Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/09/2019 (Nº 69) CONHECIMENTOS SOBRE PARQUES DE PROTEÇÃO/PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E O USO DA ÁGUA DE FORMANDOS EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS.
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CONHECIMENTOS SOBRE PARQUES DE PROTEÇÃO/PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E O USO DA ÁGUA DE FORMANDOS EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

André Alex de Paula Silva1, Christiano Nogueira2

1 Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral, Fundação Araucária.

2 Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral

Resumo: Esta pesquisa mostra como formandos em Licenciatura em Ciências da UFPR entendem sobre parques de proteção/preservação ambiental e o uso da água. A análise dos resultados mostrou que há um conhecimento dos parques de proteção/preservação ambiental, e sobre o uso da água apresentam aspectos alguns críticos.

Abstract: This research shows how of newly formed sciences teachers understand environmental protection/preservation parks and the use of water. The analysis of the results showed that there is a knowledge of the environmental protection/preservation parks, and the use of water presents some critical aspects.

Introdução

Os recursos ambientais, inclusive as florestas, estão sendo degradados constantemente, tendo como exemplo a Mata Atlântica, a qual resta apenas áreas degradadas e pequenos fragmentos florestais. Diante deste problema, a importância da criação das Unidades de Conservação (UCs) é imprescindível, pois devido a essas áreas, é onde predomina a maior parte da Mata Atlântica existente.

De acordo com a Lei 9.985/2000 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), as UCs são áreas que são sujeitas à proteção devido às suas características naturais. As UCs são classificadas entre as de uso sustentável e as de proteção integral, nas instâncias federal, estadual e municipal.

As UCs de proteção integral têm como objetivo a conservação da biodiversidade, o qual inclui parques nacionais que são destinados a recreação, pesquisas científicas e educação (MACHADO et al., 2004). As estações ecológicas são fechadas ao público, com o foco em pesquisas. Semelhante a estação ecológica, as reservas biológicas são igualmente fechadas ao público, com exceção da aplicação de educação ambiental. As unidades de uso sustentável têm como objetivo também a conservação da biodiversidade, mas permitindo diversos tipos de interferência humana com relativa intensidade.

De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP, 2019), as UCs federais existentes na região do litoral do Paraná são: APA de Guaraqueçaba e o Parque Nacional Saint Hilaire-Lange (PNSHL). As UCs estaduais são: APA Estadual de Guaratuba, Estação Ecológica do Guaraguaçu, Parque Estadual Rio da Onça, Estação Ecológica da Ilha do Mel, Floresta Estadual do Palmito, Parque Estadual da Ilha do Mel, Parque Estadual do Boguaçu, APA Estadual de Guaraqueçaba, Parque Estadual do Pau Oco, Parque Estadual do Rio Marumbi, Parque Estadual Roberto Ribas Lange e o Parque Estadual da Graciosa.

Esta região é contemplada por uma riqueza em recursos hídricos devido a sua bacia hidrográfica, a bacia litorânea. A significância das áreas protegidas nessa região toma destaque devido as nascentes acompanhadas de suas matas ciliares, de acordo com a Lei 12.651/2012, são consideradas como Área de Preservação Permanente (APP), que possui como objetivo o resguardo destes locais que possuem funções ecossistêmicas, além de áreas protegidas pelas UCs. A conscientização sobre o uso da água é imprescindível, tendo em mente a garantia da priorização adequada do acesso à água, permitindo necessidades essenciais da humanidade, assim como dos nossos ecossistemas (LORD, 2001).

Considerando este contexto envolvendo áreas de proteção e/ou preservação ambiental e conhecimentos a respeito da água e do seu uso consciente, esta pesquisa abordou sobre tais conhecimentos com estudantes formandos(as) do curso de Licenciatura em Ciências da UFPR, Setor Litoral na cidade de Matinhos, litoral do Paraná. Este curso existe desde 2008, na modalidade presencial, no período noturno, com duração mínima prevista de 4 anos com carga horária total de 3030h e 35 vagas de ingresso anualmente (UFPR – CIÊNCIAS, 2014).

