Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO NO SUL DO BRASIL
UNIVERSITY EXTENSION IN ENVIRONMENTAL EDUCATION ACTIONS: A CASE STUDY IN SOUTHERN BRAZIL
Júlia Luiza Stahl¹ (julialuizastahl@gmail.com (055) 996068746 – Autor para contato) ; Maristela Machado Araujo¹ (maristela.araujo@ufsm.br); Adriana Maria Griebeler¹ (griebeleradriana@gmail.com); Suelen Carpenedo Aimi¹ (suaimi@gmail.com); Juarez Iensen Pedroso Filho² (juarez@afubra.com.br); Álvaro Luis Pasquetti Berghetti3 (alvaro.berghetti@gmail.com); Felipe Turchetto4 (turchetto.felipe@gmail.com); Felipe Manzoni Barbosa5 (felipe93mb@gmail.com); Claudia Costella¹ (claudiacostella@hotmail.com); Leandra Pedron6 (leandra_pedron@hotmail.com)
1Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria; 2Departamento Agroflorestal da Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA); 3Departamento de Solos, Universidade Federal de Santa Maria; 4Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria Campus Frederico Wesphalen; 5Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná; 6Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade Federal de Santa Maria
Resumo A extensão universitária conecta a universidade com a sociedade e amplia as oportunidades à formação do discente. Desse modo, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA) desenvolvem ações participativas com escolas do subprograma Bolsa de Sementes, abordando a valorização das espécies arbóreas nativas do Sul do Brasil. Desse modo, o objetivo do trabalho é relatar experiências e resultados de atividades de extensão universitária da UFSM, em parceria com a AFUBRA. Para isso, foi incentivado a observação das características dos frutos e sementes, aliadas ao plantio de mudas no entorno de nascentes, com posterior avaliação do processo de restauração das áreas, por meio de indicadores ecológicos. Na experiência, foi possível constar o envolvimento e interesse da comunidade escolar e dos acadêmicos participantes, ficando evidente a importância do compartilhamento de saberes. A interação entre universidades e instituições privadas representa uma alternativa para apoiar escolas de ensino público básico na realização de ações planejadas, com investimento para organização e aporte de conhecimento técnico-científico, o que contribui para o desenvolvolvimento sócio, econonômico e ambiental da região. |
Ações |
Temas abordados e atividades desenvolvidas |
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1ª) Planejamento das ações |
Apresentação conceitual e discussão sobre a importância dos ecossistemas naturais, com ênfase às áreas de preservação permanente e o papel de toda comunidade na conservação destes ambientes. |
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2ª) Realização das ações na E.E.E.F. Adolfo Mânica |
1) Identificação de espécies florestais arbóreas nativas (características morfológicas dos ramos, folhas, flores, frutos, tronco e casca), abordando sua autoecologia. |
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2) Seleção, marcação de árvores matrizes e desenvolvimento de calendário fenológico. 3) Coleta, beneficiamento e preparo de lotes de sementes de qualidade para uso na produção de mudas utilizadas em restauração de áreas. 4) Gincana com tarefas associadas às atividades realizadas e aplicação de questionários para obtenção de indicadores de assimilação das ações realizadas. 5) Questionário sobre espécies florestais e sua importância na preservação de nascentes. |
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3ª) Isolamento e plantio de mudas no entorno das nascentes |
