Educação Ambiental em Ação 301
A casa do futuro feita de lixo
Cristiane Prizibisczki
04/12/2009, 15:51
Há cerca de 15 anos, o administrador de empresas Luiz Badejo transformou o
quintal de casa em laboratório de experimentos em busca da combinação
perfeita entre diferentes materiais para sua invenção. Neste período, quando
não estava no escritório, em seu trabalho "normal" como
administrador, Badejo podia ser encontrado em feiras-livres do Rio de Janeiro
recolhendo restos de vegetais, principalmente alface e agrião, que sobravam no
final da lida sob as barracas, ou em aterros sanitários, lixões e estações
de tratamento de esgoto atrás de tudo aquilo que o homem produz e que ainda não
conseguiu dar uma destinação mais útil do que a simples deposição - seja
ela tratada ou não.
Do quintal de casa, Badejo passou para os laboratórios da Universidade Federal
do Rio de Janeiro e, após anos de estudos, teve seu momento de Eureka. Ele é o
inventor de um tijolo totalmente ecológico, que congrega as qualidades do
tijolo produzido sem queima e ainda por cima resolve um dos maiores problemas de
grandes e pequenas cidades: a destinação de seus resíduos sólidos.
A história de Luiz Badejo não tem nada de amadora. O trabalho com resíduos
foi monitorado desde o início por seu pai, químico de profissão, e depois por
pesquisadores da UFRJ, durante seu mestrado em Tecnologia, com ênfase em
processos de engenharia, quando trabalhou com reciclagem de resíduos no aterro
de Gramacho (Duque de Caxias - RJ). Depois, o auxílio dos professores do
Instituto Militar de Engenharia (IME), durante o doutorado em Ciências dos
Materiais - que teve de parar por um tempo, por problemas de saúde - o ajudaram
a produzir tijolos realmente ecológicos. "Acredito firmemente na
necessidade de mitigar os efeitos perniciosos que os armazenamentos de resíduos
provocam em nosso ambiente. E não deixa de ser um trabalho de administração e
gestão", diz.
Badejo explica que a chave para transformar alface, agrião, lixo velho,
produtos de compostagem, cinzas de incineradores e lodo de estações de
tratamento em tijolos para construção está na estabilização dos materiais.
"Esta estabilização é que o grande feito, se assim se pode dizer. O que
a literatura de engenharia afirma é a impossibilidade de misturas de materiais
orgânicos com cimentos, pois estes não endureceriam, a não ser que fossem
gastos volumes economicamente inviáveis de cimento para superar os efeitos
nocivos que os materiais orgânicos produzem na mistura", diz.
Contrariando o que a literatura até então pregava, de que a mistura com
cimento poderia conter no máximo 5% de orgânicos, Badejo chegou a uma
fórmula que utiliza, no mínimo, 28% desse tipo de material. Em seus
experimentos, ele já utilizou até 60% de orgânicos em relação ao peso total
do artefato, utilizando somente 10% de cimento. "Este é o mesmo percentual
que se usa para tijolos de solo-cimento, os tijolos ditos ecológicos. É uma
mistura bastante econômica e plenamente viável do ponto de vista
financeiro". Para chegar a esse resultado, o administrador partiu do
pressuposto de que, sob o olhar da mecânica dos solos, o material residual
tratado ou os vegetais descartados apresentam características similares aos
solos que hoje podem ser utilizados na fabricação de tijolos e outros
artefatos para a construção civil.
Fonte: http://www.oeco.
com.br/