Metodologia

A pesquisa foi realizada com estudantes do último semestre do curso de Licenciatura em Ciências da Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral. Houve a participação de oito do total de vinte estudantes. A pesquisa foi de cunho qualitativo com desenvolvimento de entrevistas, classificadas segundo Gil (2008), como entrevista por pautas, tendo em vista que possui uma certa estruturação com o pesquisador se guiando por uma relação de pontos de interesse que o pesquisador vai explorando durante o processo. O grau de saturação relacionado ao que a pesquisa possibilita chegar de acordo com o total de sujeitos fundamentou o número de participantes. Também se considerou uma forma de contrabalancear fatores que se relacionam com o que se espera por parte dos entrevistados, tempo que ocorrem as entrevistas e quantidade de vezes que pode se repetir as entrevistas (FLICK, 2012). Cada participante assinou um termo de consentimento de livre e esclarecido (TCLE) com detalhes da participação voluntária na pesquisa. Realizou-se as entrevistas nos dias dez e dezessete de setembro de 2018. Foram realizadas as transcrições e a análise ocorreu através do método da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977; FRANCO, 2005).

Análise

As unidades de análise que se destacaram na Análise de Conteúdo foram que “Há conhecimentos das áreas de preservação e/ou proteção ambiental na região”, “Reconhecem a importância das áreas de preservação e/ou proteção ambiental na região” e “Uso consciente da água e não percepção sobre o seu ciclo”. A primeira Unidade de Análise que apresentamos é que “Há conhecimentos das áreas de preservação e/ou proteção ambiental na região”. O(a) estudante A relata seu conhecimento sobre o Parque Nacional Saint Hillaire Lange, um dos principais parques do litoral do Paraná, e questiona se o Parque Estadual Rio da Onça está integrado ao Parque Nacional:

Olha, eu vou te dizer que assim de cabeça eu conheço duas, deve ser, parque Saint Hillaire é uma área ambiental e… agora não sei se esse Rio da Onça está incluso, está incluso dentro do Saint Hillaire será?” (Estudante A)

Este relato indica seu breve conhecimento sobre a presença áreas de preservação e/ou proteção na região, mas de forma confusa em questão de suas categorias, já que o PNSHL é uma UC federal e o Parque Rio da Onça é uma UC estadual.

O(a) estudante B possui um relato semelhante, afirmando seu conhecimento sobre a presença do Parque Estadual Rio da Onça, apesar de não ter visitado.

Conheço ali o Parque Rio da Onça. Dizem que ali do lado do hotel é, mas eu não conheço. Conheço de passar, mas não sabia que era unidade de conservação.” (Estudante B)

O Parque Estadual Rio da Onça descrito pelo(a) estudante B é uma unidade de conservação estadual criada em 1981, possuindo grandes belezas naturais, sendo um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica do país, além de possuir uma estrutura de alta qualidade, incluindo mirantes e uma trilha circular, a qual diminui o impacto de pisoteamento e degradação da mesma (IAP, 2015). O Parque possui grande atividade com acadêmicos de várias universidades, além de receber estudantes do ensino básico para educação ambiental, apesar de haver conflitos em suas áreas periféricas devido a ocupação irregular, é de grande importância para a região. No caso do(a) estudante C, o mesmo relata seu conhecimento sobre a Área Ambiental do Rio Iraí (APA), a qual faz parte de uma unidade de conservação de uso sustentável. O(a) estudante conhecia antes de sua integração na UFPR Litoral:

Conheço algumas. Quando vim pela Alexandra, conheço algumas pela Alexandra. Conheço lá em Pinhais né, a área de preservação ambiental do Apiaí do rio Iraí.” (Estudante C)

A APA citada pelo(a) estudante é instituída a Área de Proteção Ambiental na área de manancial da bacia hidrográfica do Rio Irai, denominada APA Estadual do Iraí, localizada nos municípios de Piraquara, Colombo, Pinhais e Quatro Barras. O(a) estudante D, além de conhecer áreas de preservação antes de sua integração na UFPR Litoral, obteve vivências com a mesma após sua integração:

Conheço, conheço tanto em Curitiba como aqui. Aqui o Parque do Palmito, se não me engano, ele é perto, não sei se ele é isso, mas ele é perto, tem o mangue ali, tem uma trilha que leva ao mangue lá no Parque do Palmito, é e não é. Já fui lá em Guaraqueçaba, zona de preservação ambiental que é liberada só para pesquisa, que eu já fiz na faculdade.” (Estudante D)

O município de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, é uma referência sobre áreas de preservação. Fazendo parte da maior área de remanescentes da Mata Atlântica, a APA de Guaraqueçaba faz parte das Reservas da Biosfera do Vale do Ribeira e da Serra da Graciosa abrangendo diversas UCs de proteção integral como a Reserva Biológica Bom Jesus, a Estação Ecológica de Guaraqueçaba. Ter uma vivência nessa região é muito significativa para a obtenção de conhecimento sobre o local, tanto sobre as características ecossistêmicas como culturais, por haver presença de comunidades que praticam a pesca tradicional na região. Outro relato que envolve o conhecimento sobre o PNSHL é o do(a) estudante E:

Já! O Saint Hillaire que é uma referência. Eu fui em Morretes ou em Antonina, não sei se faz parte de Morretes ou Antonina, só que eu não lembro o nome. Ah, é antes, de Guaraqueçaba…” (Estudante E)

Grande parte dos estudos da área ambiental praticados na UFPR Litoral possuem algum tipo de relação com o PNSHL, devido a sua proximidade e promover atividades de ensino, pesquisa e extensão. Este relato deixa evidente a importância das instituições de ensino para o conhecimento das áreas de preservação ambiental e os parques:

Sim, as APA’s né, porque assim, no primeiro semestre a gente fez um trabalho sobre as unidades de conservação, na matéria de reconhecimento do litoral, então assim, eu não pude visitar, não pude ir, mas a gente acabou conhecendo um pouquinho de cada um.” (Estudante F)

Os estudantes possuem aulas que envolvem o reconhecimento da região litorânea, onde está situada a UFPR Litoral, com o intuito de trazer o conhecimento da região para os estudantes, além de uma ressignificação de conceitos, alcançando uma valorização. Um dos métodos para este aprendizado envolve aulas de campo, ocorrendo visitas as áreas protegidas, fazendo jus ao relato do(a) estudante F. A respeito disso:

“Tais módulos são trabalhados no início dos cursos, geralmente durante o primeiro semestre, para que estudantes tenham contato com a realidade da região. São aprofundados os conhecimentos a respeito das principais vulnerabilidades e potencialidades locais, envolvendo a sensibilização de distintas áreas, como a ambiental, sócio-econômica, cultural, entre outras; uma vez que todos esses fatores podem ser determinantes no processo saúde-doença (WENZINACK et al. 2014, p. 295)”.

A segunda Unidade de Análise que se destacou foi a de que “Reconhecem a importância das áreas de preservação e/ou proteção ambiental na região” O(a) estudante A se remete a uma visão referente ao meio biológico, numa esfera preservacionista:

A importância é pra gente preservar a mata nativa, preservar os animais que nela habitam, se continuar no ‘pé’ que está, daqui uns dias não vai ter animais, várias espécies de animais vão desaparecer.” (Estudante A)

De acordo com Medina (1994), a perspectiva do(a) estudante A possui características de uma vertente conhecida como “ecológica-preservacionista-romântica”. A autora a define como “separa o mundo construído do mundo natural, onde a natureza é tudo que esta ‘fora’, não inclui o homem, idealizando e atribuindo valores estéticos a uma natureza virgem, não violada pelo homem pela História” (MEDINA, 1994, p. 65). Os(as) estudantes C e D apresentam relatos semelhantes:

Elas amenizam a destruição ambiental que o ser humano faz na terra. Vamos supor, ela não soluciona o problema, mas ela ameniza o problema, é aquele fio de esperança de que o ser humano possa mudar, possa ter uma consciência ambiental, coisa que o ser humano não tem.” (Estudante C)

Com certeza, acredito que por causa dos animais, né, que aqui nós temos alguns que são nativos daqui do litoral, eu acho que o Guará que é né. E tem outros que não lembro agora. Mas se não tivesse essas preservações, o que iam acontecer com isso? Os manguezais, esse tipo de coisa, que é uma característica nossa daqui, e as espécies de flora também.” (Estudante D)

Neste tipo de relato, é evidente a preocupação dos(as) estudantes com a preservação dos bens naturais com o objetivo de mudar as ações dos seres humanos para haver uma “proteção à natureza”, mas não possuindo um olhar holístico sobre outros temas, como o socioeconômico, socioambiental, históricos, entre outros. Conforme Layrargues (2012) necessita-se de evitar leituras superficiais e simplificadoras da realidade resultando em práticas incoerentes e inconsistentes. Para este autor há a necessidade de um direcionamento para leituras relacionais e dialéticas que envolvem a realidade e permitam ocorrer mudanças na cultura e conduzam à uma ética ambiental com mudanças sociais resultando em uma sociedade que esteja atenta às questões ambientais e sejam socialmente justas. Um relato relacionado à saúde ambiental surgiu do(a) estudante B:

Olha, a primeira coisa que veio na minha cabeça é assim… acho que acima de tudo é a nossa saúde. Se a gente respira o ar que a gente respira hoje aqui em Matinhos, com a qualidade que a gente tem é justamente por causa dessas áreas, e assim, tem vários lugares no Brasil e no mundo que não tem essa… Porque até onde eu sei, aqui é a maior área da preservação contínua da Mata Atlântica do Brasil ou do mundo, não sei… A gente tem essa qualidade de vida aqui em questão da saúde, do ar que a gente respira, da água que a gente bebe, ainda é por causa dessas áreas de conservação, que influenciam em várias outras questões, mas o que vem mais na minha cabeça é a questão da saúde em si.” (Estudante B)

Segundo Gouveia (1999), uma urbanização que cresce sem precedentes em nossa história, que com seus desdobramentos físicos, sociais e econômicos, está tendo um impacto importante na saúde da população. O(a) estudante afirma que a qualidade de bens naturais necessários para uma saúde ambiental adequada se encontra na região do litoral do Paraná devido aos Parques e áreas de preservação ambiental. A saúde ambiental é definida pela Organização Mundial da Saúde como “consequências na saúde da interação entre a população humana e o meio ambiente físico – natural e o transformado pelo homem – e o social” (WHO, 1996).

No caso do(a) estudante E, é afirmada a importância dos Parques e áreas de preservação, mas o mesmo questiona a gestão e cita sobre ocupações irregulares em áreas do Parque:

Com certeza, apesar que parece que aqui em Matinhos não está funcionando muito né, porque aqui pelos balneários o pessoal tá invadindo e vendendo os terrenos a preço de banana, como se fosse deles e sendo que não pode, só que assim, não pode, mas quem faz alguma coisa pra não poder, entendeu? As pessoas simplesmente vão lá.” (Estudante E)

As ocupações e atividades antrópicas dentro o nos limites do PNSHL são caracterizadas de acordo com a dissertação de Denes (2006) como:

[…] “a evolução populacional aconteceu em razão do crescimento demográfico natural dos primeiros habitantes locais. Esses últimos não constituíram grandes núcleos populacionais, formando apenas aglomerações de moradias localizadas ao longo dos cursos d'água. Em geral, essa área é pouco habitada, mostrando decréscimo populacional, exceto na localidade de Floresta, que exibe um incremento no número dos sítios e chácaras de lazer. A região como um todo não expõe problemas sérios de pressão antrópica” (DENES, 2006, p. 63).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população que reside em Matinhos teve sua quantidade dobrada em menos de 10 anos (IBGE, 2015). Apesar que recentemente, por consequência deste acréscimo, foram criadas legislações de cunho federal para diminuir essas ocupações a partir do SNUC, dispondo sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades que lesionam o meio ambiente da região (MMA, 2005).

No Parque Estadual do Rio da Onça é possível observar várias áreas ao seu redor construções em sua área de amortecimento que são aproximadas das áreas de preservação permanente, o que não se adéqua as leis de ocupação. O último relato referente a importância dos Parques e áreas de preservação ambiental é a do(a) Estudante F, o qual afirma a importância e questiona o conceito de “progresso”:

Eu acho que sim, mas é, muita gente acha que não né, sempre vejo esse tipo de discussão na internet né, por exemplo, quando uma empresa quer construir alguma coisa no espaço, por exemplo, eu que moro aqui sempre né, não vejo a necessidade de construção, desse aumento, de conseguir mais coisas, vejo que muita gente daqui quer esse progresso e acaba desmatando essas áreas.” (Estudante F)

Segundo De Oliveira (2002), na literatura especializada em economia é comum haver certa associação desenvolvimento com industrialização, pois a indústria é responsável por incrementos positivos no nível do produto, no assim chamado crescimento econômico, ou no que o(a) estudante se refere, o “progresso”. O autor explica a motivação que a população, de forma geral, tende a querer industrializar sua região:

“Isso ocorre, principalmente, devido à ampliação da atividade econômica advinda dos efeitos de encadeamento oriundos do processo de industrialização. Tais efeitos servem para aumentar a crença de que a industrialização é indispensável para se obter melhores níveis de crescimento e de qualidade de vida. Essa é a razão pela qual todos os países do mundo almejam tanto industrializar seu território” (DE OLIVEIRA, 2002, p. 44).

Como resultado, o litoral do Paraná é caracterizado por uma complexidade e heterogeneidade apresentada que dão origem a duas fortes contradições: o valor da região como patrimônio natural e para a proteção da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento que não corresponde aos potenciais regionais e ao sucesso de algumas atividades (DENARDIN et al. 2008). Isso reflete ao relato do(a) estudante, que mostra a perspectiva da população litorânea que habita a área urbana pelo anseio de um território industrializado esperando como resultado o “progresso”.

A terceira unidade de análise que se destacou nesta pesquisa foi o “Uso consciente da água e não percepção sobre o seu ciclo”. A citação do(a) Estudante C demonstra bem esta unidade de análise:

Em relação à economia da água, eu acho que não, eu acho que seria uma conscientização do bom uso da água, não economia né, eu acho que a água é um bem finito né, então se o ser humano, eu sinto muito a crise hídrica de 2013 em São Paulo lá, três volumes mortos, já chegaram até o segundo né, estavam a beira de um colapso de água lá em São Paulo né, não ensinar a economia né, mas no uso real, e hoje os grandes vilões da água e do meio ambiente, não é o ser humano, são as grandes empresas, o jeito que as pessoas utilizam e o jeito em que as empresas utilizam, para fabricar uma camisa gasta 1500 litros de água, uma única camiseta. Acho que as grandes empresas são os grandes vilões, não o ser humano.” (Estudante C)

Ao citar que a água é um bem finito, o(a) estudante não apresenta compreensões sobre a existência de seu ciclo e sua relação com a capacidade de regeneração do planeta. Ou seja, um entendimento do ciclo água no contexto local e global tais como chuvas, descargas totais de rios e processos metabólicos de seres vivos em sus ecossistemas (REBOUÇAS, 2004). Entretanto este(a) estudante apresenta uma análise com um viés mais crítico relacionado às responsabilidades sobre o uso da água. O(a) Estudante G apresenta um viés semelhante:

Concordo, acho que deve ter sim na verdade, mas eu acho que a mídia coloca muita conscientização pra gente né. Mas eu acho que quem gasta muita água são as empresas né, que ficam influenciando a mídia e colocam as propagandas, mas eu concordo sim, eu acho que tem que fazer a nossa parte, mesmo que seja pequeno, mas tem que fazer a nossa parte.” (Estudante G)

Assim, estes(as) estudantes mostram um conhecimento conforme (AZEVEDO, SILVA e FREIRE, 2014), pois devido ao aumento do uso da água nos dias atuais existem conflitos e interesses de diferentes grupos sociais. Ao citarem que a responsabilidade direta na conscientização sobre o consumo da água seria somente para as pessoas está implícito que nos processos produtivos da sociedade estas responsabilidades devem ser também consideradas por empresas e organizações em geral no sentido de que a problemática envolva a organização social como um todo.

Considerações Finais

Este estudo obteve resultados positivos a partir da análise quanto ao conhecimento dos(as) estudantes em relação as áreas protegidas, principalmente ao fato de que foi evidenciado sobre o conhecimento obtido sobre o mesmo após o ingresso no ensino superior, no caso, na UFPR Setor Litoral. Mesmo havendo alguns casos de estudantes que já havia conhecido áreas protegidas anteriormente do ensino superior, o aprofundamento e o conhecimento salientado durante o aprendizado em aulas puderam mostrar objetivos, características, a importância e a diferença que uma área protegida pode fazer para uma região onde está situada. Como no caso do litoral do Paraná, uma região privilegiada por obter uma parte relevante da Mata atlântica, os estudantes verificaram problemas, principalmente relacionados com a questão da ocupação irregular nas áreas periféricas das unidades de conservação, o qual é muito evidente na cidade de Matinhos. Realçam a importância da presença das áreas de proteção também em relação à saúde ambiental, que por fim, é perceptível a conscientização dos estudantes em questão de que áreas naturais são essenciais para funções ecossistêmicas e para o bem-estar do ser humano, envolvendo a qualidade do ar e da água. Em relação ao uso consciente da água os(as) estudantes demostraram uma certa limitação relacionada ao conhecimento do ciclo da água e também um conhecimento com aspectos críticos a respeito do uso e da distribuição da água na sociedade.

Bibliografia

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Ilustrações: Silvana Santos