Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UTOPIA OU FERRAMENTA VIABILIZADORA?
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UTOPIA OU FERRAMENTA VIABILIZADORA?

 

Georgia Bulian Souza Almeida¹, Mestranda (Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional – Faculdade Vale do Cricaré), Instituto Federal do Espírito Santo (IFES – Campus São Mateus).

Endereço – Rua Luiz Facheto, nº 681, Bairro Trevisan, Jaguaré-ES, CEP:29950-000

Tel: (27) 3769-2353   georgia.ifes@gmail.com

 

Renata Domingos², Doutoranda em Educação pela Universidad Catolica de Santa Fé Argentina, Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC. rdomingos@unesc.br

 

Dr. Marcus Antonius da Costa Nunes³, Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). marcaonunes@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

Educação ambiental e desenvolvimento sustentável são temas indubitavelmente correlacionados. Este texto objetiva suscitar à reflexão ao propor o enfrentamento entre a realidade socioeconômica e os discursos a respeito do desenvolvimento com a devida proteção ao meio ambiente. Para tanto, o artigo se fundamenta em opiniões, estudos e conceitos no intuito de determinar se vivemos uma utopia ao crermos que por meio da educação ambiental somos capazes de promover desenvolvimento com sustentabilidade. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica de caráter exploratório. Infere-se como fator de inquietude, a crença de que apenas através de processos educativos seremos capazes de elidir a cultura destrutiva do meio ambiente arraigada em nossa sociedade. Ao tecer conclusões, observa-se que o processo é longo, e que, só será possível obter êxito quando fatores sociais, legislativos e econômicos estiverem perfeitamente alinhados com o sentimento de pertencimento do homem ao planeta que ora habita.

 

Palavras chave: Educação ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Utopia.


“O mundo não vai superar sua crise atual usando o mesmo pensamento que criou essa situação”.

Albert Einstein

 

EDUCAR É PRECISO

 

FREIRE, com a maestria que lhe é peculiar, nos convida a refletir o processo educativo ao afirmar que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” (1996, p. 25). Diante desta assertiva surge a indagação: a educação ambiental é capaz de por um fim na crise ambiental em estamos mergulhados?

Em seus dispositivos iniciais, a Lei nº 9.795/99, que instituiu a política nacional de educação ambiental, exalta sua essencialidade no processo de ensino nacional, tanto em caráter formal como não-formal. Além disso, lhe confere responsabilidades junto à coletividade, de construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. E é sob essa perspectiva, que a administração pública, vivenciada em um país democrático como o Brasil, tem o dever de promover ações concretas com a participação da sociedade. Contudo, essa cooperação enfrenta muitos percalços, inexistindo em muitos momentos.

A modificação do meio pelo homem é um processo constante, ou seja, uma práxis social. Construir uma política estruturada em ações coletivas que focam o meio ambiente é um desafio que poucos governos têm conseguido vencer. Nesse sentido, SORRENTINO (2008) destaca que o compromisso de cada um dos bilhões de habitantes do planeta é essencial e insubstituível para que possamos implementar mudanças profundas, que aliás, são extremamente necessárias na atualidade.

MORIN (2010, p. 30) corrobora com a idéia da práxis social ao afirmar que:

O dever-ser pode dissolver-se em devaneio nostálgico. Mas é também um laboratório do real. O dever-fazer procede o dever-ser. O é preciso mudar o mundo significa exatamente o que significa. A ação nasce no momento dramático em que as vontades humanas incidem sobre a realidade objetiva das coisas.

A educação ambiental assume um papel transformador que nos coloca diante do caos da degradação e nos confere o poder para reverte-lo. LOUREIRO (2008, p. 69) define com exatidão essa condição, vejamos:

Dessa forma, para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em que vivemos, a Educação Ambiental, por definição, é elemento estratégico na formação de ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza.

Encontramo-nos diante de um desafio tão grandioso quanto necessário para nossa própria existência. Talvez a chave de toda essa angústia esteja em perceber que se não nos unirmos em prol de um objetivo maior, estaremos fadados ao fracasso. Nossa práxis, tanto educacional, como social, deve ser consciente, é imprescindível abrir os olhos e perceber os malefícios que empregamos ao nosso planeta diariamente apenas para mantermos o conforto. Ousamos questionar mais uma vez: será que estamos dispostos a abdicar dos nossos luxos e de tudo que conquistamos em décadas de desenvolvimento tecnológico, em prol do meio ambiente? Será que por meio da educação ambiental seremos capazes de operar este milagre verde?

Segundo GUIMARÃES (2007, p. 31),

É preciso estar claro que conscientizar não é simplesmente transmitir valores “verdes” do educador para o educando; essa é a lógica da educação “tradicional”; é, na verdade, possibilitar ao educando questionar criticamente os valores estabelecidos pela sociedade, assim como os valores do próprio educador que está trabalhando em sua conscientização. É permitir que o educando construa o conhecimento e critique valores com base em sua realidade.

Ora, não se trata apenas de uma ou outra nação, de um ou outro indivíduo, mas sim da co-responsabilização de todos. Neste aspecto, a educação ambiental pode ser vista como instrumento de mediação, contudo, não nos apeguemos a idéia de alguns, que alimentam a utopia da salvação do planeta com atitudes isoladas e mágicas. Sejamos sensatos, construindo uma educação baseada na pedagogia crítica.

Não podemos simplesmente abandonar o barco, como nos lembra SORRENTINO (2008, p. 18):

Não podemos reagir com atitudes do tipo: pára que eu quero descer!” ou “tô fora!”. Descobrimos que nossos destinos estão irremediavelmente ligados e que a complexa matriz de tomada de decisão exige uma capacidade expansiva de inclusão, negociação, descentralização, enraizamento, autogestão e compreensão da interdependência entre tudo e todos, sobre a qual não temos dado muitas provas de competência.

Atualmente, os avanços na educação ambiental são permeados de obstáculos muito difíceis de transpor, como a miséria, as diversas formas de segregação social, os interesses econômicos de empresários e governos, dentre outros. Ao mesmo tempo, como destacou o sociólogo alemão, Ulrich Beck em sua obra Sociedade de Risco, houve uma ruptura na modernidade que afastou a chamada sociedade industrial clássica e fez surgir a sociedade do risco. Nesta fase do desenvolvimento os riscos sociais, econômicos e industriais são evidenciados e tomam proporções que fogem do alcance das instituições dominadoras. Assim, o processo de modernização desperta na sociedade uma ação voltada para a reflexão.

Na visão de DELORS (2001, p. 288),

[...] a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas e finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes.

Destarte, já não cabe pensarmos isoladamente na degradação dos recursos do planeta, como ressalta LIMA (2008), estamos imersos em um processo que transcende uma simples crise ambiental, na verdade, vivenciamos uma crise civilizatória ampla. “É no contexto de uma modernidade avançada, incerta e complexa, contraditória e insustentável que sugerimos a compreensão da questão ambiental e a inserção da educação nessa questão” (p. 116).

Na realidade, a inserção da educação neste contexto conturbado envolvendo economia, interesses políticos e crise mundial, exige dos educadores uma postura crítica, consciente, voltada para a construção de saberes que visem à compreensão dos fenômenos sociais. Devemos canalizar nossas ações no intuito de edificar a chamada sociedade cidadã. A educação ambiental deve ser pensada enquanto ferramenta de transformação social com fulcro na conscientização dos indivíduos. Somente desta forma será possível, colher os frutos tão almejados do desenvolvimento sustentável.

Percebemos, ao observamos os debates sobre os problemas envolvendo o meio ambiente, que existe uma variedade imensa de opiniões e ações concretas que visam minimizar os danos que causamos ao planeta. Esta diversidade é benéfica, pois, proporciona a troca de experiências e a conseqüente democratização do assunto. Contudo, ao vislumbrarmos questões ambientais sob a ótica educacional devemos maternos atentos ao diversos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, respeitando seus posicionamentos e usufruindo de seus ensinamentos.

A atualidade exige coragem, temos que ser destemidos. É preciso instaurar a revolução, ou seja, um processo transformador-educador tanto do homem como das circunstâncias. Essa revolução seria a autotransformação do homem, chamada de práxis humana, permitindo que uma nova consciência surja, mas desde que o homem seja verdadeiramente transformado (SOUZA JÚNIOR, 2010).

Ainda explanando sobre a questão da revolução no âmbito educacional, o autor continua sua reflexão (2010, p.28):

A propósito do caráter educativo da revolução, cumpre observar que se pode compreender a revolução social como processo educativo basicamente pela presença de três elementos fundamentais: os sujeitos que ensinam e aprendem; a relação de ensino-aprendizagem com as devidas estratégias e métodos pedagógicos; e os conteúdos do processo de ensino-aprendizagem.

 

Neste contexto, GUIMARÃES (2007, p. 31) conclui,

Portanto, na relação do ser humano e o meio, que atualmente parece ser bastante desequilibrada, dominadora, neurotizante, é que a EA tem um grande campo a desenvolver. Praticando um trabalho de compreensão, sensibilização e ação sobre esta necessária relação integrada do ser humano com a natureza; adquirindo uma consciência da intervenção humana sobre o ambiente que seja ecologicamente equilibrada.

Na medida em que voltamos nosso olhar para o cerne da educação ambiental percebemos o quanto estamos absortos num universo que vai muito além do educar. Vivenciamos na atualidade uma sociedade que necessita criar meios para sobreviver. É imprescindível que todos vislumbrem um mesmo caminho que alie conhecimento e desenvolvimento consciente. As amarras do egoísmo e da crueldade capitalista precisam ser rompidas.


MEIO AMBIENTE X DESENVOLVIMENTO

 

Não é novidade que o meio ambiente sofre com a ação nociva do ser humano por décadas. Infelizmente, com o passar dos anos esse processo autodestrutivo só se agravou. Em muitos momentos nosso ecossistema foi visto como fator impeditivo do desenvolvimento e como conseqüência, a natureza foi brutalmente ceifada. A Revolução Industrial contribuiu ainda mais com a degradação de reservas naturais, pois abarcou os ideais de progresso, instaurando-se a partir daí a chamada sociedade de consumo.

GUIMARÃES (2007, p. 12-13) evidencia em sua fala que,

A ênfase dada pela humanidade em sua evolução histórica à parte, a separação entre ser humano e natureza, resultou em uma postura antropocêntrica em que o ser humano está colocado como centro e todas as outras partes que compõem o ambiente estão a seu dispor, sem se aperceber das relações de interdependência entre os elementos existentes no meio ambiente.

Criou-se com isso uma sociedade consumista de recursos, capitais e bens. O consumismo intenso valoriza a acumulação material, a competição exacerbada, o individualismo egoísta e vende uma ilusão alienante de crença na viabilidade desse modelo, que jamais poderia ser alcançado pelo conjunto da população planetária ou até mesmo pela grande maioria das nações existentes.

BAUMAN (1999) evidencia os perigos a que estamos expostos quando afirma que a sociedade atual molda seus membros para que desempenhem sempre o papel de consumidores. Lembra que o dilema dos nossos dias é: “se é necessário consumir para viver ou se o homem vive para poder consumir” (1999, p. 88-89). Na verdade, a indústria almeja lucro e para tanto precisa colocar seus produtos num mercado que os consuma constantemente. Fazemos parte de uma roda viva, onde somos permanentemente estimulados a comprar e comprar. “É dito com freqüência que o mercado de consumo seduz os consumidores. Mas para fazê-lo ele precisa de consumidores que queiram ser seduzidos” (1999, p. 92).

Basta olharmos nosso entorno para perceber que estamos submersos em uma catástrofe ambiental planetária. Mesmo com todos os ambientalistas, sociólogos e estudiosos nos advertindo sobre os riscos que a terra corre e com os efeitos que já estamos sentindo no clima e nos ecossistemas, a esmagadora maioria, insiste em permanecer na mais profunda inércia.

Para a efetivação de uma política pública consciente, que resulte em desenvolvimento sustentável, precisamos, antes de tudo, promover ações de inclusão. Incluir significa alcançar todos os indivíduos em prol de uma finalidade única: o desenvolvimento humano, social e econômico respeitando o meio ambiente. Nesse sentido, MORIN (2010, p.126) nos ensina que:

Civilizar a Terra, solidarizar, confederar a humanidade respeitando as culturas e as pátrias e transformar a espécie humana em humanidade tornam-se então o objetivo fundamental e global de toda política que, ao mesmo tempo, aspira ao progresso e à sobrevivência da humanidade.

Muito se tem falado em desenvolvimento sustentável, mas antes de tudo, precisamos desenvolver o ser humano. Fazer com que as pessoas saibam como viver melhor e com qualidade. Isso requer respeito, tanto ao meio ambiente como em relação aos outros. Abandonemos o egoísmo excêntrico sempre em busca do próprio bem estar, para praticarmos efetivamente o bem comum. Essa grandeza interna de aceitar as diferenças e trabalhar em conjunto para promover a equidade social é que nos falta. Não adianta lutarmos somente pela degração ambiental se estamos imunes à pobreza daqueles que nos cercam.

A Constituição Federal em seu artigo 225 determina que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Podemos perceber claramente que se trata de um dever que alcança toda sociedade. Contudo, estamos falando de uma mudança de hábitos cotidianos que estão arraigados em nossa cultura por décadas. O acolhimento da legislação pátria é fator primordial na construção de uma sociedade que preconize desenvolvimento aliado ao respeito ao meio ambiente. Além de possibilitar o envolvimento das pessoas na gestão pública de forma democrática. Mas este é um caminho espinhoso e difícil de trilhar, em virtude dos muitos interesses econômicos advindos do capitalismo.

Vivemos num mundo globalizado que se desenvolve permanentemente, seja no acesso a informação, na tecnologia, na saúde, na indústria, no comércio, enfim, em todos os setores da sociedade. Porém, é preciso estabelecer limites a este crescimento, que na maioria das vezes, agride brutalmente o meio ambiente. É interessante observarmos a evolução das espécies animais que se modificam para se adequar às mudanças do meio onde vivem. Já o ser humano, muda o meio onde vive para que este se adéqüe às suas necessidades. Isso não seria um contra censo? A sociedade utiliza valores inversos no intuito de abarcar tudo que considera ser importante para a sua sobrevivência.

BAUMAN (1999) observa que a globalização pode representar a felicidade para alguns e a infelicidade para outros. Conclui que a globalização, apesar disso, é o destino irremediável de todos, ou seja, ninguém pode se furtar aos benefícios ou malefícios da vida globalizada.

Ainda sobre essa perspectiva, BAUMAN observa que “num planeta negativamente globalizado, todos os principais problemas - os meta problemas que condicionam o enfrentamento de todos os outros – são globais e, sendo assim, não admitem soluções locais.” (2007, p. 31). Impreterivelmente deve-se pensar no todo, não em partes isoladas, talvez seja este nosso maior pecado.

SORRENTINO (2008, p. 19), ao discorrer sobre o desenvolvimento sustentável afirma que:

É possível enunciar a existência de duas grandes tendências no campo do desenvolvimento sustentável. A primeira volta-se para a proposição de soluções que se coadunem com a necessidade de preservação da biodiversidade, conservação dos recursos naturais, desenvolvimento local e diminuição das desigualdades sociais, por meio de novas tecnologias, políticas compensatórias, tratados internacionais de cooperação e de compromissos multilaterais, estímulo ao ecoturismo, certificação verde de mercados alternativos, entre outros. A segunda volta-se para finalidades semelhantes, mas por intermédio da inclusão social, da participação na tomada de decisões e da promoção de mudanças culturais nos padrões de felicidade e desenvolvimento.

Na verdade, o ecossistema não pode se defender de nossos devaneios, contudo, não quer dizer que não soframos as conseqüências de nossos atos. A natureza acolhedora nos proporciona tudo que necessitamos para viver, porém, na medida em que vamos lhe agredindo, nos responde com fúria. Congratula-nos com paisagens áridas e vazios de vida ao mesmo tempo em que vai se reinventando para suportar tantas perdas.

Destarte, a idéia de desenvolvimento aliado à sustentabilidade não está bem alicerçada na sociedade. Na verdade desenvolvimento e sustentabilidade são vistos como antagônicos. Essa contradição é observada por RODRIGUES (2008, p. 116):

O esgotamento de recursos está se dando exatamente porque em alguns lugares o modelo de produção, que parece infinito, deu “certo”. Desse modo, o desenvolvimento e a sustentabilidade são aspectos contraditórios do processo. Onde deu mais certo a produção de mais e mais mercadorias é onde mais se destruiu a natureza.

Estamos tão habituados a transformar tudo a nossa volta que, se quer prestamos atenção ou nos preocupamos com as conseqüências futuras de nossos atos. Tanto espécies vegetais como também as animais aprenderam a se transformar, inclusive organicamente para se adaptarem ao meio onde vivem. Veja, com o ser humano ocorre o inverso. Nós mudamos o mundo. Mas até que ponto estamos corretos? O planeta existe para nos servir ou nós apenas somos parte dele? MORIN (2000, p. 36) afirma que “cada um de nós, rico ou pobre, traz em si, sem saber, o planeta inteiro”.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Muito já foi dizimado, mas ainda nos resta um planeta repleto de recursos naturais. Vivenciamos uma realidade que nos impõe atitudes imediatas de conscientização da sociedade, pois conservar o meio ambiente significa garantia de sobrevivência. Já nos habituamos a ouvir reiteradamente essa assertiva. Hora, o que nos falta é coragem para abandonar a inércia que está nos conduzindo ao caus. Lembrando que ninguém está livre das conseqüências de suas próprias ações próprias e das ações dos outros.

O exacerbado individualismo cultuado por gerações e gerações, que almeja apenas vantagens econômicas, impediu a construção de vínculos de pertencimento entre o homem e a natureza. Conseqüentemente, estamos diante de uma crise, dita ambiental, mas que na verdade, decorre de uma crise de valores. Com efeito, coadunamos com muitos estudiosos que compreendem a educação ambiental como processo permanente de educação formal e informal, que tem como fulcro, a formação de cidadãos conscientes das responsabilidades e desafios que enfrentarão todos os dias. Destarte, esta é uma luta conjunta e apesar da educação ambiental ser uma ferramenta imprescindível, não terá força suficiente neste enfrentamento, a não ser que esteja alicerçada na legislação e em políticas públicas eficazes. Além disso, a sociedade deve estar propensa à mudança.

A discussão envolvendo a temática ambiental nos remete à reflexão dos diversos contextos que vivenciamos. Abandonemos a inércia preguiçosa do questionamento: “sei que catástrofes estão ocorrendo, mas o que eu posso fazer?” Na verdade, cada indivíduo tem condições de ser protagonista em ações diversas em prol da natureza. Afinal, somos todos habitantes de um único planeta e se não nos movermos imediatamente, chegará o momento em que fatalmente sucumbiremos juntos.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1999. P. 88-89.

 

________________ Tempos líquidos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2007. p. 31.

 

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 288.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários para a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 25.

 

GUIMARÃES, Paulo. A Dimensão Ambiental na Educação. 8ª Ed. São Paulo: Papirus, 2007, p. 12-31.

 

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Crise Ambiental, Educação e Cidadania: Os Desafios da Sustentabilidade Emancipatória. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. p. 116.

 

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. p. 69.

 

MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Patria. Porto Alegre: Sulina, 2000. p. 36.

 

MORIN, Edgar. Em busca dos fundamentos perdidos: textos sobre o Marxismo. 2ª Porto Alegre: Sulina, 2010. p. 30-126.

 

SORRENTINO, Marcos. Desenvolvimento Sustentável e Participação: Algumas Reflexões em Voz Alta. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. p. 18.

 

SOUZA JÚNIOR, Justino de. Marx e a Crítica da Educação: Da expansão liberal-democrática à crise regressivo-destrutiva do capital. Aparecida: Ideias e Letras, 2010. p. 28.

 

Ilustrações: Silvana Santos