Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
12/03/2015 (Nº 51) AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ESTUDANTES DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1983 
  
AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS DISCENTES DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL: enfo

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ESTUDANTES DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Aline Simon1, Alisson de Souza Cunha1, Bárbara Da Cás Draguetti1, Camila Czieslak Machado1, Caroline Isabel Kothe1, Domênica Maioli1, Isadora Cafruni1, Larissa Aguiar Andrade1, Marina Coelho Hofmeister Valente1, Valentina Tasende¹, Vanessa Johann1, Vinicius Rios de Lima1.

 

 

Alessandro de Oliveira Rios2, Marco Antônio Zachia Ayub3, Simone Hickmann Flôres4.

 

1Bolsistas Programa de Educação Tutorial (PET) Engenharia de Alimentos, Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9500, CEP 91501-970, Porto Alegre (RS, Brasil). Telefone: 55-51- 3308-7093 / 3308-6681, Fax: 55-51- 3308-7048 E-mail: petengenhariadealimentosufrgs@gmail.com.

2Tutor do PET-Engenharia de Alimentos, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Laboratório de Compostos Bioativos, Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9500, CEP 91501-970, Porto Alegre (RS, Brasil). E-mail: alessandro.rios@ufrgs.br

3Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Laboratório de Biotecnologia, Bioprocessos e Biocatálise, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9500, CEP 91501-970, Porto Alegre (RS, Brasil). E-mail: mazayub@ufrgs.br

4Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Laboratório de Compostos Bioativos, Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9500, CEP 91501-970, Porto Alegre (RS, Brasil). E-mail: simone.flores@ufrgs.br


RESUMO:

Com a intenção de se conhecer qual é a atual percepção ambiental dos alunos de graduação da Engenharia de Alimentos da UFRGS, desenvolveu-se a presente pesquisa que foi aplicada pelos alunos integrantes do grupo PET (Programa de Educação Tutorial). A metodologia consistiu na elaboração de um questionário usando o recurso Docs (Google), que foi aplicado a 84 alunos (53,33% do total de alunos do curso) com idades entre 18 e 35 anos, 81 % mulheres e 19 % homens. Foi possível concluir que 85 % dos entrevistados consideram-se conhecedores do significado de sustentabilidade. Do total entrevistado, 62 % se consideram bem informados sobre questões ambientais. Para 64 % a sustentabilidade nas indústrias consiste em métodos para reduzir custos e reaproveitar resíduos. A implantação de tecnologias limpas foi considerada por 51 % dos entrevistados como a causa do aumento do custo inicial dentro da indústria. A maioria julga que os principais causadores dos problemas ambientais são o desmatamento de florestas (51%), poluição de ar, rios e águas (67%) e aumento do volume de lixo (46%). Para 92 % dos alunos, a utilização de subprodutos gerados na indústria pode diminuir os impactos ambientais, enquanto que 36 % afirmaram que pagariam um preço mais elevado por produtos de empresas que utilizam tecnologias sustentáveis e 33% não saberiam se pagariam. Com a pesquisa, é possível afirmar-se que os acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos da UFRGS estão parcialmente atualizados com as questões ambientais e preocupados com o meio ambiente, contudo ainda existem dúvidas e ideias não esclarecidas sobre o assunto.

Palavras-chaves: Sustentabilidade; percepção ambiental; meio ambiente; indústria de alimentos.

 


1. INTRODUÇÃO

Assuntos relacionados à temática ambiental vêm se tornando um tema mundial após catástrofes naturais e outros eventos climáticos que têm assolado o mundo nas últimas décadas. Existem muitas discussões sobre meio ambiente, sustentabilidade e assuntos relacionados, contudo não é tão evidente a correta percepção que a população tem sobre o assunto.

Pode-se perceber a preocupação e a luta pela preservação do meio ambiente a partir de 1972, quando ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente em Estocolmo. A Organização das Nações Unidas (ONU) organizou o evento para criar o alerta para os países sobre o cuidado do planeta e a degradação que está ocorrendo do mesmo. Compareceram ao evento 113 nações de 250 organizações, debatendo sobre o meio ambiente até criar a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, na qual eram descritos os princípios e comportamento que deve ser seguido para tomar decisões sobre políticas ambientais. (MAIMON, 1992)

Já a percepção ambiental pode ser definida como a conscientização do homem em relação ao ambiente, isto é, perceber o meio em que se está inserido e aprender a protegê-lo e cuidá-lo (TOZADORI, 2010). Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As manifestações são decorrentes do resultado das percepções (individuais e coletivas), julgamentos e expectativas.

