Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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UM
TRATADO COMPLEXO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DIALÓGICA NA CONTEMPORANEIDADE: O
ENCONTRO COM A PERSPECTIVA ECO-RELACIONAL Luan Gomes dos Santos
de Oliveira, Graduando do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, Bolsista do CNPq, ambientalista. 59625-000, Mossoró, RN,
(084)9906-8332, email: luangomes_fera@hotmail.com.
Profª. Drª. Geovânia
da Silva Toscano, Departamento de Ciências Sociais e política, Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, 59625-000, Mossoró, RN, (084)99068332, email: geotoscano@hotmail.com.
Pró-Reitora de Extensão da UERN. Resumo: Com o agravamento da crise ambiental é perceptível no cenário mundial
um grande debate acerca da questão sócio-ambiental. Deste modo, entendemos que
o mundo passa por uma crise do paradigma de sobrevivência humana. Nesse
sentido, este trabalho tem por objetivo instigar o diálogo a respeito da educação
ambiental como um instrumento de emancipação humana frente aos desafios postos
pelo ideário neoliberal. Fundamentamo-nos principalmente na perspectiva
eco-relacional, buscando refletir sobre a relação sociedade-natureza. Desta
forma, compreendemos que há a necessidade da formação de um sujeito ecológico,
ou seja, é preciso repensar a respeito da nossa condição humana, o que
implica socializar que nós humanos somos um fio da teia da vida. Somos
dependentes da natureza e por isso devemos procurar estabelecer relações
amorosas com ela. Pretendemos por meio deste trabalho, dialogar, de forma a
contribuir com a discussão sobre a educação ambiental para a construção uma
fênix humana ecológica. Palavras-Chave: Educação
ambiental dialógica; perspectiva eco-relacional; sociedade-natureza; sujeito
ecológico. Introdução Laudato
si’, mi’ me signore, persora nostra madre Terra, La quale ne sustenta et
governa, e produce diversi frutti com coloriti Fiori et herba. (Francesco de
Bernardone)
No
cenário mundial percebemos o crescente debate acerca da questão ambiental em
virtude do agravamento da crise ecológica, sendo esta tratada na maioria dos
casos de resolução simples e meramente técnica, a partir de uma visão
fragmentada da realidade, olhar típico do cartesianismo. Neste
trabalho, nos preocupamos em discutir o trilhar da educação ambiental dialógica,
fundada na perspectiva freiriana, com o objetivo de entender a relação
humanidade-natureza para além de uma visão antropocêntrica. Desta forma,
iremos recorrer com freqüência aos estudos de Figueiredo (1999 a 2003) para
compreender o estado atual da crise ecológico-ambiental criador da perspectiva
eco-relacional que se gesta no pensamento de Paulo Freire. O
artigo proposto consiste em uma análise teórica que extrapola a idéia
conservadora e fragmentada de educação ambiental que tem sido discutida.
Acreditamos assim, que a educação ambiental deve caminhar numa perspectiva holística
que leve em consideração o ser humano em suas múltiplas relações com o
cosmos.
Corroboramos com Figueiredo (2003) que é relevante a discussão
realizada sobre a crise eco-ambiental no âmbito de análises sob o ponto de
vista macroestrutural, detendo-se em estudos estatísticos ou quantitativos, no
entanto é preciso aprender a olhar sobre o singular das culturas humanas e a
maneira como nelas se dá o ponto de vista popular, enquanto construção da
consciência ambiental. Compreendemos que os saberes populares são elementos
potenciais, indispensáveis para a construção de uma educação ambiental dialógica
freiriana. Desse
modo, o mundo acadêmico precisa se aproximar mais da sociedade faz-se necessário
a interlocução do conhecimento científico com não científico. Assim, por
meio deste pequeno diálogo que tem como objetivo principal incitar em cada
leitor o desejo pelo estudo da eco-práxis na educação ambiental dialógica
, tendo a formação de uma consciência libertária capaz de transformar
ontologicamente a humanidade. Com isso, concordamos com Figueiredo (2003) no que
se refere à construção de uma proposta de educação ambiental voltada para
os oprimidos deste mundo, que pense sua linguagem e construa um saber parceiro,
sob a ótica da Perspectiva Eco-Relacional. A Histórica Emancipação da Educação Ambiental e a
Dialogia Freiriana
A dialógica na
educação ambiental é de suma importância, pois lhe confere caráter crítico
e reflexivo, provocador de mudanças na consciência humana. Cremos que a partir
da educação ambiental dialógica respaldada em Freire poderemos construir uma
educação que de fato liberte e que revolucione mentes e corações. Como nos
afirma Freire apud Figueiredo (2003, p.30), o diálogo constitui a própria
intersubjetividade humana, sendo esta relacional e consubstanciadora da
democracia, da alteridade, no afeto, na fé, na humildade de saber-se inacabado
e histórico.
