Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
12/03/2015 (Nº 51) AGENDA 21 E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DO RIO LENHEIROS, SANTOS, SP
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1976 
  

AGENDA 21 E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DO RIO LENHEIROS, SANTOS, SP.

Thaís da Ressurreição¹; Fabio Giordano²; Mariana Clauzet3.

1Professora Mestre na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo;

2 Laboratório de Pesquisa em Ecossistemas Costeiros; 3 Laboratório de Ecologia Humana; Universidade Santa Cecília, Rua Cesário Mota, 24, Bloco F. Boqueirão, 11045-040. Santos/SP, Brasil. Tel/fax: 55+ (13) 3202 7100

 

Autores:

Thais da Ressurreição: Mestre em Ecologia pela Universidade Santa Cecília no ano de 2013. Os resultados trabalhados neste artigo fazem parte da dissertação concluída da autora. Atualmente trabalha na rede estadual como professora em Santos. Rua Cesário Mota, 24. Bloco F. Boqueirão, 11045-040; Santos,SP. thaisress@bol.com.br

Fabio Giodarno: Coordenador do curso de mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília / Laboratório de Pesquisa em Ecossistemas Costeiros; Rua Cesário Mota, 24, Bloco F. Boqueirão, 11045-040. Santos/SP, Brasil. Tel/fax: 55+ (13) 3202 7100. E-mail: giodarno@unisanta.br

 

Mariana Clauzet: Pesquisadora e professora do curso de mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília / Laboratório de Ecologia Humana; Rua Cesário Mota, 24, Bloco F. Boqueirão, 11045-040. Santos/SP, Brasil. Tel/fax: 55+ (13) 3202 7100. E-mail: mariana.clauzet@gmail.com

 

Resumo:

A Agenda 21 é um documento que, dentro de suas ações, prevê atividades educacionais ligadas ao ambiente para promover a sustentabilidade em diferentes aspectos da sociedade. Nesse contexto, se fazem necessárias as atividades em educação ambiental de intervenção em áreas degradadas onde vivem comunidades. Este artigo caracterizou a situação ecológica do Rio Lenheiros, no município de Santos/SP que é um corpo d’ água fortemente antropizado e promoveu, através de observação dirigida e registro fotográfico, ações de educação ambiental, com alunos da Escola Pública Estadual Bartolomeu de Gusmão que funciona no local. Os resultados de qualidade de água do rio demonstraram alta concentração de amônia tóxica, baixa concentração de oxigênio e pH ácido, que indica um ambiente contaminado por esgoto doméstico. Na percepção dos alunos, os problemas identificados no rio e em seu entorno se relacionam com as atividades antrópicas promovidas pela comunidade que vive adjacente ao local. Os resultados das oficinas de educação ambiental demonstram que os alunos que participaram de todas as etapas do processo tiveram grande sensibilização e noção de preservação, ultrapassando o limite do entendimento dos conceitos de educação ambiental apenas como transferência de informação. Concluiu-se que o processo de educação ambiental predominantemente prático atinge os alunos de forma mais efetiva tornando-os potencialmente capazes de protagonizarem ações viáveis às mudanças na condição ambiental do lugar que habitam.

Palavras - Chave: Ensino Público; Meio Ambiente; Educação Ambiental; Sustentabilidade.

 

XXI Agenda and Enviromental Education: An Study of Rio Lenheiros, Santos, Brazil.

 

Abstract:

Agenda 21 is a document that provides environmental educational activities to promote sustainability. In this context, are necessary, environmental education activities of intervention, linked to degraded areas with local communities. This article characterized the ecological status of the River Lenheiros in the municipality of Santos / SP which is a body d 'strongly anthropized water. The main objective was promoted, through directed observation of de River, photographic recordings, and discussions, an total view of environmental education, with student groups of different ages of "Bartolomeu de Gusmão" public school, located near the River. The results of water quality of the river showed high concentrations of toxic ammonia, low oxygen concentration and acid pH, indicating an environment contaminated by sewage. In the perception of the students, the problems identified relate to human activities promoted by the community living adjacent. The results of environmental education workshops demonstrated that students who participated in all stages of the process have had great awareness and sense of preservation, and they understood  the concepts of environmental education not only as information transfer. It was concluded that the process of environmental education predominantly practical can make them people with potential effective  to doing actions for changes in the environmental condition of the place they inhabit.

