Revista Educação Ambiental em Ação 36
EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE O
ECOSSISTEMA MANGUEZAL JUNTO A UMA COMUNIDADE DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA
Ana Luiza Privado
Martins 1
Izabel Cristina
Silva Almeida Funo 2
Hellen Cristine
Alves Vinhote 3
Mirella
Nascimento Giusti da Costa 4
Cristian Cristine
Teófilo Durans 5
1
Bióloga, MSc. em Sustentabilidade de Ecossistemas / Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Codó.
2
Bacharel em Ciências Aquáticas, MSc. em Engenharia de Pesca / Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Maracanã.
3
Bacharel em Ciências Aquáticas, MSc. em Sustentabilidade de Ecossistemas / CVT
Estaleiro Escola do Maranhão.
4
Bióloga, MSc. em Biodiversidade e Conservação / CVT Estaleiro Escola do
Maranhão.
5
Bacharel em Ciências Aquáticas, Esp. em Engenharia Ambiental / Secretaria de
Estado da Ciência e Tecnologia do Maranhão.
Endereço: Povoado
Poraquê, S/N-Zona Rural – Codó-Ma/CEP: 65.400-000.
Fone: (99)
3669-3000
E-mail: ana.lpm@ifma.edu.br
RESUMO
O presente artigo relata atividades
voltadas para a educação ambiental relacionada ao ecossistema manguezal, as
quais ocorreram no CVT Estaleiro Escola do Maranhão, no município de São Luís,
durante 21 meses (agosto/2007 a maio/2009), atingindo um total de 225 pessoas.
Durante o processo ensino-aprendizagem, foram realizadas aulas expositivas
dialogadas, dinâmicas de grupo, atividades ludo pedagógicas e aulas de campo. A
técnica do “survey” foi utilizada para comparar o entendimento dos alunos antes
da ação educativa com o adquirido após a realização das atividades, levando à
conclusão de que o processo foi eficiente para construir o conhecimento sobre o
manguezal junto ao público-alvo.
Palavras-chave:
Manguezal, Educação Ambiental, Ações Educativas.
INTRODUÇÃO
O manguezal é um ecossistema de
transição entre os ambientes terrestre e marinho, onde ocorre, no geral, o
encontro das águas de rios com as águas do mar, sendo típico de regiões
tropicais e subtropicais (BENFIELD et al., 2005). Nesse ecossistema é
característico o solo lamoso, salobro e formado por depósitos de silte, com
muita matéria orgânica em decomposição, pouco oxigênio e odor característico (MOCHEL
& MEDEIROS, 1988). Forma uma unidade faunística e florística de muita
importância, representada por um grupo típico de animais e plantas (VANNUCCI,
2002). As funções fundamentais do manguezal estão relacionadas à fixação do
sedimento, fornecimento de produção primária, manutenção da biodiversidade,
constituição de berçário e área de refúgio para muitas espécies (BENFIELD et
al., 2005).
O Brasil possui uma das maiores
extensões de manguezais do mundo, estendendo-se do estado do Amapá, até o estado
de Santa Catarina (KRUG et al., 2007; SCHAEFFER-NOVELLI, 1989). O litoral
maranhense é o que apresenta a maior área de manguezais do país, com cerca de
500.000 hectares, distribuídos pela costa oriental, pelo Golfão Maranhense e
pelas reentrâncias do litoral ocidental (REBÊLO-MOCHEL, 1995).
Apesar de toda importância desse
ecossistema para o equilíbrio ecológico e, conseqüentemente para o homem, ele
continua sofrendo destruição por meio de processos urbano-industriais de
ocupação do litoral. Além da delicada situação em que se encontra o manguezal, a
falta de conhecimento sobre a importância desse ambiente é um dos maiores
entraves para sua preservação e conservação (ALARCON & PANITZ, 1998).
Em vista da elevada degradação dos
manguezais no estado do Maranhão e, levando-se em consideração a sua extrema
importância social, econômica e ambiental, faz-se necessário o entendimento
desse ecossistema. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo proporcionar a
uma comunidade de São Luís (Maranhão) a compreensão, de maneira contextualizada
e participativa, da importância do manguezal, incentivando sua utilização de
forma sustentável e promovendo uma educação ambiental para a transformação.
