Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
10/09/2018 (Nº 53) EMBALAGENS ECOLOGICAMENTE CORRETAS: ESTRATÉGIAS DE MARKETING E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NAS EMPRESAS
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2115 
  
Artigo para a Revista Iniciação

EMBALAGENS ECOLOGICAMENTE CORRETAS: ESTRATÉGIAS DE MARKETING E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NAS EMPRESAS1

Sandra Castro da Silva2, Rener Luciano de Souza Ferraz3, Fernanda Galindo Acre4, João Teixeira Neto5 & Marcelo de Andrade Barbosa6

 

(1) Parte do Projeto para Conclusão de Curso da primeira autora, como um dos requisitos para obtenção da Habilitação Técnica de Nível Médio em Meio Ambiente.

(2) Tecnolanda em Meio Ambiente pelo Senac Jaboticabal. Rua 24 de maio, Jaboticabal, SP, CEP: 14870-350, E-mail: ssandracastro@ig.com.br

(3) Docente do Senac Jaboticabal e doutorando em Agronomia (Produção Vegetal) pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal, SP, CEP: 14884-900, E-mail: ferraz340@gmail.com

(4) Bióloga, Esp. em Gestão Ambiental, docente do Curso Técnico em Meio Ambiente do Senac Jaboticabal, Rua 24 de maio, Jaboticabal, SP, CEP: 14870-350, E-mail: fernanda.gacre@sp.senac.br

(5) Biólogo, Esp. em Didática e Gestão Pedagógica, docente do Curso Técnico em Meio Ambiente do Senac Jaboticabal. Rua 24 de maio, Jaboticabal, SP, CEP: 14870-350, E-mail: joao.tneto@sp.senac.br

(6) Mestrando em Agronomia (Ciência do Solo) pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal, SP, CEP: 14884-900, E-mail: marceloandrade.uepb@hotmail.com

Resumo

Atualmente; com os avanços tecnológicos, geração de resíduos, competição e consumismo elevado; muitas são as discussões com foco ambiental, fazendo-se necessário o desenvolvimento de estratégias de ecomarketing, que impulsionem os empresários a ganharem espaço nesta corrida. Assim, objetivou-se com este trabalho investigar a percepção e postura de empresários acerca da aquisição e utilização de embalagens ecologicamente corretas. O trabalho foi desenvolvido na cidade de Jaboticabal, SP. Foi realizada pesquisa exploratória, obtendo-se os dados por meio de questionário, os quais foram submetidos à análise descritiva, agrupamento e componentes principais. Foram verificadas divergências quanto à percepção e postura dos empresários, havendo necessidade de incentivar estratégias de marketing e responsabilidade socioambiental nas empresas. Também, foi constatado que a análise de componentes principais pode ser utilizada como metodologia no tratamento quantitativo do questionário. A técnica permitiu identificar os empresários quanto a sua percepção e postura, além de reduzir o número de perguntas de 12 para 6.

Palavras-chave: Ecoembalagens, marketink verde, meio ambiente.

1. Introdução

 

Na contemporaneidade, muitas discussões são realizadas acerca de temas voltados para o meio ambiente, notadamente no que tange ao desafio de produzir mais, de forma sustentável (CASAGRANDE et al., 2013).

Com o avanço das tecnologias, e o acirramento da competição entre as inúmeras empresas já estabelecidas e as que estão entrando no mercado, o planeta terra passa por modificações que podem comprometer a sustentabilidade (VALE e VIANA, 2014). Diante do exposto, é imprescindível que as civilizações se organizem e busquem estratégias para redução dos impactos ambientais decorrentes do consumismo desenfreado (SANTANA, 2014).

Dentre as estratégias preponderantes para reduzir os impactos ambientais, conhecer os resíduos e adotar práticas adequadas de gestão destes significa dar um paço importante para manutenção da vida no planeta. O lixo; também denominado de resíduo, conforme sua natureza; quando mal gerido, consiste em um dos grandes problemas ambientais da atualidade (ZAGO et al., 2014). Salienta-se que, a cada dia que passa, os municípios encontram mais dificuldades para dar o destino adequado aos resíduos, principalmente de embalagens de produtos fabricados nas empresas.

Mudanças começaram a ocorrer por volta dos anos 70 a partir do agravamento dos problemas ambientais, de modo a gerar um nível crescente de exigências socioambientais. Nesta conjectura, as empresas tem sido alvo de fiscalizações mais rigorosas, notadamente pelo fato de suas atividades poderem acarretar danos ambientais (ROCHA, 2014). Assim, os segmentos empresariais têm buscado adotar posturas diferenciadas para se adequarem à legislação ambiental vigente.

Este cenário evidencia a utilização de embalagens ecologicamente corretas em substituição àquelas comumente utilizadas e que na maioria das vezes possuem elevado potencial para poluição. Salienta-se que a utilização de ecoembalagens pode constituir eficiente estratégia de marketing, além de contribuir para redução de impactos ambientais e promover desenvolvimento de maneira sustentável (DAVINES, 2015).

Em outro aspecto, a análise exploratória de dados é de fundamental importância para que seja estabelecido contato inicial com o tema a ser analisado, com os sujeitos a serem investigados e com as fontes secundárias disponíveis (RÉVILLION, 2003). Gil (2010) acrescenta que este tipo de pesquisa é importante para se conhecer o indivíduo, ou grupo destes, a ser estudado. Lakatos e Marconi (2008) completam informando que por meio de análise qualitativa é possível mapear características marcantes do comportamento humano. Já Hair et al., (2009) contribuem que o emprego de análise multivariada de dados pode ser eficiente para elucidação de processos característicos de uma população.

Objetivou-se com este trabalho investigar a percepção e postura de empresários acerca da aquisição e utilização de embalagens ecologicamente corretas, de modo a incentivar, no futuro, estratégias de marketing e responsabilidade socioambiental nas empresas.

2.  Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido na microrregião de Jaboticabal no interior do Estado de São Paulo. A pesquisa exploratória (GIL, 2010) consistiu na aplicação de um questionário com perguntas estruturadas para avaliar a percepção e postura de empresários acerca da aquisição e utilização de embalagens ecologicamente corretas. O questionário foi composto de 12 perguntas, sendo as possibilidades de resposta baseadas em uma escala variando de 1 a 10, onde 1 corresponde a total discordância e 10 a total concordância. Foram criadas faixas arbitrárias classificadas como, concordância muito baixa (de 1 a 2), baixa (de 3 a 4), mediana (de 5 a 6), alta (de 7 a 8) e muito alta (de 9 a 10).

Inicialmente, as empresas foram consultadas quanto a disponibilidade dos gestores para participação na pesquisa e, mediante aceitação, procedeu-se a coleta das informações via questionário. A pesquisa foi caracterizada pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento deseja-se conhecer, sendo, portanto, classificada como pesquisa de levantamento, conforme Gil (2010).

Quanto ao tipo de abordagem, a pesquisa pode ser caracterizada como quantitativa e qualitativa. De fato, qualitativa por avaliar a percepção e postura dos empresários, notadamente com vistas para o conhecimento dos hábitos dos empresários e seus reflexos para o meio ambiente. Para Lakatos e Marconi (2008) a pesquisa qualitativa fornece análise mais detalhada sobre a população amostrada, principalmente por preocupar-se com investigação, hábitos, atitudes e tendências de comportamento, além de analisar e interpretar aspectos com profundidade, descrevendo a complexidade do comportamento humano.

Em sentido complementar, a pesquisa também possui abordagem quantitativa, que se justifica por buscar explicar o nível de concordância dos empresários por meio do emprego de ferramentas estatísticas para processamento de dados para se chegar aos resultados. Neste sentido, Moresi (2003) reporta que a pesquisa de caráter quantitativo considera que tudo pode ser quantificável, ou seja, traduzir em números opiniões e informações para classificá-las, analisá-las e interpretá-las.

De posse dos questionários respondidos procedeu-se a tabulação dos dados e confecção de figuras e tabelas. Para tanto utilizou-se de planilha eletrônica (Microsoft Excel v. 2013).  Os dados originais foram padronizados e em seguida submetidos a análise exploratória multivariada, empregando-se análise de agrupamento (método de Ward’s) e componentes principais (ACP). Os resultados da análise multivariada foram expressos por meio de tabelas, dendrograma e biplot (HAIR et al., 2009).

3.   Resultados e Discussão

Com base nos resultados obtidos, verificou-se que a maioria dos empresários (54%) se preocupa com a procedência ao adquirirem embalagens, com nível máximo (10) de concordância. Pode-se verificar que 8% dos empresários tiveram níveis de concordância de 4, 5, 7 e 9, enquanto que 15% destes expressaram nível de concordância 8 (Figura 1A).

Na figura 1B, pode-se verificar que os empresários divergem em concordância quando se trata de conhecer os tipos de embalagens quanto a seus aspectos ambientais. Considerando-se que 7 é um nível de concordância considerado bom, nota-se que 69% dos entrevistados expressaram níveis entre bons e excelentes, acima de 7. Em sentido contrário, 16% demonstraram concordância baixa, níveis 3 e 4 com 8% cada, enquanto que 15% foram classificados na categoria mediana (nível 5).

Quando questionados se entendiam os riscos oriundos das embalagens ao meio ambiente, os empresários demonstraram concordâncias entre alta e muito alta com níveis de 7, 8, 9 e 10 para 15%, 8%, 15% e 62% dos respondentes (Figura 1C).

Pequena porcentagem dos entrevistados (8%) demonstrou conhecimento baixo (nível de concordância 4) quando indagados se conheciam embalagens alternativas ecologicamente corretas. 31%, 23%, 8% e 31% demonstraram concordância alta e muito alta, com níveis de 7, 8, 9 e 10, respectivamente (Figura 1D).

Na figura 1E, é possível observar que a maioria dos entrevistados (46%) expressaram nível máximo de concordância (10) seguidos de 15% que, respectivamente, tiveram níveis de concordância de 9 e 8, enquanto que 23% demonstraram nível 7, sendo todos classificados entre concordância alta e muito alta.

Verificou-se que 23% dos empresários tiveram concordância mediana quando arguidos se a utilização de embalagens ecologicamente corretas pode gerar lucros, onde 15% e 8% tiveram níveis de 5 e 6. Para a mesma pergunta, 8% e 38% indicaram níveis de 7 e 8, enquanto 8 e 23% dos empresários expressaram concordâncias de nível 9 e 10, respectivamente (Figura 1F).

A inserção das discussões ambientais nas empresas reflete o crescimento abrupto da conscientização ecológica nos ambientes de negócios, enfaticamente em decorrência da necessidade de cumprimento dos aspectos legais e filosofias socioambientais (FARIAS e TEIXEIRA, 2002). Com base nesta afirmação, pode-se inferir que os resultados encontrados nesta pesquisa denotam evolução significativa do setor empresarial jaboticabalense no que tange às suas atividades e a preocupação com o meio ambiente.

Figura 1. Percepção dos empresários quanto às embalagens. (A) Ao adquirir embalagens me preocupo com a procedência destes produtos; (B) Conheço os tipos de embalagens quanto a seus aspectos ambientais; (C) Entendo os riscos oriundos das embalagens ao meio ambiente;(D) Conheço embalagens alternativas ecologicamente corretas; (E) Acredito que embalagens ecologicamente corretas consistem em boa estratégia de marketing; (F) A utilização de embalagens ecologicamente corretas pode gerar lucros. Jaboticabal, SP, 2015.

Embora os resultados aqui apresentados denotem uma situação atual, é conveniente salientar que essa preocupação com o meio ambiente não é recente, pois foi a partir da década de 60 que o mundo começou a despertar para uma mudança em relação à consciência ambiental. Já na década de 90 houve um grande impulso acerca da qualidade ambiental, nessa década ocorreram grandes conferências sobre o meio ambiente, entre elas, por exemplo, está a Rio 92 (MOURA, 2008).

De acordo com Drunn e Garcia (2011) o consumo desenfreado tem sido fortemente discutido no planeta, com reflexos marcantes no setor empresarial, sobretudo em decorrência do desconhecimento de parte da população quanto ao risco de escassez dos recursos naturais. Embora a temática em questão tenha despertado grande parte do setor, alguns empresários ainda ignoram as questões ambientais e continuam seus negócios sem mudanças consideráveis no comportamento em relação ao meio ambiente, acreditando que o investimento em políticas ambientais não trará os retornos financeiros esperados (LIMA et al., 2014).

A situação descrita anteriormente ainda pode permear parte do empresariado jaboticabalense, o que pode ser facilmente percebido na figura 1, onde verifica-se que uma parcela dos empresários ainda expressa níveis baixos e medianos quanto a questões cruciais relacionadas a embalagens ecologicamente corretas e ao impacto ambiental positivo causado pelas mesmas.

Elevada porcentagem de empresários (30%) reportam que concordam em nível mediano, níveis 5 e 6, com 15% cada, quando questionados se acreditam que os consumidores apoiam a utilização de embalagens ecologicamente corretas, sendo que destes. Esta porcentagem aumenta levemente para 38% dos empresários classificados com nível de concordância alto, entre 7 e 8, com 23 e 15% dos entrevistados. Ainda com relação a esta questão, 31% dos entrevistados foram classificados com nível de concordância muito alto, sendo que deste total 8% expressaram nível 9 e 23% nível 10 (Figura 2A).

Verificou-se baixa concordância dos entrevistados em relação a perceberem que os consumidores pagariam mais por embalagens ecologicamente corretas, de modo que somente 16% concordaram em nível 9 e 10, com 8% cada. Verificou-se que os níveis de concordância 5, 6, 7 e 8 foram escolhidos por 15% dos empresários cada, totalizando 60%, dos quais metade foram classificados em mediana e metade em alta concordância. Acrescente-se que 23% dos respondentes demonstraram baixa concordância com níveis de 3 (15%) e 4 (8%), conforme pode ser verificado na figura 2B.

Ao serem arguidos quanto a conhecerem os danos causados pelo descarte incorreto de embalagens, 100% dos respondentes concordaram em nível muito bom, sendo 23% com nível 9 e 77% nível 10 (Figura 2C). A porcentagem de respondentes reduziu para 69%, sendo 15% com nível 9 e 54% com nível 10, quando questionados se gostariam de receber visitas de pessoas qualificadas para orientá-los quanto a questões ambientais, também, foi verificado que os níveis 6, 7 e 8 foram escolhidos por 8% cada, sendo estes classificados em concordância mediana e alta. Deve-se ressaltar que 8% responderam com nível 3, sendo esta parcela classificada como baixa concordância (Figura 2D).

Observando a figura 2E, pode-se notar que, ao serem arguidos se esta pesquisa chamou a atenção e fez refletir sobre o tema, pequena parcela de respondentes indicou nível 5 (8%), classificado como mediana concordância, enquanto que 8% e 23% indicaram níveis 7 e 8 (concordância alta), além de 8% e 53% informarem que suas concordâncias eram de níveis 9 e 10, respectivamente, classificada como muito alta. Expressiva porcentagem de respondentes, 84%, informaram que mudarão sua postura ambiental ao adquirirem embalagens, sendo classificados em níveis de concordância alto e multo alto. Vale ressaltar que os demais, 16%, expressaram concordância mediana, sendo 8% com nível 5 e 8% nível 6 (Figura 2F).

         

Figura 2. Percepção dos empresários quanto às embalagens. (A) Acredito que os consumidores apoiam a utilização de embalagens ecologicamente corretas; (B) Percebo que os consumidores pagariam mais por embalagens ecologicamente corretas; (C) Conheço os danos causados ao meio ambiente pelo descarte incorreto das embalagens;(D) Gostaria de receber visitas de pessoas capacitadas para me orientar quanto a questões ambientais; (E) Esta pesquisa me chamou atenção e me fez refletir sobre o tema; (F) Mudarei minha postura ambiental ao adquirir embalagens. Jaboticabal, SP, 2015.

Pesquisas relevantes foram desenvolvidas para verificarem a opinião de consumidores em relação à utilização de embalagens ecologicamente corretas (MATOS e ROMERO, 2012), bem como se estes pagariam um pouco mais para utilização destas (ANGEL e FOFONKA, 2011).

De acordo com a pesquisa global da Nielsen, aproximadamente, um em cada dois consumidores abriria mão de todas as formas de embalagem que oferecem conveniência, se isso beneficiasse o meio ambiente (PACK, 2008). Angel e Fofonka (2011) acrescentam que o consumidor verde prefere e paga mais por produtos ecológicos, não adquire produtos com empacotamento excessivo, prefere produtos com embalagem reciclável e/ou retornável, evita comprar produtos com embalagens não biodegradáveis, observa os selos verdes, entre outros comportamentos incorporados. Segundo Dias (2008), esse novo consumidor ecológico manifesta suas preocupações ambientais no seu comportamento de compra, buscando produtos que causam menos impactos negativos ao meio ambiente, e valorizando aqueles que são produzidos por empresas ambientalmente responsáveis.

Os achados desta pesquisa denotam que parte dos empresários de Jaboticabal dão pouca ou mediana credibilidade às embalagens ecologicamente corretas. Ottman (1994) reporta que a expressão consumidor verde é uma contradição, pois o consumo envolve a utilização de recursos naturais e geração de resíduos. Peattie e Charter (2005) explicam que tal contradição pode ser resolvida por meio do marketing verde.

Com base nos resultados da análise multivariada dos dados, é possível informar que foram necessários cinco componentes principais (CP) para explicar 88,33% (contribuição acumulada) da variabilidade observada, tendo os quatro primeiros componentes contribuído com 81,87% desta variação. Foram constatadas; no primeiro componente, três variáveis com carga expressiva, Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) ≥ 0,7; no segundo duas variáveis; no quarto uma variável; enquanto que, no terceiro e quinto componentes não houve variáveis com cargas expressivas (Tabela 1).

Para melhor entendimento destes resultados é importante salientar que, para Cruz e Carneiro (2003), autovetores de elevado valor, associados a autovalores responsáveis por 80% da variação explicada, referem-se aos caracteres de maior contribuição para a variância obtida.

Tabela 1. Cargas das variáveis, autovalores, contribuição relativa e acumulada (%) associados aos 5 primeiros componentes principais a partir de 12 questões aplicadas a uma população de 12 respondentes. Jaboticabal, SP, 2015.

Perguntas

Cargas das Variáveis

CP 1

CP 2

CP 3

CP 4

CP 5

P1

-0,7386 k

0,2714

-0,3079

0,0511

0,0091

P2

-0,6263

0,5528

-0,1608

0,4278

0,0515

P3

-0,8921 k

0,2182

0,0799

0,0964

-0,1558

P4

-0,4557

0,5154

0,4546

0,3012

-0,1851

P5

-0,6255

-0,0423

0,5768

0,0736

0,1556

P6

-0,6332

-0,1601

-0,5717

-0,2132

-0,2581

P7

-0,8019 k

-0,2796

0,4035

-0,1625

0,1906

P8

-0,5929

-0,5666

-0,1940

-0,0781

-0,4970

P9

-0,4932

0,1157

0,2252

-0,7941k

0,1597

P10

0,4264

0,2604

0,6114

-0,1724

-0,5397

P11

0,1981

-0,8253 k

0,3027

0,2905

-0,0747

P12

-0,5114

-0,7776 k

0,1015

0,2196

0,1338

Autovalores

4,45

2,48

1,72

1,16

0,77

Variância relativa (%)

37,12

20,72

14,34

9,68

6,47

Variância acumulada (%)

37,12

57,84

72,18

81,87

88,33

k: Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) ≥ 0,7; CP: componente principal; P: pergunta.

Por meio de análise de agrupamento das empresas, foi possível verificar a alocação das mesmas em 5 grupos distintos com base na distância euclidiana (Figura 3). Esta análise teve por finalidade reunir as unidades amostrais em grupos, de tal forma que exista homogeneidade dentro do grupo e heterogeneidade entre grupos (CRUZ e REGAZZI, 1994). De acordo com Albuquerque et al. (2006) diversas técnicas de agrupamento podem ser utilizadas com o mesmo objetivo desta pesquisa, porém cabe ao pesquisador utilizar a mais adequada conforme sua necessidade. Acrescente-se que, conforme estes autores, a técnica aqui empregada é classificada como hierárquica, onde esta consiste em uma série de sucessivos agrupamentos ou sucessivas divisões de elementos, em que os elementos são agregados ou desagregados.

Figura 3. Dendrograma resultante da análise de agrupamento das 12 empresas, utilizando-se a distância Euclidiana como medida de similaridade. Jaboticabal, SP, 2015.

Analisando-se a projeção bidimensional das empresas e perguntas realizadas aos empresários, figura 4, é possível verificar que, no primeiro e segundo componentes principais (CP 1 e CP 2), houve divergência de percepção entre os empresários com relação ao tema embalagens, onde CP 1 responde por 37,12% da variância total acumulada e CP 2 20,72% desta.

Constatou-se, no CP 1, que as empresas E7 e E10 expressaram maior divergência quando comparadas com E11 e E12, sendo esta percepção influenciada de maneira expressiva pelas perguntas P1 “Ao adquirir embalagens me preocupo com a procedência destes produtos”, P3 “Entendo os riscos oriundos das embalagens ao meio ambiente” e P7 “Acredito que os consumidores apoiam a utilização de embalagens ecologicamente corretas”, sendo verificadas cargas de -0,74, -0,89 e -0,80, respectivamente, para as três perguntas. Já no segundo componente principal, CP 2, as empresas E1 e E9 apresentaram homogeneidade entre si quanto à percepção, enquanto que divergiram das demais empresas, sendo estas divergências decorrentes das perguntas 11 “Esta pesquisa me chamou atenção e me fez refletir sobre o tema” e 12 “Mudarei minha postura ambiental ao adquirir embalagens” onde estas perguntas tiveram cargas de -0,82 e -0,78.

Estes resultados denotam a importância das perguntas P1, P3, P7, P11 e P12 para a avaliação da percepção ambiental e postura de empresários quanto a aquisição e utilização de embalagens. Tal importância pode ser ratificada na significativa contribuição de Cruz e Carneiro (2003) ao reportarem que as características de maior contribuição para a variância acumulada, nesta pesquisa representadas pelas perguntas, dependem das cargas de maior valor associadas a autovalores que explicam 80% da variação observada.

Figura 4. Projeção bidimensional (Biplot) das 12 empresas e 12 perguntas nos dois primeiros componentes principais, CP 1 e CP 2. Jaboticabal, SP, 2015.

O terceiro (CP 3) e quarto (CP 4) componentes principais, juntos, explicam 24,03% da variância relativa, onde CP 3 responde por 14,34% e CP4 9,69%. Em CP 3 as empresas E4, E5, E9 e E12 tiveram posicionamento distinto das empresas E6 e E8. Embora não tenham sido verificadas variáveis (perguntas) com cargas iguais ou maiores que 0,7, as perguntas, P5 “Acredito que embalagens ecologicamente corretas consistem em boa estratégia de marketing”, P6 “A utilização de embalagens ecologicamente corretas pode gerar lucros” e P10 “Gostaria de receber visitas de pessoas capacitadas para me orientar quanto a questões ambientais”, podem ser apontadas como responsáveis pela divergência de opinião entre as empresas. No CP 4, as empresas E2, E6 e E12 apresentaram opinião homogênea contrastando-se com a empresa E11, sendo este contrate atribuído à pergunta P9 que obteve carga expressiva de -0,79 (Figura 5). Em CP 5 não foram evidenciadas variáveis com cargas expressivas, tendo este componente explicado apenas 6,47% da variância relativa.

