Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) ATIVIDADE DE COMPOSTAGEM EM MICRO ESCALA COMO FORMA DE PROMOVER EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SABERES EM QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO
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ATIVIDADE DE COMPOSTAGEM EM MICRO ESCALA COMO FORMA DE PROMOVER EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SABERES EM QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

 

Jacqueline Morais da Costa

Mestranda em Química Inorgânica

UFPB, 58051-900 João Pessoa-PB. E-mail: jacqueline_morais@hotmail.com

 

Artur Torres de Araújo

Mestrando em Físico Química

UFPB, 58051-900 João Pessoa-PB. E-mail: arturdesume@hotmail.com

 

Bárbara de Mariz Silva

Graduanda em Bacharelado em Química

UFPB, 58051-900 João Pessoa-PB. Email: baah.mariz@hotmail.com

 

 Leonardo Arcanjo de Andrade

Graduado em Licenciatura em Química

UEPB, 58429-500 Campina Grande-PB. Email: leo_arcanjo123@hotmail.com

 

 Railton Barbosa de Andrade

Doutorando em Físico Química

UFPB, 58051-900 João Pessoa-PB. Email: railtoncg@hotmail.com

 

 

RESUMO: No paradigma atual de educação, nunca se falou tanto do caráter sustentável que as intervenções escolares devem assumir. A necessidade de formação de cidadãos críticos e com afinco às questões ambientais potencializa qualquer área de ensino quando articuladas e elaboradas dentro do mecanismo de ensino e aprendizagem. O objetivo desse trabalho é promover saberes em Química e Educação Ambiental por meio da atividade de compostagem em micro escala, caracterizando-se como uma atividade de extensão interdisciplinar. A produção exacerbada de resíduos sólidos urbanos (RSU) requer também alternativas viáveis de tratamento. A compostagem além de reduzir o acúmulo inadequado de RSU, na produção adubo orgânico, se mostrou uma excelente ferramenta no ensino de ciências (Química e Biologia).

 

Palavras-chave: compostagem, ensino de química, educação ambiental.

 

Introdução

 

Uma das novas questões dessa nova ordem da educação mundial é a busca incessante por alternativas de ensino que compatibilizem as questões ambientais ao cognitivo do estudante, favorecendo a formação de cidadãos mais conscientes às questões ambientais.

Uma das alternativas encontradas por muitos pesquisadores não só da área de educação, mas de toda a comunidade acadêmica, é o uso da semântica de interdisciplinaridade que preza a mistura de duas ou mais áreas do conhecimento na busca de soluções para problemas unilaterais. Contudo, a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, mas em uma expressão possível, as “disciplinas são solvatadas”, mantendo assim sua individualidade, integrando as diversas disciplinas da área do conhecimento a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm na realidade, quando se trabalha todas as linguagens na constituição daquele conhecimento (Brasil, 1999, p.89)

No âmbito do ensino de química e nos mecanismos de ensino e aprendizagem nota-se o enriquecimento do meio, devido à adição e reprodução de pedaços isolados do conhecimento químico ao conhecimento universal.

Aos olhos do cotidiano, a busca incessante por melhorias na qualidade de vida tem feito com que o ser humano cause diversos impactos ambientais negativos. Diariamente os meios de comunicação veiculam diversos acontecimentos que caracterizam o desequilíbrio do meio ambiente a exemplo de enchentes, depleção dos recursos naturais, queimadas, poluição, e diversos problemas socioeconômicos, como por exemplo, as condições insalubres de vida de catadores de material reciclável.

A partir dessas questões e preocupados com o processo de ensino e aprendizagem voltado ao cotidiano dos estudantes, onde as questões químico e ambientais norteiam o enfoque do que ensinar e como ensinar, os bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência fomentado pela CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do Subprojeto Química da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) teve como iniciativa o uso da atividade de compostagem em micro escala no ensino de química e sustentabilidade, como forma de se promover a educação química e ambiental.

 

Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)

 

 Um potencial causador de problemas ao homem e ao meio ambiente é o descarte inadequado de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Tal denominação é pouco utilizada devido à falta de disseminação, contudo, a designação “lixo” é vulgarmente utilizada, como afirmam ambientalistas, pois “lixo” é algo inútil e sem serventia, porém, os RSU têm potencial econômico e ambiental para reciclagem.