METODOLOGIA
Ambiente de Trabalho e Público Alvo
As atividades de educação ambiental
ocorreram no CVT Estaleiro Escola do Maranhão, situado no Sítio Tamancão, na
área Itaqui-Bacanga do município de São Luís. Esse local é margeado pelo
estuário do rio Bacanga e por extenso manguezal. O público alvo da ação
educativa foi constituído por moradores das comunidades circunvizinhas à escola,
os quais possuíam a partir de 15 anos de idade e haviam concluído o ensino
fundamental.
O trabalho educativo faz parte do
curso de Educação Ambiental para as comunidades circunvizinhas ao estaleiro. As
atividades tratadas aqui ocorreram durante 21 meses (agosto/2007 a maio/2009),
atingindo um total de 225 pessoas. Durante esse tempo, foram formadas quatro
turmas do curso, sendo que o período de aprendizagem para cada uma delas foi de
cinco meses. O conhecimento, no presente contexto, foi adquirido através da
disciplina intitulada Ecossistema Manguezal, possuindo esta um total de 40
h/aula/turma.
Descrição das Atividades
Sabendo-se que este trabalho foi
realizado em quatro turmas e que cada uma delas reagiu de forma diferenciada às
atividades aplicadas, neste artigo estão descritas apenas algumas das
ferramentas utilizadas e alguns dos resultados obtidos.
Aplicação de questionários
Para o desenvolvimento deste
trabalho, antes de uma interferência educativa, foi primeiramente realizada uma
avaliação do entendimento dos alunos sobre o ecossistema manguezal. Segundo
CANDIANI et al. (2004):
Essa técnica,
conhecida como “survey” (levantamento), permite investigar e descrever uma
situação, sendo um procedimento no qual a informação é sistematicamente coletada
de uma população ou amostra pertencente à mesma, para identificar fatores
predisponentes a determinadas motivações de um indivíduo, a fim de impulsionar
ou restringir práticas.
Dessa forma, foram aplicados
previamente questionários às pessoas que participariam das atividades
educativas, para que se tivesse uma visão do conhecimento das mesmas sobre o
manguezal. Essa mesma ação também foi realizada ao fim das atividades, como uma
forma de avaliação do conhecimento adquirido pelos envolvidos no processo. O
questionário constava das seguintes perguntas:
1. Qual a importância do ecossistema
manguezal?
2. Quais os principais impactos
ocorrentes no manguezal de São Luís?
As respostas dadas foram
classificadas em “Correta”, “Parcialmente Correta”, “Errada” e “Não Respondeu”.
Aulas expositivas dialogadas
Ao longo do processo educativo foram
ministradas aulas, utilizando-se o diálogo como mediador do trabalho em sala de
aula. Para que esse mecanismo servisse como ferramenta eficiente, foi utilizado
em função de temas específicos, com objetivos concretos e aplicado de acordo com
a realidade dos alunos.
Os temas abordados foram os
seguintes: Introdução ao Estudo sobre Manguezais (Ecossistemas Costeiros,
Características, Origem e Distribuição do Manguezal); Biodiversidade do
Manguezal (Fauna e Flora); Relação entre Sociedade e Manguezal (Importância e
Impactos Ambientais); Legislação Ambiental e Uso Sustentável do Manguezal.
Para ministrar as aulas foram
utilizados diversos recursos, como televisão, computador, data show, vídeos,
quadro e pincel. Outros materiais, como cartolina, lápis de cor, tesouras,
réguas e cola, foram usados pelos próprios alunos para realização de atividades
propostas em sala de aula, como elaboração de cartazes e cartilhas, dentre
outras.
Durante as aulas sempre era feito um
levantamento do conhecimento prévio dos alunos a respeito da temática a ser
tratada, partindo-se do princípio de que o educando é um construtor do
conhecimento, e não simplesmente um mero receptor de informações
pré-estabelecidas.
Realizaram-se também amostras de
vídeo, pois se sabe que as mesmas promovem maior concentração nos alunos,
consistindo em recursos bastante atrativos. Foram apresentados filmes,
principalmente da World Wild Fund (WWF) Brasil, que mostravam a problemática
ambiental como um todo, com intuito de conscientizar os alunos sobre a
preservação ambiental.
Ocorreram também aulas de campo em
um ecossistema de manguezal próximo ao Estaleiro Escola.
Dinâmicas de Grupo
As dinâmicas de grupo também são
consideradas ferramentas que possibilitam a criação e recriação do conhecimento,
gerando um processo de aprendizagem libertador.
