Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DA ÁGUA QUENTE, SÃO CARLOS, ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL.
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2001 
  

Identificação e análise de ações de Educação Ambiental na Bacia Hidrográfica do Córrego da Água Quente, São Carlos, estado de São Paulo, Brasil.

Autores: 1. Mariana Dorici (Graduanda do Curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos. E-mail: marianadorici@gmail.com).

2. Priscila Narcizo da Silva (Graduanda do Curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos. E-mail: Priscila.narcizo@hotmail.com).

3. Frederico Yuri Hanai (Professor do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos, Doutor em Engenharia Ambiental pela USP/EESC. E-mail: fredyuri@ufscar.br).

 

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento das ações de Educação Ambiental realizadas na bacia hidrográfica do Córrego Água Quente, São Carlos, São Paulo, Brasil. Verificando potencialidades e fragilidades de atividades e ações que já ocorreram ou estão ocorrendo nesta área de estudo para indicar assim, uma vertente de melhoria e integração dessas iniciativas na bacia hidrográfica em questão.

Percebendo-se a potencialidade de entidades e organizações existentes na região o presente trabalho promoveu maior qualidade de informações voltadas para Educação Ambiental, fornecendo subsídios para o desenvolvimento dessa e incentivando a elaboração e implementação de projetos futuros.

O banco de dados resultante da presente pesquisa estabeleceu uma visão crítica dos problemas socioambientais da Bacia Hidrográfica, reconhecendo a importância das ações de educação ambiental e a necessidade de integração destas para se evitar a pontualidade das futuras ações a serem desenvolvidas.

Palavra chave: Educação Ambiental, Bacia Hidrográfica, integração.

 

1.    INTRODUÇÃO

Desde o início dos anos 60 a educação já era mencionada como um instrumento de formação dos indivíduos com relação ao meio ambiente, mas, ainda não se falava explicitamente em Educação Ambiental. Essa expressão foi usada pela primeira vez na Conferência de Educação, em 1965, promovida pela Universidade de Keele, na Inglaterra, com o propósito de se tornar parte essencial da educação de todos os cidadãos. Nesse evento, a Educação Ambiental foi definida como instrumento fundamental na conservação da natureza, cujo veículo de transmissão seria a Biologia (RAMOS, 2006).

Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental esta é um direito de todos, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo escolar e não escolar, pois é um componente essencial e permanente da educação nacional (OLIVEIRA, 2007).

Dessa forma, a educação ambiental é reconhecida mais do que como uma ferramenta para se atingir um objetivo, resolver um problema, ou mudar comportamentos, ela é também, parte fundamental dos processos educativos, de uma concepção de educação que tem como objetivo a construção de projetos transformadores da sociedade e para o desenvolvimento humano integral (OLIVEIRA, 2007).

A maior parte da população brasileira vive em cidades, e com base neste contexto observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea (JACOBIO, 2003).

Portanto, o presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento das ações de Educação Ambiental realizadas na bacia hidrográfica do Córrego Água Quente, São Carlos, São Paulo, Brasil. Verificando potencialidades e fragilidades de atividades e ações que já ocorreram ou estão ocorrendo nesta área de estudo para indicar assim, uma vertente de melhoria e integração dessas iniciativas na bacia hidrográfica em questão.

Para tal, identificaram-se as potencialidades e fragilidades das ações existentes na bacia hidrográfica do Córrego Água Quente, o caráter das ações desenvolvidas quanto sua integração dentro da bacia hidrográfica e forneceram-se dados de análise sobre a questão da Educação Ambiental na área.

Percebendo-se a potencialidade de entidades e organizações existentes na região o presente trabalho promoveu maior qualidade de informações voltadas para Educação Ambiental, fornecendo subsídios para o desenvolvimento dessa e incentivando a elaboração e implementação de projetos futuros.

 

2.    CONTEXTUALIZAÇÃO

A bacia hidrográfica do Córrego da Água Quente, está inserida na área urbana do município de São Carlos, localizado na região centro-norte do Estado de São Paulo a cerca de 235 km da capital (TONISSI, 2005).

