Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM OFICINAS PEDAGÓGICAS: REFLEXÕES A PARTIR DE DESENHOS
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM OFICINAS PEDAGÓGICAS: REFLEXÕES A PARTIR DE DESENHOS

 

 

Ricardo Cardoso Aguiar

Graduando em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Tocantins (UFT), Porto Nacional, ricardoaguiar@hotmail.com.br Endereço para correspondência: Rua 03, Quadra 17, Lote 11, S/Nº, Jardim dos Ipês, CEP: 77500-000, Porto Nacional – TO

 

 

Carolina Machado Rocha Busch Pereira

Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta do curso de Geografia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Porto Nacional, carolinamachado@uft.edu.br  Endereço para correspondência: Rua 03, Quadra 17, Lote 11, S/Nº, Jardim dos Ipês, CEP: 77500-000, Porto Nacional – TO

 

 

 

 

Resumo:  O presente artigo é fruto de trabalho desenvolvido no âmbito do Programa de Extensão Universitária ProExt 2013 “A formação de professores do Ensino Fundamental com vistas ao reconhecimento e conservação dos Recursos Naturais na Amazônia Legal, a partir de um estudo multidisciplinar da Bacia Hidrográfica do Ribeirão São João - Porto Nacional – TO”. As oficinas de educação ambiental realizadas durante o Projeto São João proporcionaram aos estudantes o contato com metodologias e práticas de ensino diversificadas, e uma das oficinas realizadas foi a de desenho e é sobre esta que a presente pesquisa foca seu objetivo e estrutura sua reflexão. Toda a proposta deste trabalho está fundamentada na análise dos materiais didáticos produzidos nas oficinas. A proposta deste trabalho busca romper com o tradicionalismo dos procedimentos no ensino de ciências, em especial o uso excessivo do livro didático e o ensino pautado na transmissão e memorização conteudista e problematizar as questões ambientais a partir do cotidiano do aluno e da relação do mesmo com o ambiente. Os materiais produzidos nas oficinas nos permitem compreender o cotidiano dos alunos, visto que é uma prática metodológica baseada na investigação de situações-problema vivenciadas no dia-a-dia dos alunos.

 

Palavras-chave: Práticas Pedagógicas, Oficinas, Desenho, Ensino, Natureza.

 

 

 

 

1. Considerações Iniciais

 

O presente artigo é fruto de trabalho desenvolvido no âmbito do Programa de Extensão Universitária “A formação de professores do Ensino Fundamental com vistas ao reconhecimento e conservação dos Recursos Naturais na Amazônia Legal, a partir de um estudo multidisciplinar da Bacia Hidrográfica do Ribeirão São João - Porto Nacional – TO” realizado na Universidade Federal do Tocantins UFT campus de Porto Nacional no ano de 2013 e financiado pelo edital ProExt 2013 do Ministério da Educação. O Projeto Ribeirão São João, como ficou conhecido, foi um projeto que envolveu estudantes da graduação e pesquisadores dos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Geografia e Pedagogia e teve como meta a elaboração de um conjunto de ações desenvolvidas no entorno da Bacia do Ribeirão São João (Figura 01) situado no Município de Porto Nacional, TO com o objetivo de diagnosticar as condições ambientais e sensibilizar a população do entorno em práticas educativas de educação ambiental.

 

Fig. 1 - Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão São João, Porto Nacional, TO.

Fonte: LEITE & CARVALHO, 2013, p.100.

 

 

Considerando que o projeto que originou a presente pesquisa continha um recorte mais amplo, cabe informar que a presente pesquisa foi construída a partir do projeto, mas não se objetiva a estudá-lo em sua totalidade, mas antes analisar a representação da relação homem-natureza nos desenhos produzidos durante uma das oficinas realizadas no âmbito do Projeto São João. As oficinas de educação ambiental realizadas durante o Projeto São João proporcionaram aos estudantes o contato com metodologias e práticas de ensino diversificadas, e, uma das oficinas realizadas, foi a de desenho e é, sobre essa que a presente pesquisa foca seus objetivos e estrutura sua reflexão.

A proposta deste trabalho busca romper com o tradicionalismo dos procedimentos no ensino de ciências, em especial o uso excessivo do livro didático e o ensino pautado na transmissão e memorização conteudista, para, problematizar as questões ambientais a partir do cotidiano do aluno e da relação do mesmo com o ambiente. Importante ressaltar que a presente proposta em consonância com a didática das ciências proposta pelos documentos oficiais que sugere relacionar conteúdos diversos e trabalhar com a realidade do aluno, propõe um ensino que possa contribuir com o futuro dos alunos como cidadãos conscientes dos problemas ambientais.