Para compreender a relação do homem com o meio ambiente é fundamental saber o que cada indivíduo pensa sobre o assunto e de que forma age frente a isso. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a maior dificuldade para a proteção do meio ambiente é a diferença de valores entre indivíduos (FERNANDES, R. S. et al. 2004).

A informação e a educação da população são indispensáveis para a construção e o desenvolvimento da ética ambiental. É de suma importância que o indivíduo possua conhecimentos específicos de preservação para manter um ambiente de qualidade, com a percepção que bens naturais precisam ser conservados e protegidos (AYRES & BASTOS, 2009).

A educação ambiental não restringe seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorpora fortemente a proposta de construção de uma sociedade sustentável. A educação ambiental tornou-se lei no Brasil em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA, 1999).

Em relação às possibilidades de aplicação da tecnologia sustentável, estas giram em torno da adaptação da tecnologia existente e de novas tecnologias para que possa coexistir o crescimento populacional e o ecossistema (MILL, J.S., 2008). Uma das possibilidades é a adoção de fontes de energia limpa, sendo esta uma das preocupações centrais. Outra forma de adaptação da tecnologia sustentável tem sido desenvolvida em algumas empresas, como forma de projetos de sustentabilidade voltados para o aproveitamento de resíduos oriundos do desenvolvimento de produtos alimentícios. Pode-se também citar como aplicação de tecnologia sustentável o replantio de áreas devastadas, assim como a elaboração de projetos que visem à utilização de áreas áridas. Dentro deste contexto, a presente pesquisa foi desenvolvida a fim de manter a vanguarda desta discussão sobre meio ambiente tendo em vista a necessidade de conhecer melhor os processos de interação entre a sociedade e o meio ambiente. Assim, com o objetivo de ampliar o ensino e a formação profissional dos Engenheiros de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialmente quanto aos aspectos de consciência ambiental, foi desenvolvida uma pesquisa para avaliar a percepção ambiental dos discentes do curso.

A análise dos dados obtidos na pesquisa realizada poderá ser usada como uma importante ferramenta para elaboração de ações e atividades de educação ambiental a ser aplicada em estudantes, despertando neles a tomada de decisões sustentáveis, tanto na vida pessoal quanto na aplicação dos conhecimentos na indústria ou no ambiente de trabalho, ajudando a preservar o meio natural e a reaproximar o homem da natureza.

 


2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no segundo semestre de 2011 e utilizou um questionário para avaliar a visão e a preocupação dos discentes de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul quanto às questões ambientais. Para construir o questionário foi utilizado o recurso de pesquisa Docs (Google) do tipo formulário. O formulário usado encontra-se no Anexo I deste documento.

Depois de concluído o formulário, o recurso Docs fornece um link para acesso das questões propostas. Esse link foi enviado por e-mail a todos os alunos do curso de Engenharia de Alimentos da UFRGS com o auxílio da Comissão de Graduação, órgão que coordena o Curso de Engenharia de Alimentos do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos. A divulgação foi realizada através de redes sociais da Internet através do fornecimento do link específico da pesquisa.

As respostas foram computadas diretamente pelo recurso de pesquisa Docs, e exibida através de gráficos para melhor visualização. O formulário possui uma opção de “exibir resumo das respostas”, onde se pode acompanhar a pesquisa ao longo do tempo e se fazer a análise estatística.

O formulário de pesquisa foi desenvolvido com o objetivo de conhecer a consciência ambiental dos discentes do curso de Engenharia de Alimentos da UFRGS e, por isso, foi customizado para apresentar cor e figuras que remetem aos discentes a ideia de sustentabilidade e questões ambientais.

 


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme dados da Comissão de Graduação, o curso de Engenharia de Alimentos da UFRGS possui um total de 155 alunos (registros de 2012). A pesquisa abrangeu 40% dos discentes do curso com idades entre 18 e 35 anos, sendo que 81% do público eram do sexo feminino e 19 % do público eram do sexo masculino.