A destinação incorreta dos Resíduos Sólidos é a fonte geradora de diversos problemas, que podem ser de ordem ambiental, sanitária, econômica e social. O esgotamento dos recursos naturais, a poluição de diversos tipos (água, ar e solo), o aumento do efeito estufa, a transmissão de doenças para a população são alguns exemplos. Dentre as consequências do descarte indevido dos RSU destacam-se:

·      Alteração da qualidade do ar;

·       Risco de fogo, deslizamento e de explosões;

·       Poluição das águas superficiais e subterrâneas;

·      Agressão estética ao solo;

·      Atração de vetores causadores de doenças.

Partindo desse pré suposto e guiados pela busca profunda por alternativas viáveis ao mecanismo de ensino, a Educação Ambiental se torna uma ferramenta em potencial ao Ensino de Ciências. Nessa perspectiva, o significado da palavra sustentabilidade passou a nortear todo o enfoque a cerca das políticas de conscientização sobre o equilíbrio do meio ambiente.

 

A Educação Ambiental nas Escolas

 

O maior desafio nas discussões sobre as questões ambientais é a tentativa de compatibilizar o crescimento da economia com a preservação do meio ambiente. O consumo exacerbado dos recursos naturais do planeta vem causando inúmeros problemas ao meio ambiente (LIRA, 2007). Uma notória solução para esse problema está na relação entre o desenvolvimento e a educação, na elaboração de políticas articuladas que proporcionem um processo contínuo no mecanismo de ensino e aprendizagem, (BENFICA, 2008)

A realização de experimentos, as questões que implicam ao meio ambiente e o uso de observações de transformações que ocorrem no meio ambiente para introduzir os conteúdos de química conduzem (ensino de química), se bem orientadas, à formação de conceitos que levam o estudante a um preparo cognitivo e autêntico.

i)     O Ensino da Química por meio de processos biológicos

Pode-se facilmente usar processos e transformações químicas para explicar processos naturais que ocorrem no meio ambiente (ensino de biologia) a fim de criar uma estrutura cognitiva rica em ambos os aspectos, tornando a aprendizagem significativa.

Dessa forma, de posse do significado comum de meio ambiente e as questões que englobam o ensino, o desenvolvimento sólido da Educação Ambiental e Educação Química conduz à sensibilização que estimula a sociedade a encarar o meio em vivemos como parte simbiótica de suas vidas.

Os temas frequentemente abordados são Ar, Solo, Resíduos (lixo) e Água, na fixação de conhecimentos como, misturas homogêneas de gases, poluição do ar, dos solos, composição gravimétrica da crosta e da atmosfera, propriedades físicas e físico-químicas do lixo e da água, pH dos meios e outros. Muitas das concepções dos estudantes sobre processos químicos são sintetizados em descrições macroscópicas de um fenômeno, sustentados apenas por conceitos contínuos de matéria.

 A reprodução isolada do conhecimento químico restringe o estudante a um espaço crítico insuficiente para a criação de uma estrutura cognitiva que atenda a expectativa da nova ordem da educação nacional. Dessa forma, o desenvolvimento interdisciplinar é capaz de equiparar o aprendizado do estudando, conduzindo-o a uma aprendizagem crítica e cientificista nos moldes da educação contemporânea. 

Constatações como essas são potencializadas no meio educacional pelos professores, que são os protagonistas da implantação de práticas interdisciplinares na escola. Como afirma Morin (2002, p.35) a reforma deve se originar dos próprios educadores e não do exterior.

 

A Compostagem

 

 A compostagem além de se caracterizar como um conjunto de técnicas de reciclagem da matéria carbonácia na fabricação de adubo orgânico ecológico mostrou-se também como um conjunto de parâmetros potencialmente eficientes ao ensino de sustentabilidade como também ao ensino de química. Parâmetros como pH, aeração, temperatura, DQO, degradação dos compostos orgânicos e odor foram favorecidos pela atividade de compostagem em micro escala, servindo de recurso didático e/ou organizador prévio ( Ausubel, et al. 1983)

i)     A compostagem e sua relevância ambiental

Segundo Lira et al., a compostagem pode ser definida como um processo natural de decomposição biológica de materiais orgânicos de origem animal e vegetal pela ação de microrganismos aeróbios ou anaeróbios, resultando em adubo orgânico.

