Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dinâmicas e Recursos Pedagógicos
14/03/2008 (Nº 23) Roteiro para Peça de Teatro: Criança Abençoada
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Revista Educação ambiental em Ação 23

Educação Ambiental em Ação - Edição 23

Roteiro para Peça de Teatro: Criança Abençoada

Marina Strachman

 

Enredo: José era um garoto lindinho de cinco anos, cabelos negros, olhos rápidos, espertos, cor de jabuticaba e brilhantes. Era um pouco pequeno para sua idade, mas o que lhe faltava em tamanho sobrava em rapidez de raciocínio e ginga de corpo.

Todo sábado de manhã antes mesmo das irmãs virem chamá-los, José já estava acordado de cabelos penteados, prontinho, e é claro já estava falando, pois o José antes mesmo de andar, falou. Quando estava feliz José falava, quando triste falava também, e hoje, sábadoera dia de aula de capoeira.

Neste sábado, em especial, José estava mais excitado ainda, pois a aula de capoeira seria diferente. Totonho, o professor, traria sua companhia de apresentação inteira.

O que José não sabia, é que Ana, a esposa de Totonho, viria ao orfanato para escolher uma criança para partilhar seu amor e criar. E como Ana, além de professora de educação física era também professora de capoeira, essa foi a maneira que Totonho escolheu para não criar expectativas em José, pois de tanto Totonho falar de José, Ana já o amava e já o tinha escolhido em seus sonhos.

 

Cena 1 - Irmã Cristina entra no quarto para chamar José e ele está ajoelhado no chão, agarrado ao seu ursinho surrado....

José (falando sempre muito rápido) - Papai do céu, hoje eu quero mandar bem. Quero que todos do orfanato se orgulhem de mim. Papai do céu, eu quero dar um golpe no Totonho, você deixa?! Mas sem machucar ele, só quero ver ele se “esburrachando” no chão. Papai do céu, e será que vai ter macarrão com frango de almoço, eu adoro macarrão com frango e gelatina vermelha de sobremesa? Aí que fome!!! Papai do céu...

Irmã Cristina (rindo) - Bom dia José, acho que você já pediu muita coisa para o Papai do céu hoje, até a hora do almoço ela vai estar bastante ocupado com você. (recebe um abraço carinhoso do garoto e retribui com um beijo no alto de sua cabeça) Vamos, turminha, vamos tomar café que daqui a pouco o prof. Totonho está aí.

Descem seis crianças de tamanhos variados.

Eles saem de mãos dadas.

Cena 2 - Entra um homem vestindo uniforme de capoeira, abraçado a uma moça também de uniforme, logo atrás deles, entram conversando o grupo de apresentação da escola de Totonho.

Totonho - Calma Ana, vai dar tudo certo, eu não contei nada pro garoto, aliás, ninguém contou, eu pedi que fosse assim.

 

Ana - Mas meu amor, eu estou tão nervosa! E se eu não gostar dele....

Do fundo do palco se escuta um grito feliz TOTONHOOOOOOOOOOO, e o José vem correndo de braços abertos, e Totonho o pega no colo.

 

Totonho – José, esta é a Ana, Ana, este é o meu amigo José!

E Ana com um sorriso lindo no rosto pega José no colo, o abraça carinhosamente.

 

Ana - Muito prazer José, você é muito lindo!

 

José - Eu sei! (Todos riem) Totonho, vocês trouxeram tudo pra aula? Você viu que eu cortei o cabelo? Ganhei um chinelo novo ontem, olha só?! O outro tava pequeno. (mostrando o chinelo de dedo). Ó, trouxe pra você, (estica a mão e dá para Totonho, uma fatia de bolo), mas a Irmã Tereza não pode saber. Ih, será que a Ana, também gosta de bolo?

 

Totonho – Obrigada José, eu divido esta com ela, né Ana?

 

Ana - Claro To! (com a boca cheia) que delícia, obrigada José. Que bolo delicioso! Me diz uma coisa, que bolo você mais gosta?

 

José – De chocolate, oras! Eu adoro bolo, e também de macarrão com frango e de gelatina vermelha, pensando bem da amarela também. Ah, eu às vezes, na quinta-feira, tem cachorro quente, Ana você já comeu cachorro quente? Você gosta?

Ana faz que sim com a cabeça.