A maior parte dos entrevistados (85%) declarou que conhece o significado de sustentabilidade. Mas apenas 62% afirmaram serem bem informados em relação às questões ambientais, o que revela que ainda há dúvidas sobre a relação de práticas sustentáveis com a conservação do ambiente.

Para 69% dos estudantes, as informações em relação ao meio ambiente ocorrem por meios de comunicação como televisão e Internet. Já as informações obtidas através de educadores registram um percentual muito pequeno, de 5%, o que indica que a educação ambiental é pouco difundida através dos órgãos educacionais.

Sabe-se que a escola tem o desafio de evitar com que a Educação Ambiental caia na simplificação e acredita-se no que diz Ayres, ao afirmar que:

 

“Ambiente assim concebido, não é redutível ao mero nível ecológico embora este último seja um aspecto importante do primeiro.” (AYRES & BASTOS, 2009).

 

Após uma recomendação do Conselho da Europa em 2002 sobre Educação para a Cidadania Democrática todos os países europeus passaram a incluir a educação para a cidadania nos seus currículos nos três níveis de ensino (EURYDICE, 2005). No 1º ciclo de ensino básico, em países como a Espanha, França, Grécia e Finlândia, a educação ambiental é uma disciplina curricular. Ao nível do 2º e 3º do ensino básico e no ensino secundário a maioria dos países optam pela abordagem integrada em outras disciplinas como geografia, biologia e ciências.

Na Áustria, o Ministério da Ciência, Educação e Cultura atribui financiamento governamental para que as escolas desenvolvam projetos que se proponham atingir objetivos educacionais, ecológicos, de saúde e sustentabilidade. Na Suécia o governo lançou o Prêmio “Green School” como forma de estimular nos alunos que frequentam o ensino obrigatório o envolvimento em projetos ambientais. Para se candidatar, a escola deve integrar o ensino teórico e prático das questões ambientais focando-se na escola e na comunidade local. Na Itália juntamente com outras iniciativas existe um vasto conjunto de Centros para a Educação Ambiental que é gerida regionalmente em articulação com o poder central (STOKES et al, 2001).

Estes são apenas alguns exemplos de ações que tornam a educação ambiental uma realidade nas redes de ensino europeias. O que se percebe é uma forte atuação do governo, através de incentivos fiscais, em conjunto com as escolas e universidades. O ensino brasileiro necessita aumentar a disseminação de informações sobre questões ambientais através de seus educadores e modelos como os citados são um ótimo caminho a se seguir.

Quando questionados sobre com o que a palavra indústria estava diretamente relacionada, aproximadamente 56% dos respondentes indicaram um relacionamento com o desenvolvimento. Além disso, para apenas 48 % dos alunos questionados, a prática de sustentabilidade nas indústrias é muito importante. Tais resultados indicam um perfil de futuros profissionais ainda não conscientes com o desenvolvimento industrial e com a importância de práticas sustentáveis em empresas, visto que, menos da metade dos 84 entrevistados julga tais práticas como muito importantes. A adoção de práticas sustentáveis por parte das empresas vem sendo cada vez mais incorporada no dia-a-dia, tornando-se uma tendência capaz de tornar as empresas mais competitivas e reconhecidas no mercado. “Nós integramos a sustentabilidade na estratégia de nossas marcas para promover a preferência do consumidor; fomentar inovações sustentáveis; expandir nossos mercados e gerar benefícios relacionados aos custos” declara Fernando Ferreira diretor de qualidade da empresa Unilever. Sendo assim é de extrema importância que o futuro profissional já tenha incorporado em sua formação ideias de inovação e de práticas voltadas ao desenvolvimento sustentável. 

Cerca de 64% dos entrevistados afirmaram que a sustentabilidade praticada em uma empresa significa criar métodos para reduzir custos e reaproveitar lixos e resíduos. Em torno de 51 % dos discentes julgaram que o principal responsável pelos custos elevados gerados pela sustentabilidade seria o gasto inicial para a prática (implementação) de tecnologias limpas.

