Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dicas e Curiosidades
27/09/2019 (Nº 69) ALBERTO LOEFGREN: O DESAPARECIMENTO PREMATURO DO PATRONO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA EM SP
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ALBERTO LOEFGREN: O DESAPARECIMENTO PREMATURO DO PATRONO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA EM SP

Felipe Zanusso

Há exatos 101 anos, em 1918, a “Sciencia” brasileira perdia, aos 63 anos, Alberto Loefgren! Mas quem foi esse tal de Loefgren?

O esquecimento (ou banimento) de personalidades importantes para a história do país, sabemos, não é exclusividade da área ambiental.  E foi durante o desenvolvimento de minha pesquisa de doutorado no NEPAM/ UNICAMP, que me deparei com textos e ideias de profissionais que atuaram na conservação da natureza em São Paulo nos séculos XIX e XX que me veio a questão: Por que esses escritos, apesar de tão atuais, são tão pouco referenciadas e utilizados por nós?

Entre esses nomes, está o do sueco Alberto Loefgren. Desde então, em conjunto com colegas como Paulo Muzio, Natália Ferreira e Robinson Dias (e outros),  buscamos divulgar e disponibilizar textos, trabalhos e as ideias desenvolvidas por ele. Em 2018, através do link , disponibilizamos diversos textos, incluindo um raro, intitulado “Para que serve um Serviço Florestal em S. Paulo?” que trata da criação do embrião do então Instituto Florestal, 1ª instituição destinada a atuar na conservação e recuperação das matas de SP. Além disso, realizamos caminhadas históricas; publicamos informações em redes sociais; fazemos palestras; pesquisamos e etc. buscando falar da sua importância e de outras personalidades.

Para nós, mitos devem ser educadores + conservacionistas + protetores da natureza!

Mas vamos lá… esse breve texto não tem como objetivo divulgar a obra e legado de Alberto Loefgren – Patrono da Conservação da Natureza em SP!!!

Porém, considerando que ele faleceu em 30 de agosto de 1918, na cidade do Rio de Janeiro, buscamos prestar nossa singela homenagem relembrando o que sentiram os cientistas e amigos com o seu “desapparecimento prematuro” através trechos de documentos publicados na época. Esse material que garimpamos está disponível no link.

Seu legado, apesar de pouco reconhecido naquela época (veja transcrições abaixo), é vasto e está no cotidiano de muitos brasileiros e de instituições como:

Instituto Florestal + Museu Florestal + Museu Paulista da USP + Festa das Árvores + Instituto Geológico  + Parque Jardim da Luz + Parque Estadual Alberto Löfgren (Horto Florestal/Parque Estadual da Cantareira + Instituto de Botânica/Jardim Botânico de SP + Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP + Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP + Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

Vale ressaltar que Loefgren foi um dos primeiros a falar da importância da criação das reservas naturais no Estado de São Paulo.

Os centros scientificos brasileiros cobriram-se de luto, em 30 de agosto de 1918, com a morte de mais um dos seus dedicados collaboradores, que foi o illustrado botânico Alberto Lofgren, fallecido no Rio de Janeiro em 30 de Agosto desse anno, quando exercia o cargo de chefe da secção de botânica e phjsiologia vegetal do Jardim Botânico do Rio de Janeiro de nossa metrópole. Lofgren era um dos mais profundos conhecedores desse ramo das sciencias naturaes na America do Sul, tendo-se especializado no estudo da Flora brasileira, ao qual se dedicou com grande afinco e assiduidade durante mais de 40 annos de vida laboriosa e util” (Revista do Museu Paulista da USP – 1919).

Com o desapparecimento de Alberto Lõfgren perdeu o Brasil um dos mais esforçados estudiosos da sua opulenta natureza vegetal”.

Lofgren serviu com devoção á natureza do Brasil, elucidando muitos de seus aspectos. Não lhe valeu isso para que fosse mais commentada a sua morte. Quasi se pôde dizer que fechou os olhos entre a indífferença do publico, embora só fizesse por merecer a gratidão dos brasileiros. Actualmente servia no Jardim Botânico, que não se reparará facilmente da sua perda. No momento em que se cogita de legislar sobre a riqueza vegetal do paíz e está-se elaborando na Camara um Codigo Florestal, a perda considerável de um valor como Lofgren, ligado á natureza do Brasil pelos serviços que elle prestou, tem uma significação desoladora. Quando se pensa em proteger as nossas florestas, a morte do homem que tanto fez por ellas e ainda mais poderia faze-lo agora, tem um sentido de um mau agouro. Dir-se-ia que forças desconhecidas se entenderam para embaraçar a solução do problema vital da nossa riqueza florestal, e começaram por nos ferir no que possuímos de mais precioso e útil ao seu andamento, que é a sabedoria representada em urna capacidade cientifica própria como nenhuma outra, para orientar os estudos que deveriam proceder á elaboração de qualquer código de florestas (Antonio Leão Velloso – Correio da Manhã (2/09/1918).

Sem duvida, a morte do sábio Lofgren foi prematura […] Terminou seus ásperos dias no meio de honestíssima pobreza, deixando para o Brasil, um thesouro em seus livros e, para a nossa sociedade, seis filhos superiormente educados”. (Júlio Conceição – Revista do Museu Paulista 1919)

Alberto Lõfgren propugnou sempre com ardor e enthusiasmo pelo movimento progressista e intellectual da sua pátria adoptiva. Fundou o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; o Centro de Ciências Letras e Artes -CCLA de Campinas; a Sociedade Científica de São Paulo; era sócio correspondente do Instituto Archeologico e Geographico de Pernambuco; do Grêmio e do Instituto Cearense, e sócio fundador e secretario da Sociedade Brasileira de Sciencias. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro nestas concisas linhas, breves traços biográficos de uma existência tão fecunda e digna, rende elevado preito de admiração e respeito á sua memória” (Archivos do Jardim Botânico do Rio).

Não era estritamente geógrafo, mas contribuiu sobremaneira para o adiantamento dos estudos geográficos de que não se afastaram as suas pesquisas, até sucumbir a 30 de agôsto de 1918, pouco antes de completar quatro décadas e meia de fecundas atividades científicas no Brasil”. (Virgilio Corrêa Filho – Revista Brasileira de Geografia)

Que sejamos capaz de continuar seu legado! Viva Alberto Loefgren! 



Felipe Zanusso

Felipe Zanusso fez biologia durante a graduação, quando passou a se interessar pelos temas interdisciplinares associados na gestão de áreas protegidas. Fez mestrado em Ciência Ambiental na USP sobre participação social e conservação da natureza. Foi analista de recursos ambientais da Fundação Florestal. Atualmente é doutorando do Programa em Ambiente e Sociedade da UNICAMP/SP, desenvolvendo o projeto sobre arranjos institucionais da política pública de gestão de áreas protegidas paulistas.



Fonte: HTTP://encurtador.com.br/gtHSU



Ilustrações: Silvana Santos