Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS NA CIDADE DE BELÉM, PARÁ: O CASO DO PARQUE ZOOBOTÂNICO MANGAL DAS GARÇAS
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AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS NA CIDADE DE BELÉM, PARÁ: O CASO DO PARQUE ZOOBOTÂNICO MANGAL DAS GARÇAS

Elis Ribeiro Magno Silva1, Janaína Pinheiro Gonçalve2, Nariane Quaresma Vilhena3, Altem Nascimento Pontes4.

1 Mestranda em Ciências Ambientais – UEPA; Rua Capitão Tomé Serrão, 613, Centro, Barcarena-PA, CEP: 68445-000; Contato: 81150965; e-mail: elisrmagno@hotmail.com

2 Mestranda em Ciências Ambientais – UEPA; Rua José Latino Lídio Silva,944, Santa Rosa, Abaetetuba-PA, CEP: 68440-000; Contato: 80643898; e-mail: janainagoncalves08@gmail.com

3 Mestranda em Ciências Ambientais – UEPA; Cidade Nova 8, we 28, 221, Coqueiro, Ananindeua – PA, CEP: 67133-110; Contato: 80322428; e-mail: nariane_07@hotmail.com

4 Doutor em Física – UNICAMP; Professor Adjunto I da Universidade do Estado do Pará(UEPA); Tv. Enéas Pinheiro, 2626,Marco,Belém-PA, CEP: 66.095-100; Contato: 3131-1914; e-mail: altempontes@hotmail.com

 

RESUMO: O referido trabalho teve como objetivo averiguar o potencial do Parque Zoobotânico Mangal das Garças como ferramenta de ensino não formal abordando a educação ambiental, bem como caracterizar as atividades inerentes à tal temática que a instituição realiza. As técnicas utilizadas foram: pesquisa de documentação indireta (pesquisa bibliográfica), documentação direta (pesquisa de campo) e observação direta intensiva (entrevistas semiestruturadas e abertas) com o diretor e os monitores do ambiente. Os resultados mostraram que há uma grande variedade de público que busca este espaço para os mais variados fins e que o Parque oferece amplas condições para que sejam realizadas diversas práticas relacionadas à abordagem ambiental de caráter não formal.

Palavras-chave: Parques urbanos, Atividades extraclasse, Meio ambiente, Amazônia.

 

1.     INTRODUÇÃO

A região amazônica dispõe de recursos naturais que podem funcionar como um laboratório vivo para o ensino (ARAÚJO; SILVA; TERÁN, 2013). Ao possibilitar aos estudantes o contato direto com a biodiversidade existente em espaços que valorizam a natureza, criam-se condições para que estes experimentem os fenômenos naturais e compreendam o conhecimento científico, que pode promover a sensibilização aos problemas socioambientais (ARAUJO; SOUSA, 2011).

Partindo do conceito de que educação formal é aquela desenvolvida nos espaços escolares, que por sua vez, são instituições regulamentadas legalmente, segundo diretrizes nacionais e normas específicas, temos que no ensino formal, a temática ambiental é uma ferramenta essencial, visto que a mesma está prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (GOHN, 2006; SILVA, 2011).

A educação ambiental é uma importante componente dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), sendo caracterizada como tema transversal ou tema interdisciplinar com o eixo meio ambiente. Este deve ser abordado pelas disciplinas convencionais em seus conteúdos e objetivos, pois os PCNs apresentam linhas do conhecimento que atravessam e se cruzam entre as diferentes disciplinas, estruturando e conduzindo a aprendizagem, potencializando valores, fomentando comportamentos e desenvolvendo conceitos, procedimentos e atitudes, que respondem às necessidades pessoais e da própria sociedade (BRASIL, 2006).

A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu artigo 2°, afirma que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (BRASIL, 1999). Ainda segundo esta lei, “compreende-se por educação ambiental não formal as ações e práticas educativas direcionadas à conscientização da coletividade a respeito das questões ambientais e à sua participação e organização na defesa da qualidade do meio ambiente”.

Para Guimarães (2004), as práticas educativas com esse fim devem ser desenvolvidas em uma perspectiva crítica, que vá além da mera transmissão de conhecimentos ecologicamente corretos, devendo ser realizadas ações de sensibilização, envolvendo afetivamente os atores sociais relacionados com a causa ambiental, transcendendo o espaço escolar. Reigota (2009) corrobora com esse pensamento evidenciando que existe uma necessidade da comunidade internacional sobre a presença da educação ambiental em todos os espaços que educam o cidadão, sejam esses espaços formais ou não formais.

Os espaços não formais são definidos por Jacobutti (2008) como qualquer espaço diferente da escola onde pode ocorrer uma ação educativa. Neste contexto, possuem potencialidades que contribuem de forma significativa à construção de uma consciência ambiental crítica oferecendo uma gama de informações que se encontram disponíveis de forma bastante diversificada (LAYRARGUES, 2004; VIEIRA; BIANCONI; DIAS, 2005).

            Para o uso adequado com fins educativos destes espaços não formais, faz-se necessário o conhecimento de toda a sua estrutura e organização, que vão desde as mais simples até as mais complexas, tendo em vista o mapeamento dos diversos locais onde pode se dar o processo de ensino e aprendizagem (QUEIROZ et al., 2011). Esses autores classificam os espaços não formais como institucionais e não institucionais, e dentro desta primeira categoria existem diversos espaços não formais, entre os quais se encontram os parques urbanos.

Lima (1994) conceitua parques urbanos como áreas verdes, com função ecológica, estética e de lazer, mas com uma extensão maior que as praças e jardins públicos. Além disso, esses ambientes exercem inúmeros benefícios ao seu entorno (LOBODA & ANGELIS, 2005). Estas áreas não apenas contribuem para a preservação ambiental, ou seja, a utilização racional dos recursos naturais disponíveis, mas também tornam mais agradável o dia-a-dia de quem reside nas grandes cidades (STEGLIO & OLIVEIRA, 2009).

            Na Amazônia, segundo Brito & Valadares (2011), os parques urbanos exploram a interdisciplinaridade e a multifuncionalidade, buscando promover a justiça ambiental e a melhoria da qualidade de vida urbana, estando em um constante processo de adequação à realidade amazônica.             É perceptível a grande diversidade biológica que a região apresenta. Sua floresta possui uma grande variedade de espécies nativas distribuídas em diversos ambientes. Essa diversidade florística e faunística constitui-se numa ferramenta potencial para subsidiar o ensino e aprendizagem (ARAÚJO; SILVA; TERÁN, 2013).

            Em Belém, capital do estado do Pará, existem nove parques urbanos em funcionamento. Sendo três particulares: Parque dos Igarapés – fundado em 1986, Bioparque Amazônia Crocodilo Safari – fundado em 1989 e Tatoo Park – fundado em 2004; dois municipais: Jardim Botânico Rodrigues Alves – fundado em 1903 e Parque Ecológico do Município de Belém Gunnar Vingren – 1991; quatro estudais: Parque Zoobotânico Museu Paraense Emílio Goeldi – fundado em 1866, Parque Estadual do Utinga – fundado em 1993, Parque da Residência – fundado em 1998 e Parque Zoobotânico Mangal das Garças – fundado em 2005 (CARDOSO, 2012).

Diante das diversas funções ecológicas e sociais dos parques urbanos, estes espaços tornam-se interessantes objetos de estudo, ressaltando aqueles que de alguma forma contribuem para a redução das lacunas no que tange à formação ambiental dos cidadãos. Neste sentido, este estudo objetivou averiguar o potencial do Parque Zoobotânico Mangal das Garças como ferramenta de ensino não formal para a abordagem da educação ambiental, assim como caracterizar as atividades inerentes a tal temática que são realizadas pela instituição.

 

2.     METODOLOGIA

 

2.1.  ÁREA DE ESTUDO

O espaço em que o presente trabalho se desenvolveu foi o Parque Zoobotânico Mangal das Garças, criado em 2005, com 40.000 m2 de área, localizado no Centro Histórico de Belém. No Parque há a reprodução de espécies em cativeiro da fauna amazônica como guarás, colhereiros e beija flores. O ecossistema do parque é formado por matas de terra firme, matas de várzea e campos. Possui ainda um borboletário, um viveiro de aves, um mirante com 47 metros de altura, quiosques de vendas de comidas típicas e um restaurante (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

O espaço objeto de estudo foi escolhido por ser o parque urbano de caráter público de fundação mais recente, e por possuir funções de visitação, pesquisa e preservação ambiental (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

2.2.  A PESQUISA

As proposições aqui consideradas são fundamentadas no conceito de estudo de caso. Ludke e André (1986) delimitam esse método como o estudo de uma unidade com contornos definidos dentro de um sistema mais amplo, apresentando suas particularidades. Adotaram-se como técnicas de pesquisa a observação e a documentação baseadas em Marconi e Lakatos (2005).

2.3.  COLETA DE DADOS

 

                   Foi realizada por meio de entrevistas com os monitores dos ambientes e com o diretor do parque. O formulário empregado continha 10 perguntas, abertas e fechadas, acerca dos projetos de educação ambiental os quais o parque está relacionado e sobre as visitas escolares. Além disso, foram feitas pesquisas em relatórios e documentos internos sobre as ações de educação ambiental realizadas no local, além da observação direta e registro fotográfico dos ambientes do parque. A coleta de dados ocorreu no mês de março de 2014.

 

2.4.  ANÁLISE DE DADOS

Para a análise de dados empregou-se estatística descritiva para o estabelecimento de médias e frequências. Na sequência, foram elaborados tabelas e gráficos sobre os resultados da pesquisa. O software utilizado nas análises foi o BioEstat 5.3 (AYRES et al., 2007).

 

3.     RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

3.1.  ESPAÇOS MONITORADOS

No Parque Zoobotânico Mangal das Garças, além das áreas livres, existem quatro espaços monitorados, cuja entrada se dá por meio da compra de ingressos ou agendamento prévio para entrada gratuita por parte das escolas, sendo estes espaços o Borboletário, o Viveiro das Aningas, o Memorial Amazônico da Navegação (Museu) e o Farol de Belém. Destes espaços, apenas no Farol de Belém não há atividades voltadas à educação ambiental. Entretanto, dentre os espaços monitorados do parque, o borboletário e o farol são os mais procurados pelo público em geral. As visitações aos espaços monitorados não estão organizadas de forma lógica, e sim aleatória, podendo o início da visita ser demarcado de acordo com a pretensão dos visitantes ou monitor. 

Neste contexto, no Memorial Amazônico da Navegação são abordados temas como a fundação da cidade de Belém e do espaço do Mangal das Garças; a importância histórica da navegação no Pará; as trocas de conhecimento tradicional entre a cultura europeia e a cultura indígena; apresentação de itens da cultura regional; exposição de fotos dos tipos de transportes fluviais; a tradição naval na Amazônia e a cultura da pesca; os rios e litoral da região; atividades de exportação de pescado e bovino; e a navegação na religião, com o círio fluvial.

A visita aos espaços do Memorial não segue uma ordem restrita, a visitação é rápida e os participantes são guiados em grupos de 40 a 50 pessoas. Quanto às questões ambientais, o foco principal é dado às embarcações e aos seus processos de construção utilizando recursos naturais. A figura 1 apresenta o Memorial Amazônico da Navegação.

Figura 1: Memorial Amazônico da Navegação. Fonte: Autores.

Segundo Carvalho (1998), é de grande importância que haja a valorização do contexto histórico e econômico no que tange à educação ambiental na Amazônia. Considerando que a natureza e a cultura são patrimônios singulares, é fundamental que se estabeleçam relações harmoniosas entre os interesses humanos e as condições de renovação e manutenção desses recursos (FREITAS & RIBEIRO, 2007).

Outra relação entre os aspectos históricos e a biodiversidade do Mangal deu-se com a proposta de criação do borboletário, que tem o objetivo de resgatar uma característica da cidade de Belém, que antes fora conhecida como cidade das borboletas devido à forte presença desses animais (Ver Figura 2). Entretanto, devido ao processo de urbanização, houve o desaparecimento da maioria das espécies do centro urbano.

Figura 2: Borboletário no Parque Zoobotânico Mangal das Garças. Fonte: Autores

O borboletário se constitui em um espaço criado para produzir e abrigar várias espécies de borboletas que são identificadas e registradas diariamente. O ambiente possui vegetação propícia, com cascatas e espelhos d’água, é recoberto com uma tela do tipo sombrite que faz o controle natural da luz externa, facilitando a reprodução das borboletas. No Mangal das Garças são produzidas mensalmente mais de 5 mil borboletas adultas, sendo cada animal produzido, identificado e registrado (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

Quanto às questões ambientais, o espaço procura ressaltar a importância da preservação da biodiversidade por meio da interação do público com as borboletas, enfatizando a fragilidade destes animais em função das mudanças no ambiente.

Para Freitas & Ribeiro (2007), a educação ambiental fornece orientações indispensáveis para o estabelecimento de um ambiente saudável. Por meio dela, deve-se desde a mais tenra idade começar a estimular o equilíbrio na relação homem versus ambiente, produzindo hábitos ecológicos corretos.

Outro espaço monitorado é o Viveiro das Aningas (ou viveiro de aves), que abriga espécies da avifauna da região apreendidas em fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Neste espaço, os visitantes apreciam as aves em um ambiente que simula seu habitat natural, parte deste, preservado da vegetação original do espaço onde se instalou o parque. Este é um dos criatórios de referência na região norte no que diz respeito à reprodução de aves amazônicas em cativeiro, dando destaque ao debate da importância da recuperação da fauna ameaçada, conforme indica a Figura 3.

Figura 3: Viveiro das Aningas. Fonte: Autores

Segundo Lopes & Santos (2004), a observação de aves em atividades comprometidas com a sustentabilidade colabora para a promoção da educação ambiental. Espaços como jardins e parques zoobotânicos têm um potencial singular no processo de ensino-aprendizagem de educação ambiental não formal, principalmente do público que vive em centros urbanos, possibilitando experiências diretas com o mundo natural. Assim, ao servir de palco para um aprendizado diferenciado, estes ambientes podem contribuir no processo de conscientização, despertando o interesse por questões que levem a questionamentos e estimulem posturas mais éticas no que diz respeito à relação homem e meio ambiente (WILISON, 2003).

Com tal configuração dos espaços monitorados, o parque contempla aspectos inerentes ao equilíbrio ecológico das espécies, principalmente, como abrigo de espécies reguladoras e bioindicadoras (BRITO, 2009). Este fato revela também sua faceta zoológica, já que contém ambientes destinados à exposição e a pesquisa de animais vivos que estão, geralmente, correndo risco de extinção. É um espaço lúdico e interativo onde os visitantes podem observar os animais em tamanho real, seu comportamento, sua alimentação e suas características (MEDEIROS, 2006; QUEIROZ et al., 2011).

3.2.  DINÂMICA DE VISITAS

O público alvo do parque é bastante diverso, atendendo desde visitas de grupos escolares em séries iniciais, até a população em geral em que se inserem as diferentes classes sociais, níveis de instrução e faixa etária. Ressaltando-se a importância de agregar públicos diferentes; compreendendo a função intrínseca de inclusão social e cultural nos parques urbanos.

Macedo & Sakata (2002) afirmam que entre os séculos XIX e XX os parques eram ambientes elitizados, voltados aos passeios da classe dominante e hoje são considerados “espaços democráticos, onde todos podem correr, brincar e divertir-se, onde os recursos naturais são preservados, onde as cidades brasileiras, cada vez mais densas, respiram aliviadas”. Dessa forma, destaca-se o papel social dos parques urbanos, juntamente aos serviços ambientais e urbanísticos onde a democratização é uma conquista social importante (MEUNIER, 2009).

Quanto à visitação escolar, deve haver agendamento prévio por parte das escolas, sendo que as escolas públicas têm acesso ao parque de forma gratuita, as quais são as que mais buscam realizar essas práticas. O parque possui três guias que são responsáveis apenas por conduzir os grupos escolares de ensino médio e fundamental. As visitas acontecem de terça a sexta e há aproximadamente seis visitas por dia, e duram cerca de 2 h. Algumas escolas de outros municípios que enviam seus estudantes ao parque sem agendamento prévio também são atendidas de forma excepcional, este grupo corresponde a cerca de 1/3 do total de visitas.

As visitas promovem o contato direto do aluno com seu objeto de estudo. Sendo assim, os alunos, quando são sujeitos ativos e participativos na ação educativa, adotam como consequência uma postura que os faz se envolver, se empolgar e aprendem muito mais, do que quando são apenas leitores e ouvintes (PENTEADO, 2007). Além disso, o aprendizado fragmentado, sem correlações com as diversas áreas do saber e estas desconectadas do ambiente físico, diminui nos educandos o sentimento de pertencimento, acarretando um distanciamento entre os problemas ambientais globais e os locais (MEDEIROS; BELLINI, 1997).

            É possível inferir o potencial deste espaço na proposta ambiental através do elevado número de vistas agendadas que o parque recebe ao longo do ano todo. Em 2013 o Mangal das Garças recebeu 305 grupos com uma média de 39 pessoas por grupo, e no ano de 2014, até o mês de março, o parque havia recebido 21 grupos com uma média de 40 pessoas por grupo, conforme indica a Figura 4.

 

Figura 4: Número de grupos escolares que realizam visita ao parque e número médio de visitantes por grupo no período de janeiro de 2013 a março de 2014. Fonte: Dados da Pesquisa

A partir dos dados da figura 4, observa-se que a maior frequência de visitas por parte dos grupos escolares ocorreu no período de setembro a dezembro de 2013, possivelmente devido à proximidade do encerramento do ano escolar, quando há maior tempo livre para a realização de outras atividades extraclasse ou ainda por ser uma época onde se busca revisar e aplicar o conteúdo estudado durante todo o período letivo. Outro motivo está relacionado ao fato de que escolas localizadas em outros municípios realizam excursão à capital paraense a fim de participar de outras atividades que ocorrem neste mesmo período, como a Feira PanAmazônica do Livro e festividades religiosas, como o Círio de Nazaré.

 

3.3. EVENTOS E PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Quanto aos eventos esporádicos de educação ambiental, estes normalmente são idealizados e realizados por equipes compostas por funcionários do parque e do departamento cultural da empresa que administra o local. Esse grupo é composto por guias, monitores e corpo técnico.

O parque possui uma colônia de férias voltada às crianças e possui também um informativo virtual mensal, chamado “Clubinho do Mangal”, criado especialmente para as crianças que participam da colônia de férias e de outras atividades (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

Há também um projeto denominado “Teatrinho do Mangal”, cuja entrada é gratuita e ocorre aos domingos, às 10h30, no entorno do Memorial Amazônico da Navegação. Ainda na programação, ocorre o Momento EcoZoo, onde a equipe de tratadores apresenta ao público uma espécie moradora do parque. A programação das peças e as datas de apresentações são disponibilizadas no site da instituição (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

Para Viveiro e Dinis (2009), as atividades extraclasses realizadas nesses ambientes constituem importante estratégia para a educação ambiental, uma vez que o contato com o ambiente permite a sensibilização acerca dos problemas ambientais. No entanto, as experiências geradas e vivenciadas em uma atividade educativa ao ar livre se perdem se os processos capazes de gerar vínculos, continuidade e aprofundamentos reflexivos não forem considerados e estabelecidos, implicando na necessidade de superar a fragmentação dessas atividades e sua dissociação com as demais experiências dos estudantes (PEGORARO, 2007).

De acordo com Almeida (2008), a articulação entre parques e zoológicos e os professores favorece a aprendizagem dos alunos principalmente quando a visita se encontra relacionada com os objetivos curriculares e são planejadas atividades antes e depois da sua realização. Em relação ao público em geral, o papel educativo destes locais parece revelar-se mais limitado, já que os visitantes procuram essencialmente divertir-se, focalizam a sua atenção nos animais com maior atratividade e raramente se interessam pelas informações disponibilizadas.

O Parque Zoobotânico Mangal das Garças também integra o projeto "Turismo na Escola: descobrir, entender e cuidar de Belém”, realizado pela Coordenadoria Municipal de Turismo (Belemtur), com parceria da empresa que administra o espaço. O projeto consiste em um roteiro guiado que contempla os principais pontos turísticos da cidade. O objetivo é apresentar a história e cultura de Belém aos estudantes e sensibilizar os alunos sobre a importância da preservação do patrimônio histórico, cultural e ambiental (MANGAL DAS GARÇAS, 2014).

Ao servir de palco para um aprendizado diferenciado, instituições que expõem biodiversidade como, museus, zoológicos, jardins botânicos e aquários podem sensibilizar melhor o ser humano, despertando nele o interesse por questões ambientais que estimulem posturas mais éticas (WILISON, 2003). Essas instituições apresentam um potencial singular no processo de educar, principalmente o público de centros urbanos, repassando conhecimentos e dando oportunidades de se ter experiências diretas com o mundo natural e sua diversidade (PIVELLI e KAWASAKI, 2005).

Quanto à avaliação da eficiência dos eventos, anualmente é realizada uma pesquisa de aceitação das atividades, na qual são entrevistadas 100 pessoas no período de um mês acerca da aceitação das atividades. Esta pesquisa é realizada pelos colaboradores do parque em parceria com o departamento de comunicação da empresa administradora, mas os resultados ainda não foram disponibilizados.

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Parque Zoobotânico Mangal das Garças oferece amplas condições para que sejam realizadas diversas práticas relacionadas à educação ambiental de caráter não formal que se correlacionem com os conteúdos do ensino formal, assim como para com a população em geral, por ser uma área que possibilita um maior contato com a natureza e está inserida no ambiente urbano. Por isso, há uma grande variedade de público que busca por este espaço, com os mais diversos fins, desde a busca pela apreciação do ambiente até a participação direta nos projetos desenvolvidos pelo parque, como o “Teatrinho do Mangal”, o “Momento EcoZoo” e o “Turismo na Escola”.

O potencial deste espaço de visitação pública é mais bem explorado durante os eventos que ocorrem esporadicamente na cidade de Belém, sendo pouco trabalhado no cotidiano do parque. Verificou-se também a carência de uma avaliação da eficiência das práticas de educação ambiental que considere aspectos cotidianos do parque, e não apenas a realização dos eventos.

 

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos