Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/09/2019 (Nº 69) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES DE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE VALE DO ANARI, ESTADO DE RONDÔNIA.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES DE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE VALE DO ANARI, ESTADO DE RONDÔNIA

Cledoaldo Souza Santos1, Reginaldo de Oliveira Nunes2, Iuri da Cruz Oliveira3, Rosana de Oliveira Nunes Neto4

1Graduado em Pedagogia, Universidade Federal de Rondônia. Professor da Rede Municipal de Vale do Anari. E-mail: cledoaldosouzavaz@gmail.com

2Doutor em Fitotecnia. Docente da Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Ciências Humanas e Sociais, Campus de Ji-Paraná. E-mail: reginaldonunes@unir.br

3Mestre em Ensino de Física, Universidade Federal de Rondônia. E-mail: iurimatematica2008@hotmail.com

4Mestre em Ciências da Saúde. Coordenadora Pedagógica, Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal. E-mail: rosana.o.n@hotmail.com



Resumo:

O estudo compreende uma discussão acerca das práticas de ensino utilizadas pelos professores no desenvolvimento da Educação Ambiental, bem como a importância dessas no processo de ensino aprendizagem. A pesquisa é caracterizada quantitativa e qualitativa, com a participação de vinte professores que atuam em quatro escolas de Ensino Fundamental da área rural do município de Vale do Anari, estado de Rondônia. Os dados foram obtidos por meio de questionário, composto por treze questões, predominantemente discursivas em relação a atuação com as questões ambientais no currículo de suas disciplinar. Sobre o conhecimento e prática em relação à Educação Ambiental, 70% sabem o conceito de Educação Ambiental. Dos entrevistados, 100% consideram importante implantar a temática ambiental no currículo da escola e que existem conteúdos de Educação Ambiental nos livros didáticos utilizados em suas escolas. Esses conteúdos estão preferencialmente em livros de Ciências (40%), Geografia (38%), Biologia (16%). Apenas 10% admitem ser incentivados a desenvolverem projetos ou atividades que envolvam a temática ambiental com seus alunos. Em relação ao lixo produzido na escola, 15% dizem ter separação seletiva do lixo. Quanto ao desenvolvimento de atividades fora da escola, 20% disseram que fazem essas atividades, que normalmente ocorrem em parques, áreas verdes, visitas a órgãos ambientais. Os meios utilizados pela escola para desenvolver atividades com os alunos sobre Educação Ambiental são palestras (26%), cartilhas (14%), debates, desenhos e músicas (10%, cada). Esses dados revelam que apesar da vontade dos professores pouco vem sendo feito coletivamente nas escolas para trabalhar a questão ambiental, ficando restrito apenas as disciplinas específicas a abordagem da temática em questão.

Palavras-chave: Escola; Educação Ambiental; Ensino-Aprendizagem.

Abstract:



The study includes a discussion about the teaching practices used by teachers in the development of Environmental Education, as well as their importance in the process of teaching learning. The research is characterized quantitatively and qualitatively, with the participation of twenty teachers who work in four elementary schools in the rural area of ​​Vale do Anari, Rondônia state. The data were obtained by means of a questionnaire, composed of thirteen questions, predominantly discursive in relation to the action with the environmental questions in the curriculum of its disciplinar. About the knowledge and practice regarding Environmental Education, 70% know the concept of Environmental Education. Of the interviewees, 100% consider it important to implement the environmental theme in the school curriculum and that there are Environmental Education contents in the textbooks used in their schools. These contents are preferably in books of Science (40%), Geography (38%), Biology (16%). Only 10% admit to being encouraged to develop projects or activities that involve the environmental theme with their students. In relation to garbage produced at school, 15% say they have selective separation of garbage. As for the development of out-of-school activities, 20% said they do these activities, which usually occur in parks, green areas, visits to environmental agencies. The media used by the school to develop activities with students about Environmental Education are lectures (26%), booklets (14%), debates, drawings and songs (10% each). These data reveal that despite the will of teachers, little is being done collectively in schools to work on the environmental issue, being restricted only the specific disciplines to approach the subject matter in question.

Keywords: School; Environmental education; Teaching-Learning.



Introdução

O estudo discorre sobre as práticas de Educação Ambiental em escolas municipais rurais de Vale do Anari. É um estudo de suma importância, pois esta pautado na preocupação com a qualidade do ensino da Educação Ambiental que é ofertado nas escolas, bem como como são disponibilizadas as práticas nesse processo de ensino e aprendizagem.

Sabe-se que a Educação Ambiental (EA) deve ser ensinada desde os anos iniciais até o Ensino Superior, em seus cursos de formação de professores. No entanto, muitos cursos trazem a disciplina de Educação Ambiental como optativa, tornando assim um conteúdo não obrigatório em muitos casos. Essa falta de perspectivas quanto a disciplina faz com que a formação de professores seja insuficiente, influenciando como forma direta no trabalho pedagógico dos professores em suas aulas (DUCATI; SILVA, 2005).

Segundo Medina (2002), é necessário que o professores que ensinam meio ambiente investiguem a sua prática pedagógica visando a observação de problemas apresentados bem como suas melhorias para o ensino. Destaca também a necessidade de melhorar e inovar a prática cotidiana na escola, devendo compreender o que se faz em sala de aula e posteriormente, iniciar um processo de ações abrindo caminho para o início de transformação e renovação educativa.

Esta transformação está relacionada ao processo de formação continuada, pois segundo Gatti (2008), “é aquela que acontece dentro e fora do contexto escolar”. A formação continuada pode ser efetivada por meio de atividades realizadas pelos professores, tais como: planejamento pedagógico, prática de ensino, desenvolvimento de trabalhos colaborativos, elaboração de recursos didáticos, entre outros (SILVA; BAPTISTA, 2015).

Dessa importância é que surge a preocupação com a pesquisa realizada com professores da rede pública do município de Vale do Anari. Algumas questões importantes da Educação Ambiental na escola são pertinentes, como os conceitos de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, o desenvolvimento de projetos na área ambiental na escola, implantação da temática ambiental no currículo, conteúdos relacionados a Educação Ambiental nos livros didáticos, incentivo para trabalho com a temática ambiental, existência de área arborizada, hortas ou outros espaços verdes que possam ser utilizados para o desenvolvimento de um trabalho de Educação Ambiental, separação dos resíduos por categorias, experiências de atividades com Educação Ambiental na escola, entre outros.

Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi discutir as práticas de ensino utilizadas pelos professores no desenvolvimento da Educação Ambiental nas escolas, bem como o conhecimento desses professores sobre as questões ambientais e a importância no processo de ensino e aprendizagem.

Metodologia

A pesquisa é caracterizada como quantitativa e qualitativa, envolvendo a participação de vinte professores que atuam em quatro escolas (Tabela 1) de Ensino Fundamental da zona rural do município de Vale do Anari (Figura 1), estado de Rondônia.

Tabela 1. Descrição das escolas e dos participantes da pesquisa. Vale do Anari, 2018.

Escola

Nº de professores

Nº de Salas

Nº de alunos matriculados

Funcionamento

Quantidade de professores participantes

A

08

08

105

Pré-escolar ao 7º ano

05

B

05

05

65

Pré-escolar ao 7º ano

05

C

10

10

130

Pré-escolar ao 9º ano

05

D

08

08

85

Pré-escolar ao 7º ano

05

Total

31

31

385

-

20



Figura 01 – Localização do município de Vale do Anari. Fonte: www.google.com.br



A presente é classificada como quantitativa e qualitativa, utilizando-se como instrumento de coleta de dados o questionário, composto por treze questões, predominantemente discursivas em relação a atuação dos professores das escolas do município em relação as questões ambientais no currículo de suas respectivas disciplinas.