1) Análise de áreas em propriedades rurais no entorno da comunidade escolar, para seleção das nascentes a serem restauradas. 2) Preparo da área e plantio de mudas, condução, monitoramento do crescimento e desenvolvimento das plantas, a partir da análise da sobrevivência, destacando a importância do replantio e relação solo-água-planta. Com apoio da comunidade escolar, realizou-se o plantio de cerca de 400 mudas das espécies nativas: Luehea divaricata Mart. & Zucc. (Açoita-cavalo), Psidium cattleyanum Sabine (Araçá), Schinus terebinthifolius Raddi (Pimenteira), Allophylus edulis (A. St- Hil., Cambess e A. Juss.) Radlk (Chal-chal), Cordia americana (L.) Gottshling & J.E.Mill. (Guajuvira), Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna (Paineira) e Citharexylum montevidense (Spreng.) Moldenke (Tarumã-de-espinho). 3) Demonstração de equipamentos e avaliações do crescimento (diâmetro de coleto e altura da parte aérea), e estado fisiológico das mudas plantadas (clorofila) e condições do ambiente (intensidade de luz), relacionando a prática com os conteúdos da matemática, tais como unidades de medidas (mm, m e cm). |
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4ª) Apresentação dos resultados alcançados |
1) Dia de campo nas áreas demonstrativas que receberam os plantios, apresentação e discussão dos resultados com a participação do público externo, além dos depoimentos dos envolvidos na ação. 2) Visita de estudantes, professores e servidores da Escola na UFSM, oportunizando a integração da comunidade escolar e recursos de acesso ao ensino superior público. |
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5ª) Retorno às áreas dos plantios para avaliação da evolução da restauração e entrevista aos proprietários. |
1) Avaliação do crescimento das plantas (altura total e diâmetro do coleto), mensurados com régua e paquímetro digital, respectivamente. 2) Avaliação da regeneração natural (por meio de censo) presente no sub-bosque (360 m² cada área). Foram medidos todos os indivíduos arbóreo-arbustivo com altura maior que 5 cm e identificados de acordo com a Lista de Espécies da Flora Brasileira (Flora Brasileira, 2021), e as famílias segundo o Angiosperm Phylogeny Group (APG IV, 2016). 3) A determinação da mesofauna do solo foi realizada de acordo com a metodologia descrita por Aquino (2006). O índice de diversidade de Shannon foi calculado para avaliar a diversidade de regenerantes e ordens de macro e microrganismos do solo das três áreas de plantio. Esse Índice foi determinado pela seguinte fórmula: H’ = ∑pi*lnpi, onde pi é a proporção de espécies em relação ao número total de espécimes encontrado no levantamento (MAGURRAN, 2011). 4) Entrevista aos proprietários com questionamentos sobre a sua percepção diante a prática realizada. |
Fonte: A autora, 2021.
Resultados e discussões
As ações de extensão universitária proporcionaram expressivo aprendizado a todos os envolvidos, conforme relatos. No decorrer das atividades, apesar do planejamento prévio, ajustes foram realizados tendo em vista atingir os objetivos, que preconizavam o bem-estar e aprendizado de todos os participantes. Desse modo, no término de cada atividade, os resultados eram discutidos, levando em consideração os aspectos positivos e negativos, de modo a buscar estratégias de adequação e/ou possíveis alterações no encontro seguinte.
O compartilhamento de informações, questionamentos, relatos e os momentos de integração e acolhimento, inclusive as pausas para lanches, enfatizaram a importância da troca de saberes e o potencial das universidades no apoio às escolas públicas. Momentos (intervalos) livres entre as atividades devem ser previstos, mesmo com uma confraternização simples, condição que aproxima as pessoas, permite detectar impressões, potencializando a ação. Conforme relato da acadêmica do 5º semestre do curso de Engenharia Florestal, integrante da equipe da UFSM: “Foi uma ótima experiência poder transmitir às crianças a importância da preservação das matas ciliares, pois eu estava tendo a primeira oportunidade de repassar parte do que eu aprendi na sala de aula”. De forma complementar, um dos pós-graduandos reforçou: “A experiência foi muito gratificante e a cada encontro percebi o crescente engajamento dos participantes, o que me motivou e, também, possibilitou meu crescimento pessoal do decorrer das ações”.