Nesse sentido, compreendemos que há uma mudança de paradigma em relação
à educação ambiental que deixa de ser uma simples discussão acadêmica,
instituição detentora do saber científico, passando a se configurar como uma
educação de cunho popular transformadora, isto é, pautada na eco-práxis.
Posto isso, consideramos necessário expor um breve relato sobre a história da
educação ambiental, pois sua existência proporcionou modificações na
sociedade mundial. A
educação ambiental surge no palco mundial, em meados da década de 1960, a
partir do livro “Primavera Silenciosa” da jornalista norte-americana Rachel
Carson, que denunciava uma série de desastres ambientais causados
principalmente pelas atividades industriais. Neste sentido, com o acirramento
dos debates acerca dos problemas ambientais impulsionados pelo livro da
jornalista, acontece um evento de Educação na Universidade de Keele,
Inglaterra, no ano de 1965. Este evento inaugurou a utilização do termo
“Educação Ambiental”. Em 1968, o Clube de Roma reúne especialistas de várias
áreas do conhecimento para tratar da temática ambiental em uma perspectiva holística,
cuja, analisa a realidade social por meio da relação de interdependência
entre os fatores biofísicos, bioquímicos, sociopolíticos e culturais. Um dos
pontos máximos de grande relevância da discussão da temática ambiental foi
em 1972, a realização da I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano, Estocolmo. Lá, estiveram reunidos representantes de 113 países
que em conjunto com a Organização das Nações Unidas - ONU pretendia
estabelecer uma visão global que servisse como normas para a humanidade, a fim
de proporcionar um meio ambiente melhor às condições de vida na terra.
Segundo Figueiredo (1999) apud Oliveira (2007, p.72) a Conferência de 1972
recomendou a criação de um Programa Internacional de Educação Ambiental
(PIEA). A
elaboração do PIEA influenciou contundentemente na concretização do I Seminário
de Educação Ambiental Internacional em Belgrado, em 1975, tornando a Educação
Ambiental uma área de estudos consolidada a nível internacional. Neste seminário
frisou-se a importância da Educação Ambiental como um campo de estudo amplo
que abrangia os aspectos sociopolíticos e culturais além de promover o exercício
da ética ambiental. Ao refletirmos sobre este caso, entendemos que o processo
histórico da educação ambiental é pautado na mudança de valores e
comportamentos humanos, entretanto alertamos para que esta mudança não seja
limitada às relações com o meio natural, mas que perpasse as relações
sociais é importante que nós saibamos nos relacionar com o outro, este outro
por meio da linguagem construção do nosso eu. Como Freire (1983) apud
Figueiredo (2003, p.31) nos diz: O
ser humano como um ser de rações plurais, capaz de, na organização reflexiva
do pensamento, renunciar à condição de simples objeto, exigindo o que por
vocação é: sujeito. Para isto precisa desvelar o mundo de opressão mediante
um caminho (método) dialógico, por isso ativo e crítico. Vamos
continuar a historia da educação ambiental, pois é de forma contínua e crítica
que ela deve ser usada e pensada. Em 1977, ocorria em Tibilisi a Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, evento de alta relevância,
porque discutia acerca dos aspectos socioeconômicos e culturais, dando ênfase
aos éticos. Além disso, nessa conferência propunha-se a necessidade da
articulação entre meio ambiente natural e ambiência humana. Percebemos que
neste momento a Educação Ambiental é revestida pela visão holística
buscando ser vista em sua totalidade. Em 1992, estava acontecendo a Rio92, marco
histórico para o meio ambiente, neste mesmo período realizava-se em paralelo a
Rio92, a Jornada Internacional de Educação Ambiental, onde nela foi produzido
o documento Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, estabelecendo uma concordata para a sociedade civil de
todo o Planeta. Como
acabamos de mencionar sobre os três importantes eventos que envolvem a história
da Educação Ambiental, o de Tibilisi (1977), o Clube de Roma (1968) e o do Rio
de Janeiro (1992), vale salientar que todos eles apontam para a Educação
Ambiental inserida em uma dinâmica relacional e complexa, enfatizam o holismo,
que segundo Oliveira (2007), a percepção holística pretende dar conta da visão
multifacetada da realidade, que é própria de tudo que envolve a relação
ecologia-meio ambiente. Posto isso, verificamos que a Educação Ambiental se
emancipa com a visão holística, contornando o conhecimento científico. A
Educação Ambiental Holística deve prover ao organismo total da epistemologia
ambiental o projeto visionário que conglobe as varáveis da problemática
ambiental numa perspectiva totalizante, dinamizando relações entre todas as
correntes, para produzir, em qualquer contexto, a síntese de seus elementos.
(Oliveira, 2003, p. 78) O
caminho percorrido pela Educação Ambiental não termina por aqui, está sendo
construído a cada dia por cada um de nós, percebemos assim que ela é humana e
por este fato, parafraseando Freire é inconclusa, crítica e dialógica. (Re)pensando a relação Sociedade-Natureza por meio da
Perspectiva Eco-Relacional (PER)
A sociedade acadêmica
contemporânea tem passado por um momento de crise de paradigmas, sendo estes,
aqui, compreendidos como as várias visões utilizadas para a leitura da
realidade pela ciência de forma dominante. Desta maneira, pretendemos neste
trabalho analisar criticamente a relação sociedade-natureza no plano da
Perspectiva Eco-Relacional, fundada na Eco-Práxis e como expoente o Profº João
B. Albuquerque de Figueiredo seu criador.
A Sociedade é constituída pelas relações dos humanos com o meio
natural, com o cosmos e com eles próprios. Deste modo, o universo se
corporifica na vida humana e não-humana, somos construídos pelas relações
que mantemos com o nosso outro, portanto a humanidade tem como “impriting”
as relações.
Em meio ao caos da modernidade, conseqüência principal advinda do modo
de produção capitalista vivemos a crise dos valores humanos, o mundo do
descartável, a objetividade em detrimento da subjetividade, enfim o
racionalismo acima de tudo. É perceptível que a relação que a sociedade mantém
com a natureza tem se pautado em dominação e desconhecimento do humano na
natureza, logo optamos pela Perspectiva Eco-Relacional para ler a realidade
socioambiental que adiante nos ateremos a ela com mais profundidade. Ainda é
relevante expressar que a Educação Ambiental dialógica se configura um
elemento de elevada importância para construir novas relações entre a
humanidade e a natureza. Alertamos que a Educação Ambiental constitui-se como
um componente da Educação Nacional, ela é intrínseca, portanto não se deve
separar Educação Ambiental da Educação Básica. O Conceito de relações..., guarda em si, como veremos conotações de
pluralidade, de transcendência, de criticidade, de conseqüência e de
temporalidade. (...). Estar com o mundo resulta de sua abertura à realidade,
que o faz ser o ente de relações que é. (FREIRE, 2000, p.47).
Na busca incessante por referenciais teóricos, a Perspectiva
Eco-Relacional (PER), elaborada por Figueiredo merece destaque, porque
estabelece como primordial uma relação intima de amor entre a humanidade e a
natureza, bem como não separa o pensar do sentir, unifica-os e os reconhece
como componentes inerentes a condição humana. Além disso, finca-se na no
pensamento de Paulo freire, utilizando a dialógica para entender as relações
societais e compreende a necessidade de uma Educação Ambiental dialógica, crítica
e libertária. De acordo com Oliveira (2007, p.93) a perspectiva Eco-Relacional
emerge da crítica a visão holística e foi formulada para preencher a carência
da dimensão sociopolítica e cultura em suas reflexões de base. A
perspectiva Eco-Relacional (PER) é um neologismo proposto para atender ao
anseio de avançar com a perspectiva ecocêntrica (Figueiredo, 1999) numa
ruptura epistemológica na direção de uma perspectiva mais ampla e abrangente
e principalmente política e solidária. (FIGUEIREDO, 2003, p. 45)
Identificamos no estudo de Figueiredo que a vida é relação, assim como
o universo, o conhecimento, a matéria, a mente/consciência, enfim ‘o ser’
é relação, o que nos move para além da nossa condição humana é relação.
