Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Podcast(1) Dicas e Curiosidades(5) Reflexão(6) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11) Dúvidas(1) Entrevistas(2) Divulgação de Eventos(1) Sugestões bibliográficas(3) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(2) Soluções e Inovações(3) Educação e temas emergentes(6) Ações e projetos inspiradores(24) Cidadania Ambiental(1) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(26)   |  Números  
Entrevistas
13/09/2024 (Nº 88) ENTREVISTA COM FÁBIO PAULINO PARA A 88ª EDIÇÃO DA REVISTA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=5009 
  

ENTREVISTA COM FÁBIO PAULINO PARA A 88ª EDIÇÃO DA REVISTA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO

Imagem do arquivo pessoal de Fábio, em Cuzco/Peru

Apresentação – Há alguns anos tive a oportunidade de dar aulas no Curso de Especialização em Educação Ambiental da USP/ São Carlos – e foi lá que tive o imenso prazer de conhecer Fábio Paulino, que hoje é Gestor Ambiental pós graduado em Educação Ambiental pela Universidade de São Paulo - USP. Atuou e atua como gestor e educador ambiental em escolas, chácaras, hotéis e empresas. Realiza oficinas e dinâmicas com a temática ambiental para crianças, aplica técnicas de Permacultura e plantio orgânico, elabora projetos de educação ambiental e sustentabilidade, presta monitoria ambiental em parques, e além de atuar no gerenciamento e apoio às cooperativas de coletores de materiais recicláveis, participa em projetos de iniciação científica, e de apresentação em congressos e simpósios de pesquisa em meio ambiente. Então, vamos conhecer mais um pouco da sua história e das suas aventuras do Fábio pela Educação Ambiental!

Bere – Querido Fábio, te agradeço muito por ter aceitado ao convite para esta entrevista, muito obrigada! Será uma alegria podermos compartilhar, nesta edição, um pouco da tua trajetória na Educação Ambiental (EA). Normalmente inicio perguntando aos meus entrevistados e as minhas entrevistadas - e contigo não será diferente - como surgiu o teu interesse pela Educação Ambiental?

Fábio – Eu que agradeço por essa oportunidade, para mim é uma honra. Meu interesse pela Educação Ambiental iniciou durante a graduação, quando tive aula com a Professora Educadora Ambiental Marta Angela Marcondes, ela é encarnada com a Educação Ambiental e eu também me encantei desde a primeira aula, quando ela falou de um projeto que analisava a qualidade da água de alguns rios usando cebolas como bioindicador, e depois ensinavam a população como fazer isso. No mesmo dia eu já estava fazendo parte desse projeto do qual se tornou minha iniciação científica e assim a minha trajetória na Educação Ambiental começou.

Bere – Fale um pouco mais sobre a sua trajetória, até os dias de hoje.

Fábio – Bom, durante a iniciação científica, nós levávamos o laboratório para comunidades, para explicar sobre a relação do meio ambiente com a saúde. Apresentamos em diversos congressos, escolas, universidades, associações de bairro... Assim, nós mostramos para as pessoas, o cuidado que elas precisam ter quando as águas entram em suas casas, pois nós detectamos metais pesados em diversos rios nas cidades do ABC, e esses elementos como Mercúrio, Bário, Cádmio, Chumbo, são cancerígenos. Desta forma eu pude compreender o papel social que a Educação Ambiental tem, então busquei me especializar, foi quando consegui entrar para fazer a pós graduação em Educação Ambiental pela USP, que foi um divisor de águas na vida. Aprendi muito, e hoje consigo atuar efetivamente na área. Trabalho em escolas, em centros de ciências, com palestras em indústrias, cursos, oficinas e também como monitor ambiental no ecoturismo. Atuo na educação formal, não formal e informal.

Bere – Neste percurso tão desafiador, quais foram os teus maiores desafios?

Fábio – Os maiores desafios que encontrei foram com relação ao início da carreira. As empresas normalmente solicitam gestores ambientais para realizarem, também, funções com segurança do trabalho e qualidade, ou seja, realizar o trabalho de três profissionais. Muito pouco ou quase nada é investido em Educação Ambiental. O poder público ainda não vê a Educação Ambiental como algo importante, não possuímos ainda uma estrutura para realização da profissão de forma efetiva no país. O Brasil está na contramão da sustentabilidade, infelizmente.

Bere – O que mais te motiva para desenvolver ações de Educação Ambiental?

