Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2011 (Nº 35) Florestas, Águas e Desertos
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Ano Internacional das Florestas –  2011

 

FLORESTAS, ÁGUAS E DESERTOS...

Após o “Seminario Internacional sobre: Lucha contra la desertificación: Gestión del agua, desarrollo agropecuario y forestación en zonas áridas y semiáridas”, do qual participamos, promovido pelo  Keren Kayemet LeIsrael-Fundo Nacional Judeu),  Agência de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (MASCHAV) do Ministério de Relações Exteriores, Centro de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (CINADCO), do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, no Kibutz Shefayim, e a “International Conference on Sustainable Development in Drylands –  Drylands, Deserts and Desertification: the route to restoration”, pela Ben-Gurion University of the Negev, em Sde Boqer, Israel, em novembro de 2010, profissionais  de distintas regiões do mundo, assumiram um compromisso ético e moral para trabalharem de forma inter e multidisciplinar, em rede, no combate à desertificação durante os próximos anos, associada à gestão dos riscos ambientais climáticos e antropogênicos.

 

A “rota da restauração” como foi tratada a questão da conservação e recuperação dos recursos florestais e hídricos não só abarcou aspectos relacionados ao desenvolvimento científico e inovação tecnológica, como também aqueles ligados à gestão ambiental participativa e cooperativa, e em especial à educação ambiental como transformadora de nossos comportamentos socioeconômicos atuais, propiciando a adaptação necessária diante dos desafios ambientais representados por comportamentos adversos arraigados.

A educação ambiental relacionada às atividades de florestação deve ser conduzida de modo que as pessoas sejam sensibilizadas e compreendam os processos interativos existentes em uma área florestal, não só em termos das árvores em si, mas da própria coexistência e das relações de interdependência e interação entre os recursos naturais e os seres humanos.

Uma das maiores necessidades diante dos cenários atuais e futuros, reside na transformação da percepção coletiva dos riscos ambientais e da multiplicação das vulnerabilidades decorrentes, incluída aqui a percepção dos riscos residuais, pois a adaptação carece da difusão de novos conhecimentos, informações e instrumental acessíveis às populações, bem como  de mudanças nos meios de gerir os capitais natural e físico.

Sem florestas, sem águas... Sem florestas e águas, restam além dos desertos naturais, os desertos antrópicos e o contributo humano às mudanças climáticas.  Um desequilíbrio ecológico que expressa a condição de nossa frágil sustentabilidade. Entretanto, muitas das relações socioeconômicas e políticas parecem não se importarem com outros processos de valoração ambiental, visto que muito mais do que uma mercadoria, as florestas deveriam ser avaliadas sob a perspectiva dos valores existenciais, de herança e conveniência, tanto no que tange à diversidade biológica, quanto à agregação de outros valores de natureza cultural para um país e todo o planeta.

Em vários países o desenvolvimento de programas de educação ambiental destinados aos diferentes segmentos de suas populações, vem cumprindo de forma integrada os preceitos da Agenda 21, envolvendo a pluralidade de ações coordenadas e sinérgicas, resultando em um desenvolvimento socioeconômico local e regional, fundado nas bases de comunidades sustentáveis. Contudo, ainda temos muito que fazer quanto à conservação de áreas florestais, recuperação de áreas em desertização/desertificação, proteção de mananciais, pois destas ações resultarão contextos de maior equidade e segurança ambiental.

Também precisamos desenvolver ações pró-ambientais políticas e informativas de maneira efetiva, estimulando uma mudança de percepção em nossas comunidades a respeito delas, afinal, florestas “não é mato” como alguns dizem; não se restringem à Mata Atlântica e à Amazônia, cujas imagens são tão bem exploradas pela mídia, influenciando nosso “imaginário ecológico” e escolhas resultantes. Florestas não são empecilhos ou obstáculos ao desenvolvimento econômico nacional, à expansão das fronteiras agrícolas, não se configuram apenas como zonas de parques nacionais ou estaduais, destinos turísticos “ecológicos”, ou ainda como variáveis nos imbricados cálculos de emergia ou de créditos de carbono...

Florestas resguardam a nossa própria sobrevivência, e com isso dizem respeito à capacidade de resiliência biológica e psicológica da espécie humana. As medidas para a conservação florestal implicam recursos financeiros, humanos, tecnológicos, instrumentos legais e educacionais, estratégias políticas adequadas. Mas o volume e custos destes mesmos recursos e implantação de medidas mitigadoras aumentam extremamente caso outros processos de deterioração ambiental já tenham se instalado efetivamente, gerando perda de eficiência das ações e maior variabilidade das incertezas na avaliação dos resultados e das conseqüências de magnitude nem sempre facilmente mensuráveis.

Diante dos quadros do passado e do presente, necessitamos educar ecologicamente para o futuro não só para prevenir e mitigar os impactos que os recursos florestais e hídricos vem sofrendo, como para criar e motivar a seleção de modos de enfrentamento e adaptação às novas condições desafiadoras, mediante a efetividade de comportamentos pró-ambientais, mudança de percepção e conseqüente valoração ambiental pelas sociedades.  O êxito ou fracasso dependerá do alcance das ações e conexões de cada um de nós, pois ninguém está imune aos efeitos. Restam, portanto, a ousadia, a criatividade e o desafio do educar em redes.

Ao criarmos redes de educação ecológica, difundindo informações corretas e de forma compreensível para os diversos segmentos de população, de modo cooperativo e considerada a amplitude de nossas ações, assumimos o compromisso e a responsabilidade diante de nossas comunidades de educar para a reabilitação e recuperação de áreas geográficas onde se verificam problemas ambientais complexos.  

Diante dos possíveis cenários futuros, cabe a nós, não mais a contemporização mediante argumentos desgastados e discursos políticos ou acadêmicos distantes da prática e da constatação das diversas realidades ambientais sobrepostas, nas quais estamos mergulhados cotidianamente. A conservação dos recursos para futuras gerações é iniciada a partir do próximo instante, cabe a nós a ação –  o mover-se em direção a rota da restauração...

Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães (Sol Karmel)

Laboratório de Interpretação e Valoração Ambiental

Depto. de Geografia, Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro (SP) – Brasil

hadra@olam.com.br

 

Ilustrações: Silvana Santos