Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) ANÁLISE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DO ARROIO CADENA NA CIDADE DE SANTA MARIA - RS ATRAVÉS DE UMA PESQUISA DE CAMPO COM A POPULAÇÃO LOCAL
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ANÁLISE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DO ARROIO CADENA NA CIDADE DE SANTA MARIA - RS ATRAVÉS DE UMA PESQUISA DE CAMPO COM A POPULAÇÃO LOCAL

Tiarles Rosa dos Santos¹

¹ - Licenciado em Química pela UFSM, aluno de pós graduação em Educação Ambiental – UFSM e mestrando em Tecnologias Educacionais em Rede – UFSM, Rua Erly de Almeida Lima, 750, ap 401 Camobi, Santa Maria - UFSM, (55) 96308287, tiarlessantos92@gmail.com.

 

RESUMO

Este estudo pretende constatar a situação em que se encontram as águas  do Arroio Cadena, na cidade de Santa Maria, RS. A pesquisa bibliográfica e de campo realizadas durante os meses de maio e junho de 2014, formaram a base deste trabalho. Pode-se verificar que o impacto ambiental do Arroio Cadena é alto com despejo de material orgânico e inorgânico em quase toda a sua extensão. A Educação Ambiental é a chave para reverter essa situação. Desta forma, foi realizada uma entrevista com moradores ribeirinhos a cerca dos problemas que atingiram as margens do arroio e as suas causas. A presença da população ribeirinha e consequente liberação de esgoto direto no Arroio, bem como a ausência de mata ciliar em quase toda a sua extensão, são fatores incontestáveis da erosão e do assoreamento da região. Entretanto, essa situação pode ser revertida com gestão pública sustentável, com a sociedade trabalhando em conjunto com o legislativo municipal, com a educação ambiental nas escolas e com a divulgação nos meios de comunicação.

INTRODUÇÃO

As cidades começaram a se formar quando nômades iniciaram a agricultura próxima a rios e córregos. Estas se tornaram local de trabalho e moradia das pessoas, onde os recursos naturais são explorados e a produção de lixo se tornou cada dia maior. Este problema se agravou com a Revolução Industrial, e a poluição, além do ar e do solo, atingiu a água, tornando-se um grande desafio atual e futuro a conservação das fontes de água potável e obtenção de água pura.      
            O cuidado e preservação destes recursos é um difícil desafio para as administrações atuais. (art. 225 da Constituição Federal de 1988).         "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente   equilibrado, bem de uso  comum do povo essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e conservá-lo para os presentes e futuras gerações."      Cabe ao educador ambiental mostrar à população que ela faz parte do meio ambiente em que vivem e compreendam a relação existente entre seu comportamento em relação ao ambiente e aos impactos socioambientais gerados.        
            Nesse sentido, este estudo baseia-se em uma análise da situação ambiental do Arroio Cadena, na cidade  de Santa Maria - RS, através de uma pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo a fim de relatar a conscientização da comunidade local a cerca da problemática como forma de recuperação deste recurso.     

O ARROIO CADENA E A PROBLEMÁTICA DA POLUIÇÃO     
            Assim como em todo planeta, em Santa Maria - RS a situação das águas também traz preocupações. O Arroio Cadena é o mais importante curso d'água da cidade, porém, por causa da sua poluição, também representa um dos piores problemas relacionados ao meio ambiente na região.
            Cadena significa Cadeia e recebeu esse nome dos espanhóis, já que o arroio cerca dois terços de Santa Maria - RS.

Com 16 quilômetros de extensão, passa por 13 bairros da cidade. O local que antes possuía água potável mudou com o crescimento e urbanização, visto que a população aumentou de maneira rápida, onde hoje as famílias estão sujeitas a inundações e desmoronamentos em épocas de média elevada de chuvas por residirem em locais inapropriados e muito próximos as margens do arroio. Além dos esgotos no curso d'água, outro problema que o arroio enfrenta é a ocupação irregular de suas margens, necessárias para sua proteção.     
            De acordo com a análise feita na água do arroio, foram encontradas, em diversos pontos, coliformes fecais, bactérias altamente patogênicas como Estreptococos, Estafilococos, entre outras, em níveis acima do permitido para mananciais, que causam doenças desde tuberculose até ascaridíase (Badke et al., 1996). 
            Dos principais fatores causadores de tamanha poluição, destacam-se a carência da mata ciliar, oriunda da ocupação indevida das margens do arroio, e do depósito indevido de resíduos sólidos, entre eles sacolas plásticas, embalagens diversas, restos de animais e outros, causando mau cheiro e procriação de animais hospedeiros como ratos e baratas.           
            Para reverter esta situação, entra em jogo a Educação Ambiental, como aliada na busca da conscientização da população, com o objetivo de criar nas pessoas uma reflexão crítica a cerca do espaço em que estão contribuindo para a degradação a fim de despertar nos indivíduos o cuidado com a prática de atividades que possam causar impacto ambiental.      
            A Educação Ambiental tem sido uma ferramenta importante para se repensar as teorias e práticas que fundamentam as ações educativas, voltada para a solução de problemas enfrentados pela realidade local, colocado frente ao público-alvo, pois os problemas ambientais, de acordo com Dias (2004), devem ser compreendidas em seu contexto global. É necessário que se construa um processo participativo, permanente de estudantes e comunidade em geral, sujeitos deste processo, para o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre os problemas ambientais enfrentados.   

OBJETIVOS

·          Fazer uma análise da situação ambiental e propor alternativas de Educação Ambiental para recuperar a situação do Arroio Cadena em Santa Maria – RS;

·        Realizar uma pesquisa de campo a fim de investigar junto à população local os motivos da poluição do arroio Cadena;

·        Estimular a cooperação entre a comunidade local e o meio ambiente, buscando a construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada;

·         Incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável do equilíbrio do meio ambiente;

·        Buscar a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

·        Desenvolver uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações;


METODOLOGIA   
            Esta pesquisa foi baseada em uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo realizada entre os meses de maio e junho de 2014 junto a moradores que vivem próximos ao arroio Cadena, na cidade de Santa Maria - RS.           
            Para Gil (1999), o elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados. Deste modo, a Pesquisa Bibliográfica se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, a fim de desvendar, recolher e analisar informações e conhecimentos prévios sobre um determinado fato, assunto, ideia, problema para o qual se procura uma resposta ou uma hipótese que se quer experimentar.     
            Já a pesquisa de campo, pra Gil (2002), é algo bem mais complexo e nem sempre trará o resultado esperado pelo pesquisador. Ela procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos mesmos e, finalmente, à análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado. 
            Para a coleta de dados, foram feitas perguntas aos moradores ribeirinhos a respeito do tema em discussão com a finalidade de saber como era o arroio Cadena antigamente; quanto tempo levou para o arroio chegar a este estado crítico de poluição; se o arroio é pouco ou muito poluído; se a população ribeirinha contribui para a poluição; se há algum projeto da prefeitura para a melhoria das condições do arroio Cadena; se a população toma alguma providência para a melhoria das condições do arroio; por fim, o que poderia ser feito para o arroio voltar a ter água límpida e sem poluição. Ao todo foram 7 questões, que foram gravadas a fim de obter os resultados precisos, e preservar a integridade das respostas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

            Após a aplicação do questionário com os moradores locais, fica evidente o descaso e o motivo da degradação do arroio Cadena. A maioria dos moradores, os que residem há mais tempo na região, relatam que antigamente o arroio era espaço de lazer, com água límpida, onde toda a população desfrutava dos benefícios que o mesmo proporcionava. Hoje em dia, o arroio se encontra em péssimas condições, considerado um lixão público, sendo possível encontrar diversos tipos de resíduos sólidos nas suas margens.    
            A população ainda relatou que em sua grande maioria, não respeita este ecossistema, e que, devido à falta de saneamento básico nas residências, se obriga a despejar a maioria dos seus resíduos no arroio. Mas a poluição deste recurso não vem só de moradores locais. Muitas empresas acabam jogando dejetos no leito do arroio Cadena, como exemplo, restos de vegetação e podagem, pneus e ossos de animais, contribuindo para o mau cheiro e procriação de animais.          
            Segundo parte dos moradores, a Prefeitura Municipal de Santa Maria têm alguns projetos com relação à recuperação do arroio Cadena, como o recolhimento por parte da administração de dejetos e resíduos depositados nas margens do arroio, mas que isso não acontece com frequência.           
            Já com relação à própria população, os entrevistados dizem que nada é feito para a recuperação desse ecossistema e admitem que acabam jogando esses resíduos no arroio, muitas vezes por comodidade, e culpam a administração por não tomar providências. É de conhecimento de todos as ações que devem ser feitas para diminuir o impacto da degradação, porém não as praticam, pois, segundo os moradores, não há tempo de haver a separação do lixo e levar a postos de coleta ou reciclagem.          
            Por fim, o principal problema enfrentado pelo arroio Cadena é o depósito indevido de resíduos sólidos, resultando em enchentes e atingindo as comunidades ribeirinhas, como observado na figura 1. Outro fator problemático é a ocupação até as margens do arroio, prejudicando o desenvolvimento da mata ciliar, fundamental para a proteção do arroio.

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Figura 1 -Arroio Cadena e a problemática da poluição

Como solução, buscou-se a conscientização dos moradores de que o arroio deveria ter uma área de preservação de, no mínimo 30 metros em cada uma de suas margens, além da criação de novas políticas públicas por parte do governo, na questão de habitação, transporte, saneamento e políticas ambientais. Não se pode esquecer de que são os próprios moradores que devem tomar atitudes e primeiramente querer mudar o ambiente em que vivem, para assim, vivermos em paz com o ambiente.         

CONCLUSÃO

            A Educação Ambiental tem a responsabilidade de construir uma nova ética ecológica a fim de problematizar valores vistos como absolutos e universais que visam o bem comum (LOUREIRO, 2004). É importante que todos percebam o descaso com nossas riquezas naturais e que é necessário agir conscientemente reconstruindo e modificando a realidade. As pessoas devem estar cientes de que dependem do meio ambiente e que devem viver em harmonia com ele, criando assim, uma consciência crítica e responsável.   

BIBLIOGRAFIA

JARDIM, D. B. A Educação Ambiental e suas trajetórias, fundamentos e identidades., REMEA, v. 22, 2009 disponível em < http://www.seer.furg.br/remea/article/view/2821>   Acesso 30  maio de 2014:  

CASCINO, F. Educação Ambiental: princípios, história, formação de professores. 3 ed. São Paulo: Editora SENAC, 2003;          


DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9a ed. São Paulo.  Gaia, 2004;

 

FUZZI, L. P. O que é pesquisa de campo?, disponível em Acesso  03 maio de 2014:


GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999;


GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002;           


LOUREIRO, C. F. Trajetórias e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2004;  


Plano municipal de Saúde de Santa Maria (2006). Acesso em 05 de junho de 2014: araraca.ufsm.br/websites/saudesm/download/Relatorios/PlanMunSaude.pdf;       

Ilustrações: Silvana Santos