Após a coleta dos dados, os mesmos foram analisados e tabulados, sendo as respostas agrupadas por categorias de acordo com as semelhanças existentes entre elas. Esses dados são apresentados de acordo com a frequência de citações, utilizando-se de gráficos e tabelas. Para as questões abertas, foram utilizadas citações dos entrevistados, tomando o cuidado ético de não revelação de sua identidade, sendo categorizados, portanto por números de um a vinte, que são o número de professores participantes da pesquisa.

Resultados e Discussão

No total foram entrevistados vinte professores, sendo seis do sexo masculino (30%) e quatorze do sexo feminino (70%). O perfil dos entrevistados confirma a percepção empírica do predomínio feminino nas salas de aula.

Quanto à faixa etária, nota-se que os professores são profissionais de meia-idade, pios 60% compreendem o intervalo de idade entre 31 e 40 anos. Os outros 40%, estão na faixa etária de 21 a 30 anos (10%) e acima de 40 anos (30%). A partir desses dados, pode-se destacar o fato que tem se manifestado em toda a Educação Básica, pelo estudo exploratório sobre o professor brasileiro, que já havia detectado que a idade média do professor brasileiro era de 38 anos (BRASIL, 2009), dados esses similares ao da pesquisa.

Em relação ao nível de escolaridade dos professores, observa-se que 55% possuem o Ensino Superior e outros 25% já possuem pós-graduação latu-sensu, o que resulta em um total de 80% dos professores com nível superior. Os outros 20% ainda não completaram o Ensino Superior, estão cursando. Os percentuais encontrados na pesquisa podem ser explicados pela exigência quanto a formação acadêmica para atuação de professores. No Artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, há determinação que a formação para atuar na Educação Básica se dá em nível superior, admitindo-se como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o nível médio (magistério, formação de professores).

Os professores lecionam, em média a mais de dez anos (50%) como profissionais da Educação. Apenas 5% lecionam a menos de um ano, 19% entre 1 um e cinco anos e 28% entre seis e dez anos de exercício profissional. Em relação ao tempo de magistério, pode-se afirmar que possuem um relativo tempo, não sendo iniciantes, portanto, possuem boa experiência, podendo falar com segurança e conhecimento dos conteúdos em que trabalham em seus componentes curriculares.

Sobre o conceito de Educação Ambiental, 70% dos entrevistados admitem ter noção, sendo que destes, 40% não conseguiram formular um conceito e os 30% que formularam, responderam que a Educação Ambiental é:

Entrevistado 04 - É o conhecimento e lógico sobre o meio ambiente, ou seja, qual é o resultado de conservar ou de destruir.

Entrevistado 06 - É cuidar do meio ambiente.

Entrevistado 07 - É cuidar e proteger o meio ambiente

Entrevistado 10 - É todo o processo empregado para preservar o patrimônio ambiental e criar modelos de desenvolvimento, com soluções limpas e sustentáveis.

Entrevistado 13 - São os processos pelos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades voltadas para o meio ambiente, bem como uso comum do povo, essencial a qualidade de vida e a sustentabilidade.

Entrevistado 15 - Envolve práticas que atuam na melhoria do meio ambiente buscando formas de amenizar o impacto que o ser humano produz na natureza.

Um dos entrevistados disse não saber o conceito, mas acredita que seja “preservar e manter-se, sem provocar a degradação natural do meio ambiente” (Entrevistado 03).

Os entrevistados sugerem em suas respostas que o meio ambiente, por meio da Educação Ambiental, é todo espaço que possa ser compartilhado pelos seres vivos, e que as ações dos seres humanos estão diretamente ligadas aos problemas ambientais e a busca de soluções visado minimizar os impactos à natureza. Segundo Jacobi (2005), a Educação Ambiental é vista como prática capaz de refletir e proporcionar a transformação socioambiental por meio da participação ativa da sociedade, tendo o poder de intervir em processos decisórios de interesse público. .

