Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
20/03/2004 (Nº 8) Entrevista com Flavio Pohlmann Livi
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Entrevista com Flavio Pohlmann Livi (8a. edição da revista eletrônica EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)
 
Por Berenice Gehlen Adams
 
Apresentação: Esta edição da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação tem a honra de apresentar o Professor Flavio Pohlmann Livi, mais um gaúcho engajado nas questões ambientais. O Professor Flavio é físico, com mestrado em Física Nuclear e doutorado em Física da Matéria Condensada. Agora aposentado, foi professor universitário (Instituto de Física da UFRGS) tendo lecionado, pesquisado e orientado na área de física experimental e engenharia. Nos últimos 12 anos tem-se dedicado a uma abordagem transdisciplinar das questões de Energia, Tecnologia e Meio Ambiente, bem como de seu ensino integrado, através da participação em pesquisas e cursos de Pós-Graduação e Extensão. Vamos conhecer um pouco mais do que ele pensa sobre Educação Ambiental, reaproveitamento, conscientização, entre outros assuntos abordados na entrevista.
           
- Dentro da Educação Ambiental a questão do reaproveitamento é fundamental.  Como o senhor vê essa questão?
 
O reaproveitamento ou reciclagem tem em potencial um duplo efeito: por um lado reduz a poluição e os custos, por outro reduz a pressão sobre os recursos naturais e efeitos decorrentes de sua exploração. É pois o caminho preferencial para a solução de problemas. Como sua implementação é intensiva em conhecimentos, sua viabilidade é dependente de uma educação adequada. A questão consiste na determinação do conteúdo pertinente e em como efetivar essa ação.
 
- Pela sua experiência, o senhor acha que a população, de uma forma geral, está se conscientizando sobre a necessidade de mudança de atitudes frente ao meio ambiente?
 
O movimento ambientalista cumpriu um papel de imensa importância quando iniciou a conscientização em massa de nossa civilização para sua insustentabilidade. A insustentabilidade se verifica em várias vertentes, mas foi a ambiental que, por sua agudeza, conseguiu dar o alarme. Se não fosse por ela, tudo prosseguiria até um colapso de grandes proporções. Acredito que o processo de conscientização teve êxito. A população já está se dando conta dos problemas, de suas causas e da necessidade de seu enfrentamento. O prosseguimento do trabalho certamente passa por divulgar os conhecimentos e dados necessários para desenvolver um senso crítico na sociedade. Se toda a população não puder ser atingida, que pelo menos o seja uma parcela que possa encarar com lucidez a barragem de argumentos de toda natureza levantados pelas partes interessadas. Argumentos esses que, embora muitas vezes incompletos, inconsistentes ou contraditórios, não podem ser avaliados sem a capacitação adequada.
                   
- Qual é, no seu ponto de vista, o maior problema ambiental da atualidade?
 
Não é a poluição ambiental aguda. É a poluição generalizada, sutil, do ar, da água, dos alimentos, do ambiente eletromagnético. Também, não podemos esquecer, a poluição e a degeneração da informação. A essa última poderíamos chamar de poluição noosférica.
 
- Fala-se muito do despreparo dos educadores em trabalhar a Educação Ambiental. O que poderia ser feito para minimizar essa questão?
 
Acredito que realmente há esse despreparo e que é necessário fazer algo para minimizá-lo. A ação de maior efeito de alavancamento seria uma campanha de aperfeiçoamento de professores, principalmente de nível médio. Não creio na eficácia, pensando em um aumento de conscientização da população, de cursos específicos em Educação Ambiental, como disciplina isolada. Entendo que, para uma real conscientização, a Educação Ambiental deve ocorrer dentro de um contexto. Basta lembrar que a Educação Ambiental necessita utilizar todo um vocabulário técnico referente a questões de biologia, química, física, ecologia, etc. É impossível uma clareza conceitual sem que haja uma real compreensão das informações transmitidas. Creio que é mais viável introduzir a problemática ambiental no decorrer da aquisição dos diferentes conhecimentos específicos do que a operação inversa. Professores com conhecimentos integrados, principalmente de ciências, seriam os atores mais eficientes para a função que temos em vista. Uma apresentação integrada das vantagens e problemas da utilização de tecnologia traria o benefício de atenuar os preconceitos.
 
- O que o senhor pensa da Educação Ambiental e quais as ações que seriam prioritárias em sua prática?
 
Apesar do êxito que teve ao dar o alerta, o Movimento Ambientalista ficou mais concentrado na denúncia dos problemas, sem conseguir avançar tão rápido nas soluções. Isso é natural, já que as soluções têm implicações e exigem recursos de natureza financeira, política, tecnológica, de ação social, etc. Algumas ações implicam em verdadeiras revoluções e em outros não se conhece mesmo as soluções. Assim sendo,  a viabilização de soluções em questões ambientais depende de uma ampla divulgação de idéias e informações em todos os níveis, desde a escola básica até os altos escalões de gerenciamento e governo. Entendo que esta é a função da EA. Não se pode esperar respostas instantâneas, é necessário prosseguir com  a pressão e o esclarecimento.
  
- Frente a questão tão controversa dos transgênicos, o que o senhor tem a dizer ?
 
É um caso típico de poluição noosférica. A maioria dos que apoiam incondicionalmente a transgenia não andaria de avião se a indústria aeronáutica empregasse o mesmo tipo de critérios na adoção de inovações.  
 
- Para  finalizar, deixe um recado para o público da Educação Ambiental em Ação:
 
Continuem.

 Nós, Editores(as) e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos esta entrevista. Muito Obrigada!

Ilustrações: Silvana Santos