Desenvolver
relações humanas com base em dinâmica de grupo significa criar um espaço
psicossocial alternativo, em que desconfianças, temores e conflitos possam ser
aceitos e trabalhados, mediante experiências reconstrutivas, em termos de
tarefas e processos que minimizem as ameaças ao "ego" e desenvolvam formas de
interação compatíveis com uma ampliação quantitativa e qualitativa de cognições,
afetos e condutas (PILON, 1987, p. 348).
Sabendo-se disso, em alguns dias,
começava-se a aula com alguma técnica de “quebra-gelo”, possibilitando maior
entrosamento do grupo como um todo. Algumas outras dinâmicas também sempre eram
utilizadas com o objetivo de facilitar o aprendizado por parte dos alunos.
Técnicas ludo pedagógicas
A atividade ludo pedagógica ajuda o
aluno no aprimoramento de determinadas competências essenciais ao seu
desenvolvimento. Esse tipo de atividade facilita a aprendizagem, pois consiste
em uma técnica que promove maior interesse por parte dos educandos, facilitando
sua participação e assimilação. O aluno, dessa forma, tem a oportunidade de
assimilar os conteúdos com maior prazer, aprendendo, por exemplo, através de
jogos. Esse método é facilitado quando se leva em consideração o conhecimento
prévio dos alunos, pois este ponto é base para a aprendizagem significativa
pretendida.
Avaliação
Sabe-se que o processo avaliativo se
faz bastante necessário para o processo ensino-aprendizagem. Portanto, ao final
de cada aula, era observado se o objetivo da mesma havia sido alcançado, ou
seja, era avaliada a aquisição de conhecimentos dos alunos.
As avaliações realizadas no decorrer
da disciplina foram feitas em cada aula através de atividades, como elaboração
de textos e cartazes, formação de grupos de discussão e apresentação de
trabalhos. A participação em sala de aula também foi amplamente explorada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As análises das aulas revelaram que
os alunos detinham algum entendimento prévio sobre os assuntos abordados em
sala. Por morarem em áreas próximas ao manguezal, os educandos sempre falavam
sobre a realidade do local onde vivem.
Cabe dizer, portanto, que é
significativo levar em consideração a experiência vivida pelo aluno, pois este
muitas vezes possui um conhecimento anterior acerca do assunto a ser tratado em
sala. Conhecer a percepção prévia é fundamental para obtenção de resultados
satisfatórios. Além disso, a busca da participação permite a construção do
conhecimento, pois o professor não é o único detentor do saber.
Uma perspectiva
construtivista do ensino desafia os professores a criarem ambientes inovadores,
subjacentes às estratégias construtivistas e investigativas, propícios a uma
aprendizagem com significado pelos estudantes. Um ambiente construtivista
considera que quem aprende é a pessoa na sua globalidade, e a aprendizagem
repercute-se também globalmente na pessoa, no que ela sabe, na sua forma de ver
a si própria e aos outros. Um ambiente construtivista deverá propiciar o máximo
envolvimento por parte dos alunos e proporcionar-lhes o tempo necessário para
pensarem e refletirem acerca das suas idéias e dos seus procedimentos, das suas
aprendizagens e dos problemas que têm de superar (GOLVEIA & VALADARES, 2004, p.
202).
O assunto “Ecossistemas Costeiros”
foi abordado gerando sempre grandes debates devido ao fato de que os
empreendimentos imobiliários, cada vez mais presentes nesses ambientes, têm
destruído, dentre outros, o ecossistema manguezal. Para finalizar esse tema, a
turma, dividida em grupos, deveria propor um projeto alternativo viável,
importante em termos socioeconômicos e ambientais para essas áreas, através de
uma propaganda.
Os alunos se empenharam bastante
para realizarem uma boa apresentação, com confecção de maquete por uma das
equipes. Durante as apresentações, houve discussões sobre qual seria o projeto
mais viável em termos ambientais, sociais e econômicos a longo prazo. O objetivo
dessa atividade era incentivar o poder de argumentação e questionamento por
parte dos alunos.
Na aula sobre “Fauna e Flora do
Manguezal” foi enfatizado que as espécies típicas desse ecossistema têm
adaptações que possibilitam sua permanência no mesmo, como lenticelas e
pneumatóforos presentes na vegetação. O jogo chamado “Dica” foi utilizado para
exploração dos termos vistos em aula. Para realização do mesmo, a turma foi
dividida em duas equipes. A cada rodada era escolhido um representante de cada
grupo, o qual sorteava uma palavra vista durante a aula. Este teria que dar
dicas ao seu grupo de outras palavras que lembrassem a que havia sido sorteada.