Segundo a World Commission on Enviroment and Development (1987) compostagem é a atividade mais sustentável entre as ferramentas que norteiam o tratamento dos RSU, pois o desenvolvimento sustentável é aquele desenvolvimento que atende as necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades – Ser Sustentável.

Os RSU são o resultado da atividade urbana de uma determinada comunidade. O ambiente escolar não é diferente dos demais espaços urbanos, suas atividades resultam também na produção de resíduos sólidos, em especial resíduo carbonáceo (orgânico).

 

Compostagem no meio escolar

 

A abordagem da temática ambiental no espaço escolar não deve ser adotada apenas pela exigência da legislação, ou mesmo o modismo do termo sustentabilidade na mídia, mas, sobretudo, devem estar pautadas na verdadeira educação ambiental que visa refletir a realidade e promover mudanças, mudanças estas que transformam meros receptores de conhecimento em cidadãos críticos capazes de refletir sobre sua realidade. 

 

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De acordo com produção de RSU nacional e a produção da cidade de Campina Grande–PB percebe-se nitidamente que mais da metade do “lixo” produzido em ambas é de matéria orgânica, apta ao processo de compostagem. Teoricamente, com a reciclagem de toda essa matéria orgânica teríamos a redução de metade dos problemas causados pelo descarte inadequado de RSU e ao decorrer dos anos teríamos um equilíbrio dinâmico entre o homem e o meio ambiente.

Infelizmente a compostagem é uma prática pouco difundida devido a inexistências de políticas públicas que apoiem sua implantação como alternativa em potencial ao destino adequado dos resíduos sólidos orgânicos produzidos no mundo.

As consequências da degradação ambiental são vivenciadas pela população humana e cabe a ela desenvolver ações minimizadoras de impactos ambientais negativos. Surge então neste contexto a Educação Ambiental, importante instrumento de transformação que tem o papel de promover a sensibilização e a formação de cidadãos críticos capazes de intervirem na realidade em que estão inseridos em busca da sustentabilidade.

O Art.2º da Política Nacional de Educação Ambiental determina que este tema deva apresentar-se como componente essencial da educação nacional devendo, de maneira articulada, estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (BRASIL, 1999)

De acordo com dados do MEC - Ministério da Educação (Secad/MEC, 2007) no que se refere à área de Meio Ambiente, a situação cognitiva dos jovens brasileiros pode ser caracterizada pela desinformação sobre o tema, implicações para o cotidiano e possibilidades na área ambiental, predomínio da visão fragmentada e desvinculada das questões sociais, políticas e econômicas, seguidas apenas de uma percepção naturalista de Meio Ambiente (natureza = fauna e flora). Ainda segundo a mesma pesquisa o desinteresse pela temática entre os jovens é significativo ao ponto de, numa escala de prioridades, o tema “Meio Ambiente” encontrar-se na 18ª colocação. 

Como já supracitado, as questões que envolvem o meio ambiente devem correlaciona-se com as diversas áreas do conhecimento, principalmente no ambiente escolar. A sensibilização e conscientização sobre as questões ambientais são favorecidas quando disseminadas no ambiente, seja em nível escolar ou acadêmico.

Também é nítido que ações governamentais e ONGs investem na disseminação de práticas que minimizam os impactos ambientais, contudo, os números refletem que pouco se tem feito a respeito. Da problemática, emerge justamente o anseio dos docentes em situar os estudantes à realidade ambiental, induzindo-os a serem parte ativa dessa transformação que é a construção de um novo conhecimento em cima das questões ambientais.

Para isso, muitos docentes mergulham na práxis investigativa na busca de informações para serem repassados aos estudantes, e com isso enriquecerem seu repertório de conhecimento, favorecendo também o crescimento docente. 

i)     Um olhar no ensino de ciências

No âmbito da atual educação básica brasileira, não existe momento mais oportuno para abordar-se-á o ensino de ciência em toda sua plenitude. Nota-se, portanto, uma mudança no cenário. É sabido que o Brasil é detentor de várias riquezas naturais, dentre muitas, é o responsável pelo crescimento econômico de muitas cidades. O contingente de jovens em idade escolar favorece o progresso das ciências, porém, esse valioso estado da arte é pouco valorizado no cenário atual. Para isso, o professor de ensino de ciências deve em primeiro lugar ter domínio do conteúdo.

