Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL CAPISTRANO DE ABREU, NOVA IGUAÇU. RJ.
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INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL CAPISTRANO DE ABREU, NOVA IGUAÇU

INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL CAPISTRANO DE ABREU, NOVA IGUAÇU. RJ.

MORAIS, Renan Luiz Julião

Aluno de graduação em Ciências Biológicas - Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

PANTOJA, Sonia Cristina de Souza  

Professor/Pesquisador. Projeto Plantas Medicinais - Botânica aplicada - Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

 

 

 

Resumo

 

Este estudo foi realizado com comunidade escolar da Escola Municipal Capistrano de Abreu, município de Nova Iguaçu, RJ, objetivando-se verificar o conhecimento da comunidade escolar sobre o uso correto das plantas medicinais. Com a utilização de questionário investigativo aplicado aos funcionários e responsáveis dos alunos verificou-se que 90% dos entrevistados utilizam plantas medicinais, 8% não utilizam e 2% utilizam fitoterápicos com princípios ativos isolados adquiridos em farmácias especializadas. Os usuários das plantas medicinais possuem conhecimento empírico transmitido pela geração anterior e desconhecem o nome científico ou seus princípios ativos ou as implicações no uso inadequado, concluindo-se que há necessidade de realização de um trabalho de conscientização sobre o uso correto das plantas medicinais com noções para a identificação das espécies bem como efeitos terapêuticos e colaterais.

 

Palavras-chave: Etnobotânica. Plantas medicinais. Comunidade escolar

 

 

 

 

Introdução

 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cerca de 80% da população mundial faz uso de algum tipo de erva na busca de alívio de alguma sintomatologia dolorosa ou desagradável. A utilização de plantas medicinais é uma prática tradicional ainda existente entre os povos de todo o mundo, tem inclusive recebido incentivos da própria OMS (MARTINS, 2003).

A biodiversidade pode ser analisada pelo seu papel evolutivo, ecológico ou como recurso biológico “sob o termo ‘recursos biológicos’ identificamos os componentes da biodiversidade que têm uma utilização direta, indireta ou potencial para a humanidade” (LÉVÊQUE, 1999). Entre os elementos que constituem essa biodiversidade, estão as plantas medicinais que são utilizadas em comunidades tradicio­nais, como remédios caseiros, sendo consi­deradas a matéria-prima para fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos (LEÃO; FERREIRA & JARDIM, 2007).

            De acordo com LOPES et al. (2005), planta me­dicinal é toda planta que administrada ao homem ou animal, por qualquer via ou forma, exerça alguma ação terapêutica. O tratamento feito com uso de plantas medicinais é denominado de fito­terapia, e os fitoterápicos são os medicamentos produzidos a partir dessas plantas. Sendo assim, a fitoterapia é caracterizada pelo tratamento com o uso de plantas medicinais e suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de prin­cípios ativos isolados (SCHENKEL, GOSMAN & PE­TROVICK, 2000).

            As aplicações das plantas medicinais vêm sendo estudada através da etnobotânica, um campo de estudo que analisa o resultado da manipulação de plantas ou partes dos vegetais por culturas tradicionais, assim como o contexto cultural que cada planta é utilizada devido aos saberes populares. A etnobotânica pode ser definida como o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes, e todos os tipos de inter-relações: ecológicas, evolucionárias e simbólicas; reconhecendo a dinâmica natural das relações entre o ser humano e as plantas (ALEXIADES, 1996).  O Brasil é um dos países de maior diversidade genética vegetal, contando com mais de 55.000 espécies catalogadas (NODARI & GUERRA, 1999).  E no Brasil, a utilização de plantas medicinais e rituais é uma prática comum resultante da forte influência cultural dos indígenas locais miscigenadas as tradições africanas, oriundas de três séculos de tráfico escravo e da cultura européia trazida pelos colonizadores (ALMEIDA, 2003).

