Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
14/03/2024 (Nº 86) REFLEXÕES SUSTENTÁVEIS: EM 2023, PODCAST ENTRE NO CLIMA OUVIU DIVERSIDADE DE VOZES; CONFIRA RETROSPECTIVA
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REFLEXÕES SUSTENTÁVEIS: EM 2023, PODCAST ENTRE NO CLIMA OUVIU DIVERSIDADE DE VOZES; CONFIRA RETROSPECTIVA

Relembre as entrevistas e análises significativas que contribuíram para aprofundar as conversas sobre sustentabilidade neste ano que passou

Ao longo de 2023, o programa proporcionou uma plataforma para especialistas compartilharem suas perspectivas sobre questões relacionadas à sustentabilidade

Em um ano marcado por desafios ambientais globais, o podcast Entre no Clima desempenhou um papel importante na conscientização ambiental, proporcionando aos ouvintes uma visão aprofundada e diversa sobre os desafios e soluções no cenário da sustentabilidade em 2023. Com uma série de episódios que apresentaram grande variedade de vozes especializadas, o programa promoveu reflexões sobre como enfrentar as questões cruciais que afetam nosso Planeta.

De entrevistas com cientistas renomados até diálogos esclarecedores com ativistas, o Entre no Clima abordou temas que vão desde o mercado de carbono até práticas sustentáveis no cotidiano. Nesta retrospectiva, revisite momentos esclarecedores e mensagens essenciais compartilhadas pelos convidados ao longo do ano de 2023, reforçando nosso compromisso de inspirar a ação em prol de um futuro sustentável para todos.

Edson Grandisoli: "Ação é o que gera não só transformação, mas as grandes revoluções"

Doutor em Educação para o Desenvolvimento Sustentável e diretor educacional da Reconectta, negócio social que promove a educação para a sustentabilidade em escolas e instituições pelo Brasil, Edson Grandisoli falou ao podcast no Dia Mundial da Educação Ambiental.

Nossa relação com o ambiente atualmente é muito delicada. Sabemos dos inúmeros desafios socioambientais que atravessamos", diz o educador. Trabalhar a natureza como uma grande escola a céu aberto, e o papel do ser humano na conservação desse ambiente, são duas vertentes que têm que dialogar, segundo ele.

Raquel Keiroglo: "Enxergamos nosso próprio futuro olhando para o futuro das florestas e ecossistemas"

Com um programa que apoia a regeneração de biomas latino-americanos, que abrigam 40% da biodiversidade do planeta, o Mercado Livre, empresa líder em e-commerce e serviços financeiros na região, está investindo um valor proporcional à sua pegada de carbono em projetos que irão gerar créditos futuros.

"Não queremos só pagar para ter um crédito e poder falar: 'agora somos carbono neutro'. A gente quis investir nosso dinheiro, nossa energia, olhando muito para aquilo que falamos todos os dias no Mercado Livre, que é 'atuamos hoje para que o melhor chegue'. Então a gente atua agora e sabe que isso vai dar um resultado extremamente positivo daqui a 10, 15, 20 anos", descreve Raquel Keiroglo, gerente de Sustentabilidade do Mercado Livre no Brasil, em entrevista ao Entre no Clima.

Nabil Bonduki: "Temos de evitar que uns poucos se apropriem das áreas de qualidade"

No feriado de Carnaval, chuvas inéditas levaram caos e destruição ao litoral de São Paulo, e um saldo de mortos que até 1/3 chegou a 65 pessoas.

Referência em planejamento de cidades, o arquiteto, urbanista e professor universitário Nabil Bonduki afirma que a tragédia poderia ter sido evitada. “São Sebastião tem um orçamento fabuloso, mas que é pessimamente utilizado”, diz ao podcast Entre no Clima, do Um Só Planeta. Para o urbanista, os últimos cinco prefeitos do município paulista deveriam ser responsabilizados criminalmente por não ter feito o que deveriam.

Luís Fernando Guedes Pinto: "Quanto mais floresta, menor o risco de desastres"

A Mata Atlântica tem, por um lado, uma ocupação irregular histórica de áreas de risco em encostas e na beira dos rios. Por outro, uma grande exposição à tempestades cada vez mais fortes e mais frequentes. A junção destes dois fatores traz como produto milhões de moradores vulneráveis aos efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas no bioma mais populoso do país.