Segundo o diretor técnico do Serviço de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Carlos Alberto dos Santos, inovação e investimentos, sejam estes simples ou complexos, são fundamentais para montar um pequeno negócio sustentável levando-se em consideração o impacto ambiental que será gerado pelo mesmo. Ele também acrescenta que a adoção de boas práticas leva a uma significativa redução de custos operacionais, reduzindo assim, em um médio período de tempo, custos financeiros da empresa. Hoje em dia existem instituições financeiras que oferecem crédito para ajudar na implementação das boas práticas das empresas. Além disso, a implantação de tecnologias limpas, subsidiada pelo Programa Sebratec do SEBRAE, cobre de 80 até 90% dos custos da empresa além de elaborar o projeto (PENSANDO GRANDE, 2012).

Sendo assim, a falta de informação sobre tais alternativas de custeio, faz com que ainda haja empresas não adeptas a causa ambiental. Ainda com as palavras do diretor técnico do SEBRAE, pode-se entender o reflexo desses ideais sobre a indústria.

“Os benefícios vão além da redução do impacto ambiental. Entre as vantagens da implementação das boas práticas destaca-se o diferencial de mercado e a melhoria da imagem da empresa além do aumento da confiança por parte do consumidor, o que possibilita a atenção a maiores clientes. Consequentemente, a lucratividade e rentabilidade também aumentam e os custos de produção diminuem junto com o impacto residual, devido à coleta seletiva organizada. Atualmente, inovação e competitividade são características das empresas que adotam esses processos e práticas sustentáveis” (PENSANDO GRANDE, 2012).

Toda a estatística das respostas fornecidas pelos alunos é apresentada na Figura 1. Os dados foram computados diretamente pelo recurso de pesquisa Docs, e exibidos através de gráficos para melhor visualização.

 

 

graf1 MM

Figura1: Perguntas realizadas aos estudantes de Engenharia de Alimentos da UFRGS com suas respectivas respostas apresentadas em porcentagem.

 

Usando uma escala de 1 a 5, sendo 1 menor impacto e 5 o maior impacto, os entrevistados classificaram os principais causadores de problemas ambientais. Os problemas ambientais considerados como os mais nocivos foram: aumento do volume de lixo (46 %); poluição do ar, rios e águas (41 %); desmatamento de florestas (31 %). Em seguida, como os causadores de problemas ambientais intermediários, foram citados o consumismo exagerado (55 %) e o uso de sacolas plásticas, materiais não recicláveis (45 %). Por último, os fatores considerados menos importantes para os discentes foram à geração de energia (58 %) e a produção de alimentos (42 %). A Tabela 1 expressa os resultados obtidos.

 

Tabela 1: Dê uma nota de 1 a 5 (sendo 1 o menor causador e 5 o maior causador) para cada um dos itens abaixo, julgando aqueles que você considera os principais causadores dos problemas ambientais.

Perguntas

1

2

3

4

5

Desmatamento de florestas (%)

51

27

15

2

1

Poluição do ar, rios e águas (%)

67

27

2

1

0

Aumento do volume de lixo (%)

46

35

17

0

0

Consumismo exagerado (%)

33

33

18

7

6

Uso de sacolas plásticas

e materiais não recicláveis (%)

27

38

26

6

0

Produção de alimentos (%)

8

15

36

23

15

Geração de energia (%)

11

26

38

18

5

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Os desastres naturais ocorrem devido à má relação do homem com a natureza. Segundo KOBIYAMA (2006), o homem tanta dominar a natureza e acaba sendo derrotado, deste modo, os efeitos dos desastres e a frequência dos mesmos estão sempre aumentando. Isso é visto pelo número crescente de desastres naturais ocorridos nas últimas décadas, devido ao crescimento da urbanização e da industrialização.

Os discentes também foram questionados sobre ações realizadas no dia a dia (Tabela 2) e suas atitudes tomadas frente a essas atividades corriqueiras, que exprimem seu comprometimento com o meio ambiente. Além disso, os alunos responderam duas perguntas relacionando o meio ambiente e as indústrias (Tabela 3).

 

Tabela 2: Perguntas sobre atitudes diárias dos alunos.

Perguntas

Sim (%)

Não (%)

Às vezes (%)

Costumo fechar a torneira enquanto escovam os dentes

       92

2

6

Evito deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados.

       76

4

20

Espero os alimentos esfriarem antes de guardar na geladeira

        46

26

27

Desligo aparelhos eletrônicos quando não estou usando

        56

12

32

Em minha casa, separo o lixo para reciclagem

        68

6

10

Comprei produtos orgânicos nos últimos 6 meses

        62

38

x

Comprei produtos feitos com material reciclado nos últimos 6 meses

        65

19

x

Você procura consumir frutas e hortaliças características da estação ou típicas da sua região?