            De acordo SANTOS et al. (1998), em nossa região sudeste, semelhante ao que acontece em praticamente todo o Brasil, o emprego de plantas medicinais constitui numa das primeiras medidas terapêuticas que a população utiliza para curar de pequenos males a casos graves, quando a medicina tradicional não tem mais a oferecer.

            O emprego de plantas medicinais na recuperação da saúde tem evoluído ao longo dos tempos desde as formas mais simples de tratamento local, provavelmente utilizada pelo homem das cavernas, até as formas tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial utilizada pelo homem moderno (LORENZI, 2008).

No decorrer do tempo a utilização de plantas medicinais se tornou cada vez mais freqüente e, para MARTINS et al. (2003), as plantas devem ser adquiridas, preferencialmente, por pessoas ou firmas idôneas que possam garantir a qualidade e a identificação correta. Os profissionais da saúde são as pessoas mais preparadas para indicar como uso terapêutico às plantas medicinais. A maioria da população utiliza os saberes populares do uso do vegetal passado de geração a geração, e muitas pessoas que utilizam as plantas medicinais desconhecem informações científica sobre os vegetais e com isso pode consumir de modo errôneo, acarretando algum tipo de efeito colateral.      

            Um dos principais cuidados ao consumir algum tipo de planta de medicinal é o modo de coleta e o lugar onde será coletado. Pois deve ser evitado fazer colheita dos vegetais próximos a estradas por causa das poeiras e dos gases provocado pelos automóveis e lugares como as lavouras onde possuem bastante agrotóxicos MARTINS et al. (2003).        

            Os cuidados devem ser sempre tomados, mas não para tornar o uso de planta medicinal confuso ou difícil, e sim apenas para torná-lo seguro e eficaz.

Todas as plantas sintetizam, acumulam ou depositam substâncias a partir dos nutrientes, da água e da luz que recebem representadas pelos compostos químicos ou grupos de compostos químicos, as quais constituem os princípios ativos, compostos que conferem ação terapêutica às plantas medicinais (ALMASSY JR., 2005). Deste modo, geralmente essas substâncias não se encontram na planta em estado puro, mas na forma de complexos, cujos componentes se completam e reforçam a sua ação sobre o organismo humano efeito mais benéfico do que o produzido pela mesma substância obtida por síntese química.

            Muitos constituintes naturais ainda não foram isolados e estudados do ponto de vista químico. No entanto, grande quantidade de compostos, já isolados e com estrutura química determinada ainda não foi estudada em relação às suas atividades biológicas, seja quanto às próprias espécies vegetais seja quanto às potencialidades de uso com outras finalidades, especialmente de interesse terapêutico. Apenas um grupo restrito de substâncias possui funções e atividades determinadas, como é o caso dos alcalóides, terpenos, lignanas, flavonóides e cumarinas (ALMASSY JR, 2005). De acordo com o autor mencionado alguns alcalóides e respectivas ações terapêuticas serão relatados abaixo, na tabela 1:

Tabela 1: Relação de alcalóides encontrados nos vegetais e suas respectivas ações terapêuticas

 

Alcaloides

Vegetal

Ação terapêutica

Punica

Romã (Punica granatum L.)

Atua sobre o sistema nervoso dos parasitas paralisando-lhes os músculos principalmente sobre as tênias e áscaris.

Quinina

Quina (Cinchona o calisaya  Wedd.)

Muito empregada no tratamento da malária.

Punicina

Boldo-do-chile (Peumus boldus L.)

Possui ações calagoga e digestiva.

Passiflorina

Maracujá (Passiflora edulis   Sims)

Tranquilizante e antiespasmódica nas tensões por excesso de trabalho perturbações nervosas da menopausa e insônia.

Atropina

Saia-branca, rainha-da-noite (Datura suaveolens Wild) e Beladona (Atropa belladona L.)

Analgésica e antiespasmódica.

Nicotina

Fumo (Nicotina tabacum L.)

Facilmente absorvida pelas mucosas, atua diretamente sobre o sistema nervoso, exercendo ação depressora.