Fábio – O que mais me motiva são às crianças. Quando eu digo pra elas que as árvores tiram a poluição do ambiente transformando em oxigênio pra que possamos respirar um ar puro, elas brilham os olhos e passam a entender a importância do equilíbrio natural, isso me motiva muito. Os adultos, em sua grande maioria, não sabem disso, não compreendem os equilíbrios ambientais e por isso nosso país está queimando os biomas e, por consequência, estamos colhendo catástrofes, pois nossa política não compreende o Meio Ambiente. Os gestores públicos não foram sensibilizados e conscientizados, então, a maior dificuldade para nós profissionais é nos encaixar em um mundo profissional praticamente inexistente para a sociedade.

Bere – Quais são suas principais referências?

Fábio – Minhas principais referências são:

-Rachel Carson com seu emblemático livro "Primavera Silenciosa" que na década de 60 alertou sobre o desequilíbrio ambiental e suas consequências;

- Anna Maria Primavesi que foi precursora da agroecologia e agricultura Orgânica;

-Bill Mollisson e David Holmgren que difundiram a Permacultura pelo mundo;

-Zysman Neyman Professor e Educador Ambiental da UNIFESP, autor de diversos livros sobre Educação Ambiental;

- Minhas Professoras e Orientadoras Marta Angela Marcondes, Berenice Adams e o querido Professor Carlos Eduardo Mateus.

Bere – Como você define a EA, em poucas palavras (se é que isso é possível)?

Fábio – Eu definiria como:

" A semente que possibilitará colher saúde, bem estar e vida através da natureza em equilíbrio, simplicidade, humanidade, conhecimento, sabedoria e amor".

Bere – Não é de hoje que, apesar da EA ser legitimada como um processo de educação interdisciplinar há um acirrado debate quanto a EA se tornar (ou não) uma disciplina curricular. O que você pensa sobre isto?

Fábio - Esse assunto é muito complexo, pois nossa educação ainda é uma educação que ensina a obedecer e não ensina a pensar, a criar cidadãos críticos. Cada vez mais a escola está se tornando refém de uma sociedade desestruturada.

Os professores são cobrados, hoje, e responsabilizados de forma descomunal. A maior parte está adoentada, pois o sistema educacional público se tornou pernicioso.

Não sei se atribuir mais uma matéria para os professores seria uma solução plausível. Eu creio que não, pois a maior parte dos professores não foi educado ambientalmente, não foi sensibilizado e a EA não pode ser vista como uma disciplina presa em sala de aula. É preciso sair, para que as crianças vivenciem hortas, possam colocar os pés no chão, possam sentir o vento, observar o sol, ter contato com animais.

O ideal, primeiramente, seria reestruturar as escolas, possibilitar espaços adequados e profissionais especializados para atender - Educadores Ambientais formados e Especializados.

Penso que projetos ambientais com oficinas e vivências no dia a dia das crianças; plantio de hortas orgânicas; aulas teóricas e práticas ao ar livre; alimentação de animais; observação de pássaros; dinâmicas na natureza; saídas pedagógicas, - aí sim, seria possível a EA estar inserida no campo curricular dos estudantes.

Bere – Diante de tudo o que tu já expôs da tua trajetória, fica mais claro ainda que a Educação Ambiental é um grande desafio para muitos professores e muitas professoras, o que você diria a eles/elas? Quais são as dicas que você dá para quem está iniciando um trabalho de EA?

Fábio – Que sejam utópicos, que acreditem que a utopia é somente um pensamento, uma ideia, um sonho que existe, e que através da EA é possível realizar. Não desanimem com o sistema educacional, renasçam, redescubram-se, saibam quando precisam mudar de ares, se cuidem bem, mas, se algum dia seus olhos não brilharem mais, busque outra colocação. As crianças, a humanidade precisa muito da E.A e de profissionais empenhados. Não é fácil, mas é uma das melhores profissões que existe. Conheci as melhores pessoas nessa área, pessoas que doam suas vidas pelos outros e eu me tornei uma delas. Hoje me sinto realizado e completo com o que eu faço. Devo tudo à Educação Ambiental, saúde mental, emocional, social, financeira, vale a pena!

Bere – Fábio! Estou muito feliz e encantada, pois você é uma pessoa realmente inspiradora, e também muito orgulhosa por perceber o grande profissional da EA que te tornastes. Poder compartilhar detalhes da tua trajetória, tuas ideias, teus projetos e sonhos é muito gratificante... Muito obrigada pela tua disponibilidade! Parabéns!

Contato para maiores informações:

e-mail: fabiop.ambiental@gmail.com

 



Ilustrações: Silvana Santos