 

José - Eu gosto também de ver TV, você também gosta?

 

Ana- Gosto sim José, também gosto de capoeira, de ler, de um montão de coisas!

 

José - Legal e você joga bola, eu adoro jogar bola também, Totonho, olha só o que fiz pra você, (trazendo um desenho de uma criança de mãos dadas com um homem, uma bola e escrito José e Totonho).

 

Totonho - Você que fez, que lindo, e quem escreveu?!

 

José - Eu! Claro!

 

Ana - Nossa, José, você já sabe escrever?

 

José – Já, aprendi sozinho e agora já sei ler e escrever, quer ver?!

José pega um papel e escreve ANA.

 

José - (Mostrando o papel para a Ana) Olha só, aqui tá escrito ANA, num tá?!

 

Ana - Tá sim José...(chorando de emoção).

 

José (aflito) - Ana, você tá chorando? Porque você tá chorando? Totonho, porque ela tá chorando?

 

Totonho - Acho que é porque ela se apaixonou por você, garoto. (pegando José no colo e dando um beijo em seu rosto). Eu tô ficando com ciúmes! (coloca o garoto no chão e passa a mão em sua cabeça, rindo)

 

Ana - Você é muito especial José, você é uma gracinha. (abaixa-se, abre os braços e José corre em sua direção, se abraçam)

Todos estão sentados no chão.

José - Ana, num chora, por favor, não gosto de ver ninguém chorando, fico triste, muito triste!

 

Ana - Num fica triste não, porque eu já parei.

 

José - Ana, você pode vir no meu aniversário, eu faço aniversário semana que vem, eu já faço 5 anos. Eu já sei fazer quase tudo sozinho.

 

Ana - Claro que eu venho, me diz uma coisa José, o que você quer ganhar de presente?

 

Ana (cochicha para Totonho) -  Acho que isto é amor a 1º vista! (da um beijo na bochecha do Totonho). Te amo, obrigada!

 

José - Uma mamãe e um papai! Eu peço pro Papai do Céu faz tempo já. Você acha que ele vai me dar de presente uma mamãe e um papai? Sabe, eu sonhei que eu tava morando em uma casinha, tinha um quarto “da hora”, uma caminha bem quentinha e uma mamãe assim que nem você vinha me dar um beijinho de boa noite!

Ana olha pra Totonho, que olha pro garoto e olha de novo pra Ana.

 

Ana - José, agora vamos pra aula de capoeira, que eu quero ver esta ginga.

 

 

Cena 3 - Ana sentada em uma cadeira, Totonho ao seu lado, assinando uns papéis, em um escritório. Eles saem do escritório, e vão ao encontro de José que está no pátio jogando bola.

José corre em direção de Ana e Totonho.

 

José -  Totonho, Ana, ué hoje é sábado?! Num é, eu sei que num é! O que vocês tão fazendo aqui, que foi, me conta, me conta!

 

Totonho - Oi amigão, vem cá me de um abraço, que saudades!

Totonho senta no chão com José no colo e Ana a seu lado.

 

Ana – Oi José! Também quero um abraço.

José olha primeiro desconfiado, depois vai até Ana e lhe dá um abraço, mas volta para o colo de Totonho.

 

Totonho – José, presta atenção, a gente veio aqui hoje pra te levar lá pra casa, o que você acha de passar uns dias lá com a gente?

 

José – Eu, na sua casa? Mas por quê? E o meu aniversário?

 

Ana - José, a gente quer que você venha morar com a gente, por um período, pra ver se você gosta da gente.

 

José (aflito) – Na sua casa? Morar com vocês? E se vocês num gostarem de mim?

 

Totonho – José, presta atenção, a gente, eu e a Ana, nós dois já gostamos muito, muito mesmo de você, agora é você quem tem que gostar da gente.

 

José – Eu? Gostar de vocês? Eu já gosto! (dá um beijo e um abraço em Totonho e depois vai até Ana e faz a mesma coisa).

 

Irmã Cristina – (no fundo da cena) Senhor, eu sabia que está era uma criança abençoada.

Fim

 

Marina Strachman (marinastrachman@yahoo.com.br) arquiteta, mestre em meio ambiente e desenvolvimento regional, especialista em educação ambiental

Ilustrações: Silvana Santos