Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/06/2019 (Nº 68) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNEB EM FOCO
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNEB EM FOCO



Vanessa Ribeiro dos Reis1; Avelar Luiz Bastos Mutim2; Girlene Santos de Souza3

1Mestre em Educaçao e Contemporaneidade pela Univeridade Estadual da Bahaia, professora do centro Estadual de Educação em Turismo do Leste Baiano (CEEP- TLB);

2Professor Titular da Universidade Estadual da Bahia,

3Professora Associada do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia



Resumo: Esse artigo tem por objetivo investigar a inserção do tema Educação Ambiental no currículo dos cursos de Pedagogia que são ofertados na Universidade do Estado da Bahia. No percurso metodológico utilizou-se aportes da pesquisa qualitativa, empregando-se como técnica para coleta de dados a entrevista semiestruturada com alguns coordenadores (as) dos cursos de Pedagogia. A partir dessas informações estabeleceram-se discussões acerca dos documentos e fundamentação teórica a respeito de cada aspecto destacado no sentido de compreender qual a função da Educação Ambiental na formação docente nos cursos de Pedagogia da UNEB. Os resultados revelaram que existe discrepância entre a abundância de documentos oficiais (leis, diretrizes e resoluções) e a tímida presença da Educação Ambiental na estrutura curricular dos cursos de pedagogia de diferentes departamentos da UNEB.

Palavras-chave: Ensino Superior. Currículo. Formação de Professores.



Environmental Education in the Initial Formation of Teachers: The Course of Pedagogy of UNEB in Focus

Abstract: This article aims to investigate the insertion of the theme Environmental Education in the curriculum of Pedagogy courses that are offered at the State University of Bahia. In the methodological course we used qualitative research contributions, using as technique for data collection the semistructured interview with some coordinators of the Pedagogy courses. Based on this information, there were discussions about the documents and theoretical basis regarding each highlighted aspect in the sense of understanding the role of Environmental Education in teacher training in the UNEB Pedagogy courses. The results revealed that there is a discrepancy between the abundance of official documents (laws, directives and resolutions) and the timid presence of Environmental Education in the curricular structure of the pedagogical courses of different UNEB departments.

Keywords: Higher education. Curriculum. Teacher training.



1 Introdução

É notório que um dos elementos de fragilidade da prática da temática ambiental nas escolas é a formação inicial dos (as) professores (as) e ao mesmo tempo fator principal para superação da crise ambiental. Apesar da obrigatoriedade da inserção da Educação Ambiental (EA) nas universidades estabelecidas nos documentos oficiais, sua prática é ainda muito reduzida. A EA precisa ser prioridade para que de fato se consolide como uma política pública que possa atender as demandas de escolas e universidades. O currículo em escolas e universidades continua compartimentado pelas disciplinas e sendo tímidos os avanços na perspectiva interdisciplinar e transversal. E para que haja formação integral dos (as) estudantes e sejam fortalecidas ações sustentáveis nas escolas e universidades, diante da comprovada contribuição da EA para o enriquecimento e dinamização do processo de ensino, garantindo uma aprendizagem voltada para formação do cidadão.

Apesar da preocupação de poucos relacionados à temática ambiental, é possível perceber algumas atividades, pesquisas e projetos desenvolvidos em diversos setores da sociedade, com a finalidade de educar e sensibilizar as comunidades para as questões ambientais, mobilizando para a mudança de atitudes e a apropriação de posturas favoráveis para alcance de um equilíbrio ambiental. É evidente então que houve conquistas em relação à EA, porém, é insuficiente para a rapidez em que se encontra a degradação ambiental. Deste modo, estudar as questões ambientais é colaborar para a formação de cidadãos (ãs) conscientes, responsáveis e críticos (as), e isso com certeza, é um grande desafio aos (às) docentes e toda a equipe educacional.

Assim sendo, é necessário que os (as) professores (as) de todos os cursos de Licenciatura tenham um conhecimento acerca do tema EA para que possam disseminar sua importância com seus (uas) educandos (as), levando-os (as) a construir uma relação mais sustentável com o ambiente em que vivem. Para isso, além da formação inicial de qualidade, é importante a promoção de espaços de formação continuada que lhes permitam a (re)construção de conhecimentos específicos e pedagógicos em torno do processo de ensino e aprendizagem.

O referido artigo tem como objetivo investigar a inserção do tema Educação Ambiental no currículo dos cursos de Pedagogia que são ofertados nos diversos campi da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) confrontando com o que vem sendo proposto com as recomendações da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA).

Esta pesquisa possui abordagem qualitativa e para uma maior compreensão da realidade estudada, optou-se como instrumento de coletas, a aplicação de uma entrevista semiestruturada, com dois(uas) coordenadores (as) dos cursos, para obtenção de algumas informações a respeito da inserção da temática ambiental nos cursos. A intenção era realizar as entrevistas com representantes do Núcleo Docente Estruturante (NDE), pois, este é o responsável pela formulação e alterações do Projeto Pedagógico de Curso, porém, no momento da realização da pesquisa esse núcleo ainda não havia sido formado, por isso, não foi possível desenvolver a entrevista com esses representantes, optando-se dessa forma para os coordenadores de cursos. Sendo que os (as) coordenadores (as) foram escolhidos (as) de acordo com a localização geográfica dos campi em relação ao campus que foi realizada a pesquisa (Salvador – Campus I), escolhidos também por apresentar fluxogramas diferentes.

A coleta de dados só foi iniciada após recebimento de parecer favorável do CEP (CAAE: 56201916.0.0000.0057), sendo que foi realizada mediante assinatura do Termo de Consentimento e aplicação do roteiro de entrevista semiestruturada, instrumento de pesquisa construído pelos autores, o qual buscou verificar a inserção da temática Educação Ambiental nos cursos de Pedagogia.

Assim, espera-se que o resultado desse estudo se constitua uma importante base de informações para futuras pesquisas, partindo-se da premissa de que a prática dos (as) docentes relacionada ao tema Educação Ambiental tem influência significativa na construção da cidadania dos (as) discentes. Essa pesquisa é importante, pois, foi realizado um estudo dos processos educacionais envolvidos nessa problemática vivenciada na contemporaneidade, analisando assim os processos de formação dos (as) professores (as) através da análise dos cursos de Pedagogia da UNEB.

E a partir das discussões e reflexões desenvolvidas nesse curso de formação de professores (as), com os resultados dos dados, terá um retorno acerca da formação do (a) professor (as) sobre a temática ambiental na UNEB, oferecendo condições para que o (a) futuro (a) pedagogo (a) seja atuante permanentemente nesse processo de maneira crítica e reflexiva, assim como a realização do presente estudo, fornecerá dados que servirão como base para intervenções na educação superior como instrui os documentos oficiais que regem a Educação Ambiental.

2 Contribuições da Educação Ambiental para o currículo das Licenciaturas

Estudos realizados sobre a Educação Ambiental confirmam a necessidade de divulgação e capacitação para a inserção desta temática nas disciplinas pelo corpo docente de maneira como instrui os documentos oficiais, quando indica que
"[...] a temática ambiental está presente tanto no trabalho dos professores como no material didático, mas não é trabalhada interdisciplinarmente como determina a legislação de educação ambiental" (OLIVEIRA, 2009, s/p).