Para Carvalho (2004), a Educação Ambiental é vista por duas possibilidades, sendo a crítica, capaz de formação do sujeito humano, enquanto ser individual e coletivo, transformados do meio em que interage, e a tradicional, que não tem capacidade de perceber as redes de poder que estruturam as pessoas, dividindo-as em classes sociais. Guimarães (2004), complementa ao citar que essa percepção não permite a construção dos saberes e muito menos a transformação dos sujeitos em uma interação coletiva. Percebe-se, então, que o entendimento do conceito de Educação Ambiental é fundamental para que os professores possam refletir a sua prática e formar um sujeito humano que respeite o ambiente em que está inserido.

Em relação ao desenvolvimento e importância da Educação Ambiental na escola, 100% dos entrevistados disseram que a escolar não desenvolvia projetos de Educação Ambiental, sendo que dois dos entrevistados fizeram as seguintes observações:

Entrevistado 04 - Com a situação que estamos vivendo, deveríamos.

Entrevistado 13 - Nas séries iniciais não estamos desenvolvendo nenhum projeto sobre o tema, não sei se está acontecendo nas séries finais.

Pelas falas dos entrevistados, observa-se uma preocupação em que a escola deveria se preocupar com o desenvolvimento de projetos na área ambiental, porém não faz. Ocorre também um distanciamento entre os níveis de ensino, como pode ser observado na fala do entrevistado 13, onde diz não conhecer o que está acontecendo nos anos finais, provavelmente devendo-se ao fato de cada professor trabalhar com suas disciplinas e não existir projetos interdisciplinares vinculados a temas importantes nas escolas.

Quando questionados se consideram importante a implantação da temática ambiental no currículo da escola, 100% dos entrevistados disseram que sim, como pode ser observado em algumas das respostas a seguir:

Entrevistado 17 - Quanto mais conscientizarmos nossos alunos melhor será nosso futuro.

Entrevistado 15 - Estamos vivendo momentos decisivos quanto a extinção da vida humana na Terra, por isso é preciso conscientizar a todos, principalmente as gerações que representam o nosso futuro.

Entrevistado 13 - Para que nossos alunos sejam conscientes da importância de se preservar o meio ambiente e buscar meios para contribuir com a qualidade de vida das gerações futuras.

Entrevistado 10 - Por que na educação do campo iria ajudar muito na conscientização sobre o meio ambiente em geral.

Entrevistado 07 - Pois desde criança tem um incentivo pois eles são os nossos futuros.

Entrevistado 06 - Para que desde crianças os alunos tenham o incentivo a cuidar do meio ambiente.

Entrevistado 05 - Porque nosso meio ambiente está necessitando de cuidado especial.

Entrevistado 04 - Porque estamos convivendo com situações graves no meio ambiente.

Entrevistado 02 - Porque abordaria de forma integral todos os educandos.

Entrevistado 20 - Porque seria uma forma de trabalharmos a questão ambiental diretamente com nossos alunos, não necessitando de uma disciplina específica, mas poderia se trabalhar de forma interdisciplinar envolvendo o tema gerador de Educação Ambiental, pois todos nós somos responsáveis pela saúde do nosso ambiente, e não deixar só para que o professor de Ciências tenha que abordar esse assunto, pois é de interesse de todos.

Na fala do entrevistado 20, fica evidente que os conteúdos relacionados as questões ambientais nas escolas devem estar interligados de maneira transdisciplinar, pois são tratados nas diversas áreas do conhecimento, permitindo assim uma visão maior das questões ambientais. Nesse sentido, segundo Tomazello e Ferreira (2001), como fonte de pressupostos metodológicos, pode-se enfatizar esta perspectiva como sendo um grande desafio para a escola e professores.

Os livros didáticos são importantes, pois são ferramentas utilizadas diretamente pelos professores em sala de aula. Nesse sentido, foi questionado se nos livros didáticos existiam conteúdos relacionados as questões ambientais. Todos os entrevistados disseram existir conteúdos, destacando-se os seguintes comentários:

Entrevistado 17 - Nos livros didáticos de geografia existem os conteúdos de forma de divulgação da Educação Ambiental.

Entrevistado 13 - Preservação do meio ambiente, saneamento básico, poluição, entre outros.

Entrevistado 10 - Na forma de textos, pesquisas e jogos de conscientização, só que é alguns temas do ambiente.

