NEVS: EDUCAÇÃO QUE TRANSFORMA E SALVA VIDAS

 30/12/2023

Folha do Oeste / Nevs

A educação possibilita criar, planejar, melhorar o dia a dia, desenvolver, e inclusive salvar vidas. Exemplo disso, é a atuação do Nevs (Núcleo de Estudos em Vidas Selvagens) da Unoesc Campus de São Miguel do Oeste, que em cinco anos de existência já salvou a vida de inúmeros animais. Criado no ano de 2018, o Núcleo tem o objetivo de auxiliar órgãos ambientais na recuperação, tratamento e reintrodução de animais silvestres na região. A informação é do coordenador do Nevs, Jackson Preuss.
Formado em Biologia, especialista em Gestão Ambiental, mestre em Ciências Ambientais e doutor em Biologia, Preuss destaca que com a implantação do Curso da Medicina Veterinária, o objetivo era oferecer ao acadêmico uma possibilidade de desenvolver atividades vinculadas a este grupo, que são os animais silvestres. Em 2018 então foi consolidada uma parceria, de forma legal, junto com a Polícia Militar Ambiental, com o objetivo de auxiliá-los neste tratamento. “Muitos animais que necessitam de atendimento clínico e biológico, são encaminhados para a Unoesc e o Nevs faz este tipo de auxílio”, ressalta.

A equipe que atua no Núcleo é multiprofissional, mas basicamente formada por profissionais da área de Medicina Veterinária, contando com uma grande equipe de médicos veterinários, que atuam nas mais diferentes áreas, como na parte clínica e de diagnóstico por imagem. O Nevs conta ainda com o auxílio de profissionais de Biologia, e acadêmicos que se interessam por esta área e desejam conhecer um pouco mais sobre os grupos atendidos, entre outros profissionais.

Segundo o coordenador do Núcleo, todos os casos que chegam até o Nevs são especiais. “Muitas vezes são filhotes órfãos, que vamos acompanhando desde o início do processo até o seu destino. Toda vez que um animal passa por aqui, tem uma memória muito intensa, e lembramos de todos os casos de forma muito incisiva”, salienta. Porém, entre os que mais marcaram a história do Nevs, até então, destaca-se o macaco prego, chamado carinhosamente de Jorginho. Preuss recorda que este animal chegou no Núcleo entre o ano de 2021 e 2022, resgatado pela Polícia Militar Ambiental, porque possuía alguns sinais de ser domesticado. Após um exame raio x, se percebeu que ele tinha muitos chumbinhos espalhados pelo corpo. O caso de ‘Jorginho’ chamou a atenção da comunidade para as problemáticas ambientais, principalmente da caça na região. “Ele ficou marcado na história do Nevs e um dos casos mais conhecidos na região”, ressalta.

Além de Jorginho, diversos outros animais já passaram pelo Núcleo, receberam a atenção e cuidados por parte dos acadêmicos e professores, e puderam voltar para a natureza e aproveitar a nova chance de vida graças ao Nevs, como o gavião-carijó, o gavião-pernilongo, corujas, tamanduá, mão-pelada, gato-maracajá, tucanos, tatu-peba, veado-bororó, gato-do-mato, saracura-do-mato, urutau, cachorro-do-mato, pavão-indiano, entre outros. O professor, doutor em Biologia, ainda cita que nesta época de calor, é também uma época reprodutiva de muitas espécies, por esta razão é comum ter filhotes nos ninhos, e consequentemente um número maior de filhotes no Nevs. Entre os atendimentos realizados no mês de dezembro, por acadêmicos e professores no Núcleo, destacava-se os cuidados com uma coruja, filhotes de tucanos, e um furão, oriundo de resgate por ter sido atropelado, sofrendo lesões nas patas anteriores. “Os demais são animais órfãos, filhotes encontrados muitas vezes por populares, e entregues para um órgão ambiental até que se torne adulto”, explica.

CUIDADO MAIS PRÓXIMO

Todos os animais que chegam no Nevs precisam chegar através de um órgão ambiental. Neste sentido, a Polícia Militar Ambiental e o Instituto de Meio Ambiente são os órgãos responsáveis em fazer a recolha desses animais, o recebimento e o resgate. “Muitas vezes, esses animais necessitam de um atendimento mais específico, se não é possível reintroduzir imediatamente na natureza, a Polícia Ambiental traz até o Nevs”, aponta, ressaltando que a equipe do Núcleo auxilia no tratamento até o animal ter uma condição de ser novamente entregue para a natureza.

“Muitas vezes esse animal precisava, antes, ser levado para Florianópolis e hoje é atendido na região, o que é muito importante. Se ele fosse levado para Florianópolis, nunca mais voltaria para a região, então estaríamos retirando um animal que é importante dentro do nosso ecossistema, e muitas vezes destinando para outros locais, outros ambientes”, cita, ressaltando que com o Núcleo de Estudos em Vidas Selvagens da Unoesc esses animais têm a oportunidade de ser reintroduzidos dentro do seu habitat natural, que é a região Extremo Oeste de Santa Catarina.

Com relação ao resgate, Preuss cita que é algo complexo, pois nem sempre que um filhote é encontrado na natureza é sinal que precisa de resgate. Conforme ele, o órgão ambiental deve ser acionado quando um animal está em condição de perigo tanto para ele, quanto para a pessoa, ou então quando o animal está fora do ninho por um longo período, aí sim necessita ser resgatado.