Caso a equipe errasse, a dica passaria ao outro grupo. Se a resposta desse
último fosse errada, o representante do grupo pagaria uma prenda.
Alguns termos são de difícil
assimilação pelos alunos, por isso, jogos que relembrem as novas palavras vistas
durante a aula são sempre muito importantes para facilitar a aprendizagem. LUDKA
et al. (2003) acredita que um jogo bem elaborado pode contribuir para que o
processo de ensino-aprendizagem se torne mais eficiente e, ao mesmo tempo, mais
motivante para os alunos, sendo possível aproximar os aspectos lúdicos dos
cognitivos.
Para tratar sobre a “Importância
dos Manguezais”, destaca-se a realização de uma dinâmica intitulada “A grade”.
Para sua execução, pediu-se que os alunos fizessem um círculo de mãos dadas em
pé, formando uma “grade” humana. Outros cinco deveriam ficar no centro da roda e
tentar ultrapassar a barreira formada pelos outros alunos em círculo. Essa
dinâmica tinha o objetivo de descontrair os educandos, mas principalmente
demonstrar a importância do manguezal como protetor da linha costeira,
funcionando como um obstáculo contra a ação de ondas. A barreira formada pelos
alunos representou o mangue, a qual impedia a passagem dos outros alunos, que
estavam representando as ondas. Dessa forma, a turma pôde aprender de maneira
divertida uma das grandes importâncias desse ecossistema, que além de proteger a
linha de costa, funciona como berçário natural, filtro biológico e local rico em
nutrientes, dentre outras coisas.
A aula “Impactos Ambientais no
Manguezal” foi iniciada com uma dinâmica de grupo intitulada “A folha”. Para
realização da mesma, distribuiu-se uma folha de revista para os alunos, pedindo
que cada um amassasse a sua. Posteriormente, pediu-se que eles desamassassem a
folha. Porém, por mais que tentassem, não conseguiam desamassá-la por completo.
Através dessa atividade os participantes puderam perceber que uma atitude de
desrespeito ao meio ambiente como um impacto ambiental, em específico ao
ecossistema manguezal, pode destruí-lo de tal forma que o mesmo não conseguirá
voltar a ser como antes. Desmatamentos, aterros, esgotos, lixo, derramamento de
óleo, carcinicultura, desrespeito ao período de defeso do caranguejo, além de
outros problemas também foram discutidos durante essa aula. Mostraram-se ainda
alguns vídeos da WWF revelando impactos ambientais em ecossistemas costeiros.
Foi pedido que os alunos elaborassem uma redação a respeito do que viram. Dentre
o que foi elaborado pela turma, destaca-se a seguinte poesia:
Área inigualável
De valor
imensurável
Preserve-a com
respeito,
Para que não
falte seu direito
Preservar é
necessário
Este maravilhoso
santuário
Se não houver
sensibilização
O que será da
nossa nação?
O que será do
futuro
Com a eliminação
de tudo?
Com a destruição
do nosso manguezal
Isso nos causaria
um grande mal
Sem alimento e
conhecimento
Só haveria
lamento
Se pensamos em
destruições
Isso será fruto
de nossas ações
Agindo de maneira
desprezível
Vamos contribuir
para a possível destruição
Através de nossa
não conscientização
(DAYANNA MICHELLE
SOARES SANTOS, 2008)
É importante dizer que para que haja
preservação dos ecossistemas é importante que se conheçam as leis sobre o meio
ambiente. Devido a isso, falou-se em sala de aula sobre a “Legislação Ambiental
Brasileira”, iniciando-se com um breve histórico do surgimento das leis
ambientais no país. Posteriormente, a turma foi dividida em 3 equipes
(Empresários, Comunidades Atingidas e Secretaria de Meio Ambiente) para
realização de uma “Audiência Pública Simulada”. A equipe dos empresários deveria
criar um projeto de construção de um Shopping Center na área Itaqui-Bacanga; o
grupo das comunidades atingidas pelo projeto teria a oportunidade de protestar,
levantando argumentos contra a construção do Shopping; e a equipe da Secretaria
de Meio Ambiente deveria estar respaldada em leis e em estudos ambientais para
dar o veredicto final. As equipes elaboraram alguns cartazes para essa
atividade.
