Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2015 (Nº 51) AÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ANÁLISE DO CONHECIMENTO ESCOLAR SOBRE INSETOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA
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AÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ANÁLISE DO CONHECIMENTO ESCOLAR SOBRE INSETOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA

Melo, B. C. A.1; LELIS, T. L. S.1; Souza, D. R.1; Siqueira, S. R.1;

SOARES, M. A2.

1 – Alunos de Graduação em Ciências Biológicas - Universidade Castelo Branco, Centro de Pesquisa em Biologia, Escola de Saúde e de Meio Ambiente - Av. Santa Cruz, 1631, Realengo, Rio de Janeiro, RJ – 21.710-250.

2 – Doutor em Ciências, Prof. Dr. do Curso de Ciências Biológicas - Universidade Castelo Branco, Centro de Pesquisa em Biologia, Escola de Saúde e de Meio Ambiente - Av. Santa Cruz, 1631, Realengo, Rio de Janeiro, RJ – CEP 21.710-250. maraujo@castebranco.br; Setor de Herpetologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ – 20.940-040. msoares@acd.ufrj.br

 

Resumo

            A Educação Ambiental é um processo de aprendizado, através da comunicação de questões relacionadas à interação do homem com seu ambiente natural. Abelhas, vespas e formigas pertencem à ordem Hymenoptera, os únicos insetos que apresentam ferrões verdadeiros. Os himenópteros são elementos importantes da fauna neotropical por seu papel no controle da população de outros insetos interferindo nas cadeias tróficas de grande parte dos ecossistemas terrestres. Apesar de serem graves, a incidência dos acidentes por himenópteros é desconhecida no Brasil. Este trabalho teve por objetivo esclarecer aos alunos formados no Ensino Médio, quais são os insetos de importância médica e promover reflexões e condicionamentos que levem a prevenção de acidentes e apesar de serem perigosos, ao reconhecimento que são elementos importantes da fauna e fazem parte dos ecossistemas terrestres.

 

Palavras-chaves: Educação ambiental; Insetos; Himenópteros; Acidentes

 

Introdução

            A educação ambiental é um processo no qual deve ocorrer o desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o meio ambiente, baseado num completo e sensível entendimento das relações do homem com o ambiente a sua volta levando-se em consideração a evolução histórica dessa relação (FREITAS & RIBEIRO, 2007).   

É preciso que a parcela da população que desconhece as possíveis consequências do desequilíbrio ecológico seja contagiada por uma nova cultura relacionada ao papel de cada indivíduo na sociedade. O indivíduo pode constatar os perigos ou sua iminência em seu cotidiano, ou conhecê-los através das experiências relatadas por quem já as vivenciou. Os idosos têm muito a ensinar. Os seus erros e acertos são possibilidades para uma nova compreensão sobre o meio ambiente (MACHADO et al., 2006).

            É notada a curiosidade que os insetos despertam na população, principalmente devido à diversidade destes, pois representam quase 80% de todas as espécies animais (LEAL et al., 2011).

Pertencem à ordem Hymenoptera os únicos insetos que apresentam ferrões verdadeiros derivados de uma estrutura ovopositora modificada, sendo que apenas as fêmeas são capazes de ferroar, onde existem três famílias de importância médica: Apidae (abelhas e mamangavas), Vespidae (vespa amarela, vespão e marimbondo ou caba) e Formicidae (formigas) (CARDOSO et al., 2010). Os himenópteros constituem um dos grupos mais diversos do reino animal (NIEVES-ALDREY & FONTAL-CAZALLA, 1999). Segundo CARDOSO et al., 2010, os himenópteros são insetos potencialmente perigosos, podendo ocasionar acidentes graves e até mesmo a morte, tanto por reação anafilática decorrente de uma única picada, como por envenenamentos maciços decorrentes de múltiplas picadas.

            A incidência dos acidentes por himenópteros torna-se desconhecida, mas a hipersensibilidade provocada por picada de insetos tem sido estimada, na literatura médica, em valores de 0,4% a 10% nas populações estudadas, onde os relatos de acidentes graves e de mortes pela picada de abelhas africanizadas são consequência da maior agressividade dessa espécie (ataques maciços) e não das diferenças de composição de seu veneno (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Segundo PERIOTO et al. (2002), apesar desse grupo apresentar a possibilidade de ocasionar acidentes, os Himenópteros são elementos importantes da fauna neotropical por seu papel no controle da população de outros insetos interferindo, diretamente ou indiretamente, e de forma ainda não bem estudada, nas cadeias tróficas de grande parte dos ecossistemas terrestres.

            A importância dos Himenópteros não se restringe a essa riqueza em número de espécies em termos globais, a sua grande diversidade está também refletida na variedade de papéis ecológicos deste grupo em diversos ecossistemas, podendo ser parasitóides, fitófagos, polinizadores, indutores de galhas, predadores, etc. (SANTOS et al., 2005). A ordem Hymenoptera, em função do número de espécies descritas que nela se incluem, ocupa o terceiro lugar na Classe Insecta com aproximadamente 120.000, seguida da Lepidóptera com mais de 150.000 e Coleóptera, esta com mais de 250.000 espécies descritas. Os Himenópteros não possuem grandes tamanhos, as maiores espécies raramente excedem de 6 cm de comprimento, da cabeça à ponta do abdome. A sua grande importância para a economia reside nas abelhas, sendo produtoras de mel, da cera e da geléia real, além de serem os principais agentes de polinização e predadores e parasitas de insetos nocivos a plantas cultivadas (COSTA-LIMA, 1960).

            Através da Educação Ambiental busca-se o desenvolver da consciência crítica e a sensibilização ambiental a fim de promover atitudes e condutas que favoreçam o exercício da cidadania, a preservação do ambiente e a promoção da saúde e do bem-estar. Este trabalho teve por objetivo esclarecer aos alunos formados no Ensino Médio, quais são os insetos de importância médica e promover reflexões e condicionamentos que levem a prevenção de acidentes e apesar de serem perigosos, ao reconhecimento que são elementos importantes da fauna e fazem parte dos ecossistemas terrestres, introduzindo conceitos em Educação Ambiental.

 

Metodologia

O presente estudo foi desenvolvido no projeto de extensão “O Bicho vai Pegar!”, em parceria com o Núcleo de Gestão de Projetos Sociais – NGPS, da Universidade Castelo Branco. O projeto, que atua na área de prevenção à saúde, visa à divulgação do conhecimento sobre prevenção e tratamento de acidentes com animais venenosos e peçonhentos. O trabalho foi realizado com alunos do curso pré-vestibular comunitário da Universidade Castelo Branco, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A principal metodologia foi o estudo qualitativo e quantitativo de coleta de informações, que envolveu observação participante e entrevistas semi-estruturadas sobre o conhecimento sobre insetos perigosos, a biologia, clínica e terapêutica dos acidentes, com abordagem sobre a importância dos himenópteros para o meio ambiente. A avaliação foi realizada a partir da análise de questionários, aplicados antes e depois das intervenções. O método possibilitou identificar no grupo de estudantes, as concepções prévias e o conhecimento científico escolar sobre Himenópteros de importância médica e introduzir conceitos e atitudes preservacionistas através de estratégias de Educação Ambiental.

 

Resultados e Discussão

            Dos alunos entrevistados no pré-teste (Gráfico 1) 40% pensavam que aranhas são insetos. No pós-teste esse número passou para 0% (Gráfico 2).

          

Gráfico 1                                                       Gráfico 2

 

            No pré-teste (Gráfico 3) 10% dos alunos responderam que não conhecia insetos que podem causar acidentes. Segundo CARDOSO et al. (2003), dentre os invertebrados que são peçonhentos alguns insetos como os himenópteros são de interesse médico por serem perigosos. No pós-teste (Gráfico 4) 100% dos alunos responderam que conhecia algum inseto que pudesse causar acidente. Acidentes com animais peçonhentos são um problema de saúde não só pela frequência, mas, principalmente, pela gravidade e sequela que podem provocar (PUORTO, 2012).

 


              

Gráfico 3                                                       Gráfico 4

 

            Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2001) as reações desencadeadas através da picada de abelhas são variáveis de acordo com o local e o número de ferroadas, as características dessa picada juntamente com o passado alérgico do indivíduo atingido, onde as manifestações clínicas podem ser do tipo alérgico (mesmo com uma só picada) ou tóxico (múltiplas picadas). Tanto no pré-teste, quanto no pós-teste (Gráfico 5) 38% dos alunos responderam que conheciam alguém que seja alérgico a abelha.

 

Gráfico 5

 

            As formigas saúvas, comumente encontradas em todo o Brasil, podem produzir cortes na pele humana por possuírem potentes mandíbulas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Já a maioria das espécies de vespas agressivas, só ataca quando são molestadas ou para defender o seu ninho, quando há algum tipo de “estresse” ou esbarrão (CARDOSO et al., 2010). Cerca de 50% dos alunos entrevistados achavam que os Himenópteros eram agressivos, assim como 50% responderam negativamente. No pós-teste esse número se manteve (Gráfico 6).

 

 

Gráfico 6

            No questionário realizado antes da palestra, 80% dos alunos não sabiam quais eram os primeiros socorros em caso de acidente (Gráfico 7), posteriormente, com a intervenção esse número diminui para 75% (Gráfico 8).

 


                  

Gráfico 7                                                                  Gráfico 8

 

            Enquanto muitas espécies de abelhas e vespas possuem hábitos solitários, outras formam agrupamentos sociais e são tidas como mais perigosas por exibirem elevado poder de defesa se suas colônias e pela possibilidade de atacarem em enxames (CARDOSO et al., 2010). Cerca de 10% dos alunos entrevistados (Gráfico 9),  responderam que a melhor maneira de proceder em caso de infestação com colônias seria removê-las sem ajuda especializada. Após a intervenção, no pós-teste, essa porcentagem mudou para 0%.

