Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/09/2019 (Nº 69) AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS DO PLANETA E OS IMPACTOS NA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA
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AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS DO PLANETA E OS IMPACTOS NA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA

Maria Antonia Fernandes N. de Oliveira Benati1, Luiz Carlos Pereira Silva2

1Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR. Email: ma.benati@gmail.com

2Mestre em Biotecnologia – Universidade de Mogi das Cruzes – UMC. Email: luizcarlos.pereirasilva@gmail.com

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo compreender como as alterações climáticas do planeta podem impactar a biodiversidade amazônica. Nos últimos anos o aumento populacional e o incentivo ao consumo descontrolado, resultaram na alta demanda de água, alimentos e combustíveis fósseis. O estudo é uma revisão de literatura exploratória e descritiva, realizada entre os meses de janeiro de junho de 2019. Concluiu-se que a preocupação em relação aos impactos negativos na biodiversidade amazônica, provocadas pelas alterações climáticas, é pertinente e precisa de ações exequíveis urgentes para se preservar o que ainda resta do bioma. Constatou-se, ainda, que embora os países tenham inserido o combate às mudanças climáticas em seus planos de desenvolvimento sustentáveis, as ações estão sendo executadas de forma lenta, não correspondendo ao crescimento populacional e, consequentemente, ao consumo gerado por essa população.

Palavras-Chave: Sustentabilidade. Mudanças Climáticas. Impactos Ambientais.

ABSTRACT

This article aims to understand how the planet's climate change can impact the Amazonian biodiversity. In recent years, population growth and the stimulation of uncontrolled consumption have resulted in high demand for water, food and fossil fuels. The study is a review of exploratory and descriptive literature carried out between January, June, 2019. It was concluded that the concern about the negative impacts on Amazonian biodiversity caused by climate change is pertinent and precise urgent actions to preserve what remains of the biome. It was also observed that although countries have inserted the fight against climate change in their sustainable development plans, actions are being carried out slowly, not corresponding to the population growth and, consequently, the consumption generated by this population.

Keywords: Sustainability. Climate Changes. Environmental Impacts.

1.INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas e seus efeitos nos ecossistemas são assuntos abordados tipicamente na literatura atual. De forma peculiar, os estudos apresentam questões bastante semelhantes e tratam dos impactos dessas mudanças nos biomas.

Esse estudo é um breve insigh sobre o tema, pois objetiva discutir as alterações climáticas no planeta e a forma que essas alterações podem afetar a biodiversidade Amazônica, ou seja, tratar de questões regionais que possam culminar em impactos globais – como é o caso deste bioma. Mesmo assim, aborda subjetivamente casos que citam como exemplo da devastadora alteração global nos ecossistemas, vítimas das mudanças climáticas causadas por ações humanas.

Um dos exemplos dessa alteração é o aumento da temperatura da superfície terrestre em 0,76 graus entre os anos de 1850 e 2005. O efeito provocou, por exemplo, elevação do nível do mar, caudado pelo derretimento de geleiras (KRUG, 2010).

Especificamente a Amazônia, que é conhecida por abrigar uma imensa diversidade em seu ecossistema têm vivido as pressões dos efeitos dessas mudanças e apresentado alterações profundas e talvez irreversíveis em seu bioma, e, pela sua amplitude, causando impactos regionais, nacionais e globais (FERREIRA; VENTICINQUE; ALMEIDA, 2005).

Fearnside (2005) afirma que vários aspectos precisam ser melhorados na gestão dos recursos naturais do país: aumento do número de pesquisas sobre o potencial farmacêutico das espécies animais e vegetais; a falta de inspeção e, automaticamente, o controle da biopirataria: a inclusão de espécies exóticas que influencia na sobrevivência das espécies nativas, etc.

Conhecida por sua extensão, variedade de espécies de animais e plantas, a Amazônia ocupa 6 milhões de km2, sendo que 60% estão em território brasileiro. Cerca de 20% da água doce disponível do mundo, faz parte desse ecossistema e está no território brasileiro (ALVES, 2010).

