Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/09/2019 (Nº 69) HORTAS INTERDISCIPLINARES: UMA POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DE BOTÂNICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ENSINO MÉDIO
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HORTAS INTERDISCIPLINARES: UMA POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DE BOTÂNICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ENSINO MÉDIO



Wellington Nora Soares

Mestre em Educação, Biólogo, Químico, Especialista em Educação Ambiental e Novas Tecnologias Educacionais. Professor de Biologia e Química na Fundação de Ensino de Contagem (FUNEC) e no Serviço Social da Indústria (SESI-MG). Pesquisador do Programa de Pós- Graduação em Gestão Social, Educação e Gestão Social do Centro Universitário Una. E-mail: wnsoares@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7889183299404358. Orcid: 0000-0002-2690- 0432.



Tatiana Maria de Sousa Soares

Ecóloga, Licenciada em Biologia e Química, Especialista em Gestão Ambiental. Professora de Química na Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais. E-mail: tatimsousa@yahoo.com.br. Currículo Lattes:http://lattes.cnpq.br/4207149738970427.

Orcid: 0000-0002-2706- 0333.



Ana Claudia Martins dos Santos

Graduanda em Ciências Biológicas Pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estagiária do Laboratório de Ciências da Natureza no Serviço Social da Indústria (SESI). E-mail: cacau1208@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9204736421265342. Orcid: 0000-0001-5058-4049.



Resumo

O ensino de Biologia para os alunos de Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um desafio. Os estudantes apresentam dificuldades de aprendizagem e se frustram por se sentirem incapazes de aprender e não compreender a importância da disciplina em seu cotidiano. Este estudo tem como objetivo analisar as contribuições de um projeto, no qual os alunos participaram da produção de uma horta, utilizando os conceitos de botânica abordados na EJA no Ensino Médio. Foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas, por acessibilidade até a saturação. Os dados obtidos foram processados e submetidos à análise por meio do software IRAMUTEQ. A interpretação dos dados baseou-se na análise de conteúdo de Bardin (2016). Foram geradas três categorias temáticas: (i) aplicabilidade da botânica, (ii) conhecimentos prévios e (iii) inovação social. Os resultados evidenciaram a compreensão dos conteúdos de Biologia vegetal e suas aplicações na produção de alimentos de uso diário, como os da horta cultivada, facilitando o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, o desenvolvimento das hortas também possibilitou benefícios de caráter econômico para indivíduos e comunidade envolvida.



Palavras chaves: EJA. Ensino de Biologia. Hortas interdisciplinares. Inovação social. Práticas educacionais.





Abstract

The teaching of Biology for the students of High School (EJA) is a challenge. Students experience learning difficulties and are frustrated at learning to understand their discipline in their daily lives. This study aims to analyze the support of a project, and the students participated in the production of a vegetable garden, using the concepts of botany addressed in the EJA in High School. They were supported by semi-structured, accessible to saturation. The obtained data were processed and submitted to the analysis through IRAMUTEQ software. The interpretation of the data was based on the content analysis of Bardin (2016). Three thematic categories were generated: (i) applicability of botany, (ii) prior knowledge and (iii) social innovation. The evidence of the substance of the indexes of plant biology and its applications in the production of foods of daily use, such as the cultivated vegetable garden, facilitate the teaching-learning process. In addition, the development of the gardens also provided economic benefits for individuals and the community involved.

Keywords: EJA. Teaching of Biology. Interdisciplinary gardens. Social innovation. Educational practices.



1. INTRODUÇÃO

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN no9394/1996) afirma em seu art 37, que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) deve ser destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio (BRASIL, 1996). Observa-se nesse contexto que os alunos do EJA apresentam dificuldades de aprendizagem e precisam conciliar atividades escolares com as laborais e os cuidados familiares.

Para esses alunos, é essencial que a escola deve ser um espaço de transformação social e de construção de conhecimento que seja aplicável a atividades cotidianas, principalmente, aquelas com possibilidade de geração de renda. O aluno da EJA preocupa em saber se o conteúdo abordado por uma determinada disciplina apresentará utilidade em seu cotidiano. Essa situação corrobora com Ortiz (2002, p. 80) ao afirmar que Em relação ao ensino de Biologia na EJA, os conteúdos são trabalhados de maneira descontextualizada e fragmentada, contribuindo para que os alunos não identifiquem a utilização desses conteúdos em seu dia a dia. Lima et al (2000) afirmam que essa não-contextualização é um dos motivos pela rejeição da Biologia e pelos inúmeros obstáculos que são colocados pelos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, o que compromete sua formação.

