Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2015 (Nº 54) EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR: ABORDAGENS NO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CAMPO GRANDE – MS
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR: ABORDAGENS NO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CAMPO GRANDE – MS

 

José Flávio Rodrigues Siqueira¹

Joyce Aparecida Nogueira Da Silva2

Lenita Ferreira Borges³

¹Mestrando em Educação; Professor no Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande – Unidade I; Rua Francisco Serra, 324, Vila Planalto, CEP 79009-040, Campo Grande-MS; (67) 9258-1491; siqueirajfr@gmail.com.

2 Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande – Unidade I; Rua Tenente Flávio José de Carvalho, 433, São Conrado, CEP 79093-480, Campo Grande-MS; (67) 9141-5767; joyce_nogueira_k@hotmail.com.

³ Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande – Unidade I; Rua Jacutinga, 171, Morada Verde, CEP 79013-760, Campo Grande-MS; (67) 9294-6277; lenita.borges94@gmail.com.

 

 

 

RESUMO

 

Estudo sobre as atividades escolares de Educação Ambiental com entrevista de duas professoras e dois estudantes que evidenciou a relevância da temática, porém inconsistência no discurso das professoras, visto o enfrentamento com o depoimento dos estudantes.

 

Palavras-Chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Ensino Fundamental.

 

INTRODUÇÃO

 

Segundo a Lei n° 9.795, de 27de abril de 1999, que dispõe sobre Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, especificamente no artigo 1° afirma que “entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do Meio Ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999, p.1). A própria lei diz o que é a educação ambiental e o que dela pode ser proposto, o que quer dizer que, são inúmeras as possibilidades que podem ser obtidas com a inserção da Educação Ambiental nas escolas.

 A título de exemplificação, podemos citar os valores sociais que constroem pessoas melhores e mais conscientes em relação à conservação, preservação e as atitudes a serem tomadas a fim de obter uma visão sistêmica de ambiente.

No capítulo II da mesma lei,  o artigo 7° diz que

A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não governamentais com atuação em Educação Ambiental (BRASIL, 1999, p.1).

Este artigo mostra as esferas onde a Educação Ambiental deve estar presente, estando a escola presente nesse grupo vale ressaltar que esta é uma das mais importantes, pois é a escola, uma das instituições mais preocupada com a formação de cidadãos, e quando voltada para uma educação de qualidade e com preocupação às questões do Meio Ambiente pode favorecer a constituição de uma sociedade mais ambientalmente consciente.

Assim, torna-se fundamental verificar como é apresentada a Educação Ambiental para alunos do 5º ano do ensino fundamental, pois este é o último ano dos anos inicias do ensino fundamental, ou seja, quando o estudante deixa de ter um professor regente e é iniciado aos professores especialistas.

Sobre a importância desta temática Trivelato (2013) destaca que:

A Educação Ambiental vem se consolidando como uma prática educativa integrada, que pode ocorrer em diversos contextos, podendo oferecer uma contribuição muito grande ao processo educativo em geral e à formação de cidadãos mais conscientes do seu papel na sociedade, em relação aos outros e ao meio ambiente. (TRIVELATO, 2013, p.13)

A Educação Ambiental contribui no processo educativo, pois faz com que desde a mais tenra idade, os estudantes tornem-se cidadãos conscientes, assim como diz a autora.  Ao longo dos anos escolares, se a Educação Ambiental for tratada continuamente, perpassando as diversas estratégias de ensino, poderá favorecer a aprendizagem dos estudantes e ampliará a visão de ambiente dos estudantes, não só tratando do cuidar e preservar o ambiente, mas também das questões sociais e políticas que perpassam esse tema.

Quando analisamos a escola, ainda temos melhorias a fazer, pois de acordo com Dias (2004) “a educação ainda “treina” a (o) estudante para ignorar as consequências ecológicas dos seus atos” (DIAS, 2004, p. 16). Desta maneira, percebe-se uma ausência de criticidade nas propostas de educação ambiental escolares, visto que o que é ensinado pelos professores e entendido pelos estudantes, muitas vezes não é posto em prática, causando o que Dias(2004) afirma como “ignorar as consequências ecológicas dos seus atos”.