"É o bioma que tem mais gente e há mais tempo. Cabral e suas caravelas chegaram na Bahia, na região de Porto Seguro, na Mata Atlântica, e ali começou a ocupação desordenada do Brasil, desde aquela época. A gente tem 70% da população vivendo nesse bioma, muita gente nem sabe que está na Mata Atlântica, que está em 17 estados brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, em toda a faixa litorânea, mas também está no interior, no interior do Paraná, do Mato Grosso do Sul, Piauí", lembra Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo na Fundação SOS Mata Atlântica.

Daniel Contrucci: “Estamos no alvorecer da era das greentechs no Brasil”

Daniel Contrucci é diretor executivo e cofundador da Climate Ventures, plataforma de inovação focada em soluções climáticas que fez um mapeamento do cenários das startups verdes no Brasil. O levantamento traz dados compilados de mais de 223 negócios que atuam em diferentes áreas, de gestão de resíduos e indústria à agropecuária e florestas. Na conversa, ele analisa o cenário brasileiro de fomento às chamadas greentechs, o perfil desses empreendimentos, além das principais alavancas e obstáculos para seu crescimento.

Atualmente, segundo o mapeamento, o setor de gestão de resíduos concentra 27% das iniciativas, seguido por inovação e infraestrutura na indústria, com 21%, agropecuária, com 16%, e florestas e uso do solo, com 13%. Energia acessível e limpa é o objetivo de 7% das startups, soluções que devem crescer à medida que mais empresas buscam se descarbonizar. “Há uma onda verde de oportunidades em curso”, afirma Daniel.

Kaê Guajajara une vivência urbana e origem indígena

Alimentação e conflito. Esses são os dois temas que vêm à mente de Kaê Guajajara quando ela pensa nas diferenças e semelhanças entre o território indígena onde nasceu, no Maranhão, e o complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, onde viveu por muitos anos. Em Mirinzal se comia o que a terra dava: carambola, buriti, palmito jussara, peixe, mandioca. Na cidade, ela conheceu o hambúrguer, a pipoca e o macarrão instantâneo. Apesar da distância que os separa, os dois lugares, no entanto, têm algo em comum: são focos de confrontos.

Como não tinha nenhuma regulamentação, o território era bastante invadido por madeireiros. Na favela a gente também está constantemente sendo invadido. Eram muitas as situações que eu passava ali dentro, tanto de polícia quanto de bandido. Era um contato bem próximo com a morte, com a sobrevivência”, conta a artista.

Marcio Jappe: "É preciso trazer a vida para o centro do processo de inovação"

Em uma época em que a humanidade tenta retomar práticas sustentáveis para garantir o próprio futuro, o comportamento do consumidor, de forma generalizada, pode parecer até contraditório: as pessoas estão priorizando seus desejos individuais, mas querem também mudanças duradouras para os outros e para o Planeta; querem seguir seus próprios valores, mas não à custa de conquistas já obtidas; estão resolvendo o problema com suas próprias mãos, mas também esperam que empresas e governos liderem a cruzada a favor do ambiente. Esses tipos de "inconsistências" podem não ser novos, mas são cada vez mais comuns – e, sim, até bons.

"Existem inovações, por exemplo, que são geradoras de mercado: você inova um componente e isso vai gerando outros negócios ao seu redor. Então a inovação é essa chispa que vai possibilitar a geração de diferentes mercados, com outras dinâmicas. A inovação tem um poder muito grande de fazer isso. E quando falamos em 'inovação que valoriza a vida', pensamos o seguinte: e se, ao invés do cliente, trouxermos a vida para o centro?", pondera Marcio Jappe, CEO e Sócio-fundador da Semente Negócios.

Preta Terra: futuro agroflorestal

Assim como em tantos outros aspectos da vida — e dos negócios —, a falta de diálogo representa uma grande barreira quando o assunto é a transição para um modelo de agricultura mais sustentável. “No final das contas, o desafio sempre é humano. Como fazer com que as pessoas trabalhem juntas e dialoguem, ao invés de ficar um apontando o dedo para o outro?”, reflete a engenheira florestal Paula Costa, diretora de tecnologia na Preta Terra.

Em entrevista ao podcast Entre no Clima, ela e o marido, o também engenheiro florestal Valter Ziantoni — que fundou a empresa junto com Paula em 2017 e atua hoje como CEO — falam sobre este e outros desafios e contam como estão fazendo para superá-los e para escalar modelos regenerativos no Brasil e no exterior.

