Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARDO/RS: AS ESTRATÉGIAS ADOTADAS NA SEMANA DO MEIO AMBIENTE
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARDO/RS: AS ESTRATÉGIAS ADOTADAS NA SEMANA DO MEIO AMBIENTE

 

Verushka Goldschmidt Xavier1

1 Bióloga graduada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), e secretária executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo. Av. Independência, 2293 – Sala 2700 (Bloco 27)- UNISC- Santa Cruz do Sul-RS (vxavier@unisc.br). Telefone: (51) 3717-7460.

 

Carla Battisti2

2 Acadêmica de Engenharia Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)- carlabattisti_@hotmail.com

 

Ana Cristina Rabuske3

3 Acadêmica de Engenharia Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) -  rabuske.anacristina@gmail.com

 

RESUMO

Durante a semana do meio ambiente (03 a 07/06/2013), o Comitê Pardo desenvolveu diversas atividades para públicos diferenciados com o objetivo de atingir o maior número de indivíduos. Dentre as ações destacaram-se palestra sobre Usos Múltiplos das Águas para estudantes de ensino fundamental de uma escola do interior de Santa Cruz do Sul/RS; uma palestra sobre os 3R’s (reutilizar, reciclar e reduzir) para estudantes de ensino médio na cidade de Rio Pardo/RS e Oficina de confecção de material didático com garrafas plásticas para professores selecionados pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, em Santa Cruz do Sul/RS. Após o desenvolvimento das atividades concluiu-se que o objetivo de disseminar ao maior público possível a conscientização e sensibilização ambiental, formando multiplicadores em suas comunidades/escolas foi atingido.

INTRODUÇÃO

Ao se falar em educação ambiental, não podemos apontar apenas um conceito, pois dependendo da corrente abordada ela terá vários enfoques: holístico, sistemático, recursionista, conservacionista... (SATO,M. e CARVALHO,I, 2005). Porém podemos generalizar alguns pontos em comum e isso resultaria num conceito do tipo “educação ambiental é um processo, onde conhecimentos e compromissos se complementam quando o assunto é meio ambiente”. Ou seja, é preciso conhecer para entender e entendendo o meio é necessário agir compromissadamente para mudar a situação ou, ao menos, encontrar a forma mais satisfatória possível, que garanta uma sustentabilidade, de forma que haja qualidade de vida para todos, assim como apontam Alcântara e Russo (2000).

E para atingir esse propósito, alia-se o fator inter e multidisciplinaridade. Dias (1993), relata que em pesquisa realizada, questionou-se o que os professores entendiam sobre educação ambiental e a maioria respondeu que eram assuntos ligados à ecologia ou biologia com conteúdo naturalista e essa confusão até hoje persiste nos meios escolares, onde os outros campos de conhecimento são praticamente excluídos.

Conforme Leff (2011) o fator multi e interdisciplinaridade não seria aquele no qual as ciências se articulam, mas o processo de reconstrução social em que há transformação do conhecimento sobre o meio ambiente. E como educação ambiental pressupõe participação social, é de fundamental importância reunir docentes, discentes e comunidade em geral, fazendo com que todos contribuam para o processo formativo de multiplicadores ambientais (GUIMARÃES, 1995).

Esse conhecimento nem sempre é formal, obtido nos bancos escolares e seguidamente provém da vivência dos habitantes do local, de forma empírica e aplicados na informalidade. O homem faz parte da natureza e não é superior a mesma, portanto, utilizando a visão integradora da biologia tem-se que o organismo não é algo dissociável de seus constituintes e segundo essa percepção o interessante são as coletividades (PEDRINI, A. G., 2000) e sob esse princípio, faz-se necessário a integração com o meio e a comunidade em que estamos inseridos.

Nesse contexto de interação, a mídia tem um papel fundamental de informar e introduzir assuntos ambientais às pessoas, mas não são responsáveis por executá-las ou formar opinião transformadora na sociedade, pois isso se faz no cotidiano através das relações pessoais que são legitimadoras do processo de mudança como o despertar da consciência ambiental e a mudança de hábitos que gerem atitudes proativas frente à massificação da sociedade de consumo (SILVA, C. E. L. da, 1978). Para isso a figura do professor é essencial, pois veiculam o conhecimento de modo que conduzam os estudantes à conscientização quanto à sustentabilidade (ZUQUIM, FONSECA & CORGOZINHO, 2010) e esse trabalho de educação ambiental no âmbito escolar pode atingir um público imensurável, começando dentro da escola e ultrapassando os muros da mesma e apesar da falta de preparo de alguns agentes formadores de opinião, estes se esforçam ao máximo para semear uma postura de mudança efetiva nos estudantes (RESENDE et. al., 2011).

Outro aspecto que deve ser levado em consideração é a questão do local onde se encontram esses agentes, tanto professores quanto estudantes, pois segundo Guimarães (1995) há certa diferenciação em como devemos tratar a educação ambiental quando comparamos meio ambiente urbano e meio rural. Para ele, no meio rural o impacto no meio ambiente é menor devido à dispersão das populações e nos centros urbanos é imenso devido à elevada concentração humana. Sendo assim o educador precisa sensibilizar as pessoas para a sua realidade e transportá-las para vivências práticas ampliando a consciência ambiental individual para a consciência coletiva. Não haveria um grau de importância, pois tanto o meio urbano quanto o rural formam o todo.