 

Key-Words: Public Education; Environment; Environment Education; Sustainability.


 

1. Introdução:

A região estuarina de Santos/SP e o manguezal ao seu entorno, tem influência de atividade humana e moradias que se fixaram nesse espaço, sendo necessárias atividades ambientais para a melhoria do ambiente e a qualidade de vida dos moradores.

O conceito de sustentabilidade começou a ser definido em 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo e neste momento, segundo Malheiros et al., (2008), a discussão era mais sobre como progredir sem destruir, sem visar apenas o caráter puramente econômico (MALHEIROS et al., 2008). Já em 1992, com a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro (Rio-92), o conceito de desenvolvimento sustentável se consolidou como algo a ser tratado não só pelo setor econômico, mas sim como: a utilização de recursos no presente sem comprometer o uso potencial desses recursos no futuro” (CMMAD, 1991:46).

A mais importante conquista da Conferência foi colocar os termos meio ambiente e desenvolvimento juntos, consagrando o uso do conceito de desenvolvimento sustentável, defendido em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Comissão Brundtland (MMA, 2011).

Outra importante conquista da Conferência Rio-92 foi a Agenda 21, um abrangente programa de ação, visando à sustentabilidade global no século XXI. Foi a Agenda 21 que fez o termo sustentabilidade difundir-se rapidamente, incorporando-se ao vocabulário politicamente correto das empresas, dos meios de comunicação de massa, das organizações da sociedade civil, etc. Infelizmente, esse uso excessivo também fez o termo ser, muitas vezes banalizado e empregado erroneamente.

A Agenda 21 é um documento que reforça a necessidade de importantes transformações no entendimento ambiental no mundo. A partir desse documento a Educação Ambiental começa a ser difundida e participativa. O desafio é “gerenciar mediante soluções triplamente vitoriosas: nos planos econômicos, ambiental e social.” (ALMEIDA et al., 2000:220). O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, documento elaborado pelo Fórum das Organizações Não-Governamentais durante a Conferência Rio-92, indica o caminho para a construção de um modelo de sociedade sustentável visando à ecologia, economia, sociedade, cultura e ações pedagógicas (MMA, 2011).

As Agendas  21 locais, ou seja, dos municípios, através de fóruns, conselhos e outros formatos participativos e de formação de consensos,  devem promover a interação de diferentes segmentos sociais em torno dos princípios da sustentabilidade (MELLO, 2006). Na Cidade de Santos/SP, a Agenda 21 não se concretizou plenamente, porém existem alguns programas ambientais que foram criados na expectativa da construção e efetivação da mesma como, por exemplo, os programas “Santos, Nossa Casa”, que tem por objetivo incentivar a participação da população na prevenção e solução dos problemas advindos do manejo inadequado dos resíduos sólidos urbanos e o “Nossa Praia” que consiste em conscientizar munícipes e turistas quanto à limpeza e balneabilidade das praias (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS, 2012).

Os grandes problemas que emergem da relação entre sociedade e o meio ambiente dessa relação são densos, complexos e altamente inter-relacionados e, portanto, para serem entendidos e compreendidos precisam ser observados numa ótica holística (KRAEMER, 2004). Neste contexto, apresenta-se a importância dos fóruns e reuniões que são constantemente realizados para se chegar a um plano de ação que realmente faça a Agenda 21 da cidade de Santos se solidificar.                                                                                             

Por se tratar de uma cidade litorânea com o maior Porto da América latina, o Porto e a balneabilidade das praias são prioridades nas discussões ambientais, além da preservação dos manguezais e a favelização dos morros da cidade. No entanto, a gestão dos recursos hídricos da região precisa ser cada vez mais destacada nessa discussão.

