Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
31/05/2013 (Nº 44) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1522 
  

 

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

 

 

 

AUTORES:

 Carla Regina Rodacki Klossowski – Professora de Geografia da Rede Estadual de Ensino na cidade de Irati/PR e Professora de Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino  na cidade de Irati/PR

 

Formada em Ciências Licenciatura e Geografia pela UNICENTRO/IRATI

Especialista em Educação Matemática pela UEPG/PONTA GROSSA

Telefone: (42)9925-0404

Email: crklossowski@gmail.com

 

                                                         Luciane Vanessa Mendes- Professora de Geografia da Rede Estadual de Ensino na cidade de Irati/PR e Agente Educacional II na Rede Estadual de Ensino na cidade de Irati/PR.

 

Formada em Ciências Licenciatura e Geografia pela UNICENTRO/IRATI

Especialista em Educação Matemática pela UEPG/PONTA GROSSA

 

Telefone: (42)8426-7066

Email: luciane_vanessa@yahoo.com.br

 

 

 

 

 

RESUMO

 

A discussão das questões ambientais assume cada vez mais relevância. O acentuado consumismo, o avanço tecnológico e  da urbanização promovem  sérios impactos na área ambiental, sendo que a Educação Ambiental busca superá-los. Instiga-se a adoção,  nesta perspectiva, de uma visão socioambiental de meio ambiente, procurando relacioná-lo com as diversas ações do ser humano. A escola é um espaço apropriado para a discussão do tema, de forma a conduzir o aluno num processo de sensibilização e conscientização, a fim de atuar criticamente na sociedade, exercendo sua cidadania ambiental.  

 

Palavras-chave: Educação Ambiental, educação, cidadania ambiental.

 

 

 

 

Desde as primeiras civilizações, o homem explorou o meio em que vive. Com o passar do tempo, aconteceram também inúmeras mudanças nos valores e modos de vida da sociedade, até surgirem indústrias e a urbanização. Com isso, a utilização dos recursos naturais passou a ser mais intensa.

Com o aprimoramento dos meios de comunicação efetuados principalmente nos países de capitalismo central, ampliam-se as comunicações de massa, tendo como âncora desta a publicidade, a qual acelerou o consumismo e a ação do homem ao meio ambiente. Assim, “A história da humanidade vai gerando situações novas, que criam necessidades de o homem ordenar de alguma forma os seus comportamentos frente às novas realidades que surgem” (PENTEADO, 1994, p. 25).

A televisão e jornais proporcionam a difusão dos problemas ambientais e atingem um grande número de pessoas em todo mundo. Contudo, a maioria delas, acaba dando  maior importância à propaganda e à ideologia do poder ligada ao consumo. O ser humano passa a aceitar aquilo que os meios de comunicação impõem de forma passiva, na maioria das vezes sem analisar criticamente a informação que está recebendo. Desta forma não acontece  que o que propõe Reigota (2002, p. 116), o qual afirma que: 

 

O exercício da leitura e desconstrução dos discursos das imagens passa pelo exercício do reconhecimento do indivíduo como cidadão, e não como mero receptor passivo, sem voz, sem resposta a esses discursos e sentidos produzidos em escala industrial e em grande parte comprometidos ideologicamente com o conservadorismo(REIGOTA, 2002, p. 116).

 

Enfim, todos esses fatores geraram mudanças na cultura, pois os indivíduos passaram a ver o meio ambiente como objeto de uso para satisfazer aos seus desejos, sem se preocupar com as conseqüências e sem estabelecer limites e critérios para se “apropriar” da natureza, ou, melhor dizendo, para viver com a natureza e não contra a ela. Essa nova cultura que surgiu propiciou o aparecimento de problemas ambientais que afetam a qualidade de vida, ocorrendo uma crise de relações entre sociedade e meio ambiente.

Toda a situação da sociedade, na década de 1960, teve o surgimento do movimento ecológico, que questiona as condições de vida da população e os problemas ambientais, nascendo propostas de difusão da Educação Ambiental, como ferramenta de mudança nas relações do homem com o meio ambiente e como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida.

