Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
17/03/2006 (Nº 16) Educadores avaliam Tratado de EA
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Tratado

Educadores avaliam Tratado de EA

O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, criado durante a ECO 92, é referência para educadores ambientais do mundo. Moema Viezzer, atualmente consultora de EA da Itaipu Binacional, coordenou o processo de produção coletiva internacional do documento e o GT, sobre o tema, no V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, ocorrido em Goiânia/GO, em 2004.

Após 14 anos, o Tratado de EA vem sendo discutido por diversos educadores, pesquisadores e coletividade em geral de forma a se tornar mais claro no que tange ao conteúdo. Para tanto, especialistas contam com a participação de educadores ambientais e suas redes nesse processo.

A REBEA entrevistou alguns educadores para saber tanto sobre o documento quanto como estão sendo, na prática, as aplicações do conteúdo do Tratado. A grande maioria respondeu ser o documento importante na orientação das discussões visto abrir espaço para novos programas educacionais, entretanto, este precisa e deve ser reavaliado pela sociedade.

O Tratado é importante, disseram alguns dos entrevistados, por explicitar o compromisso da sociedade civil na construção de um modelo mais humano e harmônico de desenvolvimento, com o reconhecimento dos direitos humanos das futuras gerações, bem como os aspectos de gênero, o direito e a importância das diferenças e o direito à vida, fundamentados em uma ética biocêntrica e do amor.

Senac/SP

Para Monica Simons, bióloga e especialista em educação ambiental, o documento é muito importante visto ter participado da equipe que organizou e gerenciou os trabalhos durante a I Jornada Internacional de Educação Ambiental, na tenda nº 6, durante a ECO 92.

A educadora disse utilizar o Tratado de diversas maneiras, tais como leitura e análise crítica do documento na íntegra, contextualizando- o, hoje, perante a situação socioambiental planetária; e leitura e análise crítica do conteúdo, focando somente os princípios quanto ao sentido e vigência dos mesmos. Também, análise comparativa da sua articulação com outros documentos como alguns artigos da Constituição Federal de 1988 - CF/88 ou da lei de EA (Lei 9795/99) e análise comparativa com a Carta da Transdisciplinaridade, bem como seus pilares e princípios.

No que tange aos recursos didáticos pedagógicos, Monica Simons diz aproveitar da reprodução total ou parcial dos documentos para leitura e análise. "Também utilizo como projeção dialogada do vídeo 'Somos todos aprendizes' e sua relação com o Tratado".

"Também, utilizo fotografias com diversos temas de modo a estimular os alunos a fazer relações simbólicas que os ajudem a ampliar a compreensão dos princípios do Tratado; e em discussões dialogadas para encontrar relações entre seus princípios e outras instâncias de políticas públicas como, por exemplo, o Sistema Único de Saúde - SUS e sua intersetorialidade, ou com relação ao Projeto Escolas Promotoras de Saúde", relatou a educadora.

"Desde que o Tratado surgiu tenho trabalhado com diversas faixas etárias. Neste momento há uma preponderância para graduação e pós- graduação, além de alguns cursos livres em Educação Ambiental", conclui Monica Simons.

Apoema

Berenice Adams, da Apoema, aplicará o conteúdo do Tratado no Programa Experimental de Capacitação em Educação Ambiental para professores das séries iniciais da educação básica, que será desenvolvido a partir de março deste ano pela Apoema Cultura Ambiental, com oito professores da rede municipal de ensino de Novo Hamburgo/RS.

Segundo a educadora, o Tratado será trabalhado, na parte teórica, como um dos mais importantes documentos de referência da EA, além da Carta da Terra e da Lei 9795. "Estes documentos serão apresentados em atividades que promovam vivências e trocas de experiências a fim de que este se torne, para os educadores envolvidos no programa, mais do que um simples documento".

"Acredito que somente vivenciando, discutindo, trocando idéias, fazendo associações entre um documento e outro, debatendo os principais aspectos apontados, é que poderá haver uma maior compreensão da real dimensão do papel da EA como um todo, dentro do sistema educacional. Será possível ultrapassar a compreensão genérica de uma grande parte dos educadores, que EA é natureza,
reciclagem, lixo, meio ambiente, despertando uma compreensão mais ampla de que a EA é um compromisso com a vida em sua totalidade, em sua plenitude, incluindo questões da diversidade cultural, de gênero, de etnia, de inclusão e, principalmente, de cidadania planetária", concluiu Berenice Adams.

Instituto Serrano Neves

Serrano Neves, do Instituto Serrano Neves, diz não considerar o documento nas atividades da instituição. "...e não é porque seu conteúdo deixe alguma coisa a desejar. ...O Tratado é bom enquanto protocolo de intenções, mas, no geral, peca pela institucionalização da educação ambiental como um sucedâneo da educação. No grosso,revela que a escola e outros instrumentos de formação que não
conseguiram produzir as transformações sociais necessárias para a sustentabilidade sócio-ambiental querem ser agentes específicos do que não conseguiram fazer no genérico mais amplo, continente do que poderia ter sido ministrado no espaço da afinidade, conexão, transversalidade, multisciplinariedade etc", explica Serrano Neves.

Para o educador, nada no Tratado é estranho aos escritos da Constituição, mas o texto causa a impressão de que "está suprindo alguma deficiência macro-política, e isto não é bom para a formação da cidadania, uma vez que se apresenta como um projeto de construção onde já existe um projeto de construção em nível mais elevado e mais geral. Como disciplina, a educação ambiental se aproxima da extinta educação moral (valores) e cívica (conhecimento para a convivência
social) como uma tentativa de preencher a lacuna histórica na formação das gerações, preenchimento que a meu ver deveria ser feitoa partir da Constituição como fonte de princípios", lembrou o educador.

Serrano Neves concluiu a entrevista admitindo que sua opinião destoa do ímpeto do atual momento da EA. "Não creio que a educação ambiental possa ser eficaz sem a construção de uma cidadania sólida como motor de ações socioambientais positivas em todos os segmentos da sociedade. Só a cidadania formará a egrégora que presidirá as transformações desejadas".

Alguns dos entrevistados lembraram a importância da promoção, dacapacitação e do apoio de recursos humanos para preservar, conservar e gerenciar o ambiente, como parte do exercício da cidadania local e planetária.

Se você já utilizou o Tratado de Educação Ambiental em alguma atividade ou contexto educativo e quiser relatar sua experiência envie uma mensagem com seus dados e o relato em um texto de uma lauda no máximo, que estaremos publicando no site da Rebea. Endereço para remessa: bioconex@gmail.com.

Tratado

O Tratado de Educação Ambiental foi discutido virtualmente, em 10/2, via Ambiente de Debate Interativo - ADI. O debate virtual foi organizado pelo Programa Juventude e Meio Ambiente, do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, composto pelos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente. O resultado do processo de consulta on-line será apresentado no V Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental que ocorre de 5 a 8 de abril, no Rio de Janeiro.


Fonte: REBEA
http://www.rebea.org.br/vnoticias.php?cod=1100

Ilustrações: Silvana Santos