Segundo Chiappini (2007), a formação do estudante deve considerar as suas experiências, o grupo social envolvido, suas necessidades, suas concepções e seus anseios. Assim, o professor deve realizar um planejamento prévio e contextualizado, adequado aos objetivos do grupo para o qual será ministrado um determinado tema, nos respectivos módulos de uma aula. Desta forma, tende-se a romper com a usual fragmentação dos conteúdos de Biologia, favorecendo a construção do conhecimento de maneira integrada e de maneira aplicada por parte dos alunos.

A prática pedagógica integra teoria e prática aplicável ao cotidiano do aluno, por meio dessas vivências comparativas. Assim, a produção de hortas interdisciplinares propostas para esse projeto podem possibilitar um processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de botânica, de maneira mais prazerosa e significativa para este público.

O projeto pretende contribuir com a melhoria do ensino de Biologia, bem como atender aos interesses e às necessidades da comunidade em que a escola está inserida. Nessa perspectiva, as hortas constituem práticas de inovação social, pois podem ser definidas como “um conjunto de ideias (produtos, serviços ou modelos de ação) que satisfazem necessidades humanas e favorecem novas relações sociais, pelo que, não apenas beneficiam a sociedade, como potenciam a sua capacidade para agir.” (MULGAN, 2007, p. 148).

Desta forma, ao associar o ensino de Biologia à produção de hortas, espera-se que ocorra um processo de ensino-aprendizagem mais efetivo e que o valor gerado por esse conhecimento seja benéfico, não apenas para alguns indivíduos, mas para a sociedade como um todo.



2. O ENSINO DE BOTÂNICA E A INTERDISCIPLINARIDADE

O ensino de botânica se dá de forma fragmentada e desprovido de contextualização, numa abordagem que dificulta a adequada aprendizagem por parte dos alunos. Neste sentido, cabe ao professor, sensibilidade para realizar a aproximação das disciplinas em uma prática interdisciplinar.

Contudo, Soares e Vasconcelos (2018) demonstraram há entre os professores uma impressão equivocada do trabalho interdisciplinar, confundindo com termos como a multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade. Japiassu (1976, p.73) afirma que “a multidisciplinaridade consiste em estudar um objeto sob diferentes ângulos, mas sem que tenha necessariamente havido um acordo prévio sobre os métodos a seguir ou sobre os conceitos a serem utilizados”. O autor ainda ressalva que a multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade visam à construção de módulos disciplinares sem que ocorra a relação entre as disciplinas. Fazenda (2011) corrobora com Japiassu ao afirmar que na pluridisciplinaridade ocorre a justaposição de disciplinas com algum acréscimo de uma disciplina vizinha, como Arte e Literatura, por exemplo. Japiassu (1976, p.74) afirma que “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”.

Desta forma, A produção de hortas é uma ferramenta capaz de trabalhar a interdisciplinaridade e a transversalidade na promoção dos temas ambientais.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), afirmam que os temas ambientais devem trabalhados em todas as áreas numa relação de transversalidade, de modo que faça parte da prática pedagógica de todos os docentes e crie uma visão global da temática ambiental. A riqueza do trabalho será maior se cada professor for um agente for um dos agentes interdisciplinares que o tema exige. A interdisciplinaridade deve ser procurada por meio de uma reestruturação institucional da escola ou organização do currículo, mas necessita, impreterivelmente, da superação da visão fragmentada de conhecimento pelos docentes especialistas. Cada docente pode contribuir com a interdisciplinaridade ao explicitar os vínculos de sua área com a temática ambiental, por meio de sua forma de compreensão da temática, pelos exemplos abordados na ótica de seu universo e pelo suporte de suas técnicas pedagógicas.



3. METODOLOGIA

O presente estudo teve caráter qualitativo. Foram realizadas dez entrevistas, por acessibilidade até a saturação. A média de tempo para responder todas as questões propostas no roteiro de entrevistas foi vinte minutos por aluno. Posteriormente, esses dados foram transcritos e submetidos ao software Interface for Multidimensional Analyzes of Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ) para análise de conteúdo conforme proposto por Bardin (2016).