A curiosidade das crianças fez com que surpresas ocorressem durante as explicações, sendo necessário a elaboração de respostas condizentes com a faixa etária (Figura 1A), oportunizando aos acadêmicos raciocínio rápido, lógico e interação com públicos variados. De acordo com Tardif (2008), as ações de extensão universitárias, por vezes, exigem outros saberes, além daqueles aprendidos dentro do currículo do curso, de modo a conduzir à reflexão sobre a utilização de abordagens pedagógicas diferenciadas. Nesse contexto, outra graduanda do curso de Engenharia Florestal (10º semestre), lembra que, ao participar de uma das atividade de campo com as crianças, foi questionada por um menino sobre a função do equipamento utilizado para medir o índice de clorofilas (Figura 1B). Na ocasião, a acadêmica explicou:
Quando precisamos saber como está a saúde do nosso corpo vamos ao médico para fazer exames. No caso das plantas, esse aparelho é uma das formas que permite verificar a fisiologia, ou seja, como elas estão por dentro; se as folhas apresentarem bastante clorofila indica que a planta está saudável, se não, ela pode estar precisando de adubação, por exemplo.
Os educandos de séries iniciais apresentam papel importante na demonstração de atitudes e, consequentemente, na sensibilização dos adultos. Paralelamente, em âmbito de universidade, Ferreira et. al (2020) destacaram que o ensino é capaz de tornar o discente um cidadão crítico e reflexivo, de forma que possa ser capaz de utilizar os conteúdos na resolução dos seus problemas, sendo o protagonista do seu aprendizado. Isso pode ser potencializado com a extensão universitária realizada nas escolas, que incentiva a observação e reflexão sobre o ambiente onde estão inseridos. No presente estudo, tal fato foi evidenciado nas respostas obtidas com a aplicação de questionário, pois ao serem indagados sobre o significado de mata ciliar, 94,7% dos estudantes marcaram corretamente a alternativa “Mata ciliar é a vegetação presente no entorno de rios, córregos e nascentes”. Além disso, 92,3% consideravam a mata ciliar importante para a preservação dos cursos d’água, reconhecendo a necessidade da conservação ou recuperação desses ambientes.
As atividades tiveram como objetivo despertar o interesse acerca do conhecimento e conservação das espécies florestais nativas, possibilitando a interação entre familiares, estudantes, professores e funcionários. Desse modo, por meio da identificação, seleção e marcação de novas árvores matrizes pela comunidade escolar (Figuras 1A e 2A), permitiu-se sensibilizar para a importância de ampliar a base genética de sementes utilizadas para produção de mudas, destinadas à recuperação de nascentes. Somado a isso, a confecção de exsicatas possibilitou a elaboração de material comparativo para facilitar a identificação de espécies no decorrer das atividades com novos estudantes (Figura 2B).
A análise dos questionários também permitiu constatar que os estudantes melhoraram seus conhecimentos sobre espécies florestais nativas por meio das ações desenvolvidas no subprograma. As espécies florestais Eugenia uniflora L. (Pitanga) e Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna (Paineira) foram elencadas como as espécies mais conhecidas (Figura 3). Entretanto, foi possível constatar em uma atividade que contou com a participação dos familiares dos estudantes, que o conhecimento existente sobre as espécies florestais nativas e suas utilizações parece não estar sendo compartilhado no ambiente familiar, uma vez que os pais possuem amplo conhecimento sobre as espécies e seus usos, enquanto os filhos não estão agregando essa valiosa informação ao seu aprendizado.
Nesse contexto, enfatiza-se a importância da abordagem sobre aspectos relacionados às temáticas ambientais nas escolas e a relevância de projetos como a Bolsa de Sementes para fomentar a valorização do meio ambiente. De acordo com Bezerra et al. (2014), a participação da escola no processo de construção do conhecimento, valores e atitudes voltadas para a temática ambiental é fundamental, pois promove a conscientização e o engajamento da comunidade escolar, na defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida.