Morfina

Papoula (Papaversomniferum L.)

Analgésica

Vimblastina e vincristina

Beijo (Catharanthus roseus L) G. Don

Anticancerígena, mas pode causar câncer no fígado.

Pilocarpina

Jaborandi (Pilocarpus pennatifolius Lem.)

Usada na produção de colírio contra glaucoma.

Emetina

Ipeca (Psychotria ipecacuanha (Brot. Stokes)

Potente amebicida.

 

 

           De acordo com o princípio ativo da planta, ou seja, a parte da planta a ser utilizada há um preparo correto, os principais são:

Banho: preparado com plantas frescas ou secas, na forma de infuso ou decocto (mais concentrados) e misturada com a água do banho. Pode-se, ainda colocar as plantas em saco de pano fino e limpo e deixar na água da banheira. Os banhos podem ser parciais ou de corpo inteiro ( SAAD, 2009).

            Chá: as várias maneiras de se preparar um chá estão descritas a seguir de acordo com LORENZI et al. (2008):

            Infusão: neste processo, os chás ou infusos são preparados juntando-se água fervente sobre os pedacinhos de erva. Mistura-se tudo por um instante, cobre-se e deixa-se em repouso por 5 a 10 minutos até chegar a temperatura apropriada para ser bebido.

Decocção: colocar a planta na água fria e levar à fervura. O tempo de fervura pode variar de 10 a 20 minutos, dependendo da consistência da parte da planta. Após o cozimento, deixar em repouso de 10 a 15 minutos e coar em seguida. Esse método é indicado quando são utilizadas partes duras como cascas, raízes e sementes.

Maceração: colocar a planta, amassada ou picada, depois de bem limpa, mergulhada em água fria, durante 10 a 24 horas dependendo da parte utilizada. Folhas, sementes e partes tenras ficam de 10 a 12 horas. Talos, cascas e raízes duras, de 22 a 24 horas. Após o tempo coa-se.

            Sumo ou Suco: tem-se o suco espremendo-se o fruto, enquanto o sumo é obtido ao triturar uma planta medicinal fresca num pilão ou liquidificadores ou centrífugas domésticas (MARTINS, 2003).

            Xarope: é uma preparação espessada com açúcar e usada geralmente para o tratamento de dores de garganta, tosse e bronquite. Junta-se parte do chá por infusão ou de decocto, conforme o caso, com uma parte de açúcar do tipo cristalizado. Obtém-se o xarope frio filtrando-se a mistura após 3 dias de contato com 3 a 4 agitações fortes por dia. O xarope à quente é obtido fervendo-se a mistura até desmanchar o açúcar. Deixa-se esfriar e filtra-se da mesma maneira (LORENZI, 2008).

 

Procedimentos metodológicos

Área de estudo

 

     Este trabalho foi realizado na Escola Municipal Capistrano de Abreu, cujo objetivo foi fazer uma investigação com a comunidade escolar (responsáveis dos alunos e funcionários da unidade escolar) sobre o uso de plantas medicinais.

     A escola está localizada no município de Nova Iguaçu, um dos municípios da baixada fluminense no Rio de Janeiro, atualmente o município possui 796.257 habitantes, uma área de 521,247 km, possuindo 68 bairros dentre eles a escola se localiza no município chamado Vila Nova (IBGE - CENSO 2013).

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/dc/RiodeJaneiro_Municip_NovaIguacu.svg/280px-RiodeJaneiro_Municip_NovaIguacu.svg.png

(Fonte IBGE-CENSO 2013)

Figura1: (Mapa do estado do Rio de Janeiro, enfatizando o município de Nova Iguaçu)

 

           Foram realizadas entrevistas através de um questionário etnobotânico (anexo 1) intercalando entre perguntas abertas, semiabertas e fechadas. Este estudo foi realizado com 106 indivíduos, de ambos os sexos, na maioria moradores próximos à unidade escolar no bairro Vila Nova, município de Nova Iguaçu, com faixa etária entre 18 e 59 anos. Em relação à coleta de dados utilizou-se questionário para diagnóstico do conhecimento empírico abordando: sexo, idade, tipo de planta e finalidades, local de aquisição, modo de coleta e consumo, parte utilizada, conhecimento empírico adquirido e repassado, bem como efeito colateral relatado. Após essa diagnose foi feita comparação para corroboração dos dados com literatura especializada.