Natália Chaves: transição energética é também uma questão de diversidade

Educação, networking, oportunidades inclusivas, mudança de mentalidade, diversidade, interseccionalidade. Expressões como essas, que apontam para um futuro mais sustentável no mercado de trabalho, marcam presença incisiva na fala da cientista ambiental Natália Chaves. Sempre aberta a novas conexões e apaixonada pelo mundo da energia, ela entendeu desde cedo que precisaria pensar e agir diferente para “furar a bolha” do setor, historicamente dominado por homens.

Hoje, é cofundadora da Rede de Mulheres na Energia Solar e líder de ESG na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha no Rio de Janeiro (AHK Rio). Com a agenda de práticas ambientais, sociais e de governança em alta nas organizações, trazer a questão da diversidade de gênero para a discussão da transição energética é fundamental.

Alcione Pereira: "Visualizar o impacto que causamos no dia a dia alimenta a alma"

A fome e o desperdício de alimentos estão entre os maiores paradoxos da atualidade: por um lado, mais de 125 milhões brasileiros não fazem as três refeições diárias e 33 milhões passam fome, de acordo com um estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Por outro lado, 55 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente no país, segundo o Relatório Diagnóstico Mapa da Fome e do Desperdício de Alimentos no Brasil 2022, produzido pela Consultoria do Amanhã e pela Integration para a UniãoSP.

Pensando em minimizar os efeitos desse paradoxo, a Connecting Food, por meio do uso de tecnologia, dados e conexões, procura levar o “S” do ESG para o centro da estratégia das empresas da cadeia de alimentos e de quaisquer outras organizações que queiram atuar neste mesmo sentido.

"É muito gratificante. Realmente poder visualizar esse impacto no dia a dia é algo que nos alimenta. Alimenta a alma. E, de certa forma, é o que traz esse combustível para vencer esses desafios, todos os dias, de convencer empresas e estar nesse diálogo com a sociedade, com a iniciativa privada, de que é importante investir em impacto social no nosso país", destaca Alcione Pereira, fundadora e CEO da Connecting Food.

Noemia Kazue Ishikawa: "Os fungos são o começo e o fim do ciclo da vida na natureza"

Os fungos foram algumas das primeiras formas de vida complexas no Planeta, extraindo rochas para nutrição mineral, transformando-as lentamente no que se tornaria solo. Assim, forneceram minerais essenciais para as plantas terrestres que lhes permitiram espalhar-se e tornar o planeta verde – alterando até a composição da atmosfera.

"Podemos fazer muitas metáforas dos fungos com muitos outros assuntos na nossa sociedade. São aquilo que as pessoas enxergam como um problema, quando sua casa está 'fungada', quando você está com uma infecção por fungo, então vê isso de uma forma muito negativa. Ou vê como algo que serve, por exemplo, para fazer comida. O que não é visto é seu papel na floresta, na natureza. Ele é um grande reciclador: é o começo e o fim do ciclo da vida na natureza. Tudo começa e tudo termina com os fungos", reflete a micóloga Noemia Kazue Ishikawa em entrevista ao Entre no Clima.

Miriam Leitão: “Amazônia sem água é uma distopia”

A Covid 19 balançou as estruturas do mundo. Cada pessoa atravessou os anos pandêmicos ao seu modo. A jornalista brasileira Miriam Leitão transformou o confinamento em uma cruzada amazônica que culminou no recém-lançado livro "Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades", pela Editora Intrínseca. No período, revisitou antigas memórias e reportagens em que a floresta foi tema central, mergulhou em livros e artigos científicos sobre o bioma e passou incontáveis horas em webchamadas com alguns dos maiores especialistas e referências em meio ambiente, clima e questões indígenas.

Em entrevista ao podcast Entre no Clima, Miriam Leitão conta por que é na Amazônia que o Brasil e o mundo decidirão o futuro. Com olhar encantado para as ciências e saberes da floresta, ela conduz o leitor a uma aventura de conhecimento tão crítica quanto envolvente para entender o papel da floresta dentro da teia ecossistêmica e climática do mundo. E mostra de que forma um círculo virtuoso de política pública pode reescrever essas desventuras em série, como o país já foi capaz de fazer no passado.