Além da riqueza de espécies de plantas e animais, o recorte geográfico concentra uma diversidade cultural relevante, com populações tradicionais como os povos indígenas, seringueiros, quilombolas, castanheiros, ribeirinhos, etc (FERREIRA; COELHO, 2015).

De acordo com Santos et al (2016) cerca de 17 milhões de hectares da floresta Amazônica são devastados anualmente. Essa ação, além das mudanças climáticas, projeta que em cinco anos, até 10% das espécies dessa floresta tropical, poderão ser extintas.

As atividades agrícolas e atividades de extração devastam o bioma amazônico. De acordo com os estudos de Yanai et al (2015) os principais causadores do aquecimento global são: o desmatamento, o fogo e a agricultura.

Os impactos na Amazônia podem causar mudanças no clima do planeta, os estudos apontam também para a exploração madeireira como uma das mais perversas no sentido de rápido desmatamento e possíveis causas das mudanças climáticas (SCMITT; SCARDUA, 2015).

A área Amazônica desmatada tem extensão territorial maior que a França. As áreas desmatadas e degradadas apresentam-se, de acordo com fotos de satélite, em condição de pastagens e as perspectivas para as próximas décadas é que essas áreas cresçam, impactando ainda mais as questões climáticas mundiais (DE MELLO; ARTAXO, 2017).

Quando há interferência humana nos biomas, os recortes geográficos vulneráveis apresentam desequilíbrio em seu meio e provocam alterações como a falta de chuvas e o número de queimadas (GONÇALVES, et al. 2017). Dentre as atividades mais controversas que causam os impactos na Amazônia, relata-se a construção de barragens hidrelétricas que provocam o aquecimento aquático que resulta na migração de algumas espécies de peixes (CELENTANO, et al. 2018).

A preocupação acontece quando considera-se a rápida devastação que está ocorrendo, visto que os impactos humanos na floresta Amazônica acontecem de forma predatória e a mesma apresenta papel fundamental na ciclagem da água (DOS SANTOS FERREIRA, et al. 2017).

Sabe-se que o aquecimento global é causado pelo efeito estufa como consequência das atividades antrópicas poluidoras, como o lançamento anual de dióssido de carbono na atmosfera, que interfere diretamente no clima, causando a elevação média da temperatura global (RIBEIRO; NAVAS, 2018).

É factível a necessidade de elencar medidas em escala regional para amenizar os impactos sofridos pela região Amazônica e somente com o esforço conjunto será possível impedir o avanço das mudanças climáticas e seus desagradáveis efeitos.



2.METODOLOGIA

O presente estudo descritivo e exploratório é uma revisão sistemática de literatura realizada entre os meses de janeiro a junho de 2019. As buscas foram realizadas em três bases de dados bibliográficas: Google Acadêmico, Scielo e Researchgate.

Foram selecionados e incluídos artigos publicados entre os anos de 2000 e 2018, em língua portuguesa. Optou-se pela busca por termos livres, sem o uso de vocabulário controlado (descritores). Com essa estratégia, houve uma recuperação de um número maior de referências, garantindo a detecção da maioria dos trabalhos publicados dentro dos critérios pré-estabelecidos.



3.RESULTADOS

3.1. Mudanças Climáticas

As previsões para o início do próximo século sugerem um aumento da temperatura média global entre 1,8 e 4°C (COSTA; CARNAVAL; TOLEDO, 2018). Dados do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças do Clima demonstram que a concentração atmosférica global de dióxido de carbono, medida em 2005, ultrapassou em muito a média dos últimos 650.000 anos (RIBEIRO, 2015).

As mudanças climáticas estão associadas às atividades humanas com o aumento da emissão de gases de efeito estufa, de queimadas, com o desmatamento, a formação de ilhas urbanas de calor, etc (NOBRE; SAMPAIO; SALAZAR, 2007).

Acerca das influências da economia nas mudanças climáticas, Sawyer (2011) afirma que as premissas da economia são: crescimento, produtividade e competitividade, e buscam convencer as pessoas de que os ganhos se configuram por necessidade, sempre de maneira positiva. Quanto ao crescimento, a ciência econômica realmente existente considera, com clareza, que constitui uma espécie de panaceia resolutória de todos os problemas. Embora seja contraditório que a economia trate dos recursos escassos, mas ignora que os recursos da natureza são finitos.

A economia adquiriu o perfil contemporâneo com base no processo de anulação das questões norteadoras e de suas expectativas, porém tem se distanciado de críticas sobre crescimento, desenvolvimento, competitividade e produtividade, ou como os de produção, riqueza, consumismo e trabalho. Assim, os discursos sobre economia e crescimento, parecem ignorar que o acúmulo de riquezas induz ao consume e o consume descontrolado resulta no esgotamento dos recursos ambientais, e esses, por sua vez causam alterações climáticas (RAMOS, 2012).

Para Goldemberg (2000) há motivos sólidos para afirmar que o crescimento provoca agressões meio-ambientais amiúde irreversíveis, permite o esgotamento de recursos escassos que não vão estar à disposição das gerações vindouras e não facilita a coesão social.

As agressões ambientais são suprimidas quando geram riqueza. O PIB ignora o capital natural, de tal forma que muitos dos incrementos computados nesse índice ocultam o consumo de recursos escassos que, pela sua parte, e nos fatos, esconde uma fonte futura de recessão (NOBRE; SAMPAIO; SALAZAR, 2007). As magnitudes macroeconômicas convencionais interessam-se raramente, noutro terreno, pela qualidade dos sistemas educativo e sanitário, e em geral pelas atividades que acrescentam o bem-estar ainda que não acarretem produção e gasto. Para rematar, a maioria desses índices parece supor que a distribuição da renda é equitativa, de tal maneira que, em virtude dum gigantesco equívoco, se considera que o PIB por cabeça é um termômetro decisivo para avaliar os níveis de vida e de salário (DO NASCIMENTO, 2012).

Barbosa (2008) afirma que ao longo da história a espécie humana viveu de maneira sóbria, protagonizando um impacto muito menor no ecossistema. Em contrapartida, nossa geração, através do consumo de combustíveis fósseis, a espécie humana engole a cada ano o equivalente a quatro séculos de energia solar do passado, porquanto teria de realizar um enorme esforço para retornar a um cenário mais austero; de fato, com os atuais níveis de consumo é provável que em pouco tempo os combustíveis fósseis criados ao longo dum milhão de anos estarão esgotados.

Para os autores Costal, Carnaval e Toledo (2018) a única certeza que as mudanças climáticas reforçam ao longo dos anos é que as condições climáticas do planeta têm consequências diretas sobre os biomas e o comprometimento da biodiversidade e influenciam as condições de vida humana com o aquecimento global.

3.2 Mudanças Climáticas e Impactos na Biodiversidade Amazônica

Os estudos científicos sobre a biodiversidade do Brasil e sua geografia ainda estão no estágio exploratório, mas sabe-se que a Amazônia desempenha um papel importante no ciclo de carbono planetário, e pode ser considerada como uma região de grande risco do ponto de vista das influências das mudanças climáticas (NOBRE; SAMPAIO; SALAZAR, 2007).

De acordo com Salati (2001, p. 176) o equilíbrio dinâmico da atmosfera amazônica está sujeito a forças de transformação que levam às variações climáticas e podem ser estudadas sob três diferentes aspectos:



I. Variações climáticas na região podem ser devidas às variações climáticas globais, decorrentes de causas naturais.

II. Mudanças climáticas de origem antrópicas, decorrentes de alterações do uso da terra dentro da própria região amazônica.

III. Variações climáticas decorrentes das mudanças climáticas globais provocadas por ações antrópicas” (SALATI, 2001, p.176).



Para a Amazônia, se houver redução de precipitações induzidas pelas mudanças climáticas globais, estas se somam às reduções previstas como resposta ao desmatamento, aumentando sobremaneira a suscetibilidade dos ecossistemas amazônicos ao fogo e causando a redução das espécies menos tolerantes à seca, podendo até induzir uma “savanização” de partes da Amazônia (CONTI, 2005).

Quanto a “savanização”, Cândido et al. (2007) afirmam que nos últimos 60 anos, o desmatamento atingiu cerca de 20% da floresta Amazônica e a temperatura na região subiu 1ºC. Se a temperatura aumentar 4ºC e o desmatamento atingir o patamar de 40%, há risco de savanização no Sul e no Leste da Amazônia. Isso significa que a floresta tropical vista hoje poderá dar lugar a uma paisagem próxima à das savanas africanas, de campo ralo, árvores esparsas e menos folhas.

Para Nobre, Sampaio e Salazar (2007) a Amazônia vem sendo submetida a pressões ambientais de origem antrópica crescentes nas últimas décadas, tanto pressões diretas advindas dos desmatamentos e dos incêndios florestais, como pressões resultantes do aquecimento global. A estabilidade climática, ecológica e ambiental das florestas tropicais amazônicas está ameaçada por essas crescentes perturbações, que, ao que tudo indica, poderão tornar-se ainda maiores no futuro.

A ciência ainda não consegue precisar a quanto se está de um possível ponto de ruptura do equilíbrio dos ecossistemas e mesmo de grande parte do bioma Amazônico, mas o princípio da precaução aconselha-se a levar em consideração que tal ponto de ruptura pode não estar distante no futuro. Um colapso de partes da floresta tropical trará consequências adversas permanentes para o planeta Terra (BENTES, 2005).

Figura 1 – Taxas Anuais de Desmatamento na Amazônia brasileira de 1978 a 2005.

Fonte: Fearnside (2006).



Para Castro (2008) os principais impactos do desmatamento na Amazônia são: de uso sustentável, da biodiversidade, da água. Fearnside (2006, p. 397) corrobora com a afirmação que

A floresta amazônica tem uma série de ligações de retroalimentação com e mudança climática que representa uma ameaça séria à existência da floresta e para a continuação de seus serviços ambientais. Um mecanismo é por perda de evapotranspiração, assim reduzindo a precipitação a ponto em que a floresta deixa de ser o tipo de vegetação favorecido pelo clima da região” (FEARNSIDE, 2006, p. 397).

Marengo e Nobre (2005) afirmam que além da repressão ao desmatamento em áreas onde o desmatamento já é bem avançado em propriedades privadas, decisões de governo terão grande efeito sobre a taxa de desmatamento regional quando obras de infra-estrutura de transporte forem aprovadas e construídas.

Os impactos da biodiversidade atingem também as comunidades tradicionais da Amazônia. De forma isolada, observa-se que hábitos e costumes podem ser extintos quando, por exemplo, plantas são dissipadas. Para ilustrar, Santilli (2002) citam que as comunidades tradicionais amazônicas correm o risco de ter que pagar “royalties” para a indústria farmacêutica multinacional.

Os diversos povos indígenas amazônicos (Kaxinawá, Ashaninka, Jaminawa, e outros) que utilizam a “ayahuasca”, planta medicinal e de alto valor espiritual, em rituais xamânicos. O patenteamento do “ayahuasca” foi requerido pelo norte-americano Loren Miller ao Patent and Trademark Office, agência responsável pelo registro de patentes e marcas comerciais, e amplamente contestado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA). Quando concedida, a patente confere a seu titular um monopólio sobre a utilização, produção e comercialização dos produtos e processos patenteados. É o principal instrumento legal do direito de propriedade intelectual ocidental” (SANTILLI, 2002, p.167).

Mendes, et al (2008) afirmam que os ribeirinhos tradicionais vivem em agrupamentos familiares e que para essas comunidades o desenvolvimento humano é um processo que se dá ao longo do tempo, na medida em que o sujeito interage com o seu ambiente. Todavia, a noção de ambiente no modelo bioecológico vai além do espaço imediato no qual o sujeito está inserido, sendo distinguido em função do nível de proximidade/distanciamento do indivíduo com o contexto.

Assim, observa-se que, se indivíduo perde a proximidade ou distancia-se do seu contexto, de suas raízes e identidades culturais, não há desenvolvimento humano nestes locais. Os impactos, então, passam a ser não apenas extrínseco, mas intrínseco.



3.3 Mudanças Climáticas e os Planos de Desenvolvimento Sustentáveis

Barbosa (2008) afirma que o termo “Desenvolvimento Sustentável” surgiu por meio dos estudos da Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como retorno às demandas da sociedade em meio à crise ambiental e social. Na Conferência das Nações Unidas (Rio 92) desenvolveu-se o relatório conhecido como “Nosso Futuro Comum” com informações coletadas para pesquisa e análise da comissão que destacou o uso e ocupação da terra, o aprovisionamento de água, os abrigos sociais, educativos e sanitários e a gestão do crescimento urbano. Em relação aos recursos naturais, Sachs (2000, p. 76) afirma que a Conferência das Nações Unidas “avaliou a capacidade da biosfera de absorver os efeitos causados pela atividade humana, e afirmou que a pobreza já pode ser considerada como um problema ambiental e como um tópico fundamental para a busca da sustentabilidade”.

Ainda na Conferência das Nacões Unidas, desenvolveu-se o documento intitulado Agenda 21 e definiu três princípios básicos a serem cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade social (BUARQUE, 2002). O desenvolvimento sustentável deve ser uma consequência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental, como demonstra a figura 2.

Figura 2 – Parâmetros para o alcance do Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: Barbosa (2008).

Brüseke (2003, p.36) afirma que

A sustentabilidade emerge da crise de esgotamento das concepções de desenvolvimento, enquadradas nas lógicas da racionalidade econômica liberal. Uma racionalidade eufórica associada ao movimento incessante para frente da razão, da ciência, da técnica, da indústria e do consumo, na qual o desenvolvimento – uma aspiração imanente da humanidade – expurgou de si tudo o que o contraria, excluindo de si a existência das regressões que negam as consequências positivas do desenvolvimento” (BRÜSEKE, 2003, p.36).

As intenções dos planos de desenvolvimento sustentáveis emergem da da ideia do limite para o progresso material e a defesa da ideia de crescimento constante. Entretanto, adotar a noção de desenvolvimento sustentável corresponde a seguir uma prescrição de políticas sustentáveis que efetivamente aconteçam e sejam capazes de mudar hábitos de consumo e desenvolver o senso de responsabilidade ambiental.



4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

As consequências geradas durante séculos do descaso com as questões ambientais, nos remete a questões fundamentais: como é possível aumentar a pesca quando se está liquidando a vida nos mares; ou com o aumento da produção agrícola enquanto se extermina aquíferos e contamina-se reservas de água doce? E sobre o aquecimento global causado pela produção de automóveis e outras cadeias produtivas?

O ponto de partida e hipótese fundamental a ser repensada é que é impossível a humanidade continuar a crescer economicamente mantendo o estilo de vida das economias desenvolvidas ocidentais. O principal desequilíbrio que o crescimento produz é o excesso de emissão de dióxido de carbono, que produz o aquecimento global.

Além deste problema, que é dramático e coloca em questão a sobrevivência humana enquanto espécie sobre o globo, há os problemas ecológicos mais corriqueiros, como destruição das florestas, acúmulo de detritos, entulhos e lixo em geral, esgotamento dos recursos minerais, entre inúmeros outros desequilíbrios que o atual padrão de desenvolvimento produz.

A biodeversidade Amazônica está comprometida e precisa de ações exequíveis urgentes para preservar o que ainda resta do bioma. Os planos de desenvolvimento sustentáveis propostos por países com o intuito de combater as mudanças climáticas têm excelentes propostas, mas são executados de forma lenta em relação ao crescimento populacional e as demandas de consumo que este crescimento acarreta.



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Ilustrações: Silvana Santos