Com o professorado de ciências geralmente despreparado, sem possibilidade de ser atualizado e desprovido de instrumentação que lhe possibilite maiores oportunidades de propiciar aos estudantes mais abstração e memorização, as noções que os estudantes adquirem transformam-se em algo inútil, desestimulante e contraproducente (Werthein, et al p. 79. 2009).

 O preparo dos docentes consiste em identificar os conceitos e concepções alternativas ao ensino de ciências. O avanço na descoberta de concepções alternativas ao ensino de ciências corrobora para um pensamento cada vez mais nítido no cognitivo dos estudantes, fato que mostra que a ciência não é imutável.

            Desse pensamento emerge a necessidade de que todos os jovens matriculados em nossas escolas saibam que a totalidade do que precisamos pra sobreviver é oriunda quase exclusivamente do que é produzido na superfície terrestre, portando a necessidade de introduzirmos questões e aspectos que permeiam o meio ambiente (Werthein, et al p. 79. 2009).

            A partir dessas questões remete-nos novamente aos RSU urbanos. A maioria dos problemas enfrentados por diversos países está voltada no descarte inadequado dos RSU resultante da atividade humana. Com o avanço das tecnologias, aumento da população e aumento da estimativa de vida causado pela melhoria da qualidade de vida o homem produz cada vez mais “lixo”. Infelizmente as políticas de destinação do “lixo” adotadas atualmente possuem pouco impacto na sociedade, necessitando urgentemente da adoção de novas políticas que induzam a polução à aquisição de novos hábitos. 

 

Sensibilização Ambiental: Experimentação em escolas

 

Para desenvolver bem a ideia da sensibilização ambiental, foi feito um projeto que visava experimentar a produção de composteiras em escolas da rede pública de ensino da cidade de Campina Grande, na Paraíba.

 Antes da introdução de qualquer informação se faz necessário o preparo cognitivo para que a aprendizagem se dê por vias significativas (Ausubel et al., 1983). Para isso, a atividade se encaixa nos preceitos da aprendizagem significativa quanto à utilização de organizadores prévios na pré-fixação (preparação) do conhecimento na estrutura cognitiva do estudante.

            O trabalho foi realizado com os estudantes do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Ademar Veloso Silveira” (AVS) de Campina Grande oriundos dos turnos manhã e tarde. Não houve seleção de turmas específicas para a realização do trabalho, pois a atividade teve perfil de atividade extensiva onde não é interessante a reprodução de pedaços isolados de conhecimento; e os estudantes vinham à escola pra desenvolver as atividades em horário oposto às atividades em sala de aula.

            As atividades foram dividas estrategicamente em duas etapas: a primeira foi a fase de sensibilização e sondagem (questionário prévio), onde aos estudantes participantes foi apresentado um seminário sócio ambiental, trazendo as principais informações sobre a temática trabalhada. Dentre as informações, destaca-se a incorporação de novos conhecimentos ao cognitivo dos estudantes. Foram discutidas as questões dos resíduos sólidos no Brasil, legislação, descarte e as vias de reciclagem.

 As mudanças negativas acarretadas pelo descarte inadequado dos RSU foi a parte mais discutida entre os estudantes e os próprios bolsistas, mesclando os aspectos físicos, biológicos e químicos pertinentes ao momento, como por exemplo, modificações físicas do espaço, microrganismos patogênicos presentes no “lixo”, processos de corrosão, inflamabilidade dos gases produzidos e o grau de periculosidade, respectivamente.

            Em outro momento do primeiro seminário de sensibilização, houve a introdução do conceito de compostagem e sua importância ambiental. A esse momento foi dado atenção especial, pois, além de ser a nossa ferramenta ecopedagógica, o preâmbulo demonstrou que 100% dos estudantes desconheciam e nunca ouvira falar deste tipo de atividade. Esse resultado serviu pra traçarmos o perfil das disciplinas de ciências deste estabelecimento de ensino, onde falta muito para alcançarmos níveis satisfatórios de ensino.

            As concepções de compostagem foram abordadas caracterizando-se os tipos de materiais (orgânicos) que podem ser submetidos ao processo, bem como o informe de que a compostagem se dá por vias aeróbias e anaeróbias.

 Um momento muito satisfatório das discussões foi quando munidos da informação de que mais de 50% do “lixo” produzido no Brasil, menos de 2% é reaproveitado na produção de adubo orgânico. Assim como nós, eles também tinham consciência de que a compostagem reduziria pela metade os problemas causados pelo “lixo”. É claro que a ideia em curto prazo é utópica, porém, trouxe a tona discussões que envolviam a função do governo, dos cidadãos e os benefícios da prática. 

 

Confecção das composteiras

 

            A segunda etapa da atividade, contou com a confecção de duas composteiras a partir de materiais alternativos (baixo custo). Para isso foram utilizados dois baldes (15 kg cada) domésticos (Fig.3). Foram adaptados drenos para a coleta do líquido de decomposição (lixiviado orgânico) (Fig.4) e tela de proteção para evitar a proliferação de vetores (insetos). A oficina foi muito importante, pois foi a partir desta atividade que os estudantes aprenderam como se constrói uma composteira de baixo custo para uso doméstico.

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Após a confecção das composteiras, o momento foi reservado à apresentação da maneira correta de se fazer compostagem. Em algumas discussões, o preâmbulo constatou que os pais de muitos estudantes usavam os restos de comida diretamente no solo. Foi mostrado que a compostagem é meio mais adequado de preparo de adubo, pois esse se encarrega de fragmentar (compostar) os macro-nutrientes em micro-nutrientes presentes nos resíduos orgânicos, facilitando assim a absorção pelo vegetal.

Na ocasião, foi discutido quais microrganismos são responsáveis pela degradação da matéria orgânica, como por exemplo, os fungos, bactérias e actiomicetos. Em seguida, levaram- se em consideração os aspectos físico-químicos do processo de degradação da matéria orgânica, discutidas no acompanhamento periódico da atividade.  

 

Coleta e preparo dos resíduos

 

 Terminado a fase de preparo das composteiras e suas técnicas, deu-se início a coleta dos resíduos sólidos orgânicos (RSO). Os RSO foram provenientes da cantina e recipientes de coleta seletiva da escola (Fig 5). Nessa fase é onde o espírito do Ser Sustentável atinge seu ápice, onde a ideia principal é a escola proporcionar um destino adequado a uma parcela do “lixo” que produz.

 Foram coletados e selecionado restos e cascas de frutas e legumes, papel e folhas verdes e secas dos canteiros da escola. Após a coleta dos resíduos, sua caracterização foi feita seguindo os princípios de sua composição química. Dividiram-se os resíduos em grupos ricos em seus respectivos nutrientes. A atividade foi feita em forma de pesquisa orientada, pelos estudantes (Fig.6).

 Após a breve pausa para pesquisa, os próprios alunos dividiram os resíduos em categorias. Aos resíduos que são fontes de C (carbono) foi selecionado galhos e folhas de arvores, para resíduos ricos em N2 (nitrogênio) selecionaram-se caules e pedaços de frutas e legumes. 

Foi adicionada uma pequena porção de esterco bovino para tornar o composto final rico em todos nutrientes. Neste momento foram discutidos a importância desses elementos químicos à manutenção da vida, bem como suas propriedades físicas e químicas, como por exemplo, seus respectivos grupos e períodos na tabela periódica baseando-se nas suas configurações eletrônicas – uso do diagrama de Linus Pauling.

Após essa fase, os resíduos foram triturados (Fig.7), com o auxílio de tesouras pelos estudantes e posteriormente pesado (Fig.8), para se obter a relação 1/3 de carbono e nitrogênio. Após trituração e pesagem houve a homogeneização dos resíduos (Fig.9 e Fig.11) e verificação da umidade pelo método do toque, que deve girar em torno de 60%, favorecendo o ambiente perfeito ao processo de degradação. Em seguida os resíduos foram acomodado no interior das composteiras (Fig. 10 e Fig 11) e colocado as telas de proteção.                 

            A compostagem mesmo em micro escala necessita de monitoramento, para isso foram feitas medida de temperatura, pH, DQO (demanda química de oxigênio) e a promoção de aeração. A temperatura inicial das composteiras girou em torno dos 27°C, aumentando nos primeiros quatro dias. O pH inicial foi 5,2 decrescendo para 4,5 nos primeiros três dias e aumentando até atingir o pH 8,2 no período final. O valor inicial da demanda química de oxigênio foi de 670,00 mg/g decrescendo até atingir o valor de 380,75 mg/g.

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            A aeração foi efetuada diariamente. Para explicar esses fenômenos, atividades de pesquisas foram encaminhadas aos alunos e discutidas no decorrer da atividade. A esses fenômenos damos o nome de parâmetros físico-químico para compostagem. Após 60 dias de maturação, peneiramos e obtemos um composto orgânico pronto para uso, (Fig.13)

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Amadurecendo o conhecimento químico nos estudantes

 

            Com base nas pesquisas feitas pelos estudantes muitas conclusões foram tomadas a cerca do comportamento dos resíduos submetidos à compostagem. Para a temperatura, os estudantes afirmaram que seu aumento se deu pela intensa atividade aeróbia que caracteriza pela liberação de calor, enfatizou-se a reações exotérmicas e endotérmicas.

As variações do potencial hidrogeniônico (pH) ficaram meio confusas no cognitivos de alguns estudantes, devido a ausência do conteúdo, por causa da série cursada. Contudo, as discussões sobre o pH da compostagem nos levou a conclusão que o aumento nos primeiros dias se deu pela dissolução de alguns ácidos orgânicos no meio, indicando presença de muita matéria carbonácia, e seu aumento é resultante da atividade de degradação desses ácidos orgânicos (consumo por partes dos microrganismos).

Seu decréscimo indica a estabilização dos resíduos. Na oportunidade, diferenças entrem em alcalinidade, basicidade e acidez foram discutidas. Para a demanda química de oxigênio (DQO), ou mais, depleção química de oxigênio, parâmetro que se dá pela titulação do remanescente de íons cobre (Cu) numa solução digestora de dicromato de potássio (K2Cr2O7) e espécies químicas na forma de íons prata (Ag) como catalisador.

Na oportunidade, foram abordadas e discutidos os conceitos de íons, catalisadores e reações de oxirredução (redução do cromo e oxidação do oxigênio). A depleção química de oxigênio se dá pelo decréscimo de matéria orgânica. Para aeração, foi discutida a importância da adição de O2 ao meio.

 Como se trata de uma atividade aeróbia é extremamente importante a manutenção da aeração. Os alunos afirmaram que os microrganismos envolvidos nos processos de degradação consomem o oxigênio, fazendo uma analogia ao próprio ser humano, que também necessita de O2 para sobreviver.  Essas discussões foram feitas em encontros periódicos, sempre acompanhando o processo de compostagem in situ até a total estabilização do composto (adubo). Esses grupos de estudos baseado na pesquisa foi de extrema importância.

Ao final, os estudantes entendiam biologicamente e quimicamente os processos envolvidos na decomposição da matéria orgânica. A atividade também garantiu mais afinco por parte dos estudantes que apresentavam determinada resistência ao ensino de químico, devido à inserção da ideia de Teoria & Prática. A atividade durou 60 dias, cessando com a obtenção do adubo pronto para o uso. 

 

Resultados da experimentação

 

i)     Para o meio educacional

A análise dos resultados mostrou que as atividades de ensino apoiadas em iniciativas como essa coloca a escola no seu papel de intermediar as atividades para a produção de materiais e espaços que promovem a educação científica e ambiental dos estudantes.

            De fato, a temática sustentabilidade tem grande potencial na disseminação do que podemos chamar de ecopedagogia. Os meios de comunicação veiculam em potencial os aspectos e formas de proporcionar o equilíbrio entre o homem, meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

 Contudo, há uma diferença grande na percepção dos docentes e estudantes nas questões ambientais, portanto, o momento nunca foi tão propício a essas questões, favorecendo não só o ensino de sustentabilidade, mas também o ensino de química.

ii)    Para os estudantes participantes do projeto

 Com esse trabalho foi possível constatar que os estudantes ampliaram suas percepções sobre responsabilidade social, demonstrando interesse em perpetuar a atividade no seu cotidiano. Além da compostagem assumir papel importante no tratamento de uma parcela dos RSU, o resultado do processo é o adubo orgânico que pode ser utilizado na agricultura na produção de hortaliças livres de adubo químico.

 O fato de a atividade contar com a confecção de composteiras artesanais trouxe para a atividade mais significância, por se tratar de algo ao alcance dos estudantes. O link (interdisciplinaridade) feito entre as abordagens químicas e ambientais proporcionada pela atividade proporcional o sentimento que as ciências elas encontram-se interligadas por meio de pontes construídas pela vontade de educar significativamente, onde os professores são os mestres que entram em cena para apontar caminhos e depois saem de cena para que seus discípulos possam caminhar. 

            Abordagens que enfatizam a temática ambiental no espaço escolar não devem ser adotadas apenas pela exigência da legislação como induz a lei, ou mesmo o modismo to termo sustentabilidade que a mídia proporciona, mas, sobretudo, devem estar pautadas na verdadeira educação ambiental que visa refletir e preparar a realidade promovendo mudanças, mudanças estas que transformam meros receptores de conhecimento em cidadãos críticos, conscientes e capazes de refletir sobre sua realidade.

Dessa maneira, a atividade proposta se mostrou uma excelente ferramenta quando se preconiza a educação ambiental. Como estratégia de ensino e vendo a necessidade de conciliar o ensino de química às questões ambientais, a atividade também se mostrou eficiente quanto na aplicação da Teoria & Prática.

 A atividade agradou tanto os bolsistas PIBID Química quanto a Escola AVS, proporcionando a criação de um projeto de compostagem em grande escala, proporcionado o destinado adequado de todo “lixo” orgânico produzindo pela escola. O adubo orgânico produzido será utilizado no cultivo de hortaliças para o complemento da merenda escolar.

 

Considerações Finais

 

            Já é tempo de repensar as práticas de ensino e tentar quebrar muitos paradigmas a favor de um ensino que destaque a importância da mesma, favorecendo a qualidade de vida dos cidadãos. Podendo relacionar-se com a estrutura cognitiva, mas apenas de uma forma arbitrária e literal que não resulta na aquisição de novos significados. Dessa forma o nosso desafio enquanto educador é oportunizar aos nossos estudantes um ensino de qualidade que prepare o indivíduo a viver e conviver em sociedade.

 A pesquisa-ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras, a partir de diversas intencionalidades, passando a compor um vasto mosaico de abordagens teórico-metodológicas, instigando-nos a refletir sobre sua essencialidade epistemológica, bem como sobre suas possibilidades como práxis investigativa.

 Portanto, um trabalho interdisciplinar pautado na Pesquisa - Ação no cenário da educação ambiental pode gerar inúmeros benefícios para a comunidade escolar envolvida, pois, as práticas que circundam a promoção da sustentabilidade podem melhorar consideravelmente o espaço, onde ambas a partes saem imbuídos de conhecimento e apreço pela atividade em conjunto. 

Concluímos que atividade de compostagem deveria ser uma prática adotava em todos os estabelecimentos escolares.

 

Referências

 

AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D., HANESIAN, H. Psicología Educativa: un punto de vista cognoscitivo. México: Trillas, 1983.

BENFICA, Gregório. Sustentabilidade e educação. In: Seara – Revista Virtual de Letras e Cultura, v. 3. Salvador: 2008.

LIRA, W. Silveira et al., (Orgs). Sustentabilidade: um enfoque sistêmico. Campina Grande: EDUEP, 2007. 368 p.

MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 7° ed. Rio de Janeiro: Bertrand. Brasil, 2002.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Ministério da Educação. Brasília, 1999.

 

WERTHEIN, Jorge. CUNHA, Célia da. (Orgs.). Ensino de Ciências e Desenvolvimento: O QUE PENSAM OS CIENTISTAS. São Paulo, novembro de 2009.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm, acesso em 10 Outubro 2014. BRASIL. Educação Ambiental: Aprendizes de Sustentabilidade. Secad/MEC. Brasília, Março 2007. BRASIL. Lei 9.795 de 27 de Abril de 1999.

 

Ilustrações: Silvana Santos