As atividades de educação ambiental com a coleta e beneficiamento de frutos de espécies nativas para posterior obtenção de sementes também se mostraram eficientes, com engajamento e interesse dos estudantes e professores. Isso pode ser evidenciado quando questionados sobre o método de beneficiamento de frutos, como por exemplo da Eugenia involucrata DC., (Cerejeira-do-mato), com fruto “carnoso” (com polpa). Todos os estudantes marcaram corretamente a alternativa “Pré-condicionar os frutos na água e após, pressionar levemente sobre uma peneira para não danificar as sementes”. A partir de questões como essa, percebeu-se que os envolvidos tiveram a oportunidade de compreender aspectos relacionados aos tipos de frutos, aos métodos de coleta de sementes nas árvores, os cuidados na extração e beneficiamento, observando os tipos de frutos (carnosos, secos deiscentes e secos indeiscentes) e as formas de retirada de excesso de umidade para a obtenção de lotes de sementes de qualidade.
A realização das gincanas envolvendo os temas abordados em atividades teórico-práticas, permitiu a integração entre estudantes participantes, estimulando, também a cooperação mútua, a socialização e a criatividade. Silva (2017) considerou que essas atividades são extremamente valiosas no processo de ampliação do conhecimento, pois permitem o desenvolvimento de competências no âmbito da comunicação, das relações interpessoais e do trabalho em equipe. Além disso, nessa ação, a gincana serviu como ferramenta para revisar os conteúdos abordados,consolidando o aprendizado obtido ao longo de mais de dois anos de atividades.
O plantio e o monitoramento do desenvolvimento das plantas das espécies florestais nativas no entorno das nascentes, ao longo dos três anos, contaram com a participação de todos até então envolvidos, dos produtores rurais, junto com o olhar atento da comunidade geral em dia de campo (Figuras 4A e 4B). De acordo com o coordenador pedagógico do Projeto na AFUBRA: “Todos, escola e comunidade, estão envolvidos no projeto. Além disso, o diferencial aqui é o envolvimento dos produtores”.
Desse modo, o engajamento da comunidade e a inserção da pesquisa e da extensão, permitem vislumbrar perspectivas e soluções mais amplas e criativas. Ações como essa auxiliam na formação integral do estudante, além de colaborar para que o contexto comunitário seja compreendido não apenas como “publico alvo”, mas também como formador do conhecimento (PDI, 2016). De forma complementar, Figueiredo (2020) destaca a relevância do estabelecimento de espaços de diálogo e acolhimento, trabalhando o pensar individual para então expandir para o coletivo, propiciando vivências com a avaliação da prática educativa de forma reflexiva.
O retorno da equipe do LabSilvi às propriedades rurais participantes da ação, cinco anos após o plantio das mudas para recuperação das nascentes, permitiu evidenciar o êxito na evolução do processo de recuperação das áreas por meio dos indicadores ecológicos. Os indicadores são parâmetros utilizados nas etapas de avaliação e de monitoramento a fim de confirmar se as ações implementadas estão sendo efetivas na recuperação da área alterada (HEINK, 2010), viabilizando o aprimoramento a partir da introdução de práticas de restauração de acordo com a evolução de cada área. A riqueza de espécies florestais na regeneração natural, o crescimento das árvores plantadas e a diversidade da mesofauna edáfica são alguns exemplos de indicadores ecológicos usados para monitorar a recuperação da diversidade, estrutura e função das áreas em restauração.
O crescimento em altura (H) e diâmetro do coleto (DC) das espécies arbóreas nativas foi expressivo nas três áreas, apesar de ter variado entre as espécies conforme seu comportamento silvicultural e ecológico (Quadro 2). Em todas as áreas no entorno de nascente foi possível evidenciar a existência de espécies frutificando, sobreposição das copas das plantas (Figura 5A), promovendo sombreamento e o controle da mato-competição, além do recobrimento do solo por serapilheira (folhas secas) oriunda do dossel (Figura 5B), culminando na presença de indivíduos regenerantes.