        59

7

18

No seu dia a dia você procura adquirir alimentos que possuam embalagens recicláveis e biodegradáveis?

        18

25

57

Na compra de alimentos, ou até mesmo eletrodomésticos, você procura averiguar se os mesmos possuem algum selo de preservação ambiental?

        29

46

25

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

 

De acordo com a Tabela 2, avalia-se que as três ações sustentáveis que mais são praticadas pelos estudantes do curso de Engenharia de Alimentos da UFRGS são: o fechamento da torneira enquanto se escova os dentes, com 92 % de confirmações, apagar as luzes quando sai de um ambiente, com 76 % de confirmações, e por último, a separação do lixo para reciclagem, com 68 % de confirmações.

A importância de se questionar tais ações está no fato de que a preservação do meio ambiente começa com pequenas atitudes diárias que fazem toda a diferença.

De acordo com a Tabela 3, 92 % dos alunos acreditam que a utilização de subprodutos gerados em indústrias pode diminuir os impactos ambientais. Esta também mostra que 43 % dos alunos consumiriam alimentos produzidos em indústrias que empregam formas sustentáveis, mesmo com o preço mais elevado em relação a um produto do mesmo gênero.

 

Tabela 3: Perguntas relacionadas às práticas sustentáveis na indústria.

Perguntas

Sim (%)

Não (%)

Não sei (%)

Você acredita que a utilização de subprodutos gerados em indústrias possa diminuir os impactos ambientais?

92

1

7

Se o preço dos alimentos que são produzidos em indústrias que utilizam formas sustentáveis fosse maior que dos outros do mesmo gênero, você os consumiria?

43

18

39

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Na busca pela redução do impacto ambiental durante o processo de produção, a indústria procura alternativas sendo uma delas a obtenção de subprodutos a partir de materiais que seriam descartados. Os benefícios englobam tanto uma causa social quanto ambiental visto que estes produtos passam a ter um valor, criando um mercado próprio que gera emprego e renda e, ainda, reduzem os resíduos gerados pelas indústrias. (GALSKY, 2012)

Grandes exemplos são as empresas Plasmacro (Brasil) e Casco (Canadá) que com o objetivo de investigar processos inovadores que contribuam para a reciclagem dos resíduos da produção de biodiesel e seu uso na indústria de material elétrico e outras aplicações desenvolveram uma pesquisa em conjunto. Como objetivo principal do projeto pretende-se fazer uso do glicerol bruto (um desses resíduos) como plastificante na indústria de papel e obter compostos de amidos termoplásticos com PVC reciclado para moldagem, mediante injeção, de material elétrico e também bioplásticos para elaboração de embalagens descartáveis de alimentos.

A Agenda 21 Global, assinada e acordada por representantes de 179 países presentes na Rio 92, é uma ferramenta de planejamento para desenvolver sociedades sustentáveis, que agrega métodos de proteção ambiental, justiça social, e eficiência econômica, podendo ser aplicada nas mais diversas regiões do globo. (BRASIL, 1992) Em relação ao consumo sustentável, traz em seu Capítulo 4 a importância de ressaltar que o consumo é o responsável de causar diversos impactos não somente ambientais como também sociais. O consumo sustentável consiste em opções de compras conscientes, levando em consideração quais os impactos –positivos ou negativos- que nossa escolha irá trazer para o meio ambiente. Por isso, o consumo sustentável trata-se da escolha de produtos que utilizam menos recursos naturais em sua produção e que sejam de fácil reaproveitamento além de garantir emprego descente aos que o produzem (BRASIL, 1992).

O programa de Contratações Públicas Sustentáveis do Estado Brasileiro incentiva o desenvolvimento sustentável motivando compras de materiais sustentáveis na administração pública. No catálogo de materiais do Portal de compras do Governo Federal (ComprasNet) estão presentes alguns itens sustentáveis como papéis recicláveis, equipamentos produzidos com madeira sustentável, transportes movidos à energia limpa (biodiesel), alimentos orgânicos e sistema de ar condicionado ecologicamente correto. Mais de 1,4 mil licitações para compras de produtos sustentáveis foram feitas desde 2010. O guia Produção Mais Limpa - Faça Você Mesmo, é outra iniciativa do SEBRAE para ajudar as empresas na transformação de resíduos em matérias primas e também na eliminação do impacto ambiental durante a produção. Mais de 5 milhões de pequenas empresas nacionais podem ser beneficiadas por essas práticas.