Uma forma de trabalhar a educação ambiental é partindo do indivíduo para o todo e alguns estudos tratam do ensino desse tema referenciando-se pela Bacia Hidrográfica a que pertencem os indivíduos. Nesse caso, a Bacia hidrográfica, que é a região geográfica compreendida por um território e diversos cursos d’água, seria a unidade de gestão e estudo a partir do tema recursos hídricos (SCHIEL, D. et. al., 2002, 2003). Para atender essa unidade de gestão, temos os Comitês de Bacia, que trabalham diversos aspectos com a sociedade/comunidade.

O Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo/RS, instalado em 23 de março de 1999, é um órgão deliberativo com força legal, apoiado nas leis 9.433/97 do Governo Federal e pela Legislação Estadual de Recursos Hídricos, lei nº 10.350/94, responsável pela gestão das águas nas Bacias Hidrográficas (www.comitepardo.com.br).

Dentre os grupos de trabalho do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo/RS, existe a rede de educação ambiental Redenção do Pardo. A Rede nasceu da necessidade percebida pelos membros do Comitê Pardo de conscientizar e sensibilizar a população dos 13 municípios que compõem a região hidrográfica, além de formar multiplicadores de educadores ambientais e para isso o Comitê promove e participa de inúmeras atividades de mobilização como palestras, oficinas, cursos, concursos, principalmente em datas comemorativas como a semana do meio ambiente.

Com o objetivo de conscientizar, sensibilizar e formar multiplicadores que atuem em suas comunidades/escolas, o Comitê Pardo, este ano planejou trabalhar ações de educação ambiental para públicos diferenciados e para isso utilizou-se do oferecimento de uma palestra sobre Os Usos Múltiplos das Águas para estudantes de ensino fundamental de uma escola do interior de Santa Cruz do Sul-RS; uma palestra sobre os 3R’s (reutilizar, reciclar e reduzir) para estudantes de ensino médio de uma escola estadual em Rio Pardo/RS e oficina de confecção de material didático com garrafas plásticas para professores selecionados pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Cruz do Sul-RS.

METODOLOGIA E RESULTADOS

Em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Cruz do Sul/RS, o Comitê Pardo realizou em 3 de junho de 2013 uma palestra sobre os Usos Múltiplos da Água na Escola Municipal Cardeal Leme em São Martinho, interior de Santa cruz do Sul/RS. Quando se optou por esse tema, levou-se em consideração que 2013 é o Ano Internacional da Cooperação pelos Usos Múltiplos da água, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde as partes interessadas que compõem os diversos usos múltiplos da água (usuários da água, população da bacia e poder público), em exercício diário e vivência prática, conscientizam-se sobre os desafios e benefícios de aliar os esforços em prol da garantia de água em quantidade e qualidade suficientes para abastecer a todos (Xavier, V., 2013).

Além desse fato, outro aspecto que foi abordado é que, por serem estudantes que residem em comunidade de interior, a realidade é diferente dos estudantes da cidade, ou seja, se na cidade o abastecimento público é realizado por uma companhia de saneamento, no interior é realizado por redes hídricas ou poços. Na cidade os indivíduos não se preocupam de onde vem a água, desde que ao abrir a torneira ela esteja ali para sanar suas necessidades de alimentação, limpeza, higiene e afins. Já no interior os indivíduos, por serem mais ligados à natureza e serem essencialmente agricultores, percebem o verdadeiro valor da água.

Para internalizar as questões hídricas no indivíduo, foi proposta uma dinâmica denominada “A água que quero ter”, onde cada participante recebeu um post-it e ali deveria escrever ou desenhar algo correspondente a afirmação, ou em termos de ações para chegar à água que queriam ter ou mesmo as qualidades da água que desejam ter. Após, colaram no quadro-branco da sala e fez-se os comentários e discussões a respeito.

Como perfil dos alunos da escola Cardeal Leme que assistiram à palestra, temos que a maioria dos 65 alunos que participaram tem faixa etária de 13 anos (34,2%) e são do gênero feminino (53,66%), conforme figuras 1 e 2.

Figura 1. Faixa etária dos participantes da atividade.

 

Figura 2. Gênero dos participantes da atividade.

Também foi apontado que a maioria é filho de agricultor (92,68%) e o principal uso da água na sua propriedade é para abastecimento humano (92,7%), conforme figuras 3 e 4.

Figura 3. Parentesco com agricultores

 

Figura 4. Uso da Água nas Propriedades

 

 

Quando questionado se conheciam o Comitê Pardo e a Redenção do Pardo antes da apresentação da palestra, 90% responderam que não, assim como também não participaram das reuniões de nenhum desses grupos e não possuíam conhecimento dos diferentes grupos (usuários, sociedade e poder público) que compõem um comitê de bacia (98%), o que pode ser visualizado nos figuras 5, 6 e 7.