Quadro 2 – Altura (m) e diâmetro do coleto (cm) de sete espécies arbóreas nativas, cinco anos após o plantio no entorno das nascentes
Espécie |
Área 1 Calheiro |
Área 2 Lied |
Área 3 Piffer |
|||
DC (cm) |
H (m) |
DC (cm) |
H (m) |
DC (cm) |
H (m) |
|
Açoita-cavalo (n = 12) |
10,11 |
5,08 |
11,18 |
5,33 |
7,90 |
3,46 |
Araçá (n = 10) |
1,64 |
1,31 |
1,58 |
1,88 |
3,30 |
3,06 |
Aroeira- vermelha (n = 12) |
11,65 |
5,98 |
15,12 |
5,63 |
12,37 |
7,29 |
Chal-chal (n = 6) |
5,20 |
2,97 |
7,96 |
3,90 |
5,25 |
3,10 |
Guajuvira (n = 12) |
5,11 |
3,21 |
7,45 |
5,67 |
6,66 |
6,04 |
Paineira (n = 3) |
23,77 |
8,00 |
19,63 |
7,83 |
22,54 |
9,10 |
Tarumã-de-espinho (n = 5) |
15,44 |
7,33 |
9,10 |
4,70 |
6,37 |
4,20 |
Em que: H – Altura; DC – Diâmetro do coleto; n – Número de indivíduos.
A análise da regeneração natural das áreas cinco anos após os plantios de recuperação evidenciou que o reestabelecimento da vegetação no entorno das nascentes permitiu o estabelecimento da regeneração natural (Figura 5B). Foram contabilizados 240 indivíduos na área 1 (14 espécies – Índice de Shannon = 1,46), onde as mais frequentes foram Sebastiania klotzschiana (Müll.Arg.) Müll.Arg. (Branquilho), Allophylus edulis (Chal-chal) e Myrsine umbellata Mart. (Capororoca); 286 indivíduos na área 2 (21 espécies - Índice de Shannon = 2,28), com maior ocorrência de Nectandra lanceolata Nees (Canela-amarela), Eugenia uniflora L. (Pitanga) e Cupania vernalis Cambess. (Camboatá-vermelho) e 29 indivíduos na área 3 (8 espécies - Índice de Shannon = 1,76), com maior frequência das espécies Chal-chal, Canela-amarela e Camboatá-vermelho. Desse modo, por meio do Índice de Shannon, foi possível evidenciar que a diversidade de espécies presentes na área 2 é maior quando comparado às outras duas. Com exceção do branquilho, todas as demais espécies predominantes são de dispersão zoocórica, o que evidencia que a cobertura inicial foi eficiente para servir como corredor ecológico, repouso ou habitat da fauna dispersora.
A regeneração de indivíduos de outras espécies secundárias iniciais e tardias (Figura 5B), demostrou a chegada de propágulos oriundos dos fragmentos florestais próximos, o que tem contribuído com o enriquecimento florístico. O estabelecimento da regeneração natural no sub-bosque de plantios florestais é muito importante, sendo um mecanismo de reestruturação da floresta que favorece eventos ecológicos futuros (GAMA, 2002), o que lhe confere papel chave à perpetuação das espécies (FIORENTIN, 2015).
Observou-se que algumas das espécies plantadas inicialmente (Araçá, Pimenteira e Chal-chal) apresentaram frutificação, contribuindo para o ingresso de indivíduos regenerantes dessas espécies no sub-bosque, fonte de alimento para polinizadores e dispersores e fonte de pólen e sementes.
Na avaliação da mesofauna do solo, evidenciou-se a presença de 11 ordens, sendo Acari e Hymenoptera encontradas nas três áreas que receberam os plantios. Em relação à diversidade de ordens, essa distinguiu-se entre as três áreas, mas não quando comparado o interior do plantio com o lado externo de cada área, esse composto majoritariamente por solo coberto por gramíneas. Desse modo, por meio do Índice de Shannon obteve-se os seguintes valores de diversidade médios: área 1 = 1,20; área 2 = 0,75 e área 3 = 0,63. No entanto, quando comparado as áreas dos plantios com o entorno (áreas de pastagem) foi evidenciado um número médio maior de indivíduos sob o plantio: área 1 (Plantio: 74,8; Pastagem: 34,5); área 2 (Plantio: 21,5; Pastagem:10,8); e área 3 (Plantio: 36,2; Pastagem: 14,7). Desse modo, é possível evidenciar a importância da recuperação no entorno das nascentes para melhoria da qualidade do solo, visto o aumento considerável da fauna edáfica. Esses organismos desempenham diversas funções, atuando na decomposição da matéria orgânica, mineralização de nutrientes, rotação e agregação do solo, proteção contra pragas, entre outras (MELO, 2009).