              Com a obtenção de resultados os gráficos da pesquisa foram construídos pelo próprio autor, demonstrando informações pesquisadas com a comunidade escolar. Os seis vegetais mais mencionados nas entrevistas foram fotografados com uma máquina digital em localidades próximas a residência do próprio autor da pesquisa, e de acordo com a literatura especializada foi imposta as seguintes informações: além da identificação botânica com nome cientifico incluiu-se nome popular, família, origem, sinonímia, características, fins medicinais cientificamente comprovados, formas e partes da planta que são utilizadas.

 

 

Análise de dados

              Após a pesquisa com 106 indivíduos da comunidade escolar, da Escola Municipal Capistrano de Abreu, foram obtidos os seguintes resultados:

              Quanto à utilização das plantas medicinais foi observado que 90% dos entrevistados utilizam, 8% não utilizam e 2% optam em consumir medicamentos fitoterápicos (Fig.2).

 

Figura 2: Gráfico demonstrativo das pessoas que utilizam as plantas medicinais.

 

              De acordo com a pesquisa realizada, observou-se que 90% das pessoas que utilizam as plantas medicinais são do sexo feminino e apenas 10% do sexo masculino (Fig.3).

Figura 3: Gráfico demonstrativo em relação ao sexo, das pessoas que utilizam as plantas medicinais.

              Quanto a em questão da aprendizagem no uso das plantas medicinais (Fig.5), foi observado que 80% dos entrevistados aprenderam por conhecimentos empíricos, passados de geração à geração, 12% pela mídia e literatura especializada e 8% pelos profissionais da saúde (médicos, farmacêuticos, entre outros).

 

Figura 4: Gráfico demonstrativo em relação a forma de aprendizagem e conhecimentos de uso das plantas medicinais.

 

              Quanto a maneira que os entrevistados têm o acesso às plantas medicinais (Fig.5), foi observado que 36% conseguem com conhecidos, 34 % compram em erveiros e 30% cultivam em sua própria residência.

 

Figura 5: Gráfico demonstrativo no modo no qual as plantas são adquiridas

                                             

              Em relação às formas de uso que os entrevistados consomem as plantas medicinais, a maioria deles utilizam como chá, em seguida de sumo ou suco, infusão, banho e xarope (Fig.6).

 

 

 

 

Figura 6: Gráfico demonstrativo em relação ao modo de uso das plantas medicinais.

 

              No questionário aplicado na entrevista, foi perguntada qual parte da planta seria utilizada a cada uma delas no uso contra as doenças. O resultado obtido foi que 40% utilizam as folhas, 20% utilizam a raiz, 18% utilizam os frutos e 12% utilizam as sementes (Fig.7).

 

 

 

 

Figura 7: Gráfico demonstrativo relacionado à parte da planta utilizada para consumo.

             

              Foram mencionadas 18 espécies de vegetais que são utilizadas de forma medicinal nas entrevistas, e estes são pertencentes a 14 famílias sendo elas: Lamiaceae com 3 espécies,Verbenaceae, Apiaceae, Asteraceae com 2 espécies, Poaceae, Lytraceae, Anacardiaceae, Xanthorrhoeaceae, Crassulaceae, Passifloraceae, Celastraceae, Myrtaceae com 2 espécies, Costaceae, e Malpighiaceae ( Fig.8).     

       

 

Figura 8: Gráfico demonstrativo das famílias mais utilizadas nas entrevistas.

 

              As espécies vegetais mencionadas como medicinais variaram, foram relatadas 18 espécies de acordo o nome vulgar como são conhecidas na natureza, sendo assim desconhecendo o nome cientifico de todos os vegetais mencionados durante a entrevista.

Tabela 2: Os vegetais utilizados pela comunidade escolar

 

Nome vulgar

Nome cientifico

Número de usuários

Boldo brasileiro

Plectranthus barbatus Andrews

               44

Erva-cidreira

Lippia alba (Mil.) N.E. Brown.

               20

Erva doce

Pimpinella anisu L.                      

                8

Camomila

Matricaria  recutita (L.)  Rauschert.

                8

Hortelã

Mentha  spicata L..

                8

Capim limão

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

                 8

Romã

Punica granatum L.

                 6

Guaco

Mikania glomerata Spreng

                 4

Aroeira

Schinus molle L

                 4

Babosa

Aloe vera ( l.) Burm.f

                 4

Saião

Kalanchoe laciniata ( L.) DC

                 4

Maracujá

Passiflora edulis Sims.

                 4

Espinheira - Santa

Maytenus aquifolium Mart.

                 4

Goiabeira

Psidium guajava L.

                 4

Alfavaca

Ocimum selloi Benth.

                 3

Cana do brejo

Costos spicatus (Jacq.) Sw.

                 3

Pitanga

Eugenia uniflora L

                 3

Acerola

Malpighia emarginata DC.

                 3

 

              Serão relatadas a seguir, em ordem dos vegetais mais citados nas entrevistas,  com as informações: nome popular, nome científico, família, sinonímia, origem, descrição, indicações, formas de uso e as partes utilizadas.

 

Boldo brasileiro (Fig.9)

 

Fig.9: Erva com folhas aveludadas com inflorescência azulada (Plectranthus barbatus Andrews)

 

Nome científico: Plectranthus barbatus Andrews

Família: Lamiaceae

Origem: África

Sinonímia: Boldo de jardim, Falso boldo ou Boldo brasileiro.

Descrição: Planta herbácea ou subarbustiva, perene, de até 1,5 metros de altura. Folhas suculentas, aveludadas e aromáticas, de sabor muito amargo e produz flores azuladas.

Indicações: analgésico, estimulante da digestão e combate azias, e seu uso é eficaz no combate a males hepáticos.

Formas de Uso: infusão.

Partes Usadas: folhas.

 

Erva cidreira (Fig.10)

 

 

Fig.10: Erva com flores róseas (Lippia alba (Mill) N.E. Brown.)

 

Nome científico: Lippia alba (Mill) N.E. Brown.

Família: Verbenaceae

Origem: América do sul

Sinonímia: Cidreira de arbusto, falsa erva-cidreira, falsa melissa, alecrim-selvagem, sálvia-limão.

Descrição: Arbusto aromático chegando a medir até 2m de altura, com ramos finos, arqueados e quebradiços. A planta é nativa da América do Sul e encontrada em todo o território brasileiro, sendo muito usada na medicina caseira, por vezes em substituição à Melissa officinalis L. outra espécie que também é conhecida como erva-cidreira. Por seu aroma, é também utilizada na indústria cosmética e muito apreciada pelas abelhas na produção de mel.

Indicações: Indicada nos quadros de insônia e ansiedade como um calmante suave. Também tem ações digestivas, auxiliando nas cólicas abdominais e distúrbios do estômago, além de ter efeito expectorante.

Formas de uso: infusão das folhas, compressas, banhos.

Partes usadas: Folhas e flores

 

Camomila (Fig.11)

Fig.11: Erva com inflorescência do tipo capítulo (Matricaria recutita (L.) Rauschert).

 

Nome científico: Matricaria recutita (L.) Rauschert.

Família: Asteraceae

Origem: Europa

Sinonímia: Camomila-alemã, maçanilha, matricária, camomila vulgar, camomila comum.

