos órgãos dos sentidos para perceber o ambiente em que estamos inseridos no dia a dia, tornou-se indispensável trabalhar a percepção. A fotografia e a caminhada no Campus possibilitaram às pessoas a oportunidade de conhecerem um pouco mais o local por onde passam e muitas vezes não valorizam.

Na educação ambiental, a percepção ambiental poderá ajudar na construção de metodologias para despertar nas pessoas a tomada de consciência frente aos problemas ambientais. Unindo a percepção ambiental e a educação ambiental é possível realizar trabalhos com bases locais, isto é, saber como os indivíduos com que trabalharemos percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfações e insatisfações (PALMA, 2005).

A trilha perceptiva foi outra atividade oferecida, já que permite uma educação transdisciplinar com uma proposta diferente de sensibilizar os participantes através da interatividade, instigando a sua relação de interdependência com o meio. O objetivo era fazer com que as pessoas percebessem a sua importância como agente participante e modificador do ambiente e a sua responsabilidade como ser cósmico, intrínseco ao seu meio. As práticas proporcionam um momento de maior reflexão e troca de ideias, com um compartilhar maior dos sentimentos e sensações sem a preocupação sobre o que os outros poderiam pensar. Para isto, foi fundamental a colaboração de todos, o trabalho coletivo: a experiência, sem a visão, aguçou o uso dos outros órgãos dos sentidos e a necessidade de confiança nos demais participantes.

A oficina “Clorofila: Educação Ambiental x Produtos Saudáveis“ teve como objetivo sensibilizar os participantes a refletir sobre o consumo de alimentos naturais, desestimular o uso de agrotóxicos (evitando a contaminação ambiental e promovendo a sustentabilidade da agricultura sadia) e incentivar o racionamento de água e agentes químicos (desinfetantes, detergentes e sanificantes). Na oportunidade, foi realizada uma visita à horta da Faculdade de Ciências Biológicas/CCV, onde foram coletadas plantas de várias cores para extração de pigmento e explicou-se a atividade da clorofila, a adubação orgânica e o cultivo ideal. Por fim, houve o incentivo à construção de mini-hortas (com o uso de garrafas PET no muro, em locais mais sombreados).

Dentro das atividades realizadas neste programa, procuramos integrar também profissionais de outras áreas: Humanas, com as oficinas “Contos de Fadas”, “Água e Música” e “Reconhecendo o estresse: como lidar com as tensões da vida”; e Exatas, com a oficina “Consumo e Consumismo”.

Os contos de fadas nos falam por meio de símbolos, daí a importância das narrativas que deles se utilizam para a educação e a formação do ser humano. O homem só respeita o outro, a sociedade e o meio ambiente quando respeita a si mesmo. E só existe respeito quando se tem conhecimento e admiração. Dentro dessa perspectiva, a oficina Contos de Fada tornou-se interessante para o Conscientização Ambiental & Oficin’arte. Conceituar o conto de fada, diferenciando-o dos outros gêneros, apresentar seus principais compiladores, mapear seus diversos ciclos, destacar os principais motivos, pesar as suas invariantes e a sua estrutura foram as teorias apresentadas. Na parte prática, com o uso de técnica alemã, criou-se quadros, com lã de carneiro e juta, onde os participantes puderam expressar sentimentos e sensações através da arte.

Na oficina Consumo e Consumismo, através de roda de diálogo e exibição de curtas, trechos de vídeo-documentário e comerciais, discutiu-se os modelos (conceito) de desenvolvimento, moda, obsolescência programada, marketing, pegada ecológica, ciclo de vida do produto, ética empresarial, dentre outros. O objetivo foi provocar reflexões e discussões críticas sobre: a) complexidade dos processos envolvidos em qualquer cadeia produtiva; b) os problemas socioambientais causados pela era industrial; c) as formas de consumo impostas pelo padrão cultural dominante (a lógica dos mercados); d) as “armadilhas” criadas por estratégias de marketing (releitura da mídia); e) o consumo relacionado a questões éticas com seres vivos não humanos; f) a responsabilidade que temos como consumidores (questionamento e reflexão sobre suas próprias formas de consumo, e as possibilidades de comportamentos alternativos ao modelo vigente de consumo).

O corpo e o som foram os temas trabalhados na atividade Água e Música. O foco escolhido visou sensibilizar, conscientizar e valorizar a água através das  artes: dança, música e teatro. Na ocasião usaram-se diferentes estratégias para: a) estimular a percepção auditiva (relaxamento); b) reconhecer o seu próprio corpo e seus espaços (qualidades do movimento); c) aperfeiçoar os movimentos da leveza da água (movimentos fluidos e ondulados); d) explorar sons corporais (noções rítmicas e lúdicas); e) conhecer instrumentos alternativos (retirados da natureza).