Figura 5. Projeção bidimensional (Biplot) das 12 empresas e 12 perguntas no terceiro e quarto componentes principais, CP 3 e CP 4. Jaboticabal, SP, 2015.

Para explicar a importância da influência das cargas das variáveis para avaliação da população alvo do estudo, Reis et al. (2015) mencionam que a variância decresce do primeiro ao último componente. Assim, baseando-se na afirmação destes pesquisadores, pode-se inferir que nesta pesquisa as perguntas P1, P3 e P7 foram as mais importantes e eficientes para verificar divergências na percepção e postura de empresários no que tange a obtenção e uso de embalagens. Em sentido complementar, as perguntas com cargas significativas nos demais componentes devem ser consideradas importantes para esta pesquisa.

Salienta-se que identificar variáveis que “caminham juntas”, ou seja, variáveis que apresentam a mesma estrutura subjacente consiste em importante processo alternativo de mensuração (TABACHINICK e FIDELL, 2007). A técnica pode ser implementada através da análise de componentes principais, tendo como principal objetivo reduzir uma grande quantidade de variáveis observadas a um número reduzido de fatores. Estes, representam as dimensões latentes, construtos, que resumem ou explicam o conjunto de variáveis observadas (HAIR et al, 2009; Figueiredo Filho e Silva Júnior, 2010).

Com base na informação anterior, é importante ressaltar que nesta pesquisa a utilização da técnica multivariada (ACP) foi empregada para facilitar a explicação do fenômeno estudado, além de reduzir o número de perguntas a serem realizadas por ocasião de entrevistas futuras. Neste sentido; Almeida et al. (2006), ao mencionarem que um dos objetivos da ACP é reduzir o número de variáveis, reforçam os resultados obtidos nesta pesquisa, onde foram evidenciadas 6 perguntas de maior relevância (P1, P3 e P7 em CP 1, P11 e P12 em CP 2 e P9 em CP 4) para os objetivos da equipe de pesquisa.

4. Conclusões

Existem divergências quanto a percepção e postura de empresários acerca da aquisição e utilização de embalagens ecologicamente corretas, de modo que há necessidade de incentivar estratégias de marketing e responsabilidade socioambiental nas empresas.

A análise de componentes principais pode ser utilizada como eficiente metodologia no tratamento quantitativo do questionário de opinião dos empresários. A técnica permitiu identificar os empresários quanto a sua percepção e postura, além de reduzir o número de perguntas do questionário de 12 para 6.

5.  Referências Bibliográficas

ALBUQUERQUE, M. A. de; FERREIRA, R. L. C.; SILVA, J. A. A. da; SANTOS, E. de S.; STOSIC, B.; SOUZA, A. L. de. Estabilidade em análise de agrupamento: estudo de caso em ciência florestal. Revista Árvore, v. 30, n. 2, p. 257-265, 2006.

ANGEL, G.; FOFONKA, L. A importância do consumidor verde e ISO 14000. Educação Ambiental em Ação. v. 10, n. 36, p. 1-17, 2011.

CASAGRANDE, Y. G.; FIGUEIREDO NETO, L. F.; Educação ambiental empresarial como necessidade competitiva: um estudo de multicasos em empresas de serviços. Educação Ambiental em Ação. v. 12, n. 45, p. 1-6, 2013.

CRUZ, C. D.; CARNEIRO, P. C. S. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético, v. 2. Viçosa, Minas Gerais, Brasil: Editora UFV, 2003.

CRUZ, C. D.; REGAZZI, A. J. Divergência genética. In: CRUZ, C. D.; REGAZZI, A. J. Métodos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. 1994. p. 287-323.

DAVINES. 2015. Eco-embalagens: Contribuição material para a sustentabilidade. Disponível em: < http://www.davines.com/br/about-davines/eco-packaging>. Acesso em: 26 de abril de 2015.

DIAS, R. Marketing ambiental: ética, responsabilidade social e competitividade nos negócios. São Paulo: Atlas, 2008.

DRUNN, K. C.; GARCIA, H. M. Desenvolvimento sustentável e gestão ambiental nas organizações. Revista Cientifica Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas da Eduvale. v. 4, n. 6, p. 01-11., 2011.

FARIAS, J. S.; TEIXEIRA, R. M. A pequena e micro empresa e o meio ambiente: A percepção dos empresários com relação aos impactos ambientais. Organizações & Sociedade, v. 9, n. 23, p. 1-20, 2002.

FIGUEIRE FILHO, D. B.; SILVA JÚNIOR, J. A. da. Visão além do alcance: uma introdução à análise fatorial. Opinião Pública, v. 16, n. 1, p. 160-185, 2010.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2010.

HAIR, J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise multivariada de dados. 6. ed. Bookman, 2009.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LIMA, A. S. de; BERTOLINE, G. R. F.; RIBEIRO, I. Avaliação da conduta de empresários da região Oeste do Paraná, Brasil, em relação aos investimentos para a preservação do meio ambiente. Revista Eletrônica de Administração e Turismo. v. 4, n. 2, p. 280-293, 2014.

MARTELLI, R. Excel 2013. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2013.

MATOS, B. G.; ROMERO, C. B. A. A atitude do consumidor em relação às características ecológicas das embalagens. Revista de Gestão Social e Ambiental, v. 6, n. 2, p. 149-164, 2012.

MORESI, E. 2003. Metodologia da Pesquisa. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Em Gestão Do Conhecimento e Tecnologia da Informação. Universidade Católica de Brasília – UCB. Brasília, 2003. Disponível em: < http://www.inf.ufes.br/~falbo/files/MetodologiaPesquisa-Moresi2003.pdf>. Acesso em: 26 de abril de 2015.

MOURA, L. A. A.; Qualidade e gestão ambiental. 5. ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2008.

OTTMAN, J. A. Marketing verde. São Paulo: Makron Books, 1994.

PACK: embalagem, tecnologia, design, inovação. São Paulo: São Paulo, 10 (130), 2008.

PEATTIE, K.; CHARTER, M. Marketing verde. In: Michael J. Baker (org). Administração de marketing – conceitos revistos e atualizados. Rio de Janeiro: Elsevier, p.517-537, 2005.

REIS, M. V. M.; DAMASCENO JUNIOR, P. C.; CAMPOS, T. de O.; DIEGUES, I. P.; FREITAS, S. C. de. Variabilidade genética e associação entre caracteres em germoplasma de pinhão-manso (Jatropha curcas L.). Revista Ciência Agronômica, v. 46, n. 2, p. 412-420, 2015.

RÉVILLION, A. S. P. A Utilização de Pesquisas Exploratórias na Área de Marketing. Revista Interdisciplinar de Marketing. v. 2, n. 2, p. 21-37, 2003.

ROCHA, C. R. L. Análise mercadológica de embalagens de papel. 2014. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Florestal) - Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília.

SANTANA, E. R. de. Segmentação do mercado consumidor do distrito federal conforme o seu comportamento ambiental. 2014. 19 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Gestão Ambiental) – Faculdade de Planaltina, Universidade de Brasília.

TABACHNICK, B.; FIDELL, L. Using multivariate analysis. Needham Heights: Allyn & Bacon, 2007.

VALE, W. de M.; VIANA, B. A. da S. Projeto coleta seletiva, um desafio escolar. Revista do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica. v. 2, n. 2, p.104-118, 2014.

ZAGO, V. C. P.; COSTA, E. R. H.; MORAIS, D. C. O. Uma visão sobre a gestão de resíduos sólidos no CEFET-MG através da aprendizagem contextualizada. Educação & Tecnologia, v. 19, n. 3, p. 91-103, 2014.

Ilustrações: Silvana Santos