 Ao falar sobre os resultados desta iniciativa educacional, que é o Nevs, o coordenador do Núcleo enfatiza a importância tanto para o acadêmico, que vivencia de forma prática o que aprende na teoria, como a importância para a educação da população em geral, uma vez que os casos desses animais são utilizados como forma de chamar a atenção para as problemáticas ambientais que ocorrem na região, como os atropelamentos e caça de animais silvestres.

“É uma problemática que historicamente ocorre, desde a nossa ocupação, mas que nos últimos anos estamos percebendo que está ocorrendo uma conscientização da população. Através das postagens nas redes sociais as pessoas se sentem comovidas e muitas vezes elas acabam sendo as responsáveis por fazer esse resgate. Muitas vezes esses animais eram encontrados ou vistos nas margens das estradas, mas ninguém se preocupava com esse tipo de problemática, e agora chamamos a atenção para esse tipo de causa, mostrando a importância, o destino e o tratamento, o que acaba sensibilizando a comunidade”, comenta.

O professor doutor em Biologia ainda acrescenta que o Núcleo de Estudos em Vidas Selvagens também tem chamado a atenção para os atropelamentos de animais. Através da educação ambiental tem se mostrado que determinados pontos têm maior possibilidade de atropelamentos, buscando que as pessoas se conscientizem. “Muitas vezes as nossas estruturas, de rodovias, também não estão bem adequadas para que os animais atravessem de forma segura”, aponta, neste sentido o pedido para a comunidade é para que ao ver um animal atravessando a rua, reduza a velocidade. A ideia do Nevs é intensificar o trabalho sobre essa questão nos próximos anos.
“O trabalho no Nevs não é feito a curto prazo, exige um trabalho a longo prazo, que com certeza tem como base a educação ambiental. Saber que as pessoas estão percebendo que essa é uma problemática ambiental e que repercute na vida das pessoas é o que buscamos nos próximos anos. Um ecossistema equilibrado em uma região não é somente importante para os animais, é fundamental para a saúde e qualidade de vida das pessoas. Manter a biodiversidade mantém esse equilíbrio dos ecossistemas, o que é muito importante. Isso influencia tanto no bem estar, como na saúde das pessoas”, afirma.

O coordenador do Núcleo ainda acrescenta que o Nevs muitas vezes faz um trabalho silencioso, mas que afeta diretamente na saúde e na qualidade de vida. “Esse trabalho de colocar novamente o animal na natureza traz benefícios para as pessoas. E cada um tem a sua importância. O ecossistema é como uma pirâmide de baralho, se tirar uma carta qualquer, a pirâmide acaba desmoronando. Então temos que entender que por mais que o animal pareça não ter uma importância direta para os seres humanos, ele de alguma forma mantém esse equilíbrio que torna a nossa vida muito mais harmoniosa”, garante o professor.

ATIVIDADE GRATIFICANTE

A acadêmica do 4º período do Curso de Medicina Veterinária da Unoesc, Eduarda Brustolin Grasel, é uma das integrantes da equipe do Núcleo de Estudos. Ela destaca que sempre teve aptidão por essa área e tem sido muito gratificante e uma oportunidade.

Eduarda ressalta que o Nevs é uma oportunidade para o acadêmico e para a sociedade, pela sua importância na educação ambiental, e para os animais, que em muitos casos se não tivessem esta atenção não sobreviveriam. Ela cita uma das histórias que acompanhou de perto, envolvendo tucanos que necessitavam cuidados neonatais. Depois de receber atendimento por cerca de dois meses, inclusive com alimentação estimulada através de um método criado pela acadêmica, os animais seriam entregues ao órgão ambiental para ter o destino correto.

Começar a participar das atividades do Nevs foi um ’divisor de águas’ para a acadêmica. “Pretendo trabalhar com animais silvestres, acho extremamente gratificante salvar esses animais e principalmente, se possível, devolve-los para a natureza, onde eles ficam mais bonitos ainda. (...) Fico muito feliz em fazer parte deste projeto e de certa forma realizar o meu sonho, que é trabalhar com esses animais”, declara a estudante.

O professor Jackson Preuss também salienta que o Nevs é um diferencial do Curso de Medicina Veterinária em São Miguel do Oeste. “Somos uma das poucas universidades do estado que tem essa parceria com um órgão ambiental. É um trabalho que exige uma constante atualização. Alunos que se formam dentro da Medicina Veterinária em São Miguel do Oeste vão ter uma experiência dentro de uma área que muitas vezes não é tão simples, então esse trabalho de ter contato com a fauna é graças a essa parceria entre universidade, Polícia Militar Ambiental e Instituto do Meio Ambiente”, aponta, ressaltando que é uma troca, o órgão ambiental tem a possibilidade de utilizar de alguma forma os serviços especializados e o acadêmico tem a possibilidade de ter essa vivência com os animais, que muitas vezes são vistos somente pela televisão ou livros. “No final todos saem ganhando, os animais, os alunos, o órgão ambiental”, afirma.

Hoje, o Nevs também tem uma importância muito grande na área da pesquisa. Há parcerias com muitas universidades nacionais e estrangeiras, isso leva o conhecimento que é desenvolvido na região, no Extremo Oeste e principalmente em São Miguel do Oeste. Através desta parceria, dados científicos são utilizados em nível internacional, e contribuirão para a melhoria dessa condição que o planeta exige.

Para o futuro, o professor salienta que a pretensão é melhorar a estrutura do Núcleo de Estudos em Vidas Selvagens e fazer com que mais acadêmicos estejam envolvidos neste projeto.

Fonte: Folha do Oeste / Cidades / Nevs: Educação que transforma e salva vidas