 

 

2. A prática de ensino em oficinas pedagógicas

 

A realização de oficinas na prática pedagógica não é algo novo, mas ainda assim suscita curiosidade para os alunos. A primeira questão que se coloca em um trabalho com oficinas é sobre o seu real significado.

O que é uma oficina pedagógica?

Há muitos caminhos para responder esta questão, optamos por utilizar as contribuições de Celestin Freinet que desde 1920 cunhou o termo “oficina pedagógica”.

Sensibilizado com a situação escolar das crianças da classe operária e do campesinato francês, segundo Costa (2006) Freinet buscou alternativas que auxiliassem no processo de ensino e aprendizagem das crianças. Com suas experiências didáticas adquiridas através das observações de seus alunos passou a fazer fortes críticas às normas severas propostas pelas escolas francesas.

Defensor de uma pedagogia que tornasse o processo de aprendizagem uma prática prazerosa, a proposta de Freinet (COSTA, 2006) surgiu em um cenário marcado por grandes desigualdades sociais, já que o continente europeu passava pelo período entre guerra: a Primeira (1914 – 1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Para que sua pedagogia se consolidasse Freinet travou constantes lutas contra o sistema socioeconômico e político na tentativa de afastar da sala de aula as práticas alienantes como a exploração humana causadoras das desigualdades entre as classes sociais impostas pelo sistema capitalista.

Por acreditar na criança, como agente de transformação social, Freinet propôs uma prática pedagógica que despertasse nelas a necessidade de agir, buscar e de descobrir novos caminhos para que tornassem adultos críticos e conscientes dos seus papéis sociais (COSTA, 2006).

Nesse sentido suas técnicas pedagógicas eram baseadas na experimentação e documentação centradas nos trabalhos manuais, onde escola e professor pudessem contribuir com as experiências vividas pelas crianças. Segundo Freinet (apud COSTA, 2006) o verdadeiro conhecimento é adquirido com a prática cotidiana. Por isso a proposta pedagógica freinetiana contempla a observação da natureza e as necessidades das crianças. Para ele as leis impostas pelo sistema educacional não atendiam as necessidades básicas dos seres humanos e não tinham validade em nenhum outro lugar a não ser dentro da escola.

Segundo Costa (2006) Freinet idealizou e criou um movimento que lutava por uma escola livre, isto é, a escola popular, onde a livre expressão era um de seus princípios pedagógicos. O modelo de escola defendida por ele permite ao aluno expressar suas opiniões, sentimentos e ao mesmo tempo discutir e refletir sobre as práticas do cotidiano familiar. Freinet acreditava que essa metodologia favorecia a escrita e o relacionamento entre as pessoas. Foi preocupado com o fracasso escolar das crianças das classes baixas francesas que Freinet iniciou as oficinas pedagógicas, designando como tal, situações de ensino aprendizagem que envolvesse professor e alunos num trabalho motivante e participativo. Sua proposta pedagógica teve como principio norteador a melhoria da qualidade do ensino, no sentido de superar o baixo desempenho escolar das crianças, sobretudo das zonas rurais francesas. Pelas suas peculiaridades, a oficina pedagógica representa uma inovação nos padrões de gestão pedagógica (COSTA, 2006).

Matos e Feitas (2007, p. 4), afirmam que

 

Oficinas permitem reflexões, especialmente, no que diz respeito às dificuldades envolvidas em se romper com o modelo tradicional de ensino, pois o objetivo não é prescrever receitas, ‘conscientizar’ ou fechar as questões propostas, determinando o certo e o errado, mas sim contemplar, ao menos em parte, a diversidade de opiniões e comportamentos existentes relativos a essas temáticas.

 

Pontuschka (apud SILVA et al. 2012, p. 8.) ressalta que “o desenho do aluno, é para o professor, um elemento de análise sobre o desenvolvimento cognitivo de certa realidade representada pelo aluno”.

Nessa perspectiva as oficinas de desenhos mostraram-se fundamentais e com bons resultados na prática educativa e na percepção dos alunos. Os desenhos acabam por oferecer uma série de informações ligadas à realidade vivida pelos alunos e são instrumentos facilitadores para aferir a compreensão dos mesmos quanto às atividades realizadas.