Figura 5. Conhecimento sobre a existência do Comitê Pardo e Redenção do Pardo

 

Figura 6. Participação em atividades do Comitê Pardo e Redenção do Pardo

 

Figura 7. Conhecimentos sobre os grupos que compõem o Comitê Pardo

 

Os registros fotográficos dessa palestra, inclusive com a dinâmica da “Água que quero ter”, estão nas figuras 8 e 9.

Figura 8. Dinâmica “A água que quero ter”.

 

Figura 9. Palestra Usos Múltiplos da Água

 

Quanto à atividade direcionada aos estudantes de ensino médio, foi realizada uma palestra sobre os 3 R’s (reutilizar, reciclar e reduzir) na Escola Estadual Fortaleza, em Rio Pardo/RS, para 130 alunos no dia 05 de junho de 2013. Além do aspecto ambiental foi abordado também o cultural e social. Registros do evento podem ser vistos nas figuras 10 e 11.

Figura 10. Palestra 3R’s na Escola Estadual Fortaleza em Rio Pardo - RS.

 

Figura 11. Palestra 3R’s na Escola Estadual Fortaleza em Rio Pardo - RS.

 

E finalmente no dia 7 de junho de 2013 foi realizada a Oficina sobre Confecção de Material Didático Utilizando Garrafas Plásticas para 20 professores selecionados pela 6ª Coordenaria Regional de Educação do Estado do Rio Grande do Sul no município de Santa Cruz do Sul/RS. Após um bate-papo com os professores partiu-se para a confecção dos modelos propostos, que principalmente abordavam o tema zoologia. Com esses modelos pode-se trabalhar aulas de zoologia, principalmente as classes aves, mamíferos, répteis e artrópodes. Todo material foi planejado de forma que pudesse ser repassado aos estudantes das escolas em que esses professores atuam, ou seja, observando-se as capacidades de construção e elaboração do material pelos alunos.

Em seguida os professores foram convidados a participar das atividades da Rede de Educação Ambiental Redenção do Pardo e sinalizaram positivamente à participação, pois a função da rede é formar multiplicadores e o professor em si é um agente multiplicador do conhecimento e transformador da sociedade. Os registros da oficina estão nas figuras 12, 13 e 14.

Figura 12. Oficina Confecção de Material Didático com Garrafas Plásticas

Figura 13. Professores confeccionando material didático.

Figura 14. Material didático feito com garrafa plástica.

 

CONCLUSÃO

Ao finalizar a semana do meio ambiente, apontou-se que foram atendidos em média 215 indivíduos, de diversas áreas (professores e estudantes) e faixas etárias e de distintas realidades (urbana e rural). Espera-se que essas ações provoquem nos indivíduos o desejo de participar mais efetivamente das questões ambientais da bacia hidrográfica a que pertencem, sempre com um olhar crítico e específico sobre os recursos hídricos que foi o foco das atividades do Comitê Pardo e Redenção do Pardo. É a partir de pequenas ações que os indivíduos sentem-se motivados a participar com mais entusiasmo em suas comunidades, sempre unindo esforços em prol do meio ambiente, porque ao fazer os 3R’s o sujeito impede que muitos materiais acabem no rio como local de destino, ao reutilizar garrafas plásticas em material didático impede-se que as mesmas tenham como destino o rio e assim por diante. Ao se fazer ações de conscientização e sensibilização como estas, direta ou indiretamente, preservaremos os recursos hídricos, que é o foco de trabalho de um Comitê de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Alcântara, S. R. & Russo, P. R. Educação Ambiental: A Evolução de uma Consciência Ecológica. Revista Ágora. Santa Cruz do Sul, v.6, n.2, p. 81-91, jul./dez.2000.

Dias, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1993.

Guimarães, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.

http://www.comitepardo.com.br/sobreocomite.htm, acessado em 11 de junho de 2013.

Leff, E. Saber Ambiental. 8ª ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2011.

Pedrini, A. G. (Org.). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2000

Resende et. al. Iniciativas de Educação Ambiental nas Escolas da Rede Pública de Rio Paranaíba/Mg: Relatos de uma Experiência. Revista Educação Ambiental em Ação. Número 35, Ano IX. Março-Maio/2011.

Sato, M. e Carvalho, I. Educação Ambiental – Pesquisa e Desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Schiel, D. et. al. (Org). O Estudo de Bacias Hidrográficas – Uma estratégia para educação ambiental – 2ª edição. São Carlos: RiMa, 2002,2003.

Silva, C. E. L. da. (Coord.). Ecologia e Sociedade: Uma Introdução às Implicações da Crise Ambiental. São Paulo: Editora Loyola, 1978.

Xavier, V. Cooperação pelo Uso da Água. Jornal Gazeta do Sul. Página 18. 22 de março de 2013.

Zuquim, Fonseca & Corgozinho. Educação ambiental no ensino médio: conhecimentos, vivências e obstáculos. Revista Educação Ambiental em Ação. Número 32, Ano IX. Junho-Agosto/2010.

Ilustrações: Silvana Santos