O município situa-se entre os paralelos 21°57’ e 22°06’ de latitude Sul e entre os meridianos 47°50’ e 48°05’ de longitude Oeste (IBGE, 2012).

O corpo d’água principal desta bacia hidrográfica é o Córrego da Água Quente, que atualmente enfrenta uma situação crítica devido a duas questões principais: o lançamento de esgoto in natura diretamente no córrego, e graves problemas relacionados à erosão em toda a área da bacia hidrográfica e consequente assoreamento do leito do canal principal (SEA/EESC-USP, 2004).

Na década de 60 e 70 surgiram vários bairros nesta bacia hidrográfica, como o Jardim Gonzaga e o Monte Carlo. E apesar da existência das leis de expansão urbana e de proteção ambiental, ocorreu um crescimento populacional acelerado em todo perímetro urbano, que provocou uma intensa ocupação da região sul da cidade (TONISSI, 2005).

Essa ocupação gerou um aumento na demanda por infraestrutura e serviços sociais (habitação, educação, saúde, transporte, etc.), que não foi suprida. Foram implantados loteamentos responsáveis pelo surgimento de graves problemas ambientais, que afetam diretamente a qualidade ambiental dessa microbacia (TONISSI, 2005)

Além disso, a microbacia é predominantemente ocupada por uma população de baixa renda, aglomerada em bolsões de acentuada pobreza, que entre várias outras carências, praticamente não possuem área de lazer (COMDEMA, 2004).

Apesar da situação de degradação ambiental, a área da microbacia do Córrego Água Quente é considerada um espaço de grande potencial ecológico e educativo (SALGADO & OLIVEIRA, 2010).

Segundo Parecer do CONDEMA no. 02/04 (Câmara Técnica – Água e Saneamento), a Bacia do Córrego Água Quente é uma das mais degradadas e que mais necessitam de obras e ações. As principais ações são contenção de encostas, recuperação de leito, recuperação de nascentes, recomposição da mata ciliar, etc.

Além das questões físicas envolvidas pode-se citar a importância de medidas de Educação Ambiental efetivas para eliminação de certas práticas que prejudicam o meio ambiente e podem colocar em risco a saúde e a vida da população da região.

 

3.    PROCESSO METODOLOGICO

O processo metodológico utilizado para chegar ao objetivo geral do projeto e aos resultados esperados dividiu-se nas seguintes etapas:

·         Levantamento bibliográfico de características da bacia hidrográfica: nesta atividade pesquisou-se o contexto e as características físicas, estruturais, sociais e ambientais da bacia hidrográfica do Córrego da Água Quente. Através do levantamento de artigos científicos, documentos públicos, legislações e normas.

·         Visitas técnicas: Nas visitas técnicas foram feitas observações in loco das situações encontradas nas pesquisas realizadas anteriormente na fase de levantamento de dados.

Foi estabelecida uma rota de visitação com pontos relevantes ao presente projeto onde se constatou as problemáticas da região.

·         Levantamento de ações de educação ambiental desenvolvidos e em desenvolvimento na Bacia Hidrográfica da Água Quente: A primeira atividade desta etapa foi estabelecer contato com a coordenadoria do meio ambiente, na qual obteve-se uma listagem de projetos ocorridos e em desenvolvimento na área; também ocorreu pesquisa de informações sobre outros projetos e então estabeleceu-se contato com entidades e organizações para coleta de dados sobres o projetos encontrados e sobre outros projetos que ainda não haviam sido identificados. Além de projetos foram identificadas, também, atividades relacionadas a educação ambiental.

·         Análise dos dados e informações encontradas: Nesta fase houve uma análise geral e de pontos relevantes de cada ação encontrada e a elaboração de diretrizes para novos projetos e ações que possam vir a ocorrer na região.