 

 

3. A importância do desenho na construção da aprendizagem

 

O desenho é uma importante ferramenta utilizada no processo de construção do conhecimento. Vygotsky (1988) interpreta o desenho como sendo um estágio preliminar do desenvolvimento da escrita, já que desenho e escrita possuem a linguagem falada como origem de construção. A criança até os seis anos de idade (estágio pré–operacional) utiliza o desenho por acreditar que a escrita não fornece certa segurança para elucidar o seu pensamento. O desenho é uma forma confiável que ela encontra para expor suas ideias, ou seja, o desenho é um meio facilitador que a criança encontra para expressar seu conhecimento sobre determinado objeto.

Araújo e Fratari (2011) afirmam que a criança encontra no desenho uma forma de expressar sua própria história e expor seus pensamentos. Assim o desenho é uma forma de ação e de interação da criança com o meio.

Piaget (1971) trata o desenho como uma manifestação semiótica, cuja origem é o período simbólico, mas que evolui com os estágios de desenvolvimento cognitivo da criança.

Apesar de abordarem o desenho sob diferentes enfoques Piaget e Vygotsky possuem visões próximas quando se referem à importância do desenho na construção do conhecimento da criança. Segundo esses autores, a criança só desenha o que realmente a interessa, sendo uma representação somente do conhecimento que ela possui sobre o objeto.

Por se tratar de um recurso onde a criança é estimulada a expor o seu verdadeiro conhecimento, o uso do desenho em sala de aula se torna uma estratégia de enriquecimento da capacidade cognitiva do aluno. Por outro lado é um dispositivo pedagógico que auxilia o trabalho do professor na busca do conhecimento da sua turma.

 

 

4. A educação ambiental e a relação da sociedade com a natureza

 

Ao longo da história da humanidade o processo de modificação do meio sempre esteve presente. Visando o conforto e a comodidade o homem passou a desenvolver técnicas que facilitam o domínio deste sobre o meio em que ele vive.

A problemática da questão ambiental muitas vezes se confunde com o surgimento da espécie humana, mas foi com o advento das revoluções industriais, cujo berço foi o continente europeu e posteriormente se transferiu para outras partes do planeta que essa situação se alastrou. A chamada era da tecnologia trouxe consigo uma expansão alarmante dos problemas ambientais que foram se disseminando por todas as partes do planeta.

Narcizo (2009) afirma que o desenvolvimento da indústria e tecnologia nos últimos tempos é o fator responsável por esse estado avançado de depreciação do meio ambiente. Segundo a autora, uma visão antropocêntrica e gananciosa conferiu ao homem poderes de explorar ao máximo os recursos naturais sem se preocupar com as consequências de seus atos.

Assim, a sociedade capitalista é sempre apontada como a culpada por esses desastres ambientais, pois além de tratar os recursos naturais como fonte de matéria prima para o próprio consumo, esse modelo de sociedade utiliza o ambiente natural como depósito de seus resíduos.

Nesse sentido o capitalismo acaba por oferecer agressões múltiplas ao meio ambiente, isto é, explora a natureza retirando dela os bens para o consumo e descarta nela os resíduos como produto final desse consumo.

O uso irracional dos recursos naturais coloca o homem como o agente principal da transformação do meio ambiente, a cada dia que passa a relação entre homem e natureza tem se tornado mais conflitante a ponto de não termos mais que preocuparmos somente com as gerações futuras, mas sim com a geração presente. A exploração ilegal dos recursos naturais juntamente com o crescimento demográfico desordenado tem como fruto uma série de problemas ambientais como a destruição das florestas em larga escala, assoreamento de córregos e nascentes e a lixiviação do solo devido ao uso de defensivos químicos nas práticas agrícolas.

Estamos vivendo um momento de constantes reflexões a respeito das problemáticas ambientais causadas tanto pelo crescimento populacional desordenado quanto pelo modelo de produção capitalista. Diante disso a escola acaba se tornando o palco central dessa discussão, pois além de promover a interação entre os alunos essa discussão desperta neles a busca pelo conhecimento a respeito do tema.

 

 

5. Materiais e métodos

 

A oficina de educação ambiental com o uso do desenho foi desenvolvida com a participação de 34 alunos com idades entre 8 e 17 anos. A oficina foi realizada em um único encontro nas dependências da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Porto Nacional.

Algumas estratégias foram utilizadas para uma maior integração e interesse dos estudantes, entre elas, a contextualização da temática. Para a contextualização da temática “Educação Ambiental” realizou-se a leitura de texto escrito exclusivamente para a realização da oficina.

 

Era uma vez um menino, filho de um pescador, que morava próximo de um rio. A pesca era a fonte de sustento de toda a família. O pai todas as vezes que ia para o rio chamava o garoto, que sempre o acompanhava. O garoto gostava muito da natureza, e ficava observando a paisagem e tudo que havia em volta. Mas um dia o garoto percebeu que a paisagem do rio e do que havia em volta estava começando a mudar.”

 

Após a leitura do texto os alunos foram convidados a representar a continuidade da história através do desenho.

Como material de suporte para a oficina foram utilizadas folhas de papel A4, Lápis de Grafite e Multi cores.  O tempo destinado a elaboração dos desenhos foi de 30 minutos.

Para continuidade da reflexão elegemos 13 desenhos do universo de 34. Todos os alunos que participaram foram selecionados pela Associação de Canoagem de Porto Nacional. 

 

 

6. Resultados

 

Os desenhos escolhidos foram de crianças e adolescentes com faixa etária que variaram de 11 a 17 anos estudam em diferentes níveis de escolaridade, ou seja, alguns estão cursando o ensino médio e outros o ensino fundamental. As crianças possuem algum conhecimento sobre a temática da educação ambiental uma que a Associação de Canoagem além da prática do esporte incentiva a educação regular e a prática de atividades saudáveis e ambientalmente sustentáveis, com cursos e palestras.

A oficina de desenho favoreceu a identificação das diversas formas de ver a relação do homem com a natureza. A análise dos desenhos permitiu identificar dois grupos que representaram a relação de formas distintas. O primeiro grupo mostrou com os desenhos que percebe a relação conflitante do homem com a natureza, isto é, para esses estudantes a presença do homem acaba gerando impactos negativos ao meio ambiente. Os desenhos representam as práticas divergentes dos seres humanos que agem como se fossem os únicos habitantes do planeta causando alterações ao meio ambiente. Os impactos aqui representados em sua maioria estão relacionados à falta de interesse do ser humano em ajudar o meio ambiente. Todos os desenhos apresentam o descarte de lixo de maneira incorreta; ação responsável por diversos danos ao meio ambiente uma vez que o acúmulo de lixo em um curso d’água além de causar transtornos ao próprio ser humano pode dizimar espécies viventes naquele local.  Na figura 2, estão representados alguns desenhos.

 

 

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Fig. 2 - Os vários aspectos de uma relação conflitante entre Homem e Natureza. 2A: Descarte incorreto do lixo e a escassez da vegetação ciliar; 2B: Poluição dos cursos d’água; 2C: . Degradação dos Recursos Hídricos pelo acúmulo de lixo; 2D: Descaso do ser humano com o meio ambiente; 2E: Poluição do Rio; 2F: Ação depredatória do ser humano sobre os Recursos Naturais; 2G: Atividade de lazer em meio à poluição; 2H: Descarte de Resíduos Sólidos no Rio; 2I: Rio destruído pela ação humana.

 

 

Os desenhos acima representam os atributos, de destruir e dominar. Ações essas, inertes a raça humana que até os dias de hoje ainda acredita que a sua sobrevivência depende da exploração sem limites dos recursos naturais considerando-os como fontes inesgotáveis.

Analisando os desenhos verificou-se também (Fig. 3) outro grupo que possui uma visão diferenciada dessa relação. Em suas representações prevalece certa harmonia na relação entre homem e meio ambiente visto que os desenhos apresentam o homem realizando suas atividades de maneira que os impactos causados por tal atividade são mínimos ao meio ambiente.

 

 

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Figura 3 - Relação harmoniosa entre homem e natureza. 3A: Pesca para a subsistência; 3B: Prática Esportiva no Rio; 3C: Passeio de Caiaque no Rio; 3D: Pesca em Barco a remo.

 

Analisando as representações deste ultimo grupo observa-se uma maneira diferenciada de pensar a relação homem-natureza. As expressões expostas nos desenhos mostram as atividades dos homens que agem como parte integrante da natureza.

 

 

7. Discussões

 

O processo de ensino-aprendizagem exige uma dedicação máxima e propõe grandes desafios aos educadores. Ser professor não é uma tarefa fácil, pois segundo Krasilchik (2008), a Biologia, por exemplo, pode ser uma das disciplinas mais merecedoras da atenção dos alunos, ou uma das disciplinas mais insignificantes e sem atração, pois depende muito do conteúdo que for ensinado e de como for ensinado. Por isso o professor deve atentar-se para o significado da Ciência e da Tecnologia, e evitar ao máximo os comportamentos alienantes.