Descrição: Erva anual, glabra, ereta, muito ramificada, com até 0,5 m de altura. Capítulos com flores de dois tipos, inseridas num receptáculo cônico, oco; flores marginais, brancas, zigomorfas, liguladas, femininas, curvadas para baixo no final da floração, flores centrais amarelas, tubulosas, hermafroditas, 5 estames. Fruto do tipo aquênio, com 3 – 5 costelas, truncado no ápice. 

Indicações: Internamente, o infuso de camomila é usado nos distúrbios gastrointestinais e cólicas abdominais. Também são descritas ações carminativa, espasmolítica e sedativa. Externamente, a camomila é empregada em doenças da pele e mucosas em geral. Os banhos de assento são indicados para hemorróidas, alergias e para assaduras em crianças. Em dermatologia, são utilizadas pomadas e loções a base dos constituintes da camomila, as quais são recomendadas para dermatites de contato, impetigo, exantemas alérgicos, eritemas causados por radioterapia (pomada de azuleno), queimaduras do sol.

Formas de uso: Chá, infusão e decocção.

Partes usadas: Inflorescência.

 

 

4.1.4 Erva doce (Fig.13)

 

 

Fig.13: Erva com inflorescência umbelada(Pimpinella anisu L.)

 

Nome científico: Pimpinella anisu L.

Família: Apiaceae

Origem: América do sul

Sinonímia: Erva doce, pimpinela, anis.

Descrição: Planta anual, de 30 a 35 cm de altura. Folhas verdes, as inferiores orbiculadas, as médias são penadas e as superiores são inteiras ou tripartidas. Flores em buquês brancos, com frutos ovóides, um pouco alongados.

Indicações: Digestiva, diurética, carminativa e expectorante. O infuso das sementes facilita a digestão, alivia flatulência e cólicas intestinais, acalma excitação nervosa e insônia.

Formas de uso: decocção

Partes usadas: Sementes e folhas

 

 

4.1.5 Hortelã (Fig.14)

 

 

Fig.14:Erva com folhas ovais serrilhadas( Mentha spicata L).

 

Nome Científico: Mentha spicata L.

Família: Lamiaceae

Origem: Ásia

Sinonímia: Hortelã, Hortelã-rasteira.

Descrição: Erva perene, de 30 a 40 cm de altura, com folhas que possuem aroma forte e característico. Têm grande importância medicinal e social, contra microparasitas intestinais, recentemente descobertas.

Indicações: Usado nas atonias digestivas, flatulências, dispepsias nervosas, empregado nas palpitações e tremores nervosos, vômitos, cólicas uterinas, úteis nos catarros brônquicos facilitando a expectoração.

Formas de Uso: infusão.

Partes Usadas: folhas

 

4.1.6 Capim limão (Fig.15)

Fig.15: Erva com folhas longas lineares lanceoladas (Cymbopogon citratus (DC) Stapf.)

Fonte: COMO plantar capim limão. Disponível em http://hortas.info/como-plantar-capim-lim%C3%A3o . Acesso em: 07 de nov. 2014.

Nome cientifico: Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

Família: Poaceae

Origem: Índia.

Sinonímia: Capim-santo, capim-cidreira.

Descrição: Erva cespitosa, quase sem caule, com folhas aromáticas, que quando recém amassadas exalam cheiro de limão. O surgimento de flores é raro em nossa região. 

Indicações: Antimicrobiana, calmante, espasmolítica (reduz contrações musculares involuntárias), analgésica (reduz a dor), febrífuga (combate à febre), sudorífico (faz suar), diurético (faz urinar), estimulante estomacal.

Formas de uso: Chá.

Partes usadas: Folhas

 

 

 

 

Discussão de resultados

 

              Verificou-se semelhança na metodologia do presente trabalho com a pesquisa de SANTOS et al. (1998), que visou entrevistar responsáveis de alunos de uma unidade escolar.

              Sobre a utilização das plantas medicinais pelo trabalho realizado 90% dos entrevistados utilizam algum tipo de planta medicinal e o resultado sendo a maior parte da população utilizando algum tipo de planta medicinal está de acordo com afirmação de SANTOS et al. (1998), no qual relata que o emprego das plantas medicinais constitui numa das primeiras medidas terapêuticas que a população utiliza para curar pequenos males.

              De acordo com os dados adquiridos o uso de plantas medicinais é predominante na comunidade escolar o que confirma a declaração de SIMÕES et al. (2003), quando relata o uso generalizado de plantas na medicina popular. Sendo assim, percebe-se a necessidade de melhor informar a comunidade, pois segundo VARELLA (2010), os brasileiros gostam de pensar que tudo que é natural é necessariamente benéfico sem ao menos se preocuparem com os efeitos indesejáveis. E o sexo feminino é em maioria no uso de plantas medicinais que reafirma as informações de CARAVACA (2000) é que o hábito do uso de plantas medicinais é uma herança familiar, transmitida de geração a geração, sendo que a maioria dos entrevistados afirmou que aprenderam a utilizá-las com os familiares.

              Quanto à forma de aprendizagem sobre as plantas medicinais 80% da comunidade entrevistada relata que aprenderam com os familiares, podendo-se perceber que a transmissão do conhecimento de geração em geração, continua informalmente acontecendo. Esta informação corrobora a ideia de SOUSA et al (2007) que diz que a perpetuação do saber popular pode garantir a possibilidade de melhoria da qualidade de vida de populações tradicionais e, poderá futuramente auxiliar as pesquisas na obtenção de novos fármacos.

              A pesquisa revela também que o cultivo destas plantas é bem comum, conforme se pode constatar no resultado em que 36% dos entrevistados conseguem com seus vizinhos e outros 30% cultivam, totalizando 66%. A integração com os vizinhos tem a ver com a declaração de MORIN (2001) quando reforça que a cultura reproduzida em cada indivíduo mantém a identidade humana naquilo que têm de especifico como identidades sociais.

              Quanto às formas de preparo e uso dos vegetais foi averiguado que a comunidade está de acordo com a afirmação de FERNANDES (2005) no qual relata que o consumo de plantas medicinais apresenta duas formas de utilização: uso interno e externo.       

              Para o uso interno, 63% dos entrevistados utilizam as plantas medicinais como chá, que consiste em extrair os seus princípios ativos, usando como veículo a água quente, e o chá podem ser preparado a partir de dois processos: infusão e decocção. De acordo com a pesquisa foi averiguado que a população entrevistada desconhece a forma de uso denominado infusão, que  é um processo de fazer um chá e com isso 18% dos entrevistados relataram que utilizam o modo de preparo infusão para propriedades curativas, 25% utilizam os vegetais na forma de suco ou sumo no qual se tem o suco espremendo um fruto de algum vegetal, assim seguido de um uso externo com 7% no qual foi relatado o banho que pelos dados obtidos corroboram com a ideia de SAAD (2009) que diz que os banhos podem ser parciais ou de corpo inteiro, e 5% como xarope no qual relataram que essa forma de uso normalmente é utilizada para problemas de gargantas e patologias no sistema respiratório.

              De acordo com a pesquisa realizada a comunidade escolar utiliza várias partes dos vegetais para consumo, no qual a utilização das folhas sendo predominante com 45% dos entrevistados, em que é à parte do vegetal mais utilizada para fazer um “chá”, assim 20% a raiz, 18% o fruto, 12% o caule e 10% a semente.

              Na investigação no uso de plantas medicinais nessa unidade escolar apenas uma entrevistada relatou o ponto negativo no uso de plantas medicinais no qual relatou que a espécie Aloe vera L., popularmente conhecida como “babosa” danificou seu cabelo. Em que essa afirmação da entrevistada entra em conflito com afirmações de alguns autores, sendo que de acordo JUNIOR et al. (2005), a espécie Aloe vera L.possui diversas propriedades curativas , assim como também propriedades no uso de cosmética e uma delas é  que este vegetal é utilizado contra quedas de cabelos.Através de uma diagnose com a literatura especializada pode-se concluir que a entrevistada utilizou o vegetal de modo inadequado, por isso que obteve resultados negativos.