Entrevistado 06 - Informações ressaltando a importância das matas ciliares, falando sobre a ação humana no meio ambiente, entre outros.

Entrevistado 05 - Existe, mas é muito simplificado.

Entrevistado 02 - As mudanças no espaço físico, como: as derrubadas e queimadas, os lixões e como proteger o meio ambiente fazendo aterros sanitários.

Quanto as disciplinas que abordam esses conteúdos relacionados a Educação Ambiental, os entrevistados disseram ser Ciências (40%), Geografia (38%), Biologia (16%), Português (3%) e outros (3%). Como pode se observar pelas respostas, o enfoque da Educação Ambiental é maior das disciplinas de Ciências e Geografia. Fato esse que também pode ser observado no estudo de Sato (1997), que destacam as duas disciplinas como responsáveis pelo ensino de Educação Ambiental em escolas do Estado de Mato Grosso.



Ao pensar em sala de aula, como professores, pensamos em buscar soluções que sejam interessantes e pertinentes ao interesse e participação dos alunos quanto aos conteúdos que serão abordados nas aulas. Assim, foi questionado aos professores se eles são incentivados e/ou motivados para desenvolveram projetos ou atividades relacionadas a Educação Ambiental com seus alunos e de que forma isso poderia ser feito. Apenas 10% dos entrevistados disseram que sim, fazendo as seguintes observações:

Entrevistado 02 - Principalmente nos 6º, 7º, 8º e 9º anos, em projetos como: as mudanças socioambientais no Brasil, usinas hidrelétricas, mudanças drásticas, entre outros.

Entrevistado 17 - A escola está aberta para a conscientização, porém falta pessoas interessadas em desenvolver as atividades ou projetos.

Pensando no bem-estar dos alunos e também na oportunidade de os mesmos estarem em contato com o meio ambiente, um dos questionamentos proposto foi se a escola possuía área arborizada, horta ou outros espaços que poderiam ser utilizados para se trabalhar com a Educação Ambiental. No tocante a esse aspecto, 30% dos entrevistados disseram existir na escola esses espaços e 70% disseram que não, pois a escola é feita de muros, paredes e concretos não oportunizando aos alunos e professores trabalhar com essa temática, a não ser que saiam do espaço da escola e visitem parques e praças.

Uma questão importante é se os professores realizam atividades com seus alunos fora da escola para trabalhar a realidade local sobre as questões ambientais e de que forma isso é realizado. Dos entrevistados, 20% admitem realizar essas atividades e 80% não realizam. Dos que realizam as atividades, podemos destacam as seguintes observações:

Entrevistado 07 - Levando as crianças no ambiente onde não teve ações do ser humano (como matas virgens) para mostrar as diferenças do clima onde tem mata e onde é desmatado.

Entrevistado 02 - Visita na cachoeira com alguns alunos na área rural para falar sobre o meio ambiente.

Outro ponto que merece destaque, refere-se aos trabalhos de Educação Ambiental desenvolvidos fora da escola e em que locais esses trabalhos foram realizados pelos professores. Os 15% que disseram realizar trabalhos fora da escola, fizeram as seguintes observações:

Entrevistado 07 - Fizemos uma visita na Embrapa para conhecer as plantas típicas das terras amazônicas.

Entrevistado 15 - Visita a uma nascente do rio onde existia mata ciliar e várias nascentes protegidas.

De acordo com Persijn et al. (2016), ensinar valores e cuidados com o meio ambiente é dever e obrigação de todos, bem como da escola, que deve proporcionar, por meio diversificados, um ensino direcionado a reflexão com olhar crítico e questionador do aluno. Uma questão importante é o descarte de resíduos sólidos pela população, que na maioria dos casos são inadequadamente descartados em lixões.

Partindo dessa problemática, foi questionado se na escola existia algum processo de separação do lixo produzido. Dos entrevistados, 15% admitem existir a separação do lixo, por meio de lixeiras específicas para cada grupo de lixo produzido e 85% disseram que não existe um processo de separação do lixo na escola em que trabalham. Nesse sentido, há uma necessidade de se promover uma discussão sobre a problemática e desenvolver atividades que possam vir a solucionar o problema. Segundo Meirelles e Santos (2005), as ações de Educação Ambiental nas escolas, pode dar uma atenção permanente a problemática, tornando o processo cíclico e evolutivo.



Quanto ao questionamento sobre quais os meios utilizados pela escola para desenvolver atividades com os alunos sobre Educação Ambiental, foram apresentados: palestras (26%), cartilhas (14%), debates, desenhos e músicas (10%, cada), bem como outros meios (30%). Os recursos pedagógicos, segundo Carvalho, Pereira e Ferreira (2009), são cheios de conteúdos e significados, no entanto, a falta desses recursos na escola é fator que impossibilita os professores de inovarem suas aulas, não favorecendo atividades diversificadas e assim, acabam por desmotivar o professor.

Como último questionamento da pesquisa, foi solicitado aos professores entrevistados que descrevessem alguma experiência com Educação Ambiental realizada no seu dia a dia, dos quais foram apresentadas as seguintes:

Entrevistado 05 - Sempre é realizado uma limpeza geral no pátio da escola e plantamos árvores.

Entrevistado 07 - A necessidade de prevenção e mais ações para prevenir são poucas.

Entrevistado 10 - Em uma escola desenvolvi um projeto sobre a reciclagem do lixo, onde nós recolhíamos o lixo todos os dias nas salas de aula, só papel. Em outro dia, fazíamos cartolinas com os papéis recolhidos durante a semana, e as cartolinas utilizávamos em sala, na festa junina da escola fizemos os convites com os papéis reciclados e entregamos aos convidados e expomos o nosso projeto. Nisso a escola se mantinha limpa, os alunos se interessavam em manter a sala limpa e o pátio da escola. Em outro projeto desenvolvido era a sala mais limpa da escola, onde a sala toda era premiada pela limpeza e com isso conscientizávamos os alunos a jogar o lixo no lixo.

Entrevistado 13 - Como disse antes, sempre que trabalho algum tema relacionado com Educação Ambiental, exponho em forma de debate ou aula explicativa. Ainda não desenvolvi nenhum projeto sobre o tema.

Entrevistado 17 - Na escola com os professores foi feito o projeto da REBIO, com os alunos da UNIR, foi muito importante e os alunos gostaram muito.

Entrevistado 18 - Já participei com os meus alunos há uns 12 anos atrás do “Projeto Convida” em que trabalhava com os alunos o tema, então viajavam para participar de palestras, e era um trabalho interativo, onde todos participavam, porém, as coisas mudaram em nosso município hoje, claro que para pior, mas gosto muito de trabalhar com projetos.

Segundo Tozoni-Reis (2006), Paulo Freire auxilia no debate da interdisciplinaridade na Educação Ambiental, entendendo como ação educativa que deve ultrapassar o tratamento de disciplina vinculada ao ensino de Ciências ou áreas afins, para inserir em um contexto mais amplo, como a educação. Essas experiências dos professores são essenciais nessa transformação, possibilitando que novos professores possam se espelhar nas mesmas e desenvolve-las.



Considerações Finais

A Educação Ambiental quase não é contemplada na formação de professores e normalmente os acadêmicos saem com uma formação deficiente, influenciando assim o desenvolvimento de suas práticas pedagógicas.

As respostas dos entrevistados evidenciam que a busca por alternativas que integrem alunos, escola e comunidade no que se refere a temática ambiental está distante da realidade ainda, havendo um distanciamento entre o que o professor dizer fazer em relação as questões ambientais e o que realmente é feito.

As atividades em Educação Ambiental na escola, deveriam ser trabalhadas pelos professores de forma contínua e desfragmentada, pois faz parte da formação dos alunos enquanto cidadãos conscientes e formadores de opiniões, adquirindo conhecimentos no desenvolvimento de hábitos voltados a conservação do meio ambiente em que vivem.



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Ilustrações: Silvana Santos