 

Já a oficina “Reconhecendo o estresse: como lidar com as tensões da vida” objetivou a sensibilização do participante para a compreensão do estresse, seus sintomas e fontes tencionais (especialmente as internas), e a reflexão sobre as estratégias de enfrentamento disponíveis para aqueles que desejarem prevenir e se recuperar do estresse excessivo dos tempos modernos. Através de dinâmicas, para demonstrar como fatores ecológicos do mundo atual afetam a atividade respiratória em resposta ao estresse emocional, e de discussão conceitual do que é qualidade de vida, estresse e como o ser humano pode preveni-lo e controlá-lo, conjuntamente com os exercícios de relaxamento, os participantes puderam refletir sobre a importância dos hábitos de vida e dos quatro pilares do controle do estresse: alimentação, exercício físico, relaxamento e aspectos emocionais. Com essa abordagem sobre o assunto, foi possível demonstrar aos participantes como a conscientização ambiental depende também da colaboração e do envolvimento de profissionais da Psicologia: precisamos estar bem emocionalmente para ajudar o outro e dispostos a enfrentar os desafios desse século.

Dentre as oficinas houve ainda a Briquedoteca, oferecida por uma especialista em ecobrinquedos. De forma criativa, foram apresentados aos participantes como melhor aproveitar o lixo e suas diferentes destinações possíveis – inclusive o reaproveitamento de muitos dos materiais, que nos aterros sanitários seriam mais um e outro a espera da decomposição. A oficina destinou-se também à divulgação de “um olhar afetivo para o lixo” como matéria prima a ser utilizada na produção de brinquedos, jogos, instrumentos musicais e materiais pedagógicos.

Pensando em como envolver os alunos de forma a mostrarem suas habilidades e participarem da construção de um projeto que quer dar novos rumos e novos olhares sobre o “lixo”, realizamos um seminário de Educação Ambiental com o tema Coleta seletiva: olhar pedagógico para o trato do “lixo”, onde houve a inserção dos múltiplos usos do "lixo". O uso criativo da sucata contribui para a redução dos resíduos sólidos e ao mesmo tempo é uma forma de sensibilizar e fazer as pessoas repensarem como melhor usar o "lixo". A participação dos alunos e alguns professores neste processo de conscientização torna-os parte integrante de Pessoas que Aprendem Participando (PAP): há uma nova valorização para a coleta seletiva, não só a simples separação. Além da socialização dos alunos, do curso de Ciências Biológicas da PUC-Campinas e dos materiais pedagógicos construídos com sucata, o Grupo PET-Biologia (Programa de Ensino Tutorial) mostrou através de pôsteres e explicações diretas, principalmente aos funcionários da limpeza, como separar o lixo de forma adequada e a importância da participação de todos na Coleta Seletiva.

Viu-se, então, a necessidade de incentivar os alunos da licenciatura à redução do lixo e ao uso de materiais de origem sustentável, reutilizável e reciclável na construção de instrumentos de ensino de boa qualidade – possível quando aliados à criatividade e ao capricho.

Apesar de a quantidade de lixo gerado ser um dos grandes problemas de muitas cidades, a sua redução deve ser meta para os próximos anos, se possível, em curtíssimo prazo, uma vez que não há mais locais para construção de aterros sanitários. Assim, mesmo que a nossa ação para a redução de lixo seja muito pequena, se conseguirmos ultrapassar o campo da ideia e aos poucos mostrar a necessidade da mudança de atitude em relação ao lixo para a comunidade universitária, já estaremos fazendo a nossa parte.

Desta forma, no ano de 2008 realizou-se um segundo seminário de Educação Ambiental, desta vez com mesa redonda sobre Conscientização Ambiental, onde foram debatidos os temas: Capacitação de educadores ambientais através da visão integrada e holística da Bacia Hidrográfica (Prof. Dr. Carlos Eduardo Matheus/USP–São Carlos); Educação Ambiental e Políticas Públicas (Prof.Dr. Marcos Sorrentino/ESALQ – Piracicaba); Coletivo Educador de Campinas: Novas propostas (Ms. Luiza Alonso da Silva – COEDUCA). Também foi montada, nessa segunda edição, uma lagoa interativa junto à exposição de fotografia, proporcionando à comunidade universitária momentos de descontração.

            O trabalho conjunto da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários com o Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas, viabilizado pela Coordenadoria Geral de Atenção à Comunidade Interna, foi um primeiro passo para que aos poucos pudéssemos integrar mais a comunidade universitária aos problemas ambientais e também mostrar a nossa preocupação com o bem estar pessoal – daí as oficinas oferecidas terem um caráter muito mais de resgate e sensibilização, pois cada vez mais temos pouco tempo para nós mesmos.

Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, ciberespaço, multimídia, internet e educação para a cidadania representam a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em defesa da qualidade de vida. Nesse sentido, cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003).

De acordo com Sorrentino et al. (2005), atualmente o conceito de desenvolvimento sustentável indica claramente o tratamento dado à natureza como recurso ou matéria prima destinada aos objetivos de mercado e cujo acesso é liberado a parcelas da sociedade que detêm o controle do capital. Esse paradigma mantém o padrão de desenvolvimento que produz desigualdades na distribuição e no acesso a esses recursos, resultando em pobreza e falta de identidade cidadã.

Dentro deste contexto, a educação da população torna-se a principal arma contra os problemas socioambientais, pois o cidadão consciente torna-se exigente por saber o manejo adequado dos recursos naturais e os danos que a não preservação pode causar. A consciência e o sentimento de pertencermos à Terra, de nossa identidade terrena, são vitais atualmente. (MORIN, 2006).

“Por isso, é necessário aprender a ‘estar aqui’ no planeta. Aprender a estar aqui significa: aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar; é o que se aprende somente nas – e por meio de – culturas singulares. (...). Precisamos inscrever em nós: a consciência antropológica (...); a consciência ecológica, isto é, a consciência de habitar, com todos os seres mortais, a mesma esfera da vida: (...); a consciência cívica planetária (...); a consciência espiritual da condição humana.” (MORIN, 2006, p. 76).

Relatamos aqui algumas das atividades realizadas e que, de alguma maneira, certamente  contribuíram para o processo da construção e transformação das pessoas, ainda que de forma embrionária. Devemos, portanto, incentivar e valorizar as pequenas ações locais para que aos poucos tenhamos um alcance maior dentro da própria Universidade. Assim, sem dúvida, a comunidade acadêmica e os membros da comunidade universitária passarão a ser multiplicadores de sua compreensão planetária no núcleo familiar, na vizinhança, no bairro e na cidade.

“Com certeza, cada qual pode e deve, na era planetária, cultivar a poliidentidade, que permite integrar a identidade familiar, a identidade regional, a identidade étnica, a identidade nacional, a identidade religiosa ou filosófica, a identidade continental e a identidade terrena”. (MORIN, 2006, p. 78)

É nessa força educacional que acreditamos, visto que

“Estamos comprometidos, na escala da humanidade planetária, na obra essencial da vida, que é resistir à morte. Civilizar e solidarizar a Terra, transformar a espécie humana em verdadeira humanidade torna-se o objetivo fundamental e global de toda educação que aspira não apenas ao progresso, mas à sobrevida humana. A consciência de nossa humanidade nesta era planetária deveria conduzir-nos à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo para indivíduo, de todos para todos.” (MORIN, 2006, p.78)

 

 

Referência Bibliográfica

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 10.ed.Petrópolis,RJ: Vozes, 2004.

FREIRE, P.. Extensão ou Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental da educação. 7.ed. Campinas,SP: Papirus, 2005.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, 189-205, 3 março/ 2003.

KAHIL, S.P. “Utopias de uma Metrópole Ativa: possibilidades de liberdade e de criação”, In. SOUZA, Maria Adélia (org.). A Metrópole e o futuro. Campinas: Edições Territorial, 2008. p. 83-98.

MORAES, M. C.. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis (RJ): Vozes, 2003.

MORAIS, R. de. Sobre a Questão das Extensões Universitárias. Revista Pro-Posições. nº. 4, abril.1991, p. 41-51, Campinas: UNICAMP.

MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 3.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

---------------- Os sete saberes necessários à educação do futuro. 11.ed. São Paulo: Cortez; Brasília,DF: UNESCO, 2006.

MOURÃO, L. Pertencimento. Disponível em: http://www.ida.org.br/artigos/pertencimento.pdf . Acesso em: 1º mai. 2007

PALMA, I.R. Análise da percepção ambiental como instrumento ao planejamento da educação ambiental. Dissertação para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Porto Alegre. 2005.

SIQUEIRA, J.C. de. Ética e Meio Ambiente. São Paulo: Loyola, 1997.

SORRENTINO, M.; TRAJBER, R.; MENDONÇA, P.; FERRARO, L. Educação ambiental como Políticas Públicas. Educação e Pesquisa. v.31, nº2 p 285-299. 2005.

TRISTÃO, M. Tecendo os fios da educação ambiental: o subjetivo e o coletivo, o pensado e o vivido. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31,

 

[1] Prof. Flávio Shimoda

Ilustrações: Silvana Santos