 

O movimento ecológico tem essas raízes histórico-culturais.(...) Sob a chancela do movimento ecológico, veremos o desenvolvimento de lutas em torno de questões as mais diversas: extinção de espécies, desmatamento, uso de agrotóxicos, urbanização desenfreada, explosão demográfica, poluição do ar e da água, contaminação de alimentos, erosão  dos solos, diminuição das terras agricultáveis pela construção de grandes barragens, ameaça nuclear, guerra bacteriológica, corrida armamentista, tecnologias que afirmam a concentração do poder, entre outra(Gonçalves, 2005, p.12).

 

Os movimentos ecológicos trazem como uma de suas propostas a difusão da Educação Ambiental como ferramenta de mudança nas relações do homem com o meio ambiente e surge como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida.

A Educação Ambiental está relacionada à incorporação de novos valores e atitudes, para que indivíduos sejam sensibilizados acerca dos problemas sociais e naturais, e possam desempenhar criticamente o seu papel de cidadãos na sociedade.

Assim, podemos afirmar que há uma politização do debate circunscrito como “ambiental-ecológico”, no sentido que ganha corpus nas ruas e se converte em pressão da sociedade civil para com o Estado, que na busca por manter sua legitimidade social, formaliza atitudes e opções que se convertem em leis. É nesse sentido que destacamos a Lei nº. 9795/99, que constitui a Política Nacional de Educação Ambiental, dispõe de um artigo no qual se comenta:

 

Entende–se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade (BERNA, 2001, p. 100).

 

A Educação Ambiental tomou um rumo mais direcionado às questões naturais. Muitos intelectuais e ativistas vêem como o objeto de seu estudo, só as causas da natureza, como se problemas sociais, como a fome, por exemplo, não fosse um problema ambiental. Estes pesquisadores e autores possuem, ao nosso entendimento, uma visão parcial, para não dizer equivocada, a respeito dessa educação. Quando se fala de pobreza e meio ambiente, estes deveriam ser tratados num mesmo patamar, sem considerar um menos importante que o outro, pois, para a Educação Ambiental, estes dois problemas possuem um mesmo valor, onde a:

 

A Educação Ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas causas e inter–relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados com o desenvolvimento do meio ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e da fauna, devem ser abordados dessa maneira (CASCINO, 2000, p.95).

 

A Educação Ambiental debate que o meio ambiente é um espaço de relações, e de interações culturais e sociais, pois, nem sempre, as interações humanas com a natureza são daninhas, porque existe uma co-evolução entre o homem e seu meio, onde a evolução é o fruto das interações entre a natureza e as diferentes espécies, e a humanidade também faz parte desse processo.

Assim, acompanhamos o raciocínio de Loureiro (2005) com relação a uma definição do que viria a ser a Educação Ambiental, a qual define enquanto:

 

Uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza (LOUREIRO, 2005, p.69).

 

Nos dias de hoje, o homem age na natureza como se não fosse parte dela, e como se ambos não estivessem em permanente interação. Age, na natureza, motivado pelo seu enriquecimento, visando ao capital desejado, para ter poder no seu meio social, e não percebe os males que deixou e ainda deixará aos aspectos naturais.

Muitas pessoas pensam que sozinhas não poderão amenizar as causas ambientais. Elas fazem uso de poluentes, spray de cabelo, aerossóis e afirmam “do que adianta eu não usar, se todos usam, não sou eu sozinha que amenizarei o problema da poluição”.

Esse modo de pensar vem de muito tempo, quando esperamos que as atitudes, as decisões venham do “outro” e não do “eu”, ou seja, que decisões sejam restritas aos políticos, empresários, enquanto cabe aos demais membros da sociedade obedecer. Isto se refere ao comodismo que assumimos e ao desuso do papel de cidadão perante a sociedade.