              Nesse estudo foram citadas 18 espécies com a utilização de uso medicinal pela comunidade escolar entrevistada e a utilização de plantas como medicamento fitoterápico nas populações diversas é referida em muitos estudos, como por exemplo, AMOROZO & FURLAN (2006); REZENDE & COCCO (2002); TAUFNER, FERRAÇO & RIBEIRO (2006). Estes mesmos autores verificaram ainda a utilização do boldo (Plectranthus barbatus) como planta medicinal tendo como fonte de consulta unicamente a sabedoria popular. Na investigação com a comunidade escolar sobre o uso de plantas medicinais, o "boldo” (Plectranthus barbatus) foi o vegetal mais mencionado na utilização das plantas medicinais, em que relatam que o mesmo combate aos problemas digestivos.

              Informações que são corroboradas pelo estudo desenvolvido por PONTES, MONTEIRO & RODRIGUES (2006), o qual cita a utilização das propriedades terapêuticas do boldo (Plectranthus barbatus) nos distúrbios: digestivo, gástricos, hepáticos e nervosos.        

              Entre os principais motivos de a comunidade escolar utilizar o “boldo” (Plectranthus barbatus) para fins medicinais corroboram com a idéia de (VEIGA JUNIOR, PINTO, 2005) no qual relatam que a população se encontra nas condições de pobreza e a falta de acesso aos medicamentos, associados à fácil obtenção e tradição do uso de plantas com fins medicinais.

 

6. Conclusão

              Os resultados obtidos da pesquisa estão de acordo com pesquisas vários autores citados, no qual relataram cientificamente as atuações dos vegetais mencionados.

              Conforme verificamos, 90% dos entrevistados utilizam plantas medicinais, mencionando 18 espécies. O uso popular comprova que existem muitas aplicações curativas e preventivas e que o conhecimento científico é imprescindível para se obter os resultados desejados.

              Com a investigação realizada neste trabalho buscou-se a valorização do saber popular, se os entrevistados utilizam as plantas e para quais finalidades medicinais. De acordo com os dados obtidos em ambos os sexos e diferentes faixas etárias percebeu-se que a transmissão do saber popular em relação ao uso de plantas medicinais, vem ocorrendo de forma significativa na amostra estudada. Além disso, foi possível observar que os entrevistados utilizam freqüentemente e reconhecem a importância no uso das plantas medicinais.Com base nas entrevistas com a comunidade escolar conclui-se que: os conhecimentos que possuem sobre as plantas medicinais, são na maioria das vezes populares e não científicos e com isso todos os entrevistados desconhecem o nome científico dos vegetais, o sexo feminino é predominante quanto à utilização de plantas medicinais, a maioria da população adquire as plantas medicinais através de conhecidos, e utilizam os vegetais como chá, utilizando na maioria das vezes as folhas dos vegetais.     

              Dentre os vegetais mencionados, os da  família Lamiaceae esteve em maior parte da pesquisa e dentre esta família a espécie Plectranthus barbatus  foi mais citadas , no qual relataram utilizar esta para problemas digestivos.A maioria dos vegetais citados na entrevista seguidos para as tais finalidades, corroboram com a literatura especializada no qual se manipularem as plantas medicinais da maneira correta, os resultados esperados serão obtidos com eficiência e êxito. Mas de acordo com estudo realizado, a comunidade escolar não possui conhecimentos corretos em relação o modo de coleta, a forma de preparo e a forma de uso dos vegetais, e muitas das vezes assim obtendo algum resultado não muito esperado.

              Conclui-se que é importante ressaltar que o estudo da etnobotânica deve ser cada vez mais intensificado, pois é a partir de trabalhos assim que poderemos usufruir totalmente da nossa flora medicinal, a fim de auxiliar em futuras pesquisas na área farmacológica, possibilitando tratamento ou até curas de determinadas doenças.

 

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Ilustrações: Silvana Santos