Nesse sentido, observamos que a educação precisa melhorar, pois ler e escrever são habilidades fundamentais para o desenvolvimento do ser humano, pois vivemos em uma sociedade letrada, porém devem-se relacionar estas habilidades em um contexto, e lutamos por uma contextualização onde o ambiente seja discutido e refletido nas escolas. A educação é muito mais que alfabetizar, é mostrar para os alunos como viver em sociedade e consequentemente aperfeiçoar-se como seres humanos e viver em um ambiente ecologicamente equilibrado.

A escola é o espaço ideal para promover esse aprendizado. Nela é possível promover a compreensão das questões ambientais para além de suas dimensões biológicas, químicas, físicas, em uma perspectiva fundamental nas Ciências Humanas, que têm a qualidade de vida do ser humano como o centro de seus estudos e pesquisas. (PENTEADO, 2010, p.10).

O autor reforça a importância da escola como instituição oficial para compreensão do conhecimento científico. Além disso, é extremamente necessário entendermos o que os alunos sabem, ou seja, o conhecimento previamente aprendido por meio de suas relações pessoais, para que assim, o professor possa intervir e auxiliá-lo a compreender o verdadeiro significado da expressão “Meio Ambiente equilibrado” e sua relação com a educação.

Sabemos que o professor é um dos principais atores de intervenção, pois podem propor situações eficientes de ensino aos alunos, pois sua formação permite que realize com eficiência e fundamentação a ampliação dos conhecimentos das crianças e adolescentes.

Nosso planeta vem sofrendo com a degradação do meio ambiente, afetado por vários motivos, muitos deles provocados por atitudes e ações humanas. Estes problemas afetam a fauna, flora, solo, águas, ar e muitos outros. E isso acontece por falta de cuidado, não por falta de instrução de uso ou de não saber a forma correta de cuidar do ambiente em que vivemos, mas por falta de interesse de muitos, que não sabem que ao não colaborar no cuidado do planeta está prejudicando a si mesmo e suas futuras gerações.

A abordagem da Educação Ambiental nas escolas deve ter como objetivo despertar na educação do ensino fundamental a vontade de cuidar do nosso ambiente, mostrando as situações atuais em que se encontra o planeta e o que podemos fazer para mudar isso. Espera-se que os alunos possam compreender que assim como a natureza os seres humanos necessitam de cuidados e que para isso acontecer precisamos tomar a iniciativa e os devidos cuidados.

Por isso será verificada a existência de atividades de Educação Ambiental no 5º ano do ensino fundamental em duas escolas públicas de Campo Grande - MS, bem como a abordagem destas atividades, a fim de averiguar a consonância ou não da concepção preconizada nos documentos oficiais e legislações vigentes.

Por concordar com a afirmativa acima acreditamos na importância da Educação Ambiental no contexto escolar, por isso esta pesquisa é de grande relevância ao meio educacional. Especificamente aos professores envolvidos com o ensino e aprendizado do 5º ano do ensino fundamental, foco principal desta pesquisa.

 

 

MÉTODOS

 

Para alcançar os objetivos propostos, optou-se por uma entrevista, que quer dizer que tem como propósito pesquisar aspectos qualitativos sobre determinado assunto acerca da percepção, atitude e motivação para dessa forma sabermos o nível de entendimento dos professores e alunos em relação ao tema abordado.  Outro procedimento necessário foi aplicação de um questionário com dez questões fornecidas a dois professores que atuam no 5º ano do ensino fundamental e que possuem experiência. Esclarece-se que cada professor pesquisado atua em uma escola. Além disso, dois alunos responderam um questionário contendo cinco questões pertinentes a pesquisa. A escolha do 5º ano do ensino fundamental deve-se a pesquisa recorrer aos conhecimentos de professoras com formação em Pedagogia e também porque no componente curricular Ciências da Natureza, este ano é provável desenvolver atividades durante todo o ano letivo.

Desta maneira, optou-se por uma pesquisa por meio da metodologia qualitativa que segundo Dantas e Cavalcante (2006):

Tem caráter exploratório, isto é, estimula os entrevistados a pensarem livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Mostra aspectos subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea. É utilizada quando se busca percepções e entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para a interpretação (DANTAS e CAVALCANTE, 2006, p. 34).

Optamos por duas escolas públicas de Campo Grande – Mato Grosso do Sul, a primeira localizada no centro da capital que foi escolhida por ter uma infraestrutura adequada ao ensino e por ser conhecida por desenvolver diversos projetos relacionados ao tema Meio Ambiente.

A escola possui um terreno de 4.436,36 m² e uma área construída de 2.341,13 m². Atualmente, com 13 salas de aula, 01 cozinha, 01 secretaria, 02 quadras de esporte, 01 biblioteca, 09 banheiros, 01 parque infantil, 01 sala de professores, 01 depósito para material de limpeza, 01 depósito de material pedagógico, 01 depósito de material de educação física, 01 depósito de merenda, 01 sala de d informática, 01 sala para supervisão, coordenação pedagógica e Orientação, 01 sala para Direção e 01 sala de recursos multifuncionais.

Em 2015, a escola atende do 1º ao 9º ano e pré-escola, cerca de 366 alunos no período matutino e 331 no período vespertino na faixa etária de 05 a 17 anos. A escola conta com a ajuda e serviço de mais de 45 profissionais da educação.

A segunda escola é localizada em um bairro afastado do centro da capital onde a população é de baixa renda. Atualmente é composta por 14 salas de aula, 01 cantina, 01 secretaria, 01 sala para a diretoria, 01 quadra coberta, 01 laboratório de informática, 01 sala de coordenação e supervisão, 02 banheiros para funcionários, 02 depósitos para materiais de limpeza, 01 vestuário, 02 banheiros sendo 1 bloco feminino e outro masculino com 06 sanitários cada um deles e 01 parque infantil.

A escola funciona nos dois períodos, sendo o matutino destinado ao ensino fundamental I, ou seja, os anos iniciais e no vespertino somente ensino fundamental II, ou seja, do 6º ao 9º ano. A instituição atende em média 1100 alunos, com prioridade para a população de classe média e baixa.

 

 

RESULTADOS e DISCUSSÃO

 

Após a autorização para aplicarmos as entrevistas, decidimos iniciar pelas professoras. A fim de verificar o conhecimento das professoras quanto ao conceito de meio ambiente, a entrevista foi iniciada pela definição que as profissionais tinham de Meio Ambiente. Ambas as respostas sugeriram que as professoras compreendem meio ambiente como a junção do local onde vivem os seres vivos e não vivos, além de exemplificar dizendo que é composto pelo ar, árvores, rios, animais, plantas e seres humanos. Após a descrição do termo Meio Ambiente, evidenciou-se que a concepção de Educação Ambiental das professoras encaixa-se na enunciada por Trivelato e Silva (2013) como Crítica, pois os argumentos apontam para uma compreensão do ser humano pertencente à teia de relações sociais, naturais e culturais e vive em interação com outros seres, sendo bióticos ou abióticos.

Corroborando com este pensamento, podemos lembrar o artigo 12 da Resolução CNE/CEB n. 2, de 15 de junho de 2012 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, dentre os princípios elencados neste artigo valemos do quinto:

V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais (BRASIL, 2012, p.4).

A segunda pergunta verificou a relevância do tema para a sociedade e como resposta, ambas entrevistadas concordaram sobre a importância do meio ambiente, com destaque para os seres humanos, ou seja, as duas professoras apresentaram a relação entre meio ambiente e prosseguimento das futuras gerações, com destaque para momentos históricos, reforçando assim a ideia posta por Trivelato e Silva (2013) de que a “relação com o meio é historicamente determinada” (TRIVELATO  e SILVA, 2013, p. 19).

Na tentativa de entender a relação pedagógica das professoras com os estudantes do 5º ano do ensino fundamental quanto ao tema, perguntamos se os estudantes já demonstraram interesse ou curiosidade em explorar mais a temática. Neste momento as respostas foram divergentes, pois a professora da escola central relatou a persistência dos estudantes para com conhecimentos relativos à Educação Ambiental, enquanto a professora da escola situada no bairro afirmou nunca ter percebido interesse por parte de seus estudantes.

A primeira professora justifica o interesse baseada nas atividades educativas já desenvolvidas, além da permanência das atividades deste tema. A justificativa da professora revela consonância com um dos princípios da Educação Ambiental nas escolas definido na Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi de 1977 e destacado no Parâmetro Curricular Nacional, a saber: “constituir um processo permanente e contínuo durante todas as fases do ensino formal” (BRASIL, 1998, p. 231).

O próximo questionamento buscou descobrir em que momentos os temas pertinentes a Educação Ambiental eram trabalhados com os estudantes do 5º ano do ensino fundamental. A título de exemplificação trazemos a resposta das professoras na íntegra:

- Professora da escola central: “sempre trabalho em minhas aulas, gosto que os alunos saibam tudo a respeito de coisas que fazem bem para eles”.

- Professora da escola do bairro: “Não trabalho muito com os temas ao meio ambiente porque eles já sabem um pouco, então estou deixando mais para frente”.

Recorremos ao PCN de Meio Ambiente para reforçar a necessidade do estímulo contínuo em atividades pedagógicas desta temática, pois

[...] as atividades de educação ambiental dos professores são aqui consideradas no âmbito do aprimoramento de sua cidadania, e não como algo inédito de que eles ainda não estejam participando. Afinal, a própria inserção do indivíduo na sociedade implica algum tipo de participação, de direitos e deveres com relação ao ambiente (BRASIL, 1998, p. 23).

Sendo assim, utilizar-se da educação ambiental em âmbito escolar está intimamente relacionada à cidadania. Cabe lembrar que o princípio da cidadania nas escolas está fundamentado no artigo 205 da Constituição Federal:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 94).

 Ainda sobre a necessidade do desenvolvimento contínuo deste tema para os estudantes, Leonardo Boff (1999) acrescenta:

Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. Temos unicamente ele para viver e morar. É um sistema de sistemas e superorganismo de complexo equilíbrio, urdido ao logo de milhões e milhões de anos. Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos esse equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente a produção, baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado processo produtivo faz aumentar a ameaça e, consequentemente, a necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra. (BOFF, 1999, p. 133)

Trouxemos este autor para exemplificar que os seres humanos devem cuidar do ambiente e desta forma, torna-se vital a apresentação regular desta temática às crianças, pois assim aprendem sobre o assunto e podem colaborar com a manutenção do ambiente equilibrado e sustentável.

A quinta pergunta realizada foi: Você prioriza o desenvolvimento de atividades em sala de aula sobre o tema em datas específicas, tais como “Dia da água”, “Dia da Terra” e “Semana do Meio Ambiente”? Como resposta obtivemos:

- professora da escola central: “Não priorizo porque essas são datas para nos lembrar do cuidado que devemos ter. Faço atividades diferentes nesses dias mais para que meus alunos também se lembrem.”

- professora da escola do bairro: “Sim, é quando eu mais entro no assunto. Por isso tinha dito que não trabalho muito o tema, pois trabalho com eles nessas datas”.

Embasados nestas respostas entendemos que a concepção de Educação Ambiental da professora atuante na escola do bairro não é a Crítica, como previamente pensada, mas sim Conservadora, como definiram Trivelato e Silva (2013). Dentre as características da concepção Conservadora, as mesmas autoras apresentam que o trabalho educativo somente acontece em datas comemorativas e/ou em atividades pontuais.

Ainda é válido dizer que os conteúdos programáticos para o Ensino Fundamental no 5º ano favorecem o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental, visto que os temas, de acordo com o Referencial Curricular da rede estadual de ensino em Ciências da Natureza são “ser humano e o ambiente” no primeiro semestre e “Ser humano e saúde” no segundo semestre. Tendendo assim, a ser um ano em que os próprios conteúdos favorecem a aplicação de atividades de Educação Ambiental, porém não foi o percebido pela professora que leciona na escola do bairro.

Complementando a questão anterior inferimos sobre a importância deste trabalho com os estudantes do 5º ano do ensino fundamental e sobre a abordagem deste tema na escola. Sobre isso, as duas professoras foram enfáticas ao dizer que o tema deve ser apresentado de maneira prática e integrado a rotina das crianças, mas apenas a primeira professora, ou seja, a que leciona na escola do centro de Campo Grande – MS, relatou desenvolver esse tipo de ensino, ficando a segunda professora somente em momentos específicos, como exemplo, campanhas de Meio Ambiente.

Numa nova tentativa de integrar a necessidade dos conhecimentos ambientais às crianças que estudam no 5º ano do ensino fundamental procuramos descobrir das professoras se era esta temática era de grande valor para crianças. As duas profissionais responderam que crianças que detém conhecimentos ambientais poderá cuidar e preservar do ambiente e repassar esse conhecimento para outros seres, inclusive as gerações futuras. Desta forma, percebemos o discurso teórico favorável à Educação Ambiental, por parte da professora da escola do bairro, porém desvinculado à sua prática profissional, visto afirmar a pouca presença desta prática no seu cotidiano.

Para demonstrar que crianças e estudantes devem ter contato com as discussões acerca do meio ambiente, trazemos Segura (2011) que relata:

Quando a gente fala em educação ambiental pode viajar em muitas coisas, mais a primeira coisa que se passa na cabeça ser humano é o meio ambiente. Ele não é só o meio ambiente físico, quer dizer, o ar, a terra, a água, o solo. É também o ambiente que a gente vive – a escola, a casa, o bairro, a cidade. É o planeta de modo geral. (...) não adianta nada a gente explicar o que é efeito estufa; problemas no buraco da camada de ozônio sem antes os alunos, as pessoas perceberem a importância e a ligação que se tem com o meio ambiente, no geral, no todo e que faz parte deles. A conscientização é muito importante e isso tem a ver com a educação no sentido mais amplo da palavra. (...) conhecimento em termos de consciência (...) A gente só pode primeiro conhecer para depois aprender amar, principalmente, de respeitar o ambiente. (SEGURA, 2001, p.165).

Evidencia-se o comprometimento da escola perante essa temática, pois de acordo com Segura (2011) só cuidamos do que conhecemos. Cabe a escola fazer com que os estudantes conheçam o ambiente, bem como suas potencialidades e fragilidades para assim conservá-lo e preservá-lo.

             Mas para que soubéssemos como a escola em seu todo trata o tema perguntamos se a o apoio da gestão escolar para trabalhar esse tema e infelizmente apenas a primeira entrevistada recebe apoio para trabalhar o tema em sala de aula e fora dela. A última pergunta foi para saber se haviam ou estavam realizando um projeto sobre o meio ambiente e a primeira escola estava realizando o projeto reciclagem e escola limpa e a segunda nenhum projeto.

Compreendendo a relação educativa existente entre as práticas profissionais e a equipe pedagógica, questionamos sobre o apoio que estas professoras recebem da gestão para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental. Neste quesito as professoras foram claras e objetivas, sendo a primeira, a professora da região central, de resposta positiva, afirmando que muitas vezes a iniciativa das atividades era da equipe pedagógica e da gestão. Já a outra professora lamentou e disse que não, visto a classe socioeconômica dos estudantes, atuam mais na prevenção de doenças, quando o assunto é educação ambiental.

Na tentativa de comprovar e até mesmo validar os dizeres das professoras, entrevistamos dois estudantes do 5º ano do ensino fundamental, um de cada turma das professoras entrevistadas.

Iniciamos a conversa com a definição de Meio Ambiente e os dois estudantes disseram que sabem o que é e exemplificaram com alguns elementos constituintes, tais como: árvores, gramas, flores, fauna, seres vivos e humanos.

A Educação Ambiental conta com a participação individual e coletiva de todos para que o resultado seja positivo, ou seja, assim como dito por um dos estudantes entrevistado, responde o que é Meio Ambiente baseado em seus conhecimentos educacionais e os já vivenciados fora da educação formal. Para Dias (1992), além do conhecimento sobre o tema devemos coletivamente aprender a resolver os problemas desta temática.

A educação ambiental é dimensão da educação formal que se orienta para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares, e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. (DIAS, 1992, p.31).

Sendo assim, o autor, corrobora com o relato da professora da escola central que informa que muitas vezes o trabalho sobre Meio Ambiente é proposto pela equipe pedagógica, ocorrendo dentro e fora da sala de aula.

No segundo questionamento aos estudantes perguntamos se já ouviram falar sobre esse tema na televisão, rádio ou outros meios de comunicação; um dos alunos nos disse que sempre vê na televisão falando sobre chuvas fortes que causam enchentes, já o segundo aluno, que sempre ouve os pais comentarem que viram na internet e nas redes sociais os estragos que as chuvas vêm causando ao meio ambiente, muitos animais morrem, entram em extinção, etc.

É possível traçar um tipo de informação veiculado pelas mídias atuais e que estão bem aceitos pelos dois estudantes que é o da concepção de Educação Ambiental Conservadora. Para Trivelato e Silva (2013) esta categoria de Educação Ambiental

[...]se pauta em concepções que remontam a práticas ambientalistas que partiam de um ideário romântico, inspirador do movimento preservacionista do final do século XIX. Sua característica principal é a ênfase na proteção ao mundo natural, sem relação com as questões sociais. Também aparecem características que propõem a volta às condições primitivas de vida. São apresentados os problemas ambientais mais aparentes, desprezando-se as causas mais profundas. Ocorre uma relação dicotômica entre o ser humano e o ambiente, no qual o primeiro é apresentado como destruidor (TRIVELATO e SILVA, 2013, p.18-19).

Perguntamos aos alunos se as professoras já falaram sobre o assunto em sala de aula, ambas disseram que sim, um deles justificou que nessas aulas falam mais sobre a vida dos animais, o outro afirmou que em sua escola sempre há projetos que envolvem este assunto como, por exemplo, os de conscientização contra à dengue. Novamente as concepções são evidenciadas, visto a visão Conservadora da escola e da professora que leciona no bairro, pois o relato do estudante afirma somente conhecimentos relativos a animais, enquanto o outro estudante, numa perspectiva mais Crítica, a escola e a professora desenvolve atividades sobre Dengue, uma doença que já foi epidemia no município de Campo Grande e ainda é causa recorrente de mortes.

Numa perspectiva mais global, Mariotti (2007) reafirma a necessidade de uma visão mais ampliada de Meio Ambiente. Segundo este autor:

Não é a conservação e a sobrevivência de uma parte isolada de um determinado sistema. É a conservação e a sobrevivência do sistema inteiro: a preservação do todo, de suas partes e das relações entre as partes entre si e destas com ele. A sustentabilidade das partes só pode existir se houver a sustentabilidade do todo no qual elas estão contidas. A vida dos indivíduos só será sustentável se também o for a vida da sociedade e a do ambiente. (MARIOTTI, 2007, p.85).

Sendo assim, reconhecemos a necessidade da escola, via profissionais que nela trabalham, em colaborar para com a qualidade de vida dos seres que coabitam o planeta.

Quando questionados sobre o desejo em aprender mais sobre assuntos relacionados ao Meio Ambiente, os dois estudantes foram categóricos no sim. Ainda complementaram dizendo que com mais conhecimento sobre esse assunto poderiam contribuir mais para a melhoria do Planeta em que vivem. Um deles declarou que sabendo mais ainda poderia ensinar outras pessoas para que estas outras também cuidassem do ambiente.

Para finalizar a entrevista aos estudantes trouxemos a questão “Você ajuda a cuidar do Planeta? Como?”

- estudante da escola central: “Sim, economizo água para não acabar, tem muita gente que gasta demais e não jogo lixo no chão”.

- estudante da escola do bairro: “Cuido, ajudo minha mãe na horta que ela tem em casa. Ela disse que é muito importante plantar porque faz bem pra gente respirar e quero fazer igual a ela quando crescer”.

De maneira diferente, ambos estudantes demonstram conhecimento, porém proveniente de uma visão Conservadora de Educação Ambiental, requerendo da escola e dos profissionais que lá estão novas atividades educativas numa perspectiva mais interdisciplinar e que recorra a potencialidades locais e regionais, para assim avançarem até a concepção Crítica da Educação Ambiental.

Porém, é nítido na argumentação dos estudantes o previsto na Constituição Federal do Brasil:

Artigo 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988, p. 101).