Obviamente que os cidadãos possuem na sua individualidade uma força restrita perante aos macros agentes sociais, tais como o Estado, as Corporações, as ONGs (Organizações Não-Governamentais) e o Narcotráfico Organizado. Todavia, destacamos o papel da Educação Ambiental enquanto uma possibilidade de fomentar uma sensibilização com os educandos de modo a germinar atitudes voltadas as problemáticas ambientais por meio do tecido social. As quais possam mobilizar forças e pressionar os macros agentes, uma vez que esses são entidades autônomas que “pairam no ar”, mas instituições provindas da própria sociedade.

Precisamos mudar nossos comportamentos e pensamentos cotidianos para poder exercer a nossa cidadania, que “diz respeito ao exercício à vivência dos direitos e deveres do cidadão expressos na Constituição de cada país” (PENTEADO, 1994, p. 25).

O ser humano produz sérios problemas ambientais e deve repensar suas ações e seu papel de cidadão, achando soluções para viver na sociedade, sem agredir a natureza e que as gerações futuras possam viver num ambiente ecologicamente equilibrado.

A Educação Ambiental propõe, no processo educativo, a formação de sujeitos capazes de compreenderem o mundo e agir nele de forma crítica e consciente, tentando fazer com que o indivíduo compreenda as suas relações com o ambiente e construa novas sensibilidades e posturas éticas diante do mundo, trabalhando conhecimentos voltados à sociedade e o meio ambiente.

No ensino da Educação Ambiental, o aluno deve entender a relação da ciência com o meio ambiente, e toda a problemática ambiental, e que os educandos percebam que podem intervir neste processo, através de soluções para os problemas ambientais, realizando ações em defesa do meio ambiente, não importa que sejam pequenas, mas que entendam que algo pode ser realizado para modificar os problemas ambientais.

A escola também tem a função de desenvolver no educando conhecimentos úteis para a sua vida como a leitura, a escrita, a matemática, as ciências, a história dos lugares e da sua vida, o conhecimento geográfico, sendo estes, conhecimentos úteis para que o aluno possa ingressar no mundo do trabalho, ser consciente da sua cidadania para cumprir seus direitos e deveres.

Para que o professor consiga atingir a aprendizagem dos alunos é interessante que seja utilizado os temas ambientais, pois estes relacionam o homem com a natureza, facilitando a integração das diferentes disciplinas. Os problemas ambientais como o desmatamento e poluição são questões que estão fazendo parte dos meios de comunicação, assim fica mais fácil o educador utilizar exemplos do dia-a-dia, para ilustrar nos conteúdos escolares.

Também o ambiente escolar é o espaço indicado para a discussão e o aprendizado dos vários temas urgentes e atuais, como é o caso da Educação Sexual, da Educação para a vida, para o Trabalho, e da Educação Ambiental. Nesse contexto:

 

A tendência da Educação Ambiental é tornar–se não só uma prática educativa, ou uma disciplina a mais no currículo, mas sim consolidar–se como uma filosofia de educação, presente em todas as disciplinas existentes e possibilitar uma concepção mais ampla do papel da escola no contexto local e planetário contemporâneo(REIGOTA, 2002, p. 80).

 

A criança deve ter noções de Educação Ambiental desde as séries iniciais, como na pré-escola para que entenda as relações sociais existentes no seu meio, conhecendo os seus direitos e deveres, para atuar criticamente na sociedade, exercendo, assim, a sua cidadania. Segundo Penteado (1994, p. 53) “a escola é um local, dentre outros (trabalho, família, igreja etc.), onde professores e alunos exercem a sua cidadania, ou seja, comportam–se em relação a seus direitos e deveres de alguma maneira”.

A tarefa da escola é proporcionar, desde cedo, um ambiente favorável para o processo de ensino-aprendizado das questões relacionadas ao meio ambiente. O aluno deve receber informações e valores a respeito do meio ambiente. Já na pré-escola, a criança, nessa fase, não sabe ler, escrever, contar, mas lê o mundo ao seu redor, através dos símbolos, desenhos e compreende os problemas que cercam a sua vida. Assim:

 

O aluno, desde a pré–escola, necessita conhecer e distinguir os vários ambientes que lhe são dados a conviver, a fim de entender as várias relações sociais que ele estabelece com diferentes personagens do seu cotidiano, de modo a perceber os seus direitos e deveres para com os lugares e as pessoas a sua volta. E através do exercício da Educação Ambiental que a criança vai não só perceber os valores que transformam o ambiente físico a sua volta no seu lugar de viver, mas também como preservar estes valores. Desta maneira, a Educação Ambiental não pode ser reduzida a um aglomerado de atividades ecológicas, pois a proposta não é ser uma educação para o ambiente, mas sim uma educação para a cidadania plena (RUTKOWSKI, 1993, p. 55).

 

O desafio dos profissionais da educação é identificar de que maneira as questões ambientais e sociais que, aparentemente, estão distantes do nosso meio, atingem-nos e como podemos trazê–las para a discussão em sala de aula. Assim, o professor pode levar em consideração as experiências e conhecimentos trazidos pelos alunos. Ao trabalhar o conhecimento ambiental, este deve ter significado para o educando, como exemplos de problemas sócio-ambientais ocorridos no seu meio social, fazendo com que ele pense, reflita e tente encontrar soluções para amenizar o devido problema. Assim:

 

A escola e, muito especialmente, os professores devem conhecer a problemática da Educação Ambiental de forma que no desempenho da docência favoreçam o espírito crítico e a conscientização de seus alunos como agentes atuantes na relação indivíduo/meio ambiente, relação essa permeada pela tríade ciência/tecnologia/sociedade (KOFF, 1995, p. 143).

 

O aluno deve construir conhecimentos a respeito do seu papel de cidadão frente à sociedade e sobre o desenvolvimento sustentável, que é a utilização dos recursos naturais, sem agredir o meio ambiente, para que as futuras gerações possam viver num ambiente com menores índices de poluição e destruição, em que possamos atender “às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”. (PENTEADO, 1994, p. 33). Cabe à escola construir conhecimentos juntamente com os alunos, para formar indivíduos com consciência social e respeito à natureza e que exerçam seu papel junto à sociedade.

Devido a isso, é necessário um trabalho contínuo com os alunos, para que percebam a realidade do planeta e vejam que as suas ações podem alterar para melhor a vida no ambiente em que vivem e produzem. Logo, no ambiente escolar, cabe o papel de trabalhar a sensibilização das crianças em torno das questões relacionadas a problemática ambiental, e a Educação Ambiental, possa ser um veículo divertido e atraente, para que os educandos sintam vontade de compreender os conhecimentos voltados ao meio ambiente.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

BERNA, Vilmar, Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001.

 

CASCINO, Fábio, Educação Ambiental: princípios, história, formação de professores. 2.Ed., São Paulo: Senac, 2000.

 

GONÇALVES, Carlos Walter Porto; Os (Des)caminhos do Meio Ambiente, 13. ed. – São Paulo: Contexto, 2005.

 

KOFF, Elionara Delwing, Educação Ambiental no projeto Pedagógico do Ensino Fundamental. Inter-ação Revista da Faculdade de Educação da UFG, vol.1, n.1,jan/dez, Goiás: UFG, 1995.

 

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo, Educação Ambiental e Movimentos Sociais na Construção da Cidadania Ecológica e Planetária, in Educação Ambiental: Repensando o Espaço da Cidadania, Carlos Frederico Bernardo Loureiro, Philippe Pomier Layrargues, Ronaldo Souza de Castro (orgs.) 3.ed., São Paulo: Cortez, 2005.

 

PENTEADO, Heloísa Dupas, Meio Ambiente e formação de professores. V. 38, São Paulo: Cortez, 1994.

 

REIGOTA, Marcos; A floresta e a escola: Por uma Educação Ambiental Pós – Moderna. 2.Ed., São Paulo: Cortez, 2002.

 

RUTKOWSKI, Emília, Relato de uma experiência com educadores ambientais, Cadernos Cedes, Centro de Estudos Educação e Sociedade, Educação Ambiental. 1.Ed., São Paulo, 1993.

 

Ilustrações: Silvana Santos