Por meio de Figueiredo reafirmamos: Essa perspectiva se
funda na proposta de enfatizar a Relação como eixo principal dentro do
contexto de mundo (sentido, pensado ou vivido), na constituição ontológica e
epistemológica do ser. (2003, p.42) A
simplicidade na complexidade da Perspectiva Eco-Relacional: uma breve síntese
Com o objetivo de ir
além de uma visão reducionista e mecanicista, propomos discutir a Educação
Ambiental através de uma visão holística de enfoque relacional, ou melhor,
Eco-Relacional. Entendemos que os problemas ambientais estão sendo tratados em
sua maioria de forma técnica e pragmática, no entanto não percebemos avanços
no que diz respeito à preservação do meio ambiente, isto se trata de um
problema de consciência ambiental, ou de alienação (re)produzida por meio do
modo de produção capitalista, o qual trata a natureza como mercadoria. Na
expectativa de reverter esse quadro de crise ecológico-ambiental, a humanidade
precisa rever suas atitudes e reconhecer que a natureza é um ser vivo, dotado
de um espírito sábio. Desta forma, esperançosos nos ancoramos na Perspectiva
Eco-Relacional (Figueiredo, 2003) que prega o amor como fonte da vida, da existência
planetária, além de preconizar a Ecopráxis e valorizando o saber popular. A
Perspectiva Eco-Relacional pode ser caracterizada por alguns princípios
fundamentais: 1) Prioriza o
‘relacional como contexto básico e as relações como princípio do real; 2)
O termo ‘eco’, reforça a conjuntura ecossistêmica, as interações sociais
entre o vivo e o considerado não-vivo da natureza; 3) O eco-relacional retrata
o interativo de ‘tudo com tudo’ e toda totalidade. Na verdade é uma
proposta que representa a compreensão do Universo, na qual as totalidades são
parcelas entremeadas, inseridas em totalidades ainda maiores, estruturando,
desde o nível mais simples ao mais complexo, uma ligação de interdependência
em busca da contínua co-evolução. Compreende como essencial à dimensão
afetiva, enquanto esfera propiciadora das grandes marcas evolutivas da natureza;
4)Explicita a complexidade e abrangência presente e representada no contexto da
evolução das formas de vida. Segundo esse paradigma o ser humano é concebido
como uma unidade interativa: um todo interatuante, multidimensional (inteligência
cognitiva, emocional, cinestésica, intrapessoal e interpessoal), indivisível
(corpo físico, sentimento e psique) embora interligado com o todo ao seu
derredor; 5) O argumento
essencial dessa perspectiva é poder representar
uma boa resposta para a crise atual de paradigmas. O humano, enquanto ser que se
edifica continuamente, tem na vivência sociopolítica o espaço privilegiado,
na busca do equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos, em uma
construção histórica que inclui a transcendência; 6) Essa perspectiva crítica
considera que toda amplitude, interior e exterior, objetiva, subjetiva e
intersubjetiva se entrelaçam, se comunicam, podendo levar desde o processo de
sensibilização, “alfabetização” eco-relacional, à prática
eco-relacional (ecopráxis); 7) A dimensão ética emerge como esfera essencial.
Uma ética eco-relacional que se estabelece no respeito à alteridade como legítima
e importante no contexto da existência e da transcendência própria da
co-evolução. (FIGUEIREDO, 2003, p.45)
Nesse sentido, Figueiredo (2003) inaugura no campo da ciência e da
ecologia humana um novo olhar fecundo que tem na sua gênese o pensamento
freiriano, que aposta na Educação crítica e dialógica. Com isso, deveríamos
nos voltar com atenção para a produção do conhecimento, sendo este acessado
por uma minoria, que muitas vezes se envaidece por deter algum saber e fazer
dele um elemento de ascensão econômica e não de transformação societária.
Assim, acontece também com a Educação Ambiental, atualmente sendo objeto de
estudo de vários pesquisadores de diversas correntes teóricas, tem se tornado
um campo de disputa pelo status ou até mesmo sendo utilizada pelo poder local
como um instrumento de alienação. No entanto, preferimos caminhar pela dialógica
como uma alternativa de (re)construção de um novo mundo e o pensamento de
Freire nos oferece esta possibilidade. É preciso,
sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que (...),
assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença
definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE, 1996; p. 24
e 25).
Acreditamos que a
complexidade da questão socioambiental tem como raiz as relações humanas,
planetárias. Por esta causa, é urgente a tomada de decisão da sociedade, bem
como do Estado e dos órgãos federais pela proteção dos recursos naturais.
Refletimos sobre o Art. 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 que
trata o meio ambiente como um direito de todos e que precisa ser protegido.
Entretanto, esse direito visa garantir uma realidade não efetivada e sim uma
realidade mascarada.
Logo, a educação ambiental aliada a Perspectiva Eco-Relacional é
essencial para a construção de uma sociedade sustentável e mais humana. É
por meio da educação ambiental que as relações socioambientais podem ser
(re)construídas e fincadas na ética salvadora defendida pelo filósofo
Leonardo Boff. A Educação Ambiental e a Ecopráxis: O nascimento do amor
na relação humanidade-natureza
Na sociabilidade capitalista as relações sociais estão se
desumanizando, sendo isto um desafio para a implementação da Educação
Ambiental Dialógica. Contudo, pensadores como Figueiredo (2003) sonham com
transformação científica crítica a partir do amor na educação, tendo em
vista que as emoções ainda são vistas como obstáculos ao avanço da ciência
tradicional. Perdeu-se a dimensão subjetiva do sujeito e frequentemente
esqueceu-se esse sujeito como construtor de sua história. Corroboramos com
Maturana (1998) que a razão em si não caracteriza o ser humano, pois ela está
vinculada diretamente à emoção, o pensar e o sentir, é a unidade na
diversidade, podendo então contribuir com a formação de uma Ecologia Humana,
para além do antropocentrismo, ou seja, constituindo uma relação amorosa
entre a humanidade e a natureza. A
emoção encontra seu espaço, não para negar a razão, mas para emprestar-lhe
perspectivas muito mais abrangentes, permitindo ver mais distante, além das
fronteiras estabelecidas pelos entes, num nível de complexidade impossível de
ser compreendido pela analítica. (OLIVEIRA, 2007, p.97)
Aliado a educação ambiental dialógica está a ecopráxis, esta
instaura um novo modo de pensar-agir, fundamentado na práxis freiriana e na
perspectiva Eco-Relacional de Figueiredo (2003). A ecopráxis consiste em uma práxis
transformadora e crítica que leva em conta as relações entre a natureza e a
sociedade, pautada no respeito mútuo e tratando a natureza como um componente
humano. Portanto o ser humano pensa sobre si mesmo e age sobre si mesmo quando
degrada a natureza. A ecopráxis dialógica
inicia-se com o Diálogo, elemento indispensável e mobilizador de todo o
processo educativo. Em seguida, objetiva-se a expectativa de cada participante
do processo que visa a constituir uma teia representacional – nela, situações-problemas
locais são codificadas por meio de múltiplas linguagens, tais como as músicas,
imagens e/ou depoimentos, enfocando tensões do cotidiano. (FIGUEIREDO, 2003,
p.71)
Concordamos que a ecopráxis é necessária a efetivação da educação
ambiental como um elemento vivificador, que reconhece a necessidade da formação
de uma ecologia humana libertada do pensamento ortodoxo e hegemônico. A educação
ambiental deve estar situada no plano da libertação dos corpos e mentes, se
configurando como um instrumento político, democrático e relacional, capaz de
promover a união da humanidade, isto de forma integrada, humanidade-natureza. Considerações Finais
As diferenças não
são barreiras e sim riquezas, neste sentido é preciso saber aprender com os
novos olhares, o medo de errar muitas vezes nos impossibilita de criar e de
expor a beleza que se esconde por traz da natureza humana. O fazer ciência não
deve se limitar aos muros da universidade, a ciência é inerente ao homem e a
mulher, ela deve libertar e não aprisionar.
O modelo fragmentador presente na ciência tradicional é um trunfo do
cartesianismo, esse modelo tem se alastrado e atingido a Educação Ambiental,
embora existam profissionais que discutem em perspectiva humana, para além da
sociabilidade capitalista. Entendemos assim que há formação de novos valores
comprometidos com o ideal de sociedade sustentável. A pesar de saber que a
conjuntura política tem travado um embate com a execução das políticas públicas,
não podemos deixar de sonhar, pois o sonho nos impulsiona e revigora as nossas
forças para a luta.
A Educação Ambiental no Brasil tem crescido nos debates efervescentes e
tem encontrado inimigos, ela tem mexido com o pensamento de diversas pessoas,
que amam a natureza e reconhecem nela. Acreditamos que a Perspectiva
Eco-Relacional contribuiu para a formação da consciência ambiental e
principalmente com a educação ambiental libertária.
Segundo Figueiredo (2003, p.258), Freire acontece em nossos corações,
florescendo o prazer de encontrar a riqueza do saber popular, da cultura
residualmente oral, expressa em sua plenitude de vida, de ‘saber de experiência
feito’, de metáforas, de causos do mundo vivido. É por este pensamento que
esse trabalho foi conduzido, se corporificando em uma discussão crítica e
humana. Sabemos que o importante não é ter vários paradigmas, cujos se tornam
elementos de disputa na academia, mas uma visão que unifique o humano no humano
e apóie a ecopráxis. Esperamos poder contribuir com o diálogo acerca da Educação
Ambiental, reconhecemos