3.1 Sujeitos da Pesquisa e Unidade de Análise

Os participantes eram alunos do terceiro ano do Ensino Médio, modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), com idades entre 22 e 65 anos, todos casados. Todos entrevistados exerciam atividades profissionais, a saber, recepcionista, caixa de supermercado e atendente de telemarketing, porteiros e balconista. As rendas familiares variam entre R$ 937,00 e R$ 1700,00, tendo como valor médio R$ 1191,00.

A identificação dos participantes se deu através de uma rede de relações dos autores do artigo. Foram feitos contatos com a direção da escola X, com uma professora de Biologia que atua na EJA e com os alunos, explicando os objetivos do estudo e realizando o convite para a produção das hortas. Após a aceitação, foi realizado o agendamento de alguns horários na escola para a produção das hortas que contou com a participação de 40 alunos.

A escola X está localizada no município de Betim-MG e, atualmente, atende a 320 alunos, no turno da manhã; 280 alunos, à tarde e 240 alunos, no período da noite, dos quais 80 são na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

3.2 Delineamento, procedimentos e instrumentos

O projeto foi realizado a partir da produção de hortas interdisciplinares. Tais hortas foram cultivadas em canteiros da escola x, entre os março e maio de 2019, com uma turma de 40 alunos do Ensino Médio, da modalidade EJA. Foram realizados oito encontros. A duração média dos encontros foi de duas horas. Os alunos eram informados previamente sobre os materiais necessários para a produção das hortas e os traziam aos encontros.

Durante os encontros, os alunos foram divididos em quatro grupos de 10 (dez) componentes. Logo após, foram orientados sobre como produzir as hortaliças alface, almeirão, cebolinha, manjericão e salsa, com o auxílio de um material instrucional, previamente formulado pelos autores. A figura 1 ilustra algumas das etapas da produção das hortas interdisciplinares.

Figura 1: Etapas da produção das hortas interdisciplinares.

Fonte: Os autores.

Após a realização dos oito encontros, foi realizada a coleta de dados.

O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi a entrevista semiestruturada, cujo roteiro de questões foi construído pelos autores dessa pesquisa, a saber: (i) Como você enxergava a Biologia/Botânica antes do projeto? (ii) E agora? (iii) O projeto facilitou a aprendizagem da Biologia/Botânica? (iv) Você fez uso dos conhecimentos da produção de hortas que adquiriu para ganhar dinheiro?

Foram realizadas dez entrevistas, por acessibilidade até a saturação. Cabe ressaltar que a coleta de dados só teve início após a leitura e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes.



4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O corpus geral foi constituído por 22 textos, separados em 43 segmentos de textos (ST), com aproveitamento 34,97 ST, totalizando 81,32% do material obtido nas entrevistas. Emergiram 578 ocorrências (palavras, formas ou vocábulos), sendo 203 distintas e 112 com uma única ocorrência. O conteúdo analisado foi categorizado em três classes que apresentaram 11,6 ST (33,3%).

O dendograma do corpus (figura 2) gerado pelo software IRAMUTEQ, estruturou os dados da pesquisa em três classes, a saber: (1) Aplicabilidade; (2) Conhecimento e (3) Inovações sociais.

A categoria representada pela classe 1, intitulada Aplicabilidade, equivale a 33,3% do corpus textual das entrevistas e está relacionada à percepção dos alunos sobre a aplicação do conteúdo de Biologia ao cotidiano, como forma de facilitar a aprendizagem. As palavras mais representativas foram: aprendizagem (50%), chata (75%), cotidiano (50%) e aplicar (57,14%).



Figura 2: Dendograma do corpus

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

O resultado de 33,3% do corpo textual das entrevistas evidencia que, para os alunos, a produção de hortas pode ser utilizada como facilitadora para a aprendizagem dos conteúdos de Biologia, visto que foram alimentos presentes no dia a dia e que podem ser ilustrados nos depoimentos referentes às questões: Como você enxergava a Biologia antes do projeto?”e“E agora”?(Pesquisador)

- Antes: - “Na minha visão era muito chata.”