Os resultados obtidos com o monitoramento aos 5 anos após o início das ações de extensão na comunidade escolar, permite evidenciar a importância de ações continuadas de extensão universitária junto à comunidade local. De acordo com Stern et al. (2014), atividades de educação ambiental quando desenvolvidas in loco na natureza, de forma sistematizada e adequada, apresentam maior potencial para promover o conhecimento e interesse pelas questões ambientais. Ressalta-se também que a comunidade escolar onde realizou-se as atividades faz parte do programa Bolsa de Sementes (20 anos), de forma que a conscientização ambiental vem sendo formada ao longo dos anos. Nesse sentido, as ações práticas desenvolvidas pela equipe LabSilvi UFSM permitiram aplicar parte do conhecimento já visto pelos estudantes, bem como desenvolver outros temas, que conduzidos de forma continuada garantiram que o estudante atuasse como peça-chave e integrante do meio ambiente natural, alterando e/ou reforçando suas concepções e perspectivas sobre o contexto ambiental.
O diálogo com os proprietários das áreas de plantio permitiu constatar que a proteção das nascentes a partir da implantação da mata ciliar em seu entorno trouxe inúmeros benefícios, sendo o relato comum a todos os proprietários que a recuperação das nascentes aos cinco anos após a implementação possibilitou maior disponibilidade de água, principalmente nos períodos de seca. Em um segundo depoimento, foi possível evidenciar o orgulho e a emoção da proprietária ao falar sobre o sucesso do plantio realizado na nascente de sua propriedade. De acordo com a mesma, sempre que recebe visitantes em sua residência faz questão de contar sobre o plantio das mudas e que essa ação teve o envolvimento de toda a comunidade escolar e sobretudo, da Universidade Federal de Santa Maria e AFUBRA. Desse modo, é notório a importância da participação de instituições de ensino superior público e empresas privadas no cotidiano da sociedade, principalmente em ações que envolvam interesses mútuos tanto da comunidade envolvida quanto dos pesquisadores extensionistas.
Por fim, ressalta-se que a participação da equipe da UFSM nas ações de extensão é possível devido à parceria com instituições privadas, que subsidiam financeiramente projetos como esse. De acordo com a professora orientadora da equipe do LabSilvi: “A parceria com a AFUBRA oferece suporte para realização de extensão universitária, possibilitando que professores e acadêmicos interajam com as comunidades, construam novos saberes e apoiem outras instituições”. Ainda, o então coordenador da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) de Santa Cruz do Sul, enfatizou que: “Feliz da escola que conta com parcerias e faz gestão, pois trazem foco, visão e empreendedorismo”.
As atividades de extensão universitária, envolvendo a educação ambiental com a comunidade escolar e segmento privado, impactam positivamente a sociedade, construindo cidadãos conscientes à importância do ambiente no qual estão inseridos.
Diante da vivência, aprendemos, contribuímos e observamos novas realidades, o que permitiu agregar novos conhecimentos por meio do compartilhamento de experiências. Assim, além da preparação técnica dos estudantes e futuros egressos, a extensão universitária pode agregar atividades de pesquisa, devolvendo à sociedade o que foi investido na sua educação e alcançando resultados positivos. Nesses processos, destaca-se a importância de parcerias público privada, como a da Universidade Federal de Santa Maria e Associação de Fumicultores do Brasil, frente a um objetivo comum.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA), em especial ao Verde é Vida pelo apoio e incentivo ao longo dos 20 anos de parceria; à comunidade escolar da E.E.E.F. Adolfo Mânica e ao professor Leonardo Fernandes pela disponibilidade, interesse e interação em mais uma ação da Bolsa de Sementes e as famílias por disponibilizar as áreas para plantio.
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