A manutenção da qualidade ambiental dos rios está diretamente relacionada ao conhecimento integrado e ao controle do que interfere em sua dinâmica, sejam elas resultantes das ações do homem sobre o ambiente ou de suas transformações naturais (TUNDISI, 2003; 2005; RODRIGUES et al., 2008). Para Adam (2008), o Brasil possui as ferramentas para a evolução da Gestão dos Recursos Hídricos em compromisso com a Agenda 21, e uma dessas ferramentas é a educação ambiental.

A lei 12.780 de 30 de novembro de 2007, que institui a Política Estadual de Educação Ambiental, cita em seu artigo 9° os objetivos fundamentais da educação ambiental no Estado de São Paulo e entre esses objetivos, estão destacados projetos e ações de educação ambiental, integrados (inciso XI) inclusive na questão da gestão dos recursos hídricos. Segue o documento destacando que os maiores provedores disso são as escolas públicas estaduais e municipais, onde dentro destas se encontra o cenário estratégico para a formação de consciência ambiental e construção de valores (SMA, 2011).

Assim, a construção da cidadania dentro de um olhar adaptado à ecologia e ao desenvolvimento sustentável, aplica-se melhor às crianças e adolescentes pois são eles que irão passar adiante a sensibilização a que foram expostas, transformando informação em ação.

A metodologia participativa e, em particular, a pesquisa-ação estão no centro dos debates em matéria de educação ambiental (ZART, 2001). O processo participativo é amplamente discutido nos projetos pedagógicos, entendendo-se que a educação ambiental não deve acontecer apenas para por em prática um conceito, ela deve sensibilizar, fazer o educando perceber que é ator dentro do ambiente, que faz parte daquele meio e que deve zelar por ele, compreende-lo e respeitá-lo.

O objetivo deste trabalho foi realizar um processo participativo de educação ambiental dentro de uma escola pública da região estuarina de Santos, propondo a discussão de melhoria ambiental local, tomando-se como base de estudo os corpos hídricos do  entorno da escola e propondo ações adequadas à Agenda 21 da cidade.

 

2. Material e Métodos:

 

2.1. Área de Estudo:

O Rio Lenheiros (23°55'Sul e 46°21' Oeste) fica na cidade de Santos, SP com altitude média variando entre e 175m (encosta da serra) e 5m (área da planície). É um rio alterado artificialmente que originalmente era um dos braços do Rio Saboó e foi canalizado a sua montante durante a construção do “Conjunto Habitacional Mário Covas”. O Rio Lenheiros no seu caminho a juzante verte para o estuário de Santos quando novamente é canalizado, passando por baixo de avenidas e ferrovias. Antes de chegar ao estuário, o rio se junta a um braço do Rio São Jorge e também recebe água de um pequeno afluente que nasce no terreno da ferrovia adjacente ao local.

O entorno do Rio Lenheiros é uma área com moradores de baixa renda “per capita”, num abairramento conhecido como Vila Pantanal, com habitações que combinam construções populares com sub-moradias em processo de favelização. O Rio Lenheiros se transformou em um grande canal para depósitos de detritos e esgoto, onde o cheiro e a cor turva da água dão indícios de que os dejetos provenientes da atividade humana no local são intensos.

A saída do Rio para o Estuário é motivo de preocupação, pois a área da Vila Pantanal é considerada pelo poder público como área de invasão e não conta com o serviço de saneamento básico. Sendo assim, a carga orgânica no rio pode ser percebida de modo intenso ao longo de todos os meses do ano, o que pode afetar toda a biota aquática da região.

 

Figura 1. Área de estudo. Em azul curso do Rio Lenheiros. Em amarelo, zona de invasão conhecida como Vila Pantanal. Em vermelho, localização da escola Bartolomeu de Gusmão. (Fonte: http://maps.google.com/maps?hl=pt-PT&tab=wl.)

 

2.2 Métodos:

O trabalho foi realizado na Escola Estadual Bartolomeu de Gusmão, com alunos do ensino fundamental, médio e complementar. Primeiramente, foi elaborado um questionário diagnóstico para análise do conhecimento dos alunos sobre o rio Lenheiros e sobre os problemas ambientais que os cercam. Responderam o questionário 45 alunos com idades entre 6 e 53 anos. A metodologia diagnóstica foi devidamente autorizada pela direção da escola e pelo comitê de ética da Universidade, onde esta pesquisa foi realizada (PARECER CEP/CONEP-UNISANTA nº41/2011).

A partir deste diagnóstico, desenvolveram-se oficinas teórico-práticas e de avaliação sobre o conhecimento do ambiente local, caminhadas para registro fotográfico do ambiente, coleta e análise da água e discussão dos resultados verificados com base na literatura e as possíveis causas de degradação do ambiente local.

As coletas de água foram feitas em quatro pontos aleatórios no leito do Rio lenheiros comparadas com 2 pontos controles de água potável, proveniente da água da rede de distribuição na própria escola. Essas análises foram feitas com kits de água, habitualmente usados por aquaristas para avaliação da qualidade da água em aquários. Os Kits utilizados no estudo foram da marca Labcontest, produzidos pela Indústria Brasileira Alcon Pet com eficácia de 90% nos testes, declarada pelo fabricante de acordo com o manuseio apropriado do material.

            Para a coleta das algas foi usada tubo de coleta contando com tela de 70 micrometros e soluções de Transeau e FAA para fixar as amostras. A solução de Transeau foi realizada na proporção de 6 partes de água de torneira, 3 partes de álcool etílico 95º G.L., 1 parte de formalina (solução de formol a 40%). Proporção de fixação 1:1 (1 parte da água da amostra e 1 parte da solução fixadora). A solução FAA foi feita com formalina – álcool – ácido acético nas seguintes proporções: 90 ml de álcool etílico 95º G.L. 50% ou 70%, 5ml de ácido acético glacial e 5ml de formalina. As algas coletadas foram identificadas no nível de Genero conforme as chave de identificação de Bicudo e Menezes, (2006).

A coleta das plantas aquáticas foi realizada em um trecho do leito do Rio escolhido devido a grande quantidade de plantas visíveis nesta porção e facilidade de acesso às mesmas. A coleta foi manual e posteriormente as plantas foram secas em estufa, onde permaneceram por aproximadamente uma semana a uma temperatura média de 70 °C para sofrerem um processo de desidratação e herborizadas no Herbário da Universidade Santa Cecília (HUSC) onde se encontram depositadas. Foram utilizadas as chaves de identificação taxonômica de Barroso et al., (1978, 1984,1986) e Wanderley et al., (2001, 2005, 2009).

 

3. Resultados:

Os alunos entrevistados são alunos matriculados no Ensino Médio regular (10 alunos), no Ensino de Jovens e Adultos (20 alunos do EJA) e no ensino fundamental e médio (15 alunos).  

Os resultados do diagnostico ambiental mostram que 67% dos entrevistados desconhecem ou não sabe o que é um estuário e apenas 13% declararam conhecer o Rio, o que se mostrou ser um fator importante na degradação local, pois pode-se considerar que não se conserva o que se desconhece.


 

Tabela 1. Resultados sumarizados do questionário diagnóstico sobre meio conhecimento e percepção do ambiente e da sustentabilidade (n=45).

Respostas dos entrevistados sobre os ambientes e os problemas ambientais locais

                 SIM (%)

                      NÃO (%)

Conhece o Estuário de Santos?

33

67

Conhece o Rio Lenheiros?

13

87

 

O lixo e enchentes são um problema na região?

84

-

A rede de esgoto e bueiros entupidos são um problema na região?

16

-

Sabe o que é a Sustentabilidade Ambiental?

49

51

 

As respostas ao questionário revelaram que os problemas ambientais em torno do Rio Lenheiros estão em sua maioria (84% dos entrevistados) relacionados à questão do lixo e das enchentes. Estes resultados nos indicam que o poder público não está atuando na região como deveria em relação a infraestrutura do bairro e os problemas relacionados.

Percebe-se uma relação direta entre o aumento da faixa etária dos entrevistados e a maior frequência de respostas negativas em relação ao conhecimento do Rio Lenheiros. O conhecimento do termo sustentabilidade, ao contrario, aumentou com a faixa etária dos entrevistados, mostrando que os jovens (entrevistados até 34 anos) ainda desconhecem o conceito de Sustentabilidade o que potencialmente, indica menos práticas relacionadas.

 

Figura 2. Conhecimento dos entrevistados por faixa etária em relação a existência do Rio Lenheiros (n=45).

 

 

 

Figura 3. Conhecimento dos entrevistados por faixa etária sobre o significado de sustentabilidade ambiental (n=45).

 

Os alunos registraram fotos e observações pertinentes sobre o meio ambiente local nas quais verificaram a presença de plantas, larvas de mosquito, insetos e lixo no canal do Rio Lenheiros. O lixo no leito do rio e também nas ruas do bairro é o que tem destaque aos olhos e foi o tema mais fotografado pelos participantes .

 


 

Figura 4. Fotos feitas por aluno para caracterizar o ambiente local do Rio Lenheiros, destacando a existência de lixo.

 

As plantas encontradas na região foram primeiramente fotografadas pelos alunos e em um segundo momento, alguns meses depois de discutidas as fotos, foram coletas e levadas ao Herbário da Universidade Santa Cecília totalizando seis espécies. Já as algas, foram coletadas em 13 amostras de 4 pontos ao longo do leito do rio (mais dois controles) totalizando 15 diferentes espécies (nível de gênero). Este processo serviu para ampliar o conhecimento das características das margens e das águas do Rio estudado.

 

Tabela 2. Principais plantas e algas encontradas no canal do Rio Lenheiros, Município de Santos/SP.

 

Plantas Coletadas (n=6)

Família

Espécie

Comelinaceae

Commelina obliqua

Asteraceae  

Enydra anagalles

Asteraceae  

Blainvillea biaristata                        

Poligonaceae          

Polygonum hydropiperoides

Poaceae

Eragrostis mexicana

Apiaceae      

Centella asiatica

 Principais Algas Coletadas (n=15)

Genero

% de aparição nas amostras (n=13)

Microcystis sp.

85

Stauroneis sp.                     

30

Microspora sp. Hydrocoleum sp

23

Micrasteria radiosa e  Netrium sp.        (entre outras)

8

 

As plantas encontradas na margem do Rio Lenheiros não indicam necessariamente ambiente contaminado ou poluído. De acordo com Wanderley et al. (2001, 2005 e 2009), são plantas invasoras ou exóticas que nascem em beira de caminho, em ambientes úmidos ou alagados e são comuns em terrenos baldios principalmente na área litorânea.

Em relação as algas nota-se que a espécie Microcystis sp. está presente na maioria das amostras de água coletadas (85%) e Stauroneis sp. aparece no segundo lugar, em  30% das amostras. De acordo com Bicudo e Menezes (2006), o gênero Microcystis é colonial e comumente forma florações em águas eutrofizadas o que justifica seu constante aparecimento nas amostras.

As análises de água feitas nos quatro pontos de coleta mostraram, no geral, altos índices de amônia tóxica (NH3). A Amônia total bastante elevada (6,5 ppm) em 3 dos 4 pontos estudados é indicativo da presença de contaminação. Segundo padrões de toxicidade definidos pela Alcon Pet (2011), valores superiores a 0,04 ppm indicam perigo para o ambiente aquático. Os pontos que apresentaram níveis altos de amônia, foram interpretados nas discussões com os alunos como os pontos mais próximos das obras irregulares que margeam a área canalizada do Rio em frente a Rodovia Anchieta gerando, por exemplo, depósito ilegal de matéria orgânica e caracterizando ambiente antropizado.

 

4. Discussão:

 

Considerando-se os limites de uma atividade dinâmica e participativa desenvolvida dentro do escopo do ensino público com alunos de varias faixas-etárias, a realização das analises advindas das fotos registradas pelos alunos, da coleta de água e de plantas, em conjunto com os debates promovidos nas oficinas foi o crucial para que eles percebessem as alterações sobre o ambiente e entendessem a influência das ações antrópicas sobre o rio. Sair nas redondezas da escola para reconhecer o local resultou em uma abertura da percepção com relação às alterações ambientais do local.

Os dados das análises físico e química da água e coleta de plantas aquáticas, nos indicam um ambiente antropizado e degradado, comprovado pela presença de pontos de eutrofização maiores ou menores ao longo do trecho do Rio Lenheiros e com a nítida diferença dos resultados obtidos na área de maior concentração de casas em relação à parte mais distante dessas construções. De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, existe forte deposição de matéria orgânica na região do rio Lenheiros especialmente vindos da área de ocupação da Vila Pantanal.

Os participantes da pesquisa relacionaram o a má qualidade a da água do Rio e a realidade das enchentes não só a ausência de um sistema de esgoto, mas também ao problema do terreno impermeabilizado pelo asfalto com coleta pluvial ineficiente, e a falta de respeito dos próprios moradores locais que jogam lixo no ambiente. Eles acreditam que, apesar de um ambiente ainda “bonito” , com o passar dos anos, essa deposição, poderá alterar o ambiente de maneira irreversível. Para os alunos se intervenções de preservação e educação ambiental forem feitas agora os problemas ambientais futuros poderão ser evitados. Tal conclusão é importante para indicar a disponibilidade destes atores em protagonizarem projetos de sustentabilidade no ambiente em que vivem.

Para Romera (2002) a Educação Ambiental é uma boa alternativa para a participação da sociedade em políticas de preservação e manutenção de áreas específicas, significativo no que diz respeito à Agenda 21 por se tratar do principal ponto de discussão desse documento. Neste contexto, este estudo, ao inserir a hidrografia local próxima à escola no dia a dia escolar, tornou possível relacionar e discutir educação ambiental visando a sustentabilidade do meio ambiente.

Segundo Adam (2008), a educação ambiental vem sendo exercida em muitas instâncias dos Comitês locais e já é um instrumento consagrado na prática, constituindo uma das alternativas para que se avance cada vez mais no caminho da sustentabilidade dos recursos hídricos. Na cidade de Santos, este trabalho vem sendo desenvolvido pelas instâncias dos Comitês, como no caso dos projetos junto ao Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista – (CBH-BS, 2012). No entanto, a abrangência destes programas ainda é restrita à poucas regiões da cidade. Por se tratar de um balneário, o normal é que sejam inseridas propostas para a manutenção das praias e áreas de lazer esquecendo a hidrografia tão prejudicada como a desta região.

Segundo Jorge e Baumgarten (2006) os alunos que estudam nas escolas inseridas nessas áreas devem ser o alvo principal de propostas em educação ambiental, pois são capazes de disseminar a consciência ambiental e assim, gerar mudanças de comportamento, visando uma vida mais saudável para sua família diante da realidade do ambiente que vivem. Para os autores, a interação entre ambiente e escola aumenta a consciência ambiental dos alunos, permitindo que reconheçam “a real problemática” de sua região e adotem práticas mais conscientes.