Depois: - “Passou a ser mais atraente, consigo ver a sua aplicação no dia a dia.” (Entrevistado 1).



- Antes: - “Não fazia o menor sentido pra mim.” (Entrevistado 8).

Depois: - “Consigo entender melhor onde é aplicada.”



- Antes: “Algo chato...”

Depois: “Passou a ser mais atraente, perceber onde é aplicada faz todo sentido.” (Entrevistado 4).



- Antes: “Coisa pra nerd.”

Depois: “Percebi que não é só pra nerd, todos nós precisamos dela. Tem grande aplicação no cotidiano.” (Entrevistado 6).

Os resultados corroboram com os estudos de Ortiz (2002) ao afirmar que o estudante da EJA quer perceber a aplicação imediata do que está aprendendo. Assim, ao participar do projeto, o aluno teve a oportunidade de aplicar o conhecimento teórico referentes aos temas da botânica, na experiência vivida com a produção das hortas, percebendo a Biologia em seu cotidiano.

A categoria representada pela classe 2, intitulada Conhecimento, equivale a 33,3% do corpus textual das entrevistas e está relacionada à possibilidade de utilizar o conhecimento prévios dos alunos, como forma de facilitar a aprendizagem. As palavras mais representativas foram: conhecimento (75,0%), conhecimentos prévios (85,71%), chata (75,0%) e cotidiano (50,0%).

Esse resultado evidencia que, ao utilizar o conhecimento adquirido pelos alunos na produção das hortas, foi possível uma maior interação aluno-conteúdo-professor, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais fácil e agradável, conforme os depoimentos a seguir:



- “Achava que jamais iria melhorar a minha aprendizagem, (...). Usei conhecimentos que tinha sobre o assunto.” (Entrevistado 9).

- “Foi muito legal descobrir como a Biologia é aplicada e pra isso utilizei os conhecimentos que já tinha sobre o assunto, (...).”(Entrevistado 10).

- “Achava que jamais iria melhorar a minha aprendizagem, mas consegui ver a aplicação dela (...). Usei conhecimentos sobre a matéria para ajudar na produção.”(Entrevistado 3).

Neste sentido, Queiroz (2004) afirma que a experimentação é importante para o processo de ensino-aprendizagem. Para esse autor, deve existir uma integração entre os conhecimentos teóricos, as situações ocorridas na prática e o conhecimento prévio dos alunos. Assim, ao relacionar a teoria trabalhada em sala de aula com as situações ocorridas no laboratório e o conhecimento prévio dos alunos, observou-se um resultado satisfatório a partir da produção das hortas.

A categoria representada pela classe 3, intitulada Inovação social, equivale a 33,3% do corpus textual das entrevistas e está relacionada à possibilidade de utilizar os conhecimentos adquiridos produção das hortas para a geração de renda extra bem como apontar possíveis características de inovação social nesse projeto. Assim, as palavras mais representativas para essa categoria foram vendi (85,71%) e produção (50%).

As entrevistas evidenciam que os alunos utilizaram os conhecimentos adquiridos nessas oficinas para a produção de cosméticos que geram uma renda extra, conforme os depoimentos a seguir:

- “Sim, plantei tanto alface nos vasos que tenho em casa que nem consegui consumir tudo. Vendi para muitos vizinhos e acho que vou continuar a plantar.” (Entrevistado 5).



- “Sim, gostei tanto que agora produzo em casa. Levei o excesso da produção para o meu serviço e vendi para os meus colegas.” (Entrevistado 7).

A análise de similitude (figura 3) corrobora com os resultados da Classificação Hierárquica Descendente (CHD). Observa- se que há co-ocorrência ao relacionar as palavras “aprendizagem”, “cotidiano”, “vender” e “conhecimentos”, ressaltando a possibilidade de utilização produção de hortas para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem dos temas de botânica e melhoria da renda.

Figura 3: Análise de similitude do discurso

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.



Outro resultado desta pesquisa foi a elaboração de um material instrucional que contemplava os conteúdos de botânica, trabalhados previamente em sala de aula, e relacionados à produção das hortas. O material também apresentava o passo a passo que o aluno deveria seguir para a produção das hortaliças. A produção desse material apresentava o objetivo de contribuir para que os alunos percebessem a importância dos conteúdos de Biologia para o seu cotidiano.