A adoção de novos valores por parte da sociedade é um fator que acelera o amadurecimento do ser humano para provocar uma mudança de comportamento. A sociedade mundial baseada no valor “ter” foi descrita pelo termo “sociedade de consumo”. Porém, cada vez mais os conceitos de sustentabilidade e justiça social começam a fazer parte da consciência coletiva não somente brasileira como mundial. Esta nova consciência é a responsável pela mudança de comportamento e pelo abandono das práticas não sustentáveis de consumo e desperdiço, e ao mesmo tempo, pela adoção de práticas que não agridam ao meio ambiente.

 


4. CONCLUSÃO

A pesquisa realizada com 84 estudantes de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrou que o assunto sustentabilidade está inserido no cotidiano dos jovens, porém a importância das práticas sustentáveis não é bem entendida ainda.

Conforme os resultados obtidos, conclui-se que os acadêmicos do curso estão atentos sobre questões básicas de meio ambiente e são conscientes dos problemas ambientais. Contudo, ainda existem ideias não esclarecidas sobre o assunto. Isso se reflete na resistência apresentada pelos estudantes em pagar um custo elevado em alimentos produzidos com tecnologia sustentável e de a maioria não classificar a prática sustentável em uma empresa como muito importante.

Esse projeto é visto como uma alternativa para uma maior conscientização dos acadêmicos do curso, que ainda apresentam limitações quanto às práticas sustentáveis. Com isso, poderá contribuir para a formação de profissionais desenvolvedores de tecnologias limpas, que possibilitarão a redução dos custos através de práticas como: reaproveitamento de resíduos poluidores sob a forma de desenvolvimento de novos produtos ou uso de energias renováveis que influenciam na redução do custo final do produto.

 

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Ministério da Educação pelas bolsas PET dos alunos envolvidos na pesquisa.

 


REFERÊNCIAS

AYRES, F. G. S., BASTOS, J. B. F. O Exercício das liberdades, o combate à pleonexia e a educação ambiental. Gaia Scientia, Paraíba, v.3, n.1, p.29-34, 2009.

 

BRASIL, Ministério do meio ambiente. Agenda 21 global. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 27 ago. 2014

 

BRASIL, Ministério do meio ambiente. Agenda 21 global, Capítulo 4: mudança dos padrões de consumo, 1992. Disponível em: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global/item/606. Acesso em: 07 ago. 2014

 

EURYDICE, Direção Geral de Educação e Cultura. Educação para a cidadania nas escolas da Europa, com anexo sobre a situação em Portugal. Unidade Europeia de Eurydice, 2005. Disponível em: Acesso em: 15 jun. 2014.

 

FERNANDES, R.S. et al. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. In: Encontro Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. 2. 2004. Indaiatuba – SP. Anais eletrônicos: GT10, Meio ambiente, sociedade e educação. Disponível em:

<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT10/roosevelt_fernandes.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2014.

 

GALSKY, H. Subprodutos antes descartados podem mudar a dinâmica da economia, SIEMENS 23 maio 2012. Disponível em: Acesso em: 14 jun. 2014.

 

KOBIYAMA, M. et al. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Editora Organic Trading, Florianópolis, 2006. Disponível em: Acesso em: 11 jun. 2014.

 

MAIMON, D. Política ambiental no Brasil–Estocolmo-72 a Rio-92. D. Maimon (coordenação) Ecologia e Desenvolvimento. APED. Rio de Janeiro, 1992.

 

MILL, J. S. Tecnologia da Informação e sustentabilidade. Terra Valente. Disponível em: <http://www.terravalente.com/pag/educacao/sustentabilidade/tcc2008.htm.> Acesso em: 10 ago. 2014.

 

PENSANDO GRANDE. O futuro das empresas está na sustentabilidade, Economia, 2012. Disponível em: Acesso em: 5 jun. 2014.

 

PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA. Casa Civil, subchefia de assuntos jurídicos. A Lei N° 9.795, 27 de abril de 1999: Capitulo I da educação ambiental. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm.> Acesso em: 03 jul. 2014.

 

STOKES, E., EDGE, A., WEST, A. Environmental Education in the Educational Systems of the European Union. Centre for Educational Research London School of Economics and Political Science. Apr. 2001.

 

TOZADORI, A. C., Conservação do ambiente, criminalização e percepção da sociedade. 155 f. Dissertação (mestrado). Universidade de São Paulo. Programa de Interunidades de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada, Piracicaba, 2010.


ANEXO I: Formulário

 

O formulário foi composto pelas seguintes questões:

1.            Sexo

2.            Idade

3.            Ano de ingresso no curso

4.            Qual a sua familiaridade com o conceito de sustentabilidade?

5.            Qual a importância que você dá a prática da sustentabilidade por uma empresa de alimentos?

6.            Para você, sustentabilidade praticada em uma empresa é:

7.            Quando se fala em indústrias a primeira coisa que você pensa é:

8.            Muitas empresas acreditam que ser sustentável geram custos elevados. A respeito disso qual o item que você julga o maior responsável por isso?

9.            Qual seu conhecimento em relação às questões ambientais?

10.         Qual o principal meio que você costuma ter informações a respeito de meio ambiente?

11.         Costumo fechar a torneira enquanto escovo os dentes.

12.         Evito deixar lâmpadas acessas em ambientes desocupados.

13.         Espero os alimentos esfriarem antes de guardar na geladeira.

14.         Desligo aparelhos eletrônicos quando não estou usando.

15.         Em minha casa separo o lixo para reciclagem.

16.         Comprei produtos orgânicos nos últimos seis meses.

17.         Comprei produtos com material reciclado nos últimos seis meses.

18.         Você procura consumir frutas e hortaliças características da estação ou típicas de sua região?

19.         No seu dia a dia você procura adquirir alimentos que possuem embalagens recicláveis e biodegradáveis?

20.         Na compra de alimentos, ou até mesmo eletrodomésticos, você procura averiguar se os mesmos possuem algum selo de preservação ambiental?

21.         Você acredita que a utilização de subprodutos gerados em indústrias possa diminuir os impactos ambientais?

22.         Se o preço dos alimentos que são produzidos em indústrias que utilizam formas sustentáveis fosse maior que dos outros do mesmo gênero, você os consumiria?

23.         Dê uma nota de 1 a 5 (sendo 1 o menor causador e 5 o maior causador) para cada um dos itens abaixo, julgando aqueles que você considera os principais causadores dos problemas ambientais.

23.1. Desmatamento de florestas

23.2. Poluição do ar, rios e águas.

23.3. Aumento do volume de lixo

23.4. Consumismo exagerado

23.5. Uso de sacolas plásticas e materiais não recicláveis

23.6. Produção de alimentos

23.7. Geração de energia

24.         Você sabe qual o significado de sustentabilidade?

25.         Se o preço dos alimentos que são produzidos em indústrias que utilizam formas sustentáveis fosse maior que dos outros do mesmo gênero, você os consumiria?

 

O formulário contou com os seguintes subitens:

1.            Título da Pergunta: Nesse subitem foi indicada a pergunta destinada aos discentes.

2.            Texto de Ajuda: Para cada pergunta, se necessário, era adicionado um texto de ajuda para auxiliar no preenchimento da resposta pelos alunos.

3.            Tipo de Pergunta:

3.1.        Texto: A pergunta tipo texto oferece ao discente a oportunidade dele mesmo escrever diretamente sua resposta em uma linha, como, por exemplo: “idade” ou “ano de ingresso no curso”.

3.2.        Múltipla Escolha: A pergunta tipo múltipla escolha foi a mais utilizada no formulário, pois fornece uma escolha forçada por parte dos entrevistados, como por exemplo: “Você sabe qual o significado de sustentabilidade?”, Opção 1: “Sim”, Opção 2: “Não”.

3.3.        Grade: A pergunta tipo grade tem como objetivo conhecer o nível de importância que o discente classifica diversos assuntos, como por exemplo: “Dê uma nota de 1 a 5 (sendo 1 o menor causador e 5 o maior causador) para cada um dos itens, julgando aqueles que você considera os principais causadores dos problemas ambientais”.

 

Ilustrações: Silvana Santos