Educadores avaliam Tratado
de EA
O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, criado durante a ECO 92, é referência para educadores
ambientais do mundo. Moema Viezzer, atualmente consultora de EA da Itaipu
Binacional, coordenou o processo de produção coletiva internacional do
documento e o GT, sobre o tema, no V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental,
ocorrido em Goiânia/GO, em 2004.
Após 14 anos, o Tratado de EA vem sendo discutido por diversos educadores,
pesquisadores e coletividade em geral de forma a se tornar mais claro no que
tange ao conteúdo. Para tanto, especialistas contam com a participação de
educadores ambientais e suas redes nesse processo.
A REBEA entrevistou alguns educadores para saber tanto sobre o documento quanto
como estão sendo, na prática, as aplicações do conteúdo do Tratado. A
grande maioria respondeu ser o documento importante na orientação das discussões
visto abrir espaço para novos programas educacionais, entretanto, este precisa
e deve ser reavaliado pela sociedade.
O Tratado é importante, disseram alguns dos entrevistados, por explicitar o
compromisso da sociedade civil na construção de um modelo mais humano e harmônico
de desenvolvimento, com o reconhecimento dos direitos humanos das futuras gerações,
bem como os aspectos de gênero, o direito e a importância das diferenças e o
direito à vida, fundamentados em uma ética biocêntrica e do amor.
Senac/SP
Para Monica Simons, bióloga e especialista em educação ambiental, o documento
é muito importante visto ter participado da equipe que organizou e gerenciou os
trabalhos durante a I Jornada Internacional de Educação Ambiental, na tenda nº
6, durante a ECO 92.
A educadora disse utilizar o Tratado de diversas maneiras, tais como leitura e
análise crítica do documento na íntegra, contextualizando- o, hoje, perante a
situação socioambiental planetária; e leitura e análise crítica do conteúdo,
focando somente os princípios quanto ao sentido e vigência dos mesmos. Também,
análise comparativa da sua articulação com outros documentos como alguns
artigos da Constituição Federal de 1988 - CF/88 ou da lei de EA (Lei 9795/99)
e análise comparativa com a Carta da Transdisciplinaridade, bem como seus
pilares e princípios.
No que tange aos recursos didáticos pedagógicos, Monica Simons diz aproveitar
da reprodução total ou parcial dos documentos para leitura e análise.
"Também utilizo como projeção dialogada do vídeo 'Somos todos
aprendizes' e sua relação com o Tratado".
"Também, utilizo fotografias com diversos temas de modo a estimular os
alunos a fazer relações simbólicas que os ajudem a ampliar a compreensão dos
princípios do Tratado; e em discussões dialogadas para encontrar relações
entre seus princípios e outras instâncias de políticas públicas como, por
exemplo, o Sistema Único de Saúde - SUS e sua intersetorialidade, ou com relação
ao Projeto Escolas Promotoras de Saúde", relatou a educadora.
"Desde que o Tratado surgiu tenho trabalhado com diversas faixas etárias.
Neste momento há uma preponderância para graduação e pós- graduação, além
de alguns cursos livres em Educação Ambiental", conclui Monica Simons.
Apoema
Berenice Adams, da Apoema, aplicará o conteúdo do Tratado no Programa
Experimental de Capacitação em Educação Ambiental para professores das séries
iniciais da educação básica, que será desenvolvido a partir de março deste
ano pela Apoema Cultura Ambiental, com oito professores da rede municipal de
ensino de Novo Hamburgo/RS.
Segundo a educadora, o Tratado será trabalhado, na parte teórica, como um dos
mais importantes documentos de referência da EA, além da Carta da Terra e da
Lei 9795. "Estes documentos serão apresentados em atividades que promovam
vivências e trocas de experiências a fim de que este se torne, para os
educadores envolvidos no programa, mais do que um simples documento".
"Acredito que somente vivenciando, discutindo, trocando idéias, fazendo
associações entre um documento e outro, debatendo os principais aspectos
apontados, é que poderá haver uma maior compreensão da real dimensão do
papel da EA como um todo, dentro do sistema educacional. Será possível
ultrapassar a compreensão genérica de uma grande parte dos educadores, que EA
é natureza,
reciclagem, lixo, meio ambiente, despertando uma compreensão mais ampla de que
a EA é um compromisso com a vida em sua totalidade, em sua plenitude, incluindo
questões da diversidade cultural, de gênero, de etnia, de inclusão e,
principalmente, de cidadania planetária", concluiu Berenice Adams.
Instituto Serrano Neves
Serrano Neves, do Instituto Serrano Neves, diz não considerar o documento nas
atividades da instituição. "...e não é porque seu conteúdo deixe
alguma coisa a desejar. ...O Tratado é bom enquanto protocolo de intenções,
mas, no geral, peca pela institucionalização da educação ambiental como um
sucedâneo da educação. No grosso,revela que a escola e outros instrumentos de
formação que não
conseguiram produzir as transformações sociais necessárias para a
sustentabilidade sócio-ambiental querem ser agentes específicos do que não
conseguiram fazer no genérico mais amplo, continente do que poderia ter sido
ministrado no espaço da afinidade, conexão, transversalidade,
multisciplinariedade etc", explica Serrano Neves.
Para o educador, nada no Tratado é estranho aos escritos da Constituição, mas
o texto causa a impressão de que "está suprindo alguma deficiência
macro-política, e isto não é bom para a formação da cidadania, uma vez que
se apresenta como um projeto de construção onde já existe um projeto de
construção em nível mais elevado e mais geral. Como disciplina, a educação
ambiental se aproxima da extinta educação moral (valores) e cívica
(conhecimento para a convivência
social) como uma tentativa de preencher a lacuna histórica na formação das
gerações, preenchimento que a meu ver deveria ser feitoa partir da Constituição
como fonte de princípios", lembrou o educador.
Serrano Neves concluiu a entrevista admitindo que sua opinião destoa do ímpeto
do atual momento da EA. "Não creio que a educação ambiental possa ser
eficaz sem a construção de uma cidadania sólida como motor de ações
socioambientais positivas em todos os segmentos da sociedade. Só a cidadania
formará a egrégora que presidirá as transformações desejadas".
Alguns dos entrevistados lembraram a importância da promoção, dacapacitação
e do apoio de recursos humanos para preservar, conservar e gerenciar o ambiente,
como parte do exercício da cidadania local e planetária.
Se você já utilizou o Tratado de Educação Ambiental em alguma atividade ou
contexto educativo e quiser relatar sua experiência envie uma mensagem com seus
dados e o relato em um texto de uma lauda no máximo, que estaremos publicando
no site da Rebea. Endereço para remessa: bioconex@gmail.com.
Tratado
O Tratado de Educação Ambiental foi discutido virtualmente, em 10/2, via
Ambiente de Debate Interativo - ADI. O debate virtual foi organizado pelo
Programa Juventude e Meio Ambiente, do Órgão Gestor da Política Nacional de
Educação Ambiental, composto pelos Ministérios da Educação e do Meio
Ambiente. O resultado do processo de consulta on-line será apresentado no V
Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental que ocorre de 5 a 8 de abril,
no Rio de Janeiro.
Fonte: REBEA
http://www.rebea.org.br/vnoticias.php?cod=1100