As melhorias no processo ensino-aprendizagem, a aceitação da Biologia e a geração de renda observada permitem inferir que o projeto de produção de hortas, apresenta características de inovação social ao evidenciar que “o resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral”. (BIGNETTI, 2011, p. 220)

Neste sentido, ao associar o ensino de Biologia à produção de hortas, houve benefício, não apenas para alguns indivíduos (ao adquirir conhecimento teórico e prático sobre temas da disciplina de Biologia e ao desenvolver atitudes empreendedoras), mas para a sociedade como um todo (processos de reaproveitamento de materiais). Outro fator relevante é a disseminação desse conhecimento a partir de duas alunas que utilizaram esse conhecimento para melhorar as suas rendas familiares, com a produção das hortas, ao levaram a ideia para a Associação do bairro. Os representantes desta Associação aprovaram a iniciativa e convidaram os pesquisadores para a realização dessas práticas para outros moradores em 2019.



5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos, conclui-se que no projeto hortas interdisciplinares para o Ensino Médio, na modalidade EJA, houve um crescimento técnico, profissional e pessoal para pesquisadores, professores e alunos. As trocas de experiências entre os envolvidos no projeto contribuíram para a busca de melhorias no ensino de Biologia na EJA.

A produção das hortas permitiu o rompimento com as práticas de ensino tradicionais e se aproximou do ensino inovador requerido pelos PCN. Na busca de soluções para o desenvolvimento da horta houve a necessidade da utilização do conhecimento de diversas disciplinas, ocorrendo a interdisciplinaridade.

Para os alunos, a articulação do conteúdo de Biologia com outras disciplinas e com produtos disponíveis no cotidiano possibilitou uma maior participação e apropriação do conteúdo de botânica. Foram consideradas suas vivências e experiências, tornando os conteúdos ministrados na disciplina de Biologia aplicáveis e facilitando o processo de ensino e aprendizagem.

Assim, o conhecimento transmitido pelos docentes não deve ser algo pronto e acabado, mas, sim, deve levar em consideração as vivências de todos os envolvidos na construção do conhecimento e motivá-los a participar efetivamente na construção do seu conhecimento.

A abordagem realizada por esse projeto (produção de hortas) pode ser considerada uma prática de inovação social para o ensino de Biologia, ao evidenciar que a educação é uma necessidade humana, e ao favorecer o estabelecimento de novas relações sociais, que beneficiou não só a comunidade escolar, mas também incentivou a ação empreendedora desses sujeitos.

A produção da horta também promoveu práticas de educação ambiental incentivando mudanças comportamentais e sensibilizando os alunos. Ao formar cidadãos críticos, que lutem por melhorias, através da educação ambiental, espera-se que a educação ambiental seja disseminada para toda a sociedade.



6. REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2016.

BIGNETTI, L.P. As inovações sociais: uma incursão por idéias, tendências e focos de pesquisa. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 47, N. 1, p. 3-14, jan/abr 2011.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996. Disponível em: ftp://ftp.fnde.gov.br/web/siope/leis/LDB.pdf. Acesso em 15/06/2019.

CHIAPPINI, L. Aprender e ensinar com textos. 5ª. ed., São Paulo: Cortez, 2007.

LIMA, J. F. L.: PINA, M. S. L.; BARBOSA, R., M. N.; JÓFILI, Z. M. S. A contextualização no Ensino de Cinética Química. Química Nova na Escola, n. 11, p.26 - 29, 2000.

MULGAN, G. Social innovation: what it is, why it matters and how it can be accelerated. WorkingPaper, Oxford Said Business School, 2007.

ORTIZ, M. F. A. Educação de Jovens e Adultos: um estudo do nível operatório dos alunos. Campinas, 2002. 135 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. UNICAMP. 2002.

QUEIROZ, S. L. Do fazer ao compreender ciências: reflexões sobre o aprendizado de alunos de iniciação científica em química. Ciência & Educação, Bauru, v. 10, n. 1, 2004.

SOARES, W.N; VASCONCELOS, F.C.W. A Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação Como Recurso Didático Para a Promoção da Educação Ambiental. Tecnologias na Educação, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 51-66, 2018.



Ilustrações: Silvana Santos