Portugal (2008) relaciona os resultados positivos alcançados em seu trabalho desenvolvido em uma escola pública de ensino fundamental em Brasília, DF com a definitiva inclusão da educação ambiental na agenda escolar, dentro de um programa disciplinar da escola, não como um tema transversal, mas como parte da realidade dos alunos e professores.

Jacobi (2003) destaca que o desafio político da sustentabilidade, apoiado no potencial transformador das relações sociais que representam o processo da Agenda 21, encontra-se estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia e da construção da cidadania e é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade.

O cenário ideal é que “a construção da Agenda 21 possa ultrapassar pelos seus resultados os limites que foram postos, no sentido de beneficiar e fortalecer a ação da sociedade civil organizada” (Santos,  2009:185)

O registro fotográfico do ambiente local, os testes de amostra de água e coleta de plantas e algas aquáticas desenvolvidos neste estudo, possibilitou o entendimento prático sobre a qualidade da água e a influência da ação humana na região do Rio Lenheiros, possivelmente tornando os alunos participantes pessoas mais atentas para a proteção do rio e encaminhamento correto do lixo produzido nas suas casas.

As oficinas desenvolvidas com o público alvo construiu uma dinâmica participativa e gerou um compromisso ambiental, mostrando que é possível despertar o interesse ambiental em alunos através de atividades que fogem do tradicional.

 

5. Conclusão:

As atividades práticas de educação ambiental devem ser inseridas nas escolas públicas como ações ambientais ligadas às Agendas 21 locais, facilitando mudanças na percepção da sociedade quanto à preservação do meio ambiente. Conclui-se que o processo de educação ambiental predominantemente prático atinge o público alvo de forma eficaz na formação de potenciais protagonistas de ações viáveis às mudanças na condição socioambiental de onde vivem.

Sugere-se que as ações descritas neste artigo possam ser aplicadas e utilizadas como subsidio para direcionar o planejamento da grade curricular em escolas e contribuir com os fóruns da Agenda 21 do município de Santos/SP.

 

6. Agradecimentos:

Agradecemos aos profissionais do Herbário da Universidade Santa Cecília, aos diretores da Escola Estadual Bartolomeu de Gusmão pelo apoio no desenvolvimento deste estudo e à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pela bolsa de pesquisa fornecida a autora TR.

 

7. Referencias Bibliográficas:

ADAM, J. I. Gestão de Recursos Hídricos em uma Perspectiva de Sustentabilidade: Uma Proposta. Tese de doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis/SC. p. 208, 2008.

 

ALCON PET–Informações sobre produtos para teste em águas de tanques de água doce e salgada. Disponível em: em:. Acesso em: : outubro e dezembro de 2012.

 

ALMEIDA, J. R.; CAVALCANTI, Y.; MELLO, C. S. Gestão Ambiental: Planejamento, Avaliação, Operação e Verificação. Thex Editora: Rio de Janeiro, p.161, 2000.

 

BARROSO, G.M.; GUIMARÃES, E.F.; ICHASO, C.L.F.; COSTA, C.G.; PEIXOTO, A.L. Sistemática de Angiospermas do Brasil – Volume 1. São Paulo: EDUSP, v.1, p. 255, 1978.

 

BARROSO, G.M.; PEIXOTO, A.L.; COSTA, C.G.; ICHASO, C.L.F.; GUIMARÃES, E.F.; LIMA, H.C. 1984. Sistemática de Angiospermas do Brasil – Volume 2. Viçosa: Imprensa Universitária da Universidade Federal de Viçosa, v.2, p.377, 1984.

 

BARROSO, G.M.; PEIXOTO, A.L.; COSTA, C.G.; ICHASO, C.L.F.; GUIMARÃES, E.F.; LIMA, H.C. Sistemática de Angiospermas do Brasil – V. 3, p.355, 1986.

 

BICUDO, C. E. M.; MENEZES, M. Gêneros de algas de águas continentais do Brasil- chave para identificação e descrições. Rima Editora: São Carlos, p. 502, 2006.

 

CBH-BS – Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista. Disponívelem:. Acesso em: 15 de fevereiro de 2012.

 

CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Relatório Brundtland- Nosso futuro Comum. Rio de janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, p.493, 1991. Disponível em: Acesso em: 10 de Janeiro de 2012.

 

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, v. 118, p. 189-205, 2003.

 

JORGE, I. E. W; BAUMGARTEN, M. G. Z. Ações de Educação Ambiental numa Comunidade Escolar que Convive com a Falta de Saneamento Básico. Cadernos de Ecologia Aquática, V.1, p. 31-44, 2006.

 

KRAEMER, M. E. P. Gestão Ambiental: um enfoque no desenvolvimento sustentável. Itajaí/SC: Univali, 2004. Disponível em: Acesso em: 10 de janeiro de 2011.

 

PORTUGAL, S. Educação Ambiental na Escola Pública: sua contribuição ao processo de construção participativa de uma cultura emancipatória. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. Faculdade de Educação,  Brasília, p.188, 2008.

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS. Disponível em: . Acesso em: 10 de janeiro de 2012.

 

MALHEIROS, T. F.; PHILIPPI JR., A.; COUTINHO, S. M. V. Agenda 21 Nacional e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: contexto brasileiro. Saúde e Sociedade. São Paulo, v.17, p.7-20, 2008.

 

MMA-  Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 Brasileira. Disponível em: . Acesso em: 01 de abril de 2011.

 

MELLO, C.C. A. Agenda 21 – um glossário analítico para o debate. In: Cidade, Ambiente e Política: Problematizando a agenda 21 local. Acselrad H., Mello C. C. A. e Bezerra G. N. Rio de Janeiro: Garamond, p. 33-88, 2006.

 

RODRIGUES, A. S. L.; MALAFAIA, G.; CASTRO, P. T. A. Avaliação ambiental de trechos de rios na região de Ouro Preto-MG através de um protocolo de avaliação rápida. REA – Revista de Estudos Ambientais, v.10, p. 74-83, 2008.

 

ROMERA, S. P.A. A Importância de Educação Ambiental sob o Enfoque dos Recursos Hídricos. In: Comitês de Bacias Hidrográficas: uma revolução conceitual.  Antonio Carlos de Mendes Thame (Eds). São Paulo: IQUAL Editora,, p. 97-102, 2002.

 

SANTOS, A. F. Uma prática educativa ambiental na construção de Agenda 21 local. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós Graduação em Educação. 2009.

 

SMA- Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Consumo Sustentável: Cadernos de Educação Ambiental, n.10. 2011.

 

TUNDISI, J. G. Ciclo Hidrológico e Gerenciamento Integrado. Gestão das Águas. Ciência e Cultura v. 5, 31-33p, 2003.

 

TUNDISI, J. G.  Recursos Hídricos: Áreas de Interesse Nacional. Seminários temáticos para a 3ª Conferência Nacional de Ciencia, Tecnologia e Informação- CT&I. V,  20, p.727-747, 2005.

 

WANDERLEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; GIULIETTI, A.M. Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo. São Paulo, FAPESP: HUCITEC, v.1. 2001. 291 p.

 

WANDERLEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; GIULIETTI, A.M.; MELHEM, T.S.A. Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo. São Paulo, FAPESP: RiMa, v.4. 2005. 392 p.

 

WANDERLEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; GIULIETTI, A.M. Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo. São Paulo, FAPESP: RiMa, v.6, 2009.

 

ZART, L. L. A educação ambiental como proposta de superação da instrumentalização do desenvolvimento. InformaLista, n.9, 28 jan. 2001. Disponível em: Acesso em: 22 de novembro de 2012.

Ilustrações: Silvana Santos