 

 

4.                    RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta pesquisa trouxe como resultados as informações das ações e atividades de Educação Ambiental identificadas na área da microbacia do Córrego Água Quente, assim como uma análise de suas potencialidades e fragilidades, que são apresentadas a seguir:

 

4.1 Análise do Projeto Água Quente:

A Bacia do Córrego da Água Quente é uma região extremamente carente e apresenta forte degradação ambiental em função da expansão agrícola (cana-de-açúcar) e do crescimento urbano. Com o objetivo de reverter esse quadro, diferentes Ong´s têm trabalhado na inserção do conceito de sustentabilidade sócio-ambiental na região. O projeto Água Quente, realizado pelas Ong´s TEIA e Acquavit/USP, é uma dessas ações (PETROBRÁS, 2012).

Este projeto buscou dar continuidade à recuperação ambiental do primeiro Parque Florestal Urbano da região. Através dele foi possível efetivar ações estruturais e educacionais (curso capacitação, fóruns de disseminação de ações para gestão de recursos hídricos e desenvolvimento local). O Água Quente também buscou fortalecer organizações locais com o trabalho em rede com Ong´s, setores públicos e privados. A metodologia foi baseada no conceito Bacia Escola e Hidrossolidariedade. As atividades tiveram como área de estudo o trecho do futuro parque, numa rara oportunidade de aplicar de modo prático os conceitos discutidos (PETROBRÁS, 2012).

A proposta foi desenvolvida desde 2005 pela Organização Teia – casa de criação e contou com apoios e parcerias de grupos locais, ONGs, universidades, setores municipais e patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental (DOS SANTOS, et al. 2008).

Partindo de um eixo principal: a requalificação socioambiental, o Projeto trabalhou com os seguintes objetivos: Mobilização (mobilizar e fortalecer organizações locais, sobretudo no que diz respeito à sua representatividade e capacidade de articulação política e social); Educação Ambiental (construir conhecimentos e desenvolver habilidades necessárias para a realização de ações educativas e mobilizadoras sobre as questões sócio-ambientais, tendo como horizonte a formação de posturas críticas e ativas e a transformação no ambiente); Gestão dos Recursos Naturais (construir conhecimentos e desenvolver ações necessárias para o monitoramento e transformação das condições sócio-ambientais da Bacia e para a conservação, recuperação e utilização responsável dos recursos naturais locais); Comunicação (divulgar as ações promovidas pelo Projeto e conhecimentos sócio-ambientais para diversos públicos e mídias e construir canais de comunicação populares entre os moradores da Bacia) (DOS SANTOS, et al. 2008).

Como estratégia central, o Projeto Água Quente trabalhou com um grupo de Agentes Comunitários - moradores e usuários da Bacia e representantes de grupos organizados. A intenção era que este grupo de Agentes Comunitários atuasse na interface entre o Projeto, os grupos participantes e a população dos bairros situados em seu raio de ação direta, bem como entre os diversos setores da sociedade civil e dos atores envolvidos na conservação ambiental do município e região (DOS SANTOS, et al. 2008).

Existe na região uma intensa movimentação social e cultural, o que culmina numa grande concentração de grupos e associações sem vínculo governamental, voltadas para a atuação comunitária (DOS SANTOS, et al. 2008).

O Projeto financiado pela PETROBRÁS teve como postura a multidisciplinariedade da equipe (PETROBRÁS, 2012).

Na vertente do projeto voltada para a Educação Ambiental encontram-se os seguintes objetivos: realização de Atividades Permanentes de Capacitação de Agentes Comunitários; realização de Ações de Articulação com Escolas da Bacia e externas; realização de Ações de Troca e Interlocução entre Projetos e Iniciativas Semelhantes; realização e Implementação de Metodologias de Avaliação das Atividades.

Potencialidades e Fragilidades do Projeto Água Quente:

Dentre os projetos identificados, o Projeto Água Quente foi um dos que mais teve algum tipo de integração entre suas ações. Dentre suas vertentes foram integradas a Comunicação á Educação Ambiental criando a Educomunicação, que buscava o fortalecimento de ambas como uma única. Está foi uma iniciativa que mostrou resultados segundo a equipe do projeto e que pode ser utilizada como exemplo a outras iniciativas de Educação Ambiental na região.