Os “empresários” tentavam convencer
o público com seus argumentos de melhoria da qualidade de vida da população:
Nosso Shopping
Bacanga proporcionará um futuro melhor para a comunidade do Itaqui-Bacanga, pois
garantirá grande número de empregos. A população terá acesso fácil e rápido a
lazer e entretenimento para toda a família. Ofereceremos restaurantes, cinemas,
parque, dentre outros benefícios. A área que vocês moram se tornará valorizada.
Por outro lado, a “comunidade
atingida” rebatia com argumentos que demonstravam um declínio da qualidade
socioambiental caso houvesse a construção do empreendimento, principalmente por
causa da destruição das áreas de manguezal do local, causando dentre outras
coisas, diminuição da produtividade pesqueira. Um dos relatos merece destaque:
A gente só sabe
pescar, como vai ficar nossa situação se o manguezal, que é área de criação dos
nossos peixes, vai ser destruído? O restaurante que vende frutos do mar depende
de nós, pescadores. Mas se o manguezal for aterrado, como vamos pescar?... A
gente vive aqui desde criança, e agora vai ter que deixar esse local. Nossos
pais estão enterrados aqui, numa das áreas que vai ser aterrada. Isso não é
justo!... Ouvi dizer que vai ter parque nesse shopping, áreas de lazer. Mas já
estou acostumada com essas promessas, e sei que tudo é só para os ricos. A gente
não tem dinheiro para pagar entrada de cinema. Para os nossos filhos não vai
restar nada, nem o rio que é o lazer natural deles. Não queremos shopping nenhum
aqui!
Mesmo com argumentos de capacitação
profissional para a comunidade atingida, os empresários não conseguiram
convencer os representantes da “Secretaria de Meio Ambiente”, que se
pronunciaram respaldados em leis, relatando um parecer no qual se posicionaram
contra a construção do empreendimento.
Atividades de discussão são sempre
muito importantes para a formação do aluno, pois se deve levar em consideração
que a escola não serve apenas para prepará-lo para o mercado de trabalho, como
também para formar o aluno-cidadão, pronto a interferir como agente de mudança
no meio em que vive. É importante dizer que atividades como a acima descrita
constituem situações problemáticas, as quais estimulam o raciocínio dos
educandos.
Cabe citar também que o uso de
materiais ilustrativos permitiu aumentar o interesse dos alunos pela ação
educativa, revelando a contribuição dessa estratégia para o processo de ensino.
TRAJBER & COSTA (2001) consideram de fundamental importância que o educador
utilize todos os materiais didáticos para trabalhar além dos conteúdos,
competências para a formação do espírito crítico e do desenvolvimento do
pensamento hipotético e dedutivo.
Para falar sobre a “Utilização
Sustentável do Manguezal”, foram mostrados alguns trabalhos no Brasil que fazem
uso desse ecossistema sustentavelmente. Em seguida, a turma foi dividida em três
equipes para elaboração de um projeto sustentável hipotético para uma área de
manguezal. Essa atividade gerou uma discussão sobre qual projeto proposto seria
mais viável para esse ecossistema em termos socioeconômicos e ambientais.
Os alunos revelaram muita
criatividade durante a elaboração dos projetos. Um dos que se destacou foi o
“Turismo Sustentável no Manguezal”, o qual tinha o objetivo de mostrar aos
turistas a importância dos manguezais na cidade de São Luís. As atividades
envolveriam palestras e saídas para conhecimento do ecossistema, promovendo
conscientização ambiental e lazer.
A atividade final foi uma aula de
campo, para vivenciar o ecossistema manguezal do entorno do estaleiro escola. A
turma foi dividida em equipes, para maior dinamicidade durante o trabalho.
Posteriormente, elas saíram ao redor do estaleiro para observar o manguezal. Os
alunos fizeram um estudo de caso na área, relacionando o que estava sendo visto
com o que haviam aprendido em sala de aula, com ênfase nos seguintes pontos:
1. Elementos da flora observados.
2. Elementos da fauna observados.
3. Tipo de solo em que a vegetação
está crescendo.
4. Impactos ambientais verificados
no ecossistema local.
5. Responsáveis pelos impactos.
6. Elaboração de uma proposta para
que o manguezal observado seja um ecossistema sustentável, levando-se em
consideração os fatores sociais, econômicos e ambientais.
7. Elaboração de um desenho
esquemático do ambiente observado.
Posteriormente, as equipes voltaram
para a sala de aula, onde trabalharam em grupos para elaboração dos relatórios
da aula prática. Os desenhos esquemáticos do manguezal observado pelos grupos
foram muito bem confeccionados. A turma se animou bastante por entender melhor a
dinâmica do manguezal, fazendo diversas perguntas sobre o ecossistema, fauna e
flora.