Por esta razão ressaltamos a importância das práticas metodológicas que possam envolver professor e aluno em um processo mais significativo e motivador para ambos.

Nesse sentido, o uso de oficinas pedagógicas de desenhos favoreceu a produção de conhecimento a partir de situações vivenciadas por cada um dos participantes. Nos desenhos apareceram elementos do cotidiano vividos por esses estudantes. Um exemplo é a presença do Caiaque nos desenhos 2E, 2G, 3B e 3C que apesar de representarem aspectos diferentes na forma do ser humano se relacionar com a natureza, colocam a prática do remo como elemento representativo. Isso é justificável pelo fato de esses estudantes praticarem aulas de canoagem semanalmente nas águas do lago formado pela construção da Usina Luis Eduardo Magalhães. Outro elemento comum em quase todas as representações são os rastros da destruição humana como é o caso do despejo de lixo em locais inadequados. Para esses estudantes este cenário acaba sendo normal, já que eles estão em contato direto com as águas do Ribeirão no perímetro urbano, onde o acúmulo de lixo se faz em grande escala.

Os resultados obtidos neste trabalho corroboram com outros trabalhos realizados com desenhos. Araújo e Fratari (2011) ao refletirem sobre o ato de desenhar afirmam que o desenho é uma forma de linguagem pela qual a criança ver a oportunidade de representar sua cultura. Os autores ainda ressaltam que uma investigação mais detalhada de um desenho pode mostrar elementos da vida de uma criança que até o momento eram desconhecidos pelo professor.

 

 

8. Considerações Finais

 

Os desenhos produzidos na oficina nos permitem compreender o cotidiano dos alunos a partir da representação visual, visto que é uma prática metodológica baseada na investigação de situações-problema vivenciadas no dia-a-dia dos alunos. Por outro lado, apesar de ser uma prática educativa que surgiu há quase um século, os resultados obtidos com o uso de oficinas pedagógicas nos permitem discutir assuntos pertinentes à atualidade como é o caso da problemática ambiental. Um assunto que dependendo da forma que for abordado em sala de aula já não desperta tanto interesse por parte dos estudantes, visto que é um tema bem difundido pelos meios de comunicação em massa.

É importante ressaltarmos que os resultados obtidos com essa prática foram satisfatórios e que mostraram elementos positivos para a dinâmica da sala de aula.

 

 

9. Referências

ARAÚJO. R. M.; FRATARI. M. H. D. O Olhar do Educador Infantil Frente ao Desenho Infantil e suas Contribuições. Revista Católica v 3 n 5 – Jan/ Jun, 2011. Disponível em: . Acesso em 31 Mar 2014.

CARDOSO. L. R.; TEIXEIRA T. A. Documentário Ambiental: Notas sobre uma produção com educandos. Revista Ambiente & Educação v 18 n. 1 p 59-77, 2013 Disponível em: Acesso em: 05 Mai 2014

COSTA M. C. C. A pedagogia de Célestin freinet e a vida cotidiana como central na prática pedagógica. Revista Hitedbr. On-line. Campinas, SP, n 23, p 26-31, Set.06 Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/23/art02_23.pdf>. Acesso em 06 Mai 2014.

KRASILCHIK, M. Práticas de Ensino de Biologia. 4ª ed. São Paulo: Ed USP, 2008

LEITE. E. M.; CARVALHO, E. M. Mapeamento do Uso e Cobertura da Terra na Bacia Hidrográfica do Ribeirão São João, Porto Nacional, Tocantins.Revista Geoambiente On-line. Jataí, GO, n 20, p 97-110, Jan- Jun /2013. Disponível em .  Acesso em 02 Jul 2014.

MAPA, Porto Nacional. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Nacional>. Acesso em: 13 Mai 2014

MATOS S. O.; FREITAS D. S. Problematizando representações sobre corporeidade através de oficinas pedagógicas. Disponível em: . Acesso em: 17 Dez 2013

NARCIZO. K R. S. Uma análise sobre a importância de trabalhar educação ambiental nas escolas. Revista REMEA.v 22, p 86-94, Jan-Jun/2009. Disponível em: . Acesso em: 18 jan 2014.

PIAGET, J.A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

SILVA. P. A.;GOMES. R. J.;LELIS D. A J. A importância das oficinas pedagógicas na construção do conhecimento cartográfico: novas proposições metodológicas para o ensino de geografia. Disponível em:<http://www.educonufs.com.br/cdvicoloquio/eixo_05//>. Acesso em: 18 Dez 2013.

VIGOSTSKY, L.A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

Ilustrações: Silvana Santos