Existem estudos que revelam as causas da dificuldade de inserir a Educação Ambiental no sistema de ensino. A temática ambiental é percebida muitas vezes pelo (a) docente de maneira esporádica, fragmentada e por meio de iniciativa de alguns (mas) professores (as) como o (a) de Ciências, Biologia e Geografia, justamente por falta de conhecimento de referenciais teóricos e capacitação, carência que vem já desde a graduação. Conforme Medina (2001, p. 18):

[...] a essas dificuldades acrescentam-se as formas muitas vezes simplistas com que tem sido concebida e aplicada a Educação Ambiental, reduzindo-a a processos de sensibilização ou percepção ambiental, geralmente orientados pela inserção de conteúdos da área biológica, ou a atividades pontuais no Dia do Meio Ambiente, do Índio, da Árvore, ou visitas a parques ou reservas. Não queremos negar a importância dessas atividades, apenas assinalar que elas são necessárias, mas não suficientes, para desenvolver conhecimentos e valores, tais como eles são postulados nos PCN de Meio Ambiente e de Ética.

Sabendo-se que o processo educativo pode colaborar muito para a superação do presente quadro de degradação ambiental, é necessário que a escola encontre-se preparada para trabalhar a temática ambiental, e para isso é necessário ter professores (as) capacitados (as) para essa prática. O espaço escolar ainda é um importante lugar para trabalhar a relação homem-ambiente-sociedade, sendo um espaço adequado para formação do (a) cidadão (ã) novo (a), crítico (a) e criativo (a), com uma visão de mundo que supere a ideia do antropocentrismo (MELLER, 1997). Seguindo esse direcionamento, a escola desempenha um dos papéis mais importantes, pois cabe à mesma informar, pesquisar e formar futuros (as) gestores (as) da sociedade humana (ARAUJO; SOARES, 2010). 

A Educação Ambiental, conforme a lei n° 9.795 da Política Nacional da Educação Ambiental, de 27 de abril de 1999, “é um componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo formal e não-formal”. Essa Lei que em 2017 está completando dezoito (18) anos de instauração apresenta que a EA possui caráter humanista, holístico, interdisciplinar e participativo e que a temática pode contribuir muito para renovação do processo educativo, trazendo a inserção dos conteúdos à realidade local e o envolvimento dos (as) discentes em ações concretas de transformação da realidade.

Ainda segundo a PNEA (BRASIL, 1999, s/p) no seu artigo 10, “A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal”, e especifica que “a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”. A Educação Ambiental é apresentada na PNEA como processo, sendo assim, deve perpassar por toda a vida, iniciando na educação infantil, prosseguindo sem interrupção, aprimorando-se a novos significados sociais e científicos. E para que realmente a EA alcance estes objetivos, precisa atingir variados métodos, dentre eles, o preparo dos (as) educadores (as). Nesse sentido, não deve constituir-se como disciplina específica do currículo.

No que se refere aos cursos de formação de professores (as) – os cursos de Licenciaturas – segundo o artigo 11 da PNEA, “a dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas” (BRASIL, 1999, s/p). A integração de todo o corpo docente ao trabalhar a temática ambiental ainda é mal entendida e pouco utilizada em projetos e no cotidiano escolar, e isto está relacionado ao fato de que a maioria dos (as) docentes não estar capacitada para trabalhar com esses temas e de trabalharem em equipe (TELLES, et al., 2002). Em consequência de uma formação inicial ou continuada que não capacita adequadamente os profissionais da educação para o trabalho com as questões ambientais, o despreparo dos (as) docentes é apontado por autores como Guimarães (2004) e Reis et. al (2014) como uma das dificuldades existentes para a inserção da Educação Ambiental no ambiente escolar. Conforme os autores, em pesquisas realizadas sobre a inserção da Educação Ambiental em algumas licenciaturas, foram verificados que a formação inicial não contempla o trabalho com a temática da EA ou o faz de forma incipiente.

A Lei 12.056/11 da Política Estadual de Educação Ambiental (BRASIL, 2011, s/p) apresenta que a inserção do tema no estado da Bahia deve ser “em todos os níveis e modalidades de ensino deverão ser incorporados conteúdos que tratem da ética socioambiental nas atividades a serem desenvolvidas” e ainda que a Educação Ambiental “precisa ser inserida de forma transversal nos currículos em todos os níveis e modalidades de ensino”. No documento que trata do Programa de Educação Ambiental do Estado da Bahia – PEA/BA (2013, s/p) discute que a Educação Ambiental no Ensino Formal deve “estimular a adequação dos currículos de cursos do ensino superior, técnico e profissionalizante a fim de incentivar a atuação dos futuros profissionais enquanto agentes de mudanças socioambientais”.

A Resolução do Conselho Estadual de Educação n.11 de 2017 (BAHIA, 2017), dispõe sobre a Educação Ambiental no Sistema Estadual de Ensino da Bahia, nesse documento discute no artigo 6 que a inserção desse tema no currículo tanto da Educação Básica como da Superior deve ser realizada por meio de abordagem integrada e interdisciplinar. No parágrafo único apresenta que “A Educação Ambiental requer a interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento e articulação entre diferentes componentes curriculares e em atividades extraclasses”. Deixando claro também que a responsabilidade da formação inicial dos professores para a Educação Ambiental é das instituições de Ensino Superior que deverá abranger nos currículos as dimensões políticas e pedagógicas da EA, já a formação continuada dos professores para essa temática fica com a responsabilidade das Secretarias de Educação e de instituições de ensino.

Outra forma de legitimar a Educação Ambiental é no PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) de Meio Ambiente que é inserido sendo um dos temas transversais. Nele, traz que a EA deve ser trabalhada enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos. Logo, como tema transversal e interdisciplinar, a EA deve estar presente em todas as disciplinas, perpassando seus conteúdos, como é desejado pelos pesquisadores. As vantagens de ser abordada assim é a possibilidade de uma visão mais integradora e melhorada na compreensão das questões socioambientais. Apesar das orientações, a prática de Educação Ambiental no ensino formal, em muitos casos, ainda ocorre de maneira pontual, descontínua, esporádica, vinculada, principalmente, à disciplina de Ciências (LOUREIRO, 2009).

Uma das causas apontadas pela carência da inserção da temática ambiental nos espaços educacionais é a falta de políticas públicas que sejam mais ativas para a inserção da temática ambiental no currículo escolar. Assim como fiscalização e pesquisas que levem à compreensão dos elementos necessários para atingir a superação da carência observada nessa temática.

3 Educação Ambiental na Formação do (a) Pedagogo (a)

A temática Ambiental pode ser inserida de diversas maneiras no Ensino Superior, e isso vai depender do público que pretende ser atingido, das demandas e objetivos a serem alcançados pelo pesquisador (PEDRINI, CAVASSAN, CARVALHO, 2014, p. 175). A Lei 9.795 da Política Nacional de Educação Ambiental (1999) institui que a Educação Ambiental seja praticada de maneira integrada, contínua e permanente, de forma transversal e interdisciplinar, sendo estas recomendações aplicadas a todos os níveis de escolaridade no ensino formal. Entretanto, nos cursos de pós-graduação, extensões e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da Educação Ambiental, podem ser facultadas a criação da disciplina específica, quando necessário.

A depender dos objetivos que almejem atingir, há inúmeras opções a serem selecionadas, deixando na maioria das vezes, os (as) docentes em dúvida de qual método a ser escolhido para que as metas sejam atingidas. De acordo com Pedrini, Cavassan e Carvalho (2014, p. 177), “na Educação Ambiental como disciplina, a interdisciplinaridade é de difícil aplicação, não havendo disponíveis paradigmas seguros que a embasem”, já para Sorrentino et al. (2005), apenas uma disciplina ou saber não suprirá toda a complexidade da questão ambiental e faz o questionamento de como promover a cooperação e o diálogo entre disciplinas e saberes nesta sociedade que é competitiva, individualista e excludente.

Leff (2004) defende a abordagem do tema numa dimensão que possa permear e promover a interação com todas as áreas de conhecimento e atividades formativas, com o objetivo de superar a visão compartimentalizada do conhecimento. Conforme Leff (2001, p. 220), “a questão ambiental é uma problemática social que transcende a incumbência das universidades, a reciclagem de profissionais e a refuncionalização da educação superior”, para o autor, o saber ambiental questiona todas as disciplinas e todos os níveis do sistema educacional, a formação ambiental discute os métodos tradicionais de ensino, inserindo novos desafios à transposição do saber.

A Educação Ambiental exige, no entanto, atitudes novas dos (as) docentes e discentes, novas relações sociais para produzir o saber ambiental, e a universidade exerce um importante papel no processo de transformações do conhecimento e mudanças sociais. Por isso, para Leff (2001, p. 221):

As universidades devem abrir-se a um processo de pesquisa em conjunto com as comunidades e populações nas quais existem problemas ambientais, captando os problemas ambientais, captando os problemas a partir das bases e desenvolvendo a elas o saber elaborado para sua aplicação em programas e projetos de gestão ambiental. [...] A formação ambiental implica assumir com paixão e compromisso a criação de novos saberes e recuperar função crítica, prospectiva e propositiva do conhecimento; gerar um saber eficaz e inventar utopias capazes de levar os processos de mudança histórica a ideias de igualdade, justiça e democracia [...]

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental estabelecem no artigo 19 que:

Os órgãos normativos e executivos dos sistemas de ensino devem articular-se entre si e com as universidades e demais instituições formadoras de profissionais da educação, para que os cursos e programas de formação inicial e continuada de professores, gestores, coordenadores, especialistas e outros profissionais que atuam na Educação Básica e na Superior capacitem para o desenvolvimento didático-pedagógico da dimensão da Educação Ambiental na sua atuação escolar e acadêmica.

§ 1º Os cursos de licenciatura, que qualificam para a docência na Educação Básica, e os cursos e programas de pós-graduação, qualificadores para a docência na Educação Superior, devem incluir formação com essa dimensão, com foco na metodologia integrada e interdisciplinar (BRASIL, 2012, s/p).

Tozoni-Reis e Campos (2014) defendem a formação inicial dos (as) professores (as) da educação básica que possibilite a formação de um (a) professor (a) culto (a), intelectual crítico (a) e transformador (a). E para que os desafios educativos em relação ao saber ambiental sejam vencidos faz-se necessário a formação continuada dos (as) educadores (as), pois, “sem que haja uma compreensão das questões ambientais […] buscando a construção de valores e atitudes, as ações tendem a se tornar descaracterizadas como alternativas para a renovação da prática pedagógica” (TORALES, 2013, p. 9), desta forma, a formação de educadores (as) deve ser considerada prioritária.

Para Santos (2012, p. 750), a formação dos (as) professores (as) é
“uma das mais importantes estratégias para a melhoria da educação brasileira e o desenvolvimento da educação ambiental [...] de modo a favorecer a consecução da sustentabilidade ambiental”. De acordo com essa autora, a formação continuada de professores (as):

[...] articulada a outras iniciativas que possibilitem a implementação das ideias e aprendizagens é fundamental para melhoria educacional. Isso demonstra o reconhecimento que a prática pedagógica envolvendo educação ambiental não se faz isoladamente, mas em conjunto com as outras pessoas que constituem o coletivo da escola (SANTOS, 2012, p. 759).

Para Guimarães (2004, p. 30), a Educação Ambiental possibilita um método educacional em que “nesse exercício, estejamos, educadores e educandos, nos formando e contribuindo, pelo exercício de uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos”.

A partir da análise e reflexões dos artigos e documentos oficiais sobre a Educação Ambiental é possível demonstrar que é indispensável à formação continuada dos profissionais na área da educação, incluindo docentes, gestores (as), equipe pedagógica e funcionários (as) para assim potencializar as práticas pedagógicas relacionadas à sustentabilidade. Assim como o envolvimento dos demais membros da comunidade escolar nesse processo, como os (as) discentes e comunidade local para que a prática da Educação Ambiental se consolide no ambiente escolar e que as decisões a serem tomadas sejam democráticas e compartilhadas.

4 Como inserir a temática nos cursos de formação de professores (as)?

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (BRASIL, 2006, p. 5) apresenta que o profissional está habilitado a exercer a profissão de diversos modos: i) docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; ii) docência nos cursos de ensino médio, modalidade normal; iii) docência na educação profissional em cursos das áreas de serviços e apoio escolar, além daqueles que demandem a especificidade do conhecimento do profissional da Pedagogia; iv) atuação na administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio); v) atuação em pesquisa.

Essa consistência na formação pedagógica do futuro pedagogo precisa estar alicerçada nas seguintes dimensões: na Docência na Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas disciplinas pedagógicas do curso de Ensino Médio na modalidade Normal, na Educação de Jovens e Adultos, assim como na Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, além de outras áreas nas quais os conhecimentos pedagógicos sejam previstos, a exemplo de gestão escolar e educacional, entendida numa perspectiva democrática, integrando as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos escolares e não-escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área de educação; além de atuar na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional. (BAHIA, 2007, p. 32).

As Diretrizes Curriculares Nacionais definem os pilares e os contornos da formação do licenciado em pedagogia estabelecendo que deva propiciar, por meio de investigação, reflexão crítica e experiência no planejamento, execução, avaliação de atividades educativas, a aplicação de contribuições de campos de conhecimentos, como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural. Com o propósito de observar, analisar, executar e avaliar a ação docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de processos educativos escolares e não-escolares, além da organização, funcionamento e avaliação de sistemas e de estabelecimentos de ensino. (BRASIL, 2006, p. 6).

Através de estudos pode-se perceber que a prática de maneira pouco efetiva da temática ambiental nos cursos de graduação ocasiona na formação de profissionais despreparados para trabalhar adequadamente essa temática quando vão para sala de aula. De acordo com Loureiro e Cossío (2007), as políticas públicas devem estimular os debates e a reestruturação das licenciaturas referente à inserção da temática ambiental de forma mais concreta em seus currículos.

Nesse sentido, são necessárias algumas medidas como a
“reorganização das licenciaturas, incluindo a pedagogia, como forma de assegurar a presença ou mesmo a obrigatoriedade da educação ambiental nos cursos de formação inicial dos professores” (LOUREIRO; COSSÍO, 2007, p. 62).
Dessa forma, pode-se compreender que a Educação Ambiental não pode estar dissociada da formação do (a) professor (a) pedagogo (a), que por sua vez, serão formadores de cidadãos (ãs) multiplicadores (as) da consciência planetária.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia destaca também que o egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a:
“demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras”
(BRASIL, 2006, p. 2). Nesse sentido, nos documentos que institui os cursos de Pedagogia apresenta à importância da inserção da temática ambiental ainda durante a formação inicial.

A Educação Ambiental no âmbito da formação inicial de professores (as) tem exigido uma ampla reflexão sobre os cursos universitários e uma profunda análise do processo de inserção da dimensão ambiental nas práticas pedagógicas dos (as) futuros (as) professores (as). A respeito disso, Manzano (2003, p. 10) diz que:

(...) os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental têm apresentado uma formação, em geral, deficiente em conteúdos específicos. Apesar da dedicação desses profissionais, carecem de estudos sobre a presença de atividades, projetos e ações sobre o tema meio ambiente em suas práticas, bem como sobre a origem das informações utilizadas por esses professores em sua atividade docente.

As aulas são espaços ideais para realização desse processo, pois é onde se desencadeiam experiências e vivências formadoras de consciências mais vigorosas porque são alimentadas no saber (PENTEADO, 2000, p. 16) e para que a escola desenvolva práticas em EA algumas medidas devem ser tomadas. Dentre essas medidas, é necessário que os cursos de formação de professores (as) formem profissionais capacitados ambientalmente e que professores (as) de todas as disciplinas e equipe pedagógica assumam a responsabilidade de trabalhar essa temática que é tão importante no trabalho cotidiano das instituições de educação.



5 Percepção das coordenadoras dos cursos de Pedagogia da UNEB em relação à temática ambiental

Inicialmente as coordenadoras foram questionadas em relação à concepção de Educação Ambiental que permeia o curso de Pedagogia da UNEB no campus em que atuava e as respostas foram:

Não há uma concepção, ou melhor, a concepção seria ainda uma desarticulação entre o conteúdo da Educação Ambiental e da Pedagogia. Parece que todas essas, digamos, essas áreas de conhecimentos afins elas ainda não são bem articuladas numa proposta curricular, então ela chega como disciplinas, que essa é uma questão problemática, porque elas chegam como mais um e elas não norteiam na verdade o projeto pedagógico do curso. [...] Então a concepção para mim é de uma situação desarticulada, desintegrada, sem uma compreensão mais ampla de que são conteúdos transversais que deveriam orientar uma proposta de projeto político pedagógico. [Coordenadora 1]

Daqui do campus I não tem nenhuma orientação geral em relação a este tema, a única indicação que tem nas discussões que são apresentadas no projeto do curso são em relação a abordagem dos temas transversais que é uma obrigatoriedade conforme as diretrizes e a gente tem uma orientação geral por conta da formação do pedagogo em relação a isso. Então a concepção é integral e é integralizada às discussões de meio ambiente, mas Educação Ambiental propriamente dita não tem nenhuma indicação específica. [Coordenadora 2]

A partir dos depoimentos que foram apresentados durante as entrevistas ficou evidenciado que não há uma clareza conceitual acerca da temática ambiental nesses cursos de formação de professores. Embora as coordenadoras responderem sobre a proposta do tema que deve ser de forma transversal, percebeu-se nos discursos que isso não acontece, portanto as mesmas compreendem que é grande a necessidade de integração desse tema tão importante com as diversas disciplinas do curso. Além do que foi citado pelas coordenadoras outro ponto também que é indispensável é a articulação das diversas atividades desenvolvidas nos campi como forma de inserir a temática ambiental na universidade contribuindo para a formação dos profissionais. A análise destes dados colaborou para demonstrar que falta mais engajamento para que aconteçam ações mais concretas e coerentes, sendo necessário ressaltar que o maior desafio consiste em um redirecionamento da política institucional.

Ao serem questionadas se a temática ambiental é inserida no curso de Pedagogia e de qual maneira, as coordenadoras responderam que:

Ela hoje está inserida de forma disciplinar, ou seja, você tem uma disciplina e a depender da experiência profissional e de formação que o professor traz para a disciplina, ele consegue articular mais com os outros componentes e com os outros conteúdos ou ele não consegue. [...] Me parece, que assim, para além do divertimento que é válido fazer um trabalho de campo, ela é uma disciplina muito séria e hoje mais do que nunca é uma necessidade pensar como eixo e não como disciplina esse para mim é um grande desafio e assim, a gente não consegue, falando agora do ponto de vista de gestora, de coordenadora de colegiado, a gente não consegue trazê-la como eixo articulador, então essa é uma questão. [Coordenadora 1]

São várias formas, a gente tem como componente curricular optativo um Seminário Temático de 30h que trabalha com Educação Ambiental especificamente, aí tem toda uma discussão em torno da Educação Ambiental, concepções, perspectivas, práticas, mas é um seminário temático e ele é ofertado na medida em que a gente tenha professor para trabalhar com esse seminário. Então normalmente é ofertado semestre sim, semestre não, semestre sim, semestre não, além disso, as discussões de Educação Ambiental elas são obrigatórias em dois componentes obrigatórios que são Teóricos Práticos que são Referenciais Teóricos Metodológicos do Ensino de Ciências Naturais tanto de 60h de Educação Infantil como de 60h do Ensino Fundamental. E, além disso, ela aparece integrada as discussões de Referenciais Teóricos Metodológicos de Geografia que a discussão de Educação Ambiental é bem leve, no que orienta o componente que é bem diferente de Ciências Naturais. [Coordenadora 2]

A partir das respostas compreende-se que a EA em ambos os casos aparecem em forma de disciplina, sendo que no primeiro caso está inserido como disciplina obrigatória e no segundo aparece como componente optativo. A coordenadora que representa os cursos que possui a disciplina obrigatória Educação Ambiental, ainda relatou que a forma como é ministrada essa disciplina depende muito do professor, podendo ser articulado com outros componentes ou não. Já a representante dos cursos que não possui a disciplina obrigatória, mas aparece como optativa, explica que esse componente é ofertado como um Seminário Temático em semestres alternados, além disso, relata que a discussão aparece também em disciplinas de Ciências Naturais e Geografia.

Sabe-se que a Lei nº. 9.795/99 (BRASIL, 1999) que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental determina que a mesma deva ser desenvolvida no ensino formal, sendo ressaltado que não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, mas de modo transversal e interdisciplinar. Porém, ao se tratar da formação de professores, a PNEA orienta que a temática ambiental seja incluída nos currículos, admitindo que isso ocorra por meio de disciplina específica. Apesar de saber que pode ser inserida como disciplina, a referida legislação quando estabelece os princípios a serem seguidos pelas instituições de ensino no que dizer respeito à Educação Ambiental, como dimensão educativa, faz orientação para o desenvolvimento de um processo que seja considerado a interdisciplinaridade. De acordo com Bernardes e Prieto (2010, p. 183), o Conselho Nacional de Educação discute que é necessário reforçar a inserção da EA no projeto pedagógico de todas as instituições de ensino, levando-se em consideração desde a infância até a pós-graduação de forma inter, multi e transdisciplinar como um plano coletivo da comunidade escolar e acadêmica.

Sendo assim, relacionando com as respostas, no caso da Educação Ambiental ser ofertada como disciplina vai depender do (a) professor (a) se vai ter integração com os componentes, e isso é essencial para que tenha aprendizado e conscientização acerca do tema. Já nos cursos que possuem como componente optativo ocorre esse mesmo problema, além disso, como é optativo pode ocorrer do (a) estudante não escolher para cursar, escolhendo outra disciplina e conclua o curso sem ter trabalhado com essa temática. Portanto, acredita-se que ofertando capacitações, reuniões e projetos que discutam a temática, além da sua inserção nos projetos pedagógicos e ementas seriam as melhores formas para que o tema fosse realmente debatido e conhecido pelos (as) estudantes.

Foi perguntado às coordenadoras sobre o instrumento que norteia a discussão da EA no curso de Pedagogia no campus em que atua e as respostas foram que:

[...] Então, existe esse documento sim, o projeto político pedagógico, nesse documento o que é colocado, pessoalmente acho muito aquém, da importância e da necessidade desse conteúdo na formação do profissional, ter uma visão ecológica é muito mais do que limpar rua, do que ir para praia fazer limpeza, ou então, ajudar a comunidade ribeirinha a organizar o lixo, são coisas superimportantes, mas se não está vinculado de uma compreensão mais ampla são ações que para mim não remetem em realmente situações de aprendizagens porque eu entendo essa disciplina no curso de pedagogia tem que estar articulada de forma muito estreita com esse lugar desse profissional como formador de aprendizagem, nesse sentido. [Coordenadora 1]

[...] no curso de maneira geral como uma orientação formativa a gente tem as diretrizes e os próprios referenciais nacionais de Educação Ambiental que eles inclusive são utilizados como eixo geral de formação. E como eixo geral de formação como é indicativo do currículo, por exemplo, disciplina como a que eu ministro Currículo e Educação, ele é um que é abordado, nos Referenciais Teóricos Metodológicos de Geografia, de Ciências Naturais ele é utilizado, nos estágios de Educação Infantil e Ensino Fundamental eles são utilizados. Então, como orientadores do currículo, a gente tem esses documentos. [Coordenadora 2]

Embora as coordenadoras afirmem que existem instrumentos que fala de modo geral sobre o tema, a coordenadora 1 relata que o projeto pedagógico não dá embasamento sobre a importância e necessidade da temática ambiental para formação do profissional, ou seja, não há discussão que ofereçam subsídios para a atuação profissional do licenciado em Pedagogia. Todavia, nos documentos oficiais relacionados à EA orientam para que tenha a garantia da inserção dos conhecimentos referentes a essa temática nos currículos de todas as áreas desde a Educação Básica a Educação Superior de forma transversal. Entretanto essa inserção na prática e essa articulação com as disciplinas não acontecem na realidade da UNEB.

Ao serem questionadas se o curso promove ações periódicas direcionadas à temática ambiental e quantos professores e de quais disciplinas fazem parte, obtiveram-se as respostas:

Formalmente não. Já houve em algum momento situações, como eu disse a você, pontuais relacionadas com práticas de professores, que trazem suas experiências. Então já houve situações específicas de atividades realizadas com alunos, atividades realizadas em comunidades. Hoje nós temos concretamente algumas atividades de campo que estão sendo desenvolvidas, existe um projeto, na verdade é uma proposta do projeto do curso, onde esse atual professor ele montou uma proposta que envolve algumas atividades de campo, essas atividades têm sido desenvolvidas com comunidades e em espaços onde nós moramos. [...] Eu entendo que existe, por exemplo, nós temos projetos relacionados a educação interétnica, projetos relacionados com inclusão que de alguma maneira tratam dessa questão. De uma forma ampla, mas não de uma maneira sistematizada, então eu acho que nesse sentido que há uma falha porque não há essa articulação, embora se a gente separa muito separadinho corre o risco de também está disciplinando, e, portanto, de estar fechando essas possibilidades de articulação. Mas respondendo a sua pergunta, não há atualmente se não essa atividade de campo da disciplina que tem uma relação direta com o professor. [Coordenadora 1]

De promover, promove, mas não promove com uma frequência. Por exemplo, a gente teve semana passada um seminário de Educação Bilíngue, dentro do Seminário de Educação Bilíngue uma das temáticas foi a Educação Ambiental, mas o foco não era Educação Ambiental, mas sim a Educação Bilíngue. E a gente está falando de ensino de LIBRAS, Educação para Surdos, então trabalhou temáticas gerais. Normalmente nos cursos de formação específica tanto de produção acadêmica como de formação docente trazem essa temática como obrigatoriedade da formação do professor, mas sistematicamente só é ofertado se os professores que são responsáveis por essa discussão dentro da universidade se predispõe a isso. Como são professores extremamente ocupados, tem uma carga horária longa, a gente fica sempre no aguardo da responsabilidade dele para um evento específico, mas mesmo sem o evento específico é feito. E a gente tem um projeto interno de Pedagogia que trabalha com reciclagem, que trabalha com sustentabilidade e que trabalha com remanufatura de material didático, aí envolve a discussão da Educação Ambiental, mas em questões bem gerais, por exemplo, laboratório de matemática que trabalha com isso para produzir material, brinquedoteca que sempre tem em todos os temários. [Coordenadora 2]

Através dessas análises foi possível constatar a fragmentação, esporadicidades e a falta de articulação nas ações que ocorrem de maneira pontual, sendo perceptivo apenas realizado por um professor de apenas uma disciplina, sendo responsabilidade apenas daquele docente. Essa desarticulação percebida nas entrevistas pode ser modificada através da implantação de projeto institucional que abarque se não todos, mas a maioria dos (as) docentes de todo o curso. Desse modo, sabe-se que a inserção da temática ambiental no ensino superior, levando-se em consideração as discussões relacionadas à interdisciplinaridade, a transversalidade e a interpretação da Política Nacional de Educação Ambiental não estimula a inserção de disciplina específica no currículo de ensino.

Perguntaram-se às coordenadoras quais as principais dificuldades (se tiver) para desenvolver práticas de EA na universidade. E as respostas foram:

A primeira a gente está falando dela o tempo todo, eu acho que há uma falta de compreensão mais ampla do que significa a Educação Ambiental, acho que ela é vista como disciplina menor, senão, em cursos que discutam isso especificamente. Acho que, por exemplo, em uma instituição como a nossa que hoje se autoproclama uma instituição inclusiva, deve trazer essa discussão como parte estruturante, ou seja, como parte de um eixo de discussão e não somente para discutir quem tem Biologia ou quem dá licenciatura porque cai na aula [...]. A outra coisa que dificulta, que está associada a própria dinâmica dos departamentos é que sendo uma disciplina considerada tangencial, os recursos destinados para ela tornam-se recursos muito precários e aí vai muito de acordo com a capacidade de negociação do professor, muitas vezes quando esse professor não está mais lá esse tipo de investimento acaba porque não há interesse, essa é uma outra dificuldade. Eu acho que a terceira dificuldade, não sei se estou sendo correta, coerente, eu acho que diz respeito a falta de clareza, que tem a ver com as duas outras dificuldades, a falta de clareza, eu acho que a gente precisa avançar na discussão desse projeto, dessa reformulação curricular, a gente tem iniciado isso lá, mas assim, dessas disciplinas tangenciais serem trazidas para um eixo. [Coordenadora 1]

Aqui eu acho que é conscientização mesmo. Fora isso, para desenvolver atividades de formação é predisposição de quem pesquisa, investiga, trabalha, defende, discute a temática porque qualquer atividade que gere uma demanda aqui na universidade eles sempre são demandadas pelos grupos de pesquisa ou pelos professores que são responsáveis por isso. [...] Mas especificamente aí teria que ter disponibilidade dos professores, iniciativas dos pesquisadores da área, eu acho que a maior dificuldade é essa. De iniciativa de uma ação como essa para a graduação, porque eu ainda acredito que priorizam muito a pós-graduação em relação a determinados temas, uma iniciativa em relação a isso para a graduação e disponibilidade de tempo para fazer isso para a graduação. [Coordenadora 2]

Embora saber que apenas os (as) docentes em ação não irão resolver todos os problemas ambientais, a contribuição destes é imprescindível nesse processo. A UNEB com sua diversidade de cursos poderia ter um amplo espaço para realizar práticas que envolvesse a temática ambiental. Entretanto, as poucas iniciativas observadas, mesmo que difusas, demonstram o potencial acadêmico que precisa ser abarcado pelos diversos docentes dos diversos campi e não ficar restrito a um ou outro, almejando sempre com essas ações acadêmicas alcançar o coletivo e solidário, considerando a totalidade. Para que essa inserção aconteça, de acordo com Figueiredo e Guerra:

Nesse sentido, as Diretrizes orientam os sistemas de ensino a garantir a inserção dos conhecimentos concernentes à Educação Ambiental nos currículos de todas as áreas da Educação Básica e da Educação Superior pela transversalidade, mediante temas relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade socioambiental, como conteúdo dos componentes constantes do currículo, e pela combinação de transversalidade e de tratamento nos componentes curriculares. Para isso, recomenda que, no planejamento e na gestão, sejam considerados os saberes e os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios e os objetivos estabelecidos nas Políticas educacionais. Assume, também, a transversalidade da EA em todos os níveis de ensino, assim como o investimento na formação de professores. (FIGUEIREDO e GUERRA, 2014)

Ao questionar se os (as) professores (as) são incentivados (as) e motivados (as) a desenvolverem projetos ou atividades ambientais no curso de Pedagogia do campus em que atua, a coordenadora 1 que representa os cursos que possuem a disciplina obrigatória Educação Ambiental respondeu que “Não”, e isso pode ser justificado pela oferta da disciplina, então, para que incentivar se já tem o (a) professor (a) responsável por trabalhar esse tema? Portanto, mesmo tendo a disciplina seria necessário espaço para discutir a importância e a conscientização de debater este tema de maneira articulada.

Acerca dessa pergunta, a coordenadora 2 representando os cursos sem disciplina obrigatória relacionada com a temática, respondeu que
“Isso já é natural do projeto do curso. Os que são motivados estão ou no campo do estágio ou no campo das disciplinas Teórico-práticas ou aqueles que as discussões dos seus componentes curriculares obrigatoriamente trazem isso como discussão.” Dessa forma, como foi discutido anteriormente, fica a cargo de algumas disciplinas que costumam já associar com o tema que são as Ciências Naturais, Geografia, TCC e Estágio. Entretanto, se não há discussão e estímulo para que essas temáticas sejam inseridas nas disciplinas, dificilmente esse tema irá aparecer nesses currículos. E quando só discute nas disciplinas que são exigidas, não vai haver inserção nas outras, pois, presumirá que não são importantes tais discussões nas outras disciplinas.

Foi perguntado às coordenadoras quais metodologias utiliza para discutir a temática ambiental com os (as) professores (as), a coordenadora 1, disse que
“Como essa pergunta tem uma relação direta com a pergunta anterior, hoje essa discussão sobre metodologia, sobre técnicas, sobre relações interdisciplinares hoje ela não é desenvolvida. Pode dizer aí que não é, porque não é.”, logo a coordenadora 2 respondeu que:

Aqui, nenhuma. Até porque colegiado de curso quando faz reunião de planejamento, faz reunião de planejamento por área, então normalmente a gente trabalha com a proposta interdisciplinar de planejamento e o coordenador de colegiado ele é mais um professor que vai se reunir com seus grupos na sua área para trabalhar. [Coordenadora 2]

Desta forma, nenhum dos cursos, independente se possui a disciplina obrigatória Educação Ambiental ou não, não utiliza metodologias para incentivar e motivar a prática de projetos ou atividades referentes. No entanto, é importante destacar que a utilização de metodologias permite a construção de conceitos fundamentais através de ações que levem a pensar em impactos locais e globais os quais podem ser adaptados e ampliados pelo educador para diversas situações. A temática ambiental pode ser abordada de diferentes formas em sala de aula, o (a) professor (a) pode utilizar metodologias para promover a conscientização ambiental e a participação de todos os (as) estudantes. Para que, esses(as) estudantes quando estiverem no papel de profissional, possam desenvolver práticas de forma que consigam conciliar teoria e prática. Em relação a essa discussão sobre metodologia relacionada a Educação Ambiental Manzano discute que:

Qualquer ação que almeje se enquadrar como Educação Ambiental deve ter como alicerce os elementos [acima apresentados], tais como a consciência dos problemas ambientais decorrentes do atual modelo de desenvolvimento, a inter-relação entre ética, política, economia, ciência, tecnologia, cultura e sociedade, a construção da cidadania e da democracia, permitindo que os atores sociais envolvidos participem efetivamente da construção de tais ações, considerando sua história e suas concepções. (MANZANO, 2003, p.18)

Ao perguntar se existe articulação entre o curso de Pedagogia e a educação básica referente às questões ambientais as respostas das coordenadoras foram:

Muito pouco. Como eu falei para você, depende do professor que ocupe essa disciplina e porque então as ações relacionadas com a Educação Ambiental ficam restritas as ações do professor nesta disciplina. Nós temos uma grande articulação hoje com a educação básica no que diz respeito a questão da formação docente do aprendizado mas não envolve questões relacionadas com a Educação Ambiental. [Coordenadora 1]

Sempre tem, porque não tem como a gente desenvolver nenhuma discussão de formação aqui sem atrelar a Educação Básica. Todos os nossos componentes curriculares do quinto semestre em diante obrigatoriamente eles têm como foco de atuação a Educação Básica, em vários níveis, em várias modalidades. Então sempre está com a Educação Básica, fora isso, em torno mais ou menos de 60%, 70% dos nossos projetos de extensão o objetivo de atuação é Educação Básica. E os componentes que estão na primeira metade do curso e que tem carga horária prática sempre são na Educação básica, então de qualquer maneira mesmo que se quisesse fugir tem que está atrelada a Educação Básica, tanto na perspectiva teórica como prática. [Coordenadora 2]

As entrevistas demonstraram que, em parte, essa realidade é determinada pelo processo individualizado, restrita a ações de apenas um (a) professor (a), de uma disciplina participa do processo. Dessa maneira, o estudo do meio ambiente e o interesse pela Educação Ambiental tornam-se restrita apenas a uma parte do corpo docente, muitas vezes por ter formação em Biologia ou Geografia, ou por ter realizado formação em nível de pós-graduação na área específica, ou seja, são docentes que tem motivação para abordar essa temática por causa das suas experiências pessoais e não por incentivo da instituição, restringindo esse tema a disciplina específica sem nenhuma articulação com as outras e sem ações voltadas para a educação básica.

Perguntaram-se às coordenadoras se o curso busca parcerias com instituições locais para desenvolver ações voltadas para a temática ambiental, logo a coordenadora 1 respondeu que “Já buscou há muitos anos, hoje não.”, já a coordenadora 2 ao ser questionada se há essa parceria com instituições locais disse que:

Se você pensar o curso como iniciativa de colegiado, não. O curso pode buscar se for uma demanda encaminhada para o colegiado dos professores que trabalham com isso na área porque como colegiado é impossível fazer isso em qualquer temática.

Ou seja, é necessário que haja incentivo institucional para que ocorram ações para o estudo da Educação Ambiental, pois, dessa forma vai haver estímulos para que sua abordagem ocorra de forma integrada e permanente ao longo dos cursos, contribuindo para o processo educativo desses futuros profissionais da educação. Dessa forma, pode-se compreender que esse tema quando trabalhado no momento da formação do professor, de modo que desperte o interesse dos (as) discentes, dificilmente os mesmos não irão colocar em prática quando se tornarem profissionais.

Ao serem questionadas se o curso fomenta discussões que contemplem as problemáticas ambientais locais obtiveram-se as seguintes respostas:

Indiretamente nós temos algumas ações, como eu falei para você, que acabam resvalando nisso, no caso por exemplo, a gente teve uma atividade, um seminário que a gente promoveu sobre inclusão, Inclusão Social que em algum momento, alguém que foi convidado para falar a respeito de saúde e medicalização falou sobre dessa questão. Mas não é uma coisa pensada, gestada nesse sentido, não é. [Coordenadora 1]

Fomenta discussões em torno de todos os temas transversais e todos os tópicos contemporâneos de formação, mas aí mais uma vez eu vou colocar, o curso ele se resume hoje, esse semestre 2015.2 em 93 professores. Então, para que o curso fomente essa discussão isso teria que ser iniciativa de algum professor específico da área. [Coordenadora 2]

Fazendo análise das respostas e relacionando com autores que discutem o tema percebe-se que há lacunas referentes a essa temática, sendo possível notar que as coordenadoras têm a consciência da necessidade de avanços em termos de proposta pedagógica e de ação institucional.

Foi feito o questionamento às entrevistadas se a configuração multicampi da UNEB representa um ponto de entrave ou de potencialidades para a realização das atividades relacionadas a Educação Ambiental e a coordenadora 1 respondeu:

Eu acho que são os dois, a multicampia ela é uma potencia no que diz respeito a possibilidade de você ter entrelaçado realidades, ecossistemas, práticas, maneiras, manejos de um estado imenso como é o estado da Bahia, isso é potente. [...] Você não tem graficamente nenhuma relação entre campi, e isso é uma coisa muito interessante, porque isso tem desdobramento para mim que são entraves, então para mim onde vejo a potencia eu também vejo o entrave, então você tem uma articulação que ela é o tempo todo mediada pela sede e uma mediação que não dá conta dessa potencia, dessa possibilidade de você ter essa discussão, por exemplo como base estruturante da própria proposta da universidade. [Coordenadora 1]

Eu nem sei viu, a gente nunca, assim enquanto coordenadora de colegiado, nunca parei para pensar nisso. Agora, algumas configurações favorecem, por exemplo, a gente trabalha com alguns professores colaboradores que vem de outros campi, então as nossas atividades de campo elas sempre tem suporte do lugar onde tem o campus da UNEB instalado, tanto para a Educação Ambiental, como para qualquer outra. Nessa perspectiva ajuda, mas eu ainda acho que o campus I é muito isolado nele mesmo, no que se refere do entendimento dessa dimensão da multicampia para a formação e a atual conjuntura, digo assim, atual nos últimos seis anos do Estado, das Universidades Estaduais não favorecem a isso. Aí a gente tem que pensar outras questões políticas, econômicas, estrutural, tanto interna como externa. [Coordenadora 2]

É possível entender pelas respostas que o sistema da multicampia, muitas das vezes em questões que poderiam ser potencia torna-se um entrave, como no exemplo trazido pelas coordenadoras, que se fosse aproveitada toda a diversidade das cidades da Bahia, distribuídas nas mais diversas microrregiões, mas o que é notório é que há pouca articulação nas ações que ocorrem na instituição.

Ao perguntar em relação ao currículo unificado, qual a posição de cada entrevistada, a coordenadora 1 respondeu:

[...] Acho delicadíssimo qualquer tentativa de formatação a partir de uma referência que nunca vai dar conta da diversidade. E aí para mim é o grande desafio você lhe dá com a questão da diferença, da diversidade em uma formação, sempre vai ser um desafio, nesse sentido eu acho que eu não consigo dizer para você assim a minha posição que eu sou contra ou a favor, mas eu tendo muito mais para uma formação onde você tem algo mais específico, mas que cada formação possa dar essa possibilidade dessa diversidade, dessa diferença. [...] Hoje a gente vem discutindo isso e vendo a necessidade urgente de reformulação, a gente está no processo de reconhecimento de 4 em 4 anos que os cursos passam e a gente sabe que tem coisas que passaram mas para isso a gente precisa inclusive se apropriar deste processo, então nós estamos iniciando este trabalho que a gente espera que desemboque numa reformulação curricular e que com certeza a sua pesquisa faz a gente pensar quando você vem e me interpela, você me coloca diante inclusive de questões que pra gente não são questões e que não tenha dúvidas que eu vou está mediando, está levando para o colegiado a necessidade de pensar nisso a partir de um outro lugar que não apenas um apêndice. [Coordenadora 1]

Eu acho que para universidade o currículo unificado ele não funciona. Se a gente pensar unificado como modelão, como template, mas pensar um currículo como uma orientação unificada, ele funciona. O nosso estado é muito grande e a multicampia ela não pode ser nivelada por uma base só, senão a gente perde a riqueza de pensar e de estabelecer um vínculo direto com a formação no que se refere aos territórios de identidades que constituem o estado, fora isso, é impossível a gente dar conta de uma demanda de formação contextualizada e atendendo as necessidades de formação dos estudantes se o currículo for unificado como proposta integral, mas ele sendo unificado como uma ideia curricular e dando condição de que ele seja desenvolvido a partir das realidades isso é muito tranquilo. [...] Se os currículos forem elaborados dessa maneira, eu não vejo nenhum problema, facilita inclusive com os processos de mobilidade, transferência e outras questões internas e externas. Mas ele unificado como modelão eu acho que é um problema em qualquer estrutura, não só na UNEB. [Coordenadora 2]

Analisando as respostas das coordenadoras compreende-se que há uma crítica em relação ao currículo unificado no que diz respeito à diversidade de cada campi que precisa ser mantido, motivado e respeitado, como explica a coordenadora 1. Essa coordenadora relata que é urgente a necessidade de reformulação curricular e discorre também sobre a influência dessa pesquisa que serviu inclusive para conscientizar a respeito do assunto, sendo que, dessa forma será levado para a reunião de colegiado a necessidade de discutir a temática.

Referente a essa questão, a coordenadora 2 discute que o currículo unificado perde a riqueza em relação aos territórios de identidades que o estado da Bahia apresenta. Porém, o ponto favorável para o currículo unificado mencionado pela coordenadora 2 é que vai facilitar vários processos como transferência e que concorda com esse currículo unificado, desde que dê condição de acordo com a realidade de cada campi.



6 Considerações Finais

A partir da realização desse estudo pode-se inferir que as medidas para garantia da legislação que institui o dever do Estado para inserção da Educação Ambiental na Educação Superior se concretizem são cada vez mais urgentes e necessárias. Para isso são imprescindíveis Políticas Públicas mais eficazes para a inserção da temática ambiental no currículo das universidades, assim como fiscalização e pesquisas que levem à compreensão dos elementos necessários para atingir a superação da fragilidade observada nessa temática.

Percebeu-se que os cursos de Pedagogia da UNEB não atendem plenamente às exigências previstas na Política Nacional de Educação Ambiental e Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à inserção da temática ambiental nas disciplinas dos cursos de formação de professores de maneira interdisciplinar, pois, o que observa é aquela única disciplina e aquele (a) professor (a) que quando disponível trabalha com o tema e isso não ocorre de forma articulada, com frequência e de forma a integrar as outras disciplinas dos cursos.

Paralelo a essa carência nas atividades relacionadas à temática ambiental nos cursos de formação de professores resultam na preparação de profissionais sem experiência para trabalhar de forma adequada com esse tema no ambiente escolar. Sendo assim, são necessárias políticas públicas que estimulem os debates e a reestruturação das licenciaturas com intuito de inserir essa temática de forma mais concreta nos currículos desses cursos.

A formação de educadores determinada em Lei necessita superar a fragmentação e a compartimentalização dos saberes disciplinares, e fortalecer a Educação Ambiental por meio de práticas sustentáveis, para que os (as) docentes possam disseminar essas ações para com os (as) futuros (as) educadores (as). Porém, é importante salientar que a concepção da Educação Ambiental consista em uma perspectiva crítica, contextualizada e transformadora, que seja congregada a ações do cotidiano e promova uma gestão democrática, participativa entre a escola, universidade e comunidade.

Relacionado ao que já foi discutido sobre o currículo dos cursos e baseado nos depoimentos obtidos por meio das entrevistas realizadas com as coordenadoras foi possível observar que os participantes da pesquisa reconhecem como importante a discussão da Educação Ambiental de maneira transversal e interdisciplinar, e isso é perceptível nos discursos, o que rompe com a reprodução de achar que essa temática está relacionada a conteúdos de disciplinas como ciências naturais e geografia. Além disso, uma das coordenadoras relata sobre a necessidade da reformulação curricular e sobre a influência dessa pesquisa para conscientizar a respeito do assunto, gerando um retorno imediato ao discorrer que a discussão desse estudo seria levada para a reunião de colegiado.

Entretanto, mesmo que as coordenadoras entrevistadas de certa forma saibam da importância da discussão da temática ambiental nos cursos de formação de professores e a forma que deve ser trabalhada, de fato, esta vem sendo pouco encontrada no âmbito das discussões dos componentes curriculares, sendo evidenciado assim que a relação entre currículo e os temas transversais ainda encontra-se pouco efetivado nos cursos de Pedagogia da UNEB. Por isso, faz-se necessário essas discussões durante reuniões entre coordenadores (as) e docentes.

Dentre as explicações mencionadas pelas coordenadoras em relação às dificuldades para desenvolver práticas em Educação Ambiental nos cursos estão: conscientização, predisposição de quem pesquisa a temática, disponibilidade dos professores, iniciativa dos pesquisadores da área, falta de compreensão mais ampla do significado de EA e recursos precários.

Durante as entrevistas foram mencionadas de diversas maneiras pelas coordenadoras como um entrave para que não ocorressem essas práticas a falta de um profissional da área que tomassem iniciativa para participar da construção deste currículo e das ações acerca desse tema nas disciplinas. Contudo, essa problemática poderia ser sanada através da implantação de um projeto interdisci­plinar para que dessa forma houvesse essa intersecção no curso, na universidade, além da comunidade local.

Nesse contexto, é notório que espaços de reflexão e inserção da temática ambiental, quando observados, fortalecem cada vez mais a especialização do saber. Ou seja, a abordagem dessa temática, de acordo com esse estudo, tende a se tornar cada vez mais compartimentalizada, e isso é uma grande problemática, pois, o (a) docente muitas vezes não trabalha com a temática devido ao fato de achar necessária a criação da disciplina específica, entendendo que é indispensável a contratação de um (a) professor (a) para discussão desse tema individualmente, o que gera a efetiva ausência dessa discussão nas disciplinas. Portanto, o currículo investigado necessita criar condições mais objetivas que possibilite orientar na formação desses futuros profissionais, oferecendo da melhor forma possível a compreensão da Educação Ambiental em uma perspectiva crítica.

Vale ressaltar a necessidade que os cursos de Pedagogia da UNEB têm em dedicar atenção especial à temática ambiental, a partir da realidade local em todos os campi, mostrando toda relação que existem entre essa temática e os aspectos econômicos, políticos, culturais, sociais, éticos, e etc. Levando em consideração que um dos papéis da Universidade é de levar para seus espaços a discussão sobre os problemas ambientais, possibilitando o diálogo de forma ampla e crítica nos seus educandos. Dessa forma, a educação superior deve desenvolver ações voltadas à Educação Ambiental, como tema transversal em cursos e disciplinas, pois a mesma é de extrema importância para a formação docente e de todo cidadão.

Espera-se que esse estudo possa colaborar para a reflexão e o fomento acerca da importância da inserção da temática ambiental não só nos cursos de Pedagogia da UNEB, como em todos os cursos de formação de professores dessa e das demais universidades, pois, para que os (as) futuros (as) docentes trabalhem com esse tema tão importante, é imprescindível que estejam capacitados (as) para colocar em prática uma Educação Ambiental de maneira crítica e interdisciplinar, buscando sempre gerar uma transformação social e melhoria na qualidade de vida de toda sociedade.



Referências



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Ilustrações: Silvana Santos