Além disso, o Projeto Água Quente promoveu a integração e a participação dos agentes comunitários da região, fazendo com que a sociedade fosse parte essencial para as decisões e para efetividade das atividades realizadas.

Foi possível realizar assim, a construção de conhecimentos e o desenvolvimento das habilidades necessárias para a realização de ações educativas e mobilizadoras sobre as questões socioambientais, tendo como horizonte a formação de posturas críticas e ativas e a transformação no ambiente.

Outros pontos positivos identificados foram a divulgação das ações promovidas pelo Projeto e dos conhecimentos socioambientais para diversos públicos e mídias com a construção de canais de comunicação populares entre os moradores da região.

Contando com uma equipe multidisciplinar em associação com órgãos públicos, privados e Ong’s o projeto produziu materiais, a construção de conteúdos, princípios e habilidades e espaço para reflexão da Educação Ambiental.

Promovendo ainda a aplicação de avaliações de atividades/eventos realizados, para uma melhoria constante.

Porém, o Projeto Água Quente também mostrou algumas limitações, pois, apesar de buscar o envolvimento da sociedade como um todo, utilizou-se, para isso, de grupos organizados e essa participação de vários grupos pode causar uma barreira para que outras pessoas da comunidade não envolvidas com estes participem efetivamente do projeto.

 

4.2                 Análise Projeto Habitar Brasil/BID:

Para essa análise foi utilizado como base um relatório final de avaliação e acompanhamento pós-obras do Projeto Habitar Brasil/BID (Habitar Brasil/BID, 2008).

Este Programa, desenvolvido no período compreendido entre os anos de 2002 e 2008, foi implementado em área localizada na região sul da cidade de São Carlos, abrangendo os bairros Jardim Gonzaga e Monte Carlo, caracterizados por altos índices de pobreza, degradação social e ambiental. Objetivou, de forma geral, promover a reurbanização do bolsão de pobreza do município, intervindo nas moradias situadas em áreas de risco, buscando assegurar acesso aos serviços sociais básicos de infraestrutura urbana e social, à segurança fundiária e a políticas de desenvolvimento social, combinado com o início das ações de recuperação ambiental de importante área do município. O planejamento das ações integradas a serem desenvolvidas na área foi desenvolvido em 2002 com a participação de diversas Secretarias da Prefeitura Municipal de São Carlos e condensado no “Trabalho de Participação Comunitária” (TPC) contendo o “Projeto de Urbanização Integrada da Área do Jardim Gonzaga e Monte Carlo” (Habitar Brasil/BID, 2008).

As informações obtidas por meio de revisão documental e aplicação dos instrumentos de coleta de dados indicaram que a questão ambiental foi aspecto tratado com grande ênfase dentre as ações do Programa Habitar Brasil em São Carlos (Habitar Brasil/BID, 2008).

O primeiro apontamento do projeto refere-se à questão da participação dos moradores da área do projeto em atividades de Educação Ambiental e Sanitária. Os dados do questionário revelam que poucas pessoas participaram das ações de educação ambiental e sanitária e de atividade de plantio de mudas, além de indicar que o acesso a informações acerca do cuidado com as árvores recém plantadas foi baixo (Habitar Brasil/BID, 2008).

Entretanto, mesmo com as dificuldades enfrentadas, segundo a gestora entrevistada do projeto, ao final do tempo previsto para a conclusão do subprojeto foi verificada maior adesão de pessoas da comunidade nas ações previstas, principalmente os jovens (que compõem a maior parte da população local) (Habitar Brasil/BID, 2008).