Diante dos relatos das professoras e dos estudantes evidencia-se a permanência do trabalho contínuo e interdisciplinar acerca da Educação Ambiental, tal qual preconizado em alguns documentos oficiais e legislações, tais como: Parâmetro Curricular Nacional – Tema Transversal Meio Ambiente e Saúde, Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino fundamental de 9 (nove) anos, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, além das Leis n. 9795, de 27 de abril de 1999 que dispõe sobre Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental e n. 9394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Portanto, esta pesquisa, de maneira simples, demonstra que ainda é necessário entender os conceitos de Educação Ambiental e Meio Ambiente para que a inserção de todas estas políticas nas escolas ocorra de maneira a favorecer às crianças e jovens uma educação voltada para o ambiente equilibrado.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A partir desta pesquisa procuramos demostrar a importância da educação ambiental nas escolas, pois por meio dela pode-se obter melhores condições da população presente e, consequentemente, elevação na qualidade de vida das futuras gerações. A educação ambiental escolar possibilita aos estudantes a inserção em discussões políticas, sociais e ambientais, ocasionando uma formação mais consciente, além de formá-los cidadãos responsáveis dentro e fora do ambiente escolar. Esta afirmação corrobora com os dados coletados por meio da entrevista com a professora e o estudante da escola central, onde se evidenciou atividades de educação ambiental numa abordagem crítica.

Percebemos que somente os agentes da escola central estão inseridos numa proposta de Educação Ambiental em consonância com as legislações vigentes e documentos oficiais norteadores. Sendo a outra realizadora de atividades ainda incipientes numa perspectiva mais socioambiental.

Defendemos a realização de atividades socioambientais, numa abordagem crítica e problematizadora nos anos iniciais do ensino fundamental para que ao longo dos anos escolares estes estudantes aperfeiçoem seus conhecimentos, além de promoverem atitudes e valores ecologicamente corretos. A fim de reforçar nossa defesa trazemos Penteado (2010) que alega:

A escola é, sem sombra de dúvidas, o local ideal para se promover este processo. As disciplinas escolares são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos. As aulas são o espaço ideal de trabalho com os conhecimentos e onde se desencadeiam experiências e vivências formadas de consciências mais vigorosas porque são alimentadas no saber. (PENTEADO, 2010, p.22).

Entendendo a escola como ambiente de aprendizado do conhecimento científico e que por meio destes, os estudantes, cidadãos numa sociedade do conhecimento, vivenciam estratégias curriculares para permanência em comunidade, não é possível compreendê-la como não promotora de questões de sustentabilidade.

Cabe ressaltar que ainda existem muitas dificuldades e obstáculos enfrentados por professores para a realização da educação ambiental crítica, visto a defasagem deste assunto nas formações iniciais e continuadas; a compreensão de que este é um assunto para um público específico; falta de incentivo da equipe pedagógica e gestora, dentre outros. Porém, há casos de superação, como o evidenciado por uma das escolas pesquisada.

 

 

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. Saber cuidar- Ética do humano: compaixão pela terra. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9795, de 27 de abril de 1999. Disponível em http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/lei9795.pdf Acessada em 14 de junho de 2015.

_______. SEB. Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas Transversais Meio Ambiente e Saúde. Disponível em   http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf Acessado em 14 de junho de 2015.

________. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_04.02.2010/CON1988.pdf Acessado em 14 de junho de 2015.

_______. SECADI. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao13.pdf Acessada em 14 de junho de 2015.

_______. SEB. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos. Disponível em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf Acessado em 14 de junho de 2015.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Editora Gaia, 1992.

GODOY, Arilda S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. In: Revista de Administração de Empresas, V.35, n2, Mar./Abr.1995ª, p.57-63. Pesquisa qualitativa - tipos fundamentais, In Revista de Administração de Empresas, v.35, n.3, Mai./Jun. 1995b, p.20-29.

MARIOTTI, Henrique. Pensamento complexo: Suas aplicações à liderança, à aprendizagem, e ao desenvolvimento sustentável. Editora Atlas, São Paulo, 2007.

MATO GROSSO DO SUL. SED. Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino – Ensino Fundamental. SED/MS, 2012.

PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio Ambiente e formação de professores. 7. Ed. – São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção questões da nossa época; v. 13).

SEGURA, Denise de S. Baena. Educação Ambiental na escola pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2001.

TRIVELATO, Sílvia Frateschi, SILVA, Rosana Louro Ferreira. Ensino de Ciências. São Paulo: Cengage Learning, 2013. (Coleção Ideias em Ação).

Ilustrações: Silvana Santos