Pedro Garcia: "A floresta em pé é fundamental para nossa estratégia climática"

A Eletrobras, maior empresa de energia elétrica da América Latina, planeja se tornar uma "green major", com liderança fortemente focada na geração de energia renovável e descarbonização. Para isso, afirma estar fazendo esforços para se posicionar com papel de destaque em segmentos como hidrogênio verde e armazenamento de energia, com o objetivo – firmado no seu último plano estratégico, apresentado em março – de zerar as emissões líquidas até 2030.

"A grande visão da Eletrobras é tornar-se e ser conhecida como uma chamada green major, ou seja, uma grande empresa global de energia renovável, com as melhores práticas socioambientais, nos próximos anos. Assumimos a meta de sermos uma empresa net zero até 2030. Isso se dá por duas grandes frentes: uma, o compromisso de não mais entrar no negócio de geração térmica de energia – só vamos trabalhar com fontes renováveis –, e a outra é por meio da venda e/ou descomissionamento de ativos de base térmica. Com isso, reduzimos tremendamente a nossa emissão de gases de efeito estufa, que por Megawatt-hora (MWh) já é muito abaixo da média internacional", descreve Pedro Garcia, gerente executivo de Responsabilidade Social da Eletrobras.

Miriam Garcia: “Transparência é a raiz de uma ação climática robusta”

O CDP, organização de referência mundial no mapeamento de emissões de gases de efeito estufa (GEE), vilões do clima, tem mais de duas décadas de atuação envolvendo atores estatais, dos mercados de capitais, grandes corporações e da sociedade civil no combate à emergência climática.

Como em uma tecedura, Miriam Garcia, diretora de engajamento político da entidade interage com uma série de atores-chave na busca por compromissos e soluções, e em diferentes níveis de discussão. “A mudança do clima, para ser enfrentada, precisa trabalhar com uma governança multinível”, diz. Missão desafiadora, mas que oferece uma perspectiva panorâmica e privilegiada das questões.

Hannah Balieiro: "Pensar na Amazônia enquanto casa é o que mais ouço entre os nossos"

Hannah Balieiro, bióloga socioambientalista e palestrante do TEDxAmazônia — Foto: Divulgação

Cabocla da floresta, ativista, artista e arteira é como se define Hannah Balieiro. Bióloga de formação, ela constrói conexões climáticas do local ao global, entre educação popular nos territórios amazônicos e incidência política em eventos da Organização das Nações Unidas (ONU). O foco de sua obra é revelar as vulnerabilidades das áreas indígenas e quilombolas, que contribuem para proteger o mundo das mudanças do clima, mas estão entre as que mais sofrem com elas.

Hannah foi uma das palestrantes do TEDxAmazônia, que retornou às margens do Rio Negro, no porto da cidade de Manaus, de 2 a 5 de novembro. A conferência contou com a parceria do Um Só Planeta e teve apoio do governo estadual do Amazonas para espalhar ideias de mais de 40 palestrantes sobre diferentes maneiras de cuidar do bioma amazônico, um dos mais importantes para a questão climática no mundo.

Antonio Lessa Garcia: Arte e clima - uma combinação que reflete tensões e inspira mudanças

A arte responde ao espírito do tempo, e o nosso tempo anda desafiador. Eventos extremos ameaçam vidas e patrimônios – naturais, históricos e culturais. Mas a produção artística também reflete sobre a emergência climática, que transcende fronteiras, e nos ajuda a ver novos mundos e possibilidades de mudança. Na 35ª Bienal de São Paulo, intitulada “coreografias do impossível” é possível encontrar uma riqueza de obras que se relacionam com a sustentabilidade e o meio ambiente e mais de 80% dos artistas são de origem afro-brasileira, africana ou indígena.

Para esses povos originários, a questão climática tem um efeito devastador. A tradição e, mais do que isso, a cultura impõem a eles um modo de vida que leva em consideração o uso pacífico e não predatório de recursos naturais. É o caso das populações indígenas, quilombos e comunidades ribeirinhas”, diz Antonio Lessa, superintendente executivo da Fundação Bienal de São Paulo.

Para acessar aos podcast: Reflexões sustentáveis: em 2023, podcast Entre no Clima ouviu diversidade de vozes; confira retrospectiva | Podcast | Um só Planeta (globo.com)

Ilustrações: Silvana Santos