Já o segundo apontamento aborda as questões referentes ao lixo. Os dados coletados indicam que existe regularidade de coleta no bairro e que a maior parte dos entrevistados encaminha resíduos para a reciclagem, seja por meio da entrega para catadores informais (carrinheiros) ou pela venda dos recicláveis. Entretanto, apesar de ter sido constatado que o caminhão de coleta de lixo da cidade passa regularmente no bairro, a observação de campo verificou que ainda existem quantidades consideráveis de resíduos nas ruas, dispostos de forma irregular. Tal situação também é percebida pelos moradores que, quando questionados acerca de possíveis soluções para esse problema, indicam a necessidade de haver locais específicos para entulhos e lixo ou, ainda, a implantação de procedimentos de fiscalização no bairro, seja ela exercida pelo poder público ou pelos próprios moradores (Habitar Brasil/BID, 2008).

A questão da arborização do bairro é o terceiro destaque. Foi solicitado aos moradores que dissessem o quanto valorizam as árvores e a grande maioria das pessoas indicam ser muito importante (Habitar Brasil/BID, 2008).

Bianca, a gestora entrevistada do projeto, relata que foram oferecidas oficinas de Reflorestamento e Paisagismo, em que, entre outros temas e práticas houve o planejamento de arborização das praças e o cultivo de mudas de árvores. As pessoas que se interessaram em participar foram aquelas que já cultivam plantas em seus quintais (Habitar Brasil/BID, 2008).

Devido ao fato da área de intervenção situar-se em uma APP (Área de Proteção Permanente), algumas atividades são irregulares, tais como, pastagem de animais, plantio de culturas e desmatamento, assim, quarto destaque desta análise se refere a esta questão. A entrevista realizada com os moradores do bairro conteve perguntas que objetivaram verificar a percepção dos moradores frente a estas irregularidades bem como a avaliação que realizam a respeito destas ações de pastagem de animais, plantio de culturas e desmatamento. Os resultados revelam que poucas pessoas observam estas ações na APP. Quando solicitados para opinar a respeito das irregularidades, destaca-se que a atividade de plantio de culturas recebe aceitação. A entrevista realizada com a gestora mostra que esta é uma questão bastante delicada de ser tratada do bairro, pois a situação sócio-econômica da comunidade gera a necessidade de realizar estas atividades e não há espaço alternativo para estas atividades e, além disso, estas já fazem parte do cotidiano da população (Habitar Brasil/BID, 2008).

De posse da experiência acumulada durante o desenvolvimento do Programa Habitar Brasil e das parcerias realizadas, entende-se que existem condições suficientes para que novas propostas de ações sejam elaboradas, garantindo a participação efetiva da comunidade local que defende a participação não apenas nas ações de intervenção, mas, sobretudo na concepção dessas ações, para que as pessoas se apropriem e tomem para si a responsabilidade de solucionar os problemas ambientais do bairro (Habitar Brasil/BID, 2008).

Potencialidades e Fragilidades do Projeto Habitar Brasil/BID:

O Projeto Habitar Brasil/BID vai além do assunto tratado pelo estudo em questão, porém, considerou-se este um ponto positivo e interessante, já que os problemas ambientais não ocorrem por problemas pontuais e mínimos, mas, por grandes questões como as citadas no relatório do Projeto Habitar Brasil que se analisou. A eficácia da Educação Ambiental não poderia se dar sem que outras questões sociais não fossem fornecidas e tratadas com antecedência.

O grande ponto chave deste projeto é que ele passa a se atentar para problemáticas tão amplas que a Educação Ambiental tem o papel de complementá-lo de tal forma que esta pode cumprir de forma plena seu papel na sociedade.

Mesmo assim, ainda pode-se apontar algumas ações que poderiam ser melhoradas em relação a Educação Ambiental, como a integração da comunidade em geral, ações mais efetivas de forma a demonstrar aos moradores a importância da preservação, podendo esta ser integrada a questão de adequação e realocação das moradias, demonstrar como essa ação foi benéfica, e recorrer a nova geração para que as melhoras sejam mantidas e respeitadas de forma a obterem a compreensão da sociedade.

A própria análise utilizada destaca a questão da qualidade ambiental como um ponto importante da realização do projeto e há anseio pela realização de ações educativas na área, visto o potencial da comunidade, principalmente pelo interesse demonstrado e pela grande quantidade de crianças e jovens.

 

4.3 Análise do Projeto Hortas nas Escolas:

O Projeto Hortas Orgânicas Comunitárias e Pedagógicas é desenvolvido desde 2005 nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino. O Projeto objetiva despertar nas crianças o envolvimento e o cuidado com a vegetação e com os alimentos no espaço escolar, difundir a importância de uma alimentação saudável, bem como despertar nos educandos atitudes responsáveis e sustentáveis para com o meio ambiente (PREFEITURA MUNICIPAL, 2012).

Nesta perspectiva, as hortas são compreendidas como instrumentos potencializadores do aprendizado das crianças, que são envolvidas nas diferentes etapas do processo, desde a confecção dos canteiros e semeadura e, em alguns casos, na compostagem de resíduos orgânicos (PREFEITURA MUNICIPAL, 2012).

Potencialidade e fragilidades do Projeto Hortas nas Escolas:

Este projeto encontra-se restrito a alguns bairros da Bacia Hidrográfica em estudo e é apenas realizado em escolas municipais, mas, apresenta a potencialização do aprendizado em relação ao meio ambiente proporcionando atitudes responsáveis e sustentáveis quanto ao mesmo, fator de suma importância em projetos de Educação Ambiental.

 

4.4 Análise do Projeto Hortas Comunitárias/DAE:

O Projeto Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy é resultado de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de São Carlos, o SAAE, empresas privadas e um grupo organizado de trabalhadores do bairro (Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy, 2012).

Tem como objetivo, a promoção de hábitos alimentares saudáveis junto aos trabalhadores envolvidos na produção da horta, gerar renda aos trabalhadores, com a comercialização da produção excedente da Horta Orgânica Comunitária e criar condições favoráveis para que a comunidade local tenha acesso e consuma alimentos orgânicos com qualidade e a preços justos (Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy, 2012).

Esta iniciativa se destaca pelo trabalho coletivo realizado pelos trabalhadores da Horta que recuperaram a capacidade produtiva de um terreno arenoso e plantaram produtos orgânicos, sem nenhum tipo de agrotóxico, permitindo que a comunidade da região do Cidade Aracy tenha acesso a produtos que permitem a melhoria de seus hábitos alimentares, com alimentos de qualidade e limpos, pois o plantio não agride a terra e garante, por meio de um preço justo o consumo de alimentos saudáveis (Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy, 2012).

O projeto é desenvolvido com o apoio e a assessoria do Departamento de Apoio à Economia Solidária da Secretaria Municipal de Trabalho, Emprego e Renda. Trata-se de uma política de geração de trabalho e renda com a construção de um ambiente favorável à constituição de um empreendimento coletivo, voltado para a produção, distribuição e comercialização do excedente produzido pela Horta (Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy, 2012).

Garantindo a população o direito e o acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e com base em práticas alimentares saudáveis (Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy, 2012).

Potencialidades e Fragilidades do Projeto Hortas Comunitárias/DAE:

Este projeto é restrito a apenas um dos bairros que compõem a Bacia Hidrográfica do Córrego da Água Quente e é voltado para uma questão muito específica que não abrange a outras problemáticas presentes da região.

 

4.5 Análise do Projeto realizado pelo SAAE:

As informações desse projeto foram conseguidas por meio de contato telefônico com Dirce Marchetti, participante da área social desse projeto realizado pelo SAAE. Só descreveremos as ações voltadas a Educação Ambiental, pois estas fazem parte do foco do presente projeto.

Esse Projeto do SAAE foi realizado junto com as obras de construção das elevatórias da estação de tratamento que foi financiado pela CAIXA e ocorreu no ano 2000 (Informação Verbal).

Nele realizaram-se palestras e plantios junto com as escolas Orlando Perez, Marivaldo Degan, e Caíque (Afonso Fioca Vitalli), localizadas no bairro Cidade Aracy, e a comunidade de entorno. E sua duração foi de aproximadamente dois anos (Informação Verbal).

Além disso, o SAAE realiza a Semana da Água todos os anos durante o mês de março e nessa atividade é escolhida uma bacia hidrográfica e é realizado plantio e palestras na mesma (Informação Verbal).

Potencialidade e Fragilidades do Projeto realizado pelo SAAE:

Um ponto forte do trabalho é que além de trabalhar com as escolas ele trabalhou com a comunidade do entorno, porém foi um projeto de abrangência muito restrita, não contemplando a bacia hidrográfica como um todo. As atividades da Semana da Água trabalham com as escolas e são realizadas apenas dois tipos de atividades (plantio e palestras).

 

4.6 Análise da ação de construção da Horta na Entidade Francisco Thiesen:

Essa atividade inicialmente não foi identificada como voltada a educação ambiental pelos realizadores da mesma, porém, decidiu-se incluí-la como uma atividade de Educação Ambiental por permitir o contato entre crianças e o ambiente. Para análise dessa atividade realizou-se uma visitação ao local (Informação Verbal).

A entidade iniciou a horta comunitária com a ajuda da comunidade do entorno que forneceu materiais diversos. Claudemar, que trabalha voluntariamente na horta, disse que já atua na horta há dois meses, período em que a horta expandiu-se (Informação Verbal).

As crianças atendidas pela entidade têm de três a seis anos de idade e fazem atividades práticas na horta duas vezes por semana entorno das duas e meia da tarde (Informação Verbal).

Durante a semana são atendidas regularmente 100 crianças e aos finais de semana a horta é aberta para comunidade principalmente atendendo a jovens e mães que possuem outras atividades voltadas a elas, como aulas de informática, no total são 110 pessoas atendidas aos sábados (Informação Verbal).

Os alimentos cultivados na horta são fornecidos as crianças da escola e o excedente é fornecido a comunidade por cinqüenta centavos (Informação Verbal).

Para arrecadar fundos a entidade realiza bazares a cada dois meses e a prefeitura apóia a entidade no fornecimento de frutas e vegetais (Informação Verbal).

De acordo com Claudemar as pessoas que dependiam antes somente dos mercados agora tem outra alternativa na horta que fornece os alimentos a preços baixos e a comunidade reconhece a realização da horta (Informação Verbal).  

Potencialidades e fragilidades da ação de construção da Horta na Entidade Francisco Thiesen:

 A horta demonstrou-se numa boa iniciativa, porém, como os outros projetos e atividades de pequeno porte, sua abrangência é restrita, notando-se que há interesse por parte dos realizadores na expansão das atividades desenvolvidas nesta iniciativa.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as pesquisas realizadas notou-se a pontualidade e dispersão das ações de educação ambiental realizadas na Bacia Hidrográfica da Água Quente, mas, também um grande potencial dos moradores e agentes comunitários presentes na região na realização das mesmas. Com isso foi possível a proposição de diretrizes de ação para projetos futuros ou de melhoria das ações já em andamento.

As diretrizes propostas são:

  1. Promover a visão da sociedade/comunidade como um todo, quebrando a barreira de restrição que pode ser dada pelo envolvimento de grupos comunitários apenas estruturados e com representantes e organizações. Tentando assim, desenvolver uma visão geral da comunidade;
  2. Integrar as ações de Educação Ambiental e de Comunicação do projeto, tendo como exemplo a experiência positiva do Projeto Água Quente;
  3. Propiciar a integração e participação de agentes comunitários como tomadores de decisão e membros efetivos das ações a serem realizadas, identificando, assim, demandas e oportunidades;
  4. Construir conhecimentos sobre a Educação Ambiental e também de habilidades e aprendizados práticos das ações que forem realizadas, buscando uma melhoria contínua das atividades a partir destes conhecimentos adquiridos;
  5. Divulgar as ações promovidas pelo Projeto em diversas mídias e a diversos públicos a fim de evitar a sobreposição e pontualidade que vem ocorrendo nos atuais projetos de Educação Ambiental da região;
  6.  Trabalhar com uma equipe multidisciplinar para que as ações não se restrinjam a um único ponto de vista;
  7. Promover a associação entre órgãos públicos, privados e Ong’s, como forma de alcançar diversos ambitos de atuação e promover a qualidade, efetividade e manutenção dos projetos;
  8.  Aplicar avaliações das atividades, na busca da melhoria contínua, geração de conhecimento e troca de experiências;
  9. Possuir uma visão ampla e geral das problemáticas da área de estudo;
  10. Estabelecer ligações entre a Educação Ambiental e outras ações do projeto proposto;
  11.  Promover atividades de incentivo a participação da comunidade, aproveitando o potencial existente nas várias regiões da Bacia Hidrográfica;
  12.  Promover o incentivo a jovens e crianças para gerar a continuidade e o respeito aos projetos criados e
  13.  Obter informações de qualidade sobre Educação Ambiental.

Com isso, será possível atender toda a comunidade de maneira a cooperar para assimilação da temática ambiental. Além disso, os órgãos públicos e privados, junto com a comunidade, terão uma ferramenta de visão crítica dos problemas ambientais da Bacia Hidrográfica que irá propor soluções para melhorar a qualidade ambiental e, consequentemente, a vida dos moradores da região de estudo.

 

  1. REFERÊNCIAS

Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMA). PARECER COMDEMA Nº 02/04 Câmara Técnica -Água e Saneamento. 2004.

 

Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMA). PARECER CONDEMA N° 05/04. 2004.

 

DOS SANTOS, et al. Mídia Alternativa como Contribuição para a Democratização e Politização de Informações Socioambientais: o caso do Boletim Comunitário Água Quente. IV Encontro Nacional da Anppas. Brasília, 2008. Disponível em: . Acesso em: 1 de junho de 2012.

 

Habitar Brasil/BID. AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO PÓS-OBRAS DE URBANIZAÇÃO INTEGRADA DOS BAIRROS JARDIM GONZAGA/ MONTE CARLO: Relatório Final. 2008.

 

Horta Orgânica Comunitária do Cidade Aracy. Disponível em: . Acesso em: 1 de junho de 2012.

 

IBGE. Instituto de Geografia e Estatística, 2012. Disponível em . Acesso em 1 de junho de 2012.

 

JACOBIO, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p.189-205, março/ 2003.

 

OLIVEIRA, S. M. Educação ambiental e organizações da sociedade civil da Bacia Hidrográfica do Córrego da água quente (São Carlos/SP): Compreendendo a incorporação da temática ambiental em suas ações sócio-educativas. 151 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.

 

PETROBRÁS. Programa Petrobrás Ambiental: Projeto Água Quente. Disponível em: . Acesso em: 23 de maio de 2012.

 

PREFEITURA MUNICIPAL. Portal da Educação: ProMEA NA REDE - PROGRAMA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA REDE DE ENSINO. Disponível em: . Acesso em: 1 de junho de 2012.

 

RAMOS, C.E. A ABORDAGEM NATURALISTA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA ANÁLISE DOS PROJETOS AMBIENTAIS DE EDUCAÇÃO EM CURITIBA. 2006. n 232. Tese (Programa de Pós- Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas/Doutorado). Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

 

SALGADO, G. N.; OLIVEIRA, H. T. Percepção ambiental das/os participantes envolvidos com o projeto brotar (MicroBacia do Córrego Água Quente, São Carlos/São Paulo) como subsídio à educação ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, ISSN 1517-1256, v. 24, janeiro a julho de 2010.

 

SEA/EESC-USP. Anais do I Simpósio da Engenharia Ambiental. 129p. Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, São Carlos. 2004.

 

TONISSI, R. M. T. Percepção e caracterização ambientais da área verde da micro-bacia do córrego da água quente (São Carlos, SP) como etapas de um processo de educação ambiental. 281 f. Tese (Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos