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Entrevista com Flavio Pohlmann Livi (8a. edição da revista eletrônica
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)
Por Berenice Gehlen Adams
Apresentação: Esta edição da revista eletrônica Educação Ambiental
em Ação tem a honra de apresentar o Professor Flavio Pohlmann Livi, mais um gaúcho
engajado nas questões ambientais. O Professor Flavio é físico, com mestrado
em Física Nuclear e doutorado em Física da Matéria Condensada. Agora aposentado,
foi professor universitário (Instituto de Física da UFRGS) tendo lecionado, pesquisado
e orientado na área de física experimental e engenharia. Nos últimos 12 anos
tem-se dedicado a uma abordagem transdisciplinar das questões de Energia, Tecnologia
e Meio Ambiente, bem como de seu ensino integrado, através da participação em
pesquisas e cursos de Pós-Graduação e Extensão. Vamos conhecer um pouco mais
do que ele pensa sobre Educação Ambiental, reaproveitamento, conscientização,
entre outros assuntos abordados na entrevista.
- Dentro da Educação Ambiental a questão do reaproveitamento é
fundamental. Como o senhor vê essa questão?
O reaproveitamento ou reciclagem tem em potencial um duplo efeito: por um lado reduz
a poluição e os custos, por outro reduz a pressão sobre os recursos naturais
e efeitos decorrentes de sua exploração. É pois o caminho preferencial para a
solução de problemas. Como sua implementação é intensiva em conhecimentos,
sua viabilidade é dependente de uma educação adequada. A questão consiste na
determinação do conteúdo pertinente e em como efetivar essa ação.
- Pela sua experiência, o senhor acha que a população, de uma forma geral,
está se conscientizando sobre a necessidade de mudança de atitudes frente ao meio
ambiente?
O movimento ambientalista cumpriu um papel de imensa importância quando iniciou
a conscientização em massa de nossa civilização para sua insustentabilidade.
A insustentabilidade se verifica em várias vertentes, mas foi a ambiental que,
por sua agudeza, conseguiu dar o alarme. Se não fosse por ela, tudo
prosseguiria até um colapso de grandes proporções. Acredito que o processo de
conscientização teve êxito. A população já está se dando conta dos problemas,
de suas causas e da necessidade de seu enfrentamento. O prosseguimento do
trabalho certamente passa por divulgar os conhecimentos e dados necessários para
desenvolver um senso crítico na sociedade. Se toda a população não puder ser
atingida, que pelo menos o seja uma parcela que possa encarar com lucidez a
barragem de argumentos de toda natureza levantados pelas partes interessadas. Argumentos
esses que, embora muitas vezes incompletos, inconsistentes ou contraditórios, não
podem ser avaliados sem a capacitação adequada.
- Qual é, no seu ponto de vista, o maior problema ambiental da atualidade?
Não é a poluição ambiental aguda. É a poluição generalizada, sutil, do ar,
da água, dos alimentos, do ambiente eletromagnético. Também, não podemos
esquecer, a poluição e a degeneração da informação. A essa última poderíamos
chamar de poluição noosférica.
- Fala-se muito do despreparo dos educadores em trabalhar a Educação
Ambiental. O que poderia ser feito para minimizar essa questão?
Acredito que realmente há esse despreparo e que é necessário fazer algo para
minimizá-lo. A ação de maior efeito de alavancamento seria uma campanha de
aperfeiçoamento de professores, principalmente de nível médio. Não creio na
eficácia, pensando em um aumento de conscientização da população, de cursos
específicos em Educação Ambiental, como disciplina isolada. Entendo que, para
uma real conscientização, a Educação Ambiental deve ocorrer dentro de um contexto.
Basta lembrar que a Educação Ambiental necessita utilizar todo um vocabulário
técnico referente a questões de biologia, química, física, ecologia, etc. É
impossível uma clareza conceitual sem que haja uma real compreensão das informações
transmitidas. Creio que é mais viável introduzir a problemática ambiental no
decorrer da aquisição dos diferentes conhecimentos específicos do que a operação
inversa. Professores com conhecimentos integrados, principalmente de ciências,
seriam os atores mais eficientes para a função que temos em vista. Uma
apresentação integrada das vantagens e problemas da utilização de tecnologia
traria o benefício de atenuar os preconceitos.
- O que o senhor pensa da Educação Ambiental e quais as ações que seriam
prioritárias em sua prática?
Apesar do êxito que teve ao dar o alerta, o Movimento Ambientalista ficou mais
concentrado na denúncia dos problemas, sem conseguir avançar tão rápido nas
soluções. Isso é natural, já que as soluções têm implicações e exigem
recursos de natureza financeira, política, tecnológica, de ação social, etc.
Algumas ações implicam em verdadeiras revoluções e em outros não se conhece
mesmo as soluções. Assim sendo, a viabilização de soluções em questões
ambientais depende de uma ampla divulgação de idéias e informações em todos
os níveis, desde a escola básica até os altos escalões de gerenciamento e
governo. Entendo que esta é a função da EA. Não se pode esperar respostas
instantâneas, é necessário prosseguir com a pressão e o
esclarecimento.
- Frente a questão tão controversa dos transgênicos, o que o senhor tem a
dizer ?
É um caso típico de poluição noosférica. A maioria dos que apoiam
incondicionalmente a transgenia não andaria de avião se a indústria aeronáutica
empregasse o mesmo tipo de critérios na adoção de inovações.
- Para finalizar, deixe um recado para o público da Educação
Ambiental em Ação:
Continuem.
Nós, Editores(as) e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação
Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos esta
entrevista. Muito Obrigada!