Nota-se que quando o aluno visualiza
na prática o que é visto na teoria, a aprendizagem se torna muito mais
significativa. Isso foi observado nos relatórios das aulas de campo, os quais
descreveram muito bem o que foi visto no manguezal em estudo.
Segundo FARRAPEIRA & PINTO (2005), a
exploração de um ambiente natural é um importante recurso didático para várias
disciplinas e se adéqua a vários níveis de escolaridade, constituindo-se uma
oportunidade para desenvolver vínculos afetivos dos alunos com o ecossistema e
os seres vivos, através da observação e do reconhecimento das espécies, de seus
hábitos e suas relações ecológicas. Para DIAS (2004), esta atividade pode ser
utilizada também na educação ambiental, pois provê meios de percepção de fatores
que interagem no tempo e no espaço, para modelar o meio ambiente. É importante,
portanto, relacionar a teoria com a prática.
Com relação aos questionários
aplicados aos alunos para avaliação do conhecimento adquirido pelos mesmos ao
longo das aulas, o resultado foi satisfatório. Observa-se que antes do início da
disciplina, metade dos alunos (50%) respondeu à primeira pergunta (qual a
importância do ecossistema manguezal) de forma errada, enquanto ao fim da mesma,
apenas 6% responderam errado. Além disso, 78% responderam corretamente à
pergunta na última avaliação, enquanto na primeira, apenas 10% haviam acertado.
Com relação à segunda pergunta
(quais os principais impactos ocorrentes no manguezal de São Luís), antes das
aulas, 22% dos alunos responderam-na de forma correta, e 25% responderam de
forma completamente errada. Após a ministração das aulas, o percentual de
acertos aumentou consideravelmente, chegando a 80%, enquanto os erros
diminuíram, alcançando apenas 4%.
Levando-se em consideração a
área carente da cidade de São Luís em que as ações educativas se realizaram,
pode-se dizer que a aprendizagem foi bastante significativa, pois muitos alunos
tinham dificuldade em se fazerem presentes em todas as aulas, devido à
necessidade de trabalho, dentre outros problemas. Apesar disso, a maioria deles
adquiriu grandes conhecimentos a respeito do manguezal.
CONCLUSÕES
Os alunos se mostraram muito
participativos ao longo da disciplina Ecossistema Manguezal, entendendo assim, a
importância desse ambiente para si e para sua comunidade, sendo incentivados
continuamente a interferirem no meio em que vivem para a preservação do mesmo.
Todas as ações realizadas tinham o
propósito não somente de divulgar as características do ecossistema, mas
principalmente de levar o público ao entendimento da sua importância ecológica,
social e econômica. As atividades permitiram um estímulo à participação, levando
à ampliação do olhar crítico dos educandos. Pôde-se perceber que a turma,
como um todo, tomou uma postura diferente diante das problemáticas relacionadas
ao manguezal, pois com o passar das aulas, continuamente chegavam com
questionamentos a respeito desse ecossistema.
Pelo fato de a maioria dos
estudantes morarem próximo ao ambiente em questão, seu conhecimento prévio sobre
o mesmo demonstrava basicamente entendimento sobre a utilização de seus
recursos. A ação educacional interativa, ao utilizar recursos visuais múltiplos
sobre o manguezal e verificar o conhecimento anterior dos estudantes,
demonstrou, de um modo geral, eficiência na abordagem dos conceitos
bioecológicos desse ecossistema.
Durante a visita ao ambiente
natural, os alunos puderam colocar em prática os conhecimentos adquiridos e se
familiarizar mais com o ecossistema, tornando-se mais conscientes sobre a
problemática ambiental. Eles, desta forma, adquiriram um novo olhar sobre o
manguezal, mudando seu comportamento perante a sociedade e se tornando
multiplicadores do conhecimento adquirido.
Dessa forma, espera-se que os alunos
continuem a agir em suas comunidades como multiplicadores da educação ambiental,
em especial com relação a um ecossistema tão dinâmico e cheio de vida como o
manguezal.
AGRADECIMENTOS
À Secretaria de Estado da Ciência e
Tecnologia e à Universidade Virtual do Maranhão, pelo financiamento do projeto,
e ao Centro Vocacional Tecnológico Estaleiro Escola do Maranhão, pela
infra-estrutura e apoio concedido.
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