 


                       

Gráfico 9                                                             Gráfico 10

            No pré-teste (Gráfico 11) 90% dos alunos achavam que os Himenópteros possuíam importância nas cadeias alimentares, no pós-teste (Gráfico 12) esse valor subiu para 100%.

 


                         

Gráfico 11                                               Gráfico 12

 

Tanto no pré, quanto no pós-teste 100% dos alunos responderam que palestras educativas ajudam na prevenção de acidente. Segundo LOUREIRO (2006), a Educação Ambiental tem o papel de transformar, conscientizar, emancipar e exercer a cidadania através da educação, sendo esta voltada para o ambientalismo. Buscamos um diálogo, no sentido original, de troca e reciprocidade o qual permite uma interação entre todos os elementos constituintes do meio.

Considerações Finais

            A educação ambiental é utilizada por profissionais de várias áreas para levar à sociedade uma reflexão sobre a valorização da natureza e da biodiversidade, e quando aplicada de maneira adequada tem o poder de mobilizar a sociedade. Neste trabalho demonstrou-se que, através de intervenções e estratégias educativas, podemos perceber mudanças significativas nas concepções prévias dos alunos, tornando importante a associação de ações educativas ambientais, voltadas às atividades de prevenção de acidentes com animais perigosos e ao reconhecimento que são elementos importantes da fauna e fazem parte dos ecossistemas. Percebemos, portanto, que a Educação Ambiental é um processo de aprendizado, através da comunicação de questões relacionadas à interação do homem com seu ambiente natural.

 

 

Referências bibliográficas:

CARDOSO, J. L. C.; FRANÇA, F. O. S.; WEN, F. H.; MALAQUE, C. M. S. & HADDAD-JR, V.; Animais Peçonhentos no Brasil: Biologia Clínica e Terapêutica dos Acidentes; 2ª Edição; Sarvier, São Paulo. 2010.

COSTA-LIMA, A. M. Insetos do Brasil: Hymenópteros. 11o Tomo. Escola Nacional de Agronomia, Série Didática, n.º 13. 366p. 1960.

FREITAS, R. E. & RIBEIRO, K. C. C. Educação e percepção ambiental para a conservação do meio ambiente na cidade de Manaus uma análise dos processos educacionais no Centro Municipal de Educação Infantil Eliakin Rufino. Revista Eletrônica Aboré - Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo, 03. 2007.

LEAL, D.; OLIVEIRA, E. P.; SILVA, J. K.; BOSSO, M. K.; BATISTA, W. S.; BÖHM, F. M. L. Z. & NEVES, G. Y. S. Produção e divulgação de material didático-pedagógico sobre os insetos no ensino fundamental. Diálogos & Saberes, v. 7, n. 1, p. 99-107. 2011.

LOUREIRO. C. F. B. Trajetórias e Fundamentos da Educação Ambiental. 2. Ed. Cortez, São Paulo. 2006.

MACHADO, R. F. O.; VELASCO, F. C. G. & AMIM, V. O Encontro da Política Nacional de Educação Ambiental com a Política Nacional do Idoso. Saúde e Sociedade v.15 n.3. 2006.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª Edição. Brasília Fundação Nacional de Saúde, 2001.

NIEVES-ALDREY, J. L. & FONTAL-CALLAZA, F. M. Filogenia y Evolución del orden Hymenoptera. Boletin de la Sociedade Entomologica Aragonesa (SEA), 26: 459-474. 1999.

PERIOTO, N. W.; LARA, R. I. R.; SANTOS, J. C. C. & SELEGATTO, A. Himenópteros parasitóides (Insecta, Hymenoptera) coletados em cultura de algodão (Gossypium hirsutum L.) (Malvaceae), no município de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Rev. Bras. entomol. vol.46, n.2, pp. 165-168. 2002.

PUORTO, G. Divulgação Científica Sobre Animais Peçonhentos no Brasil. Gazeta Médica da Bahia. 82 (Supl. 1): 33-39. 2012.

SANTOS, A. M. C.; BORGES, P. A. V.; HORTAL, J. & LOPES, D. J. H. Riqueza de espécies e diversidade ecológica de himenópteros parasitóides (Hymenoptera, Parasitica) em culturas frutícolas da ilha Terceira (Açores). In: LOPES, D.; PEREIRA, A.; MEXIA, A.; MUMFORD, J. & CABRERA, R. (eds.). A Fruticultura na Macaronésia - O Contributo do projecto INTERFRUTA para o seu desenvolvimento. Angra do Heroísmo. pp. 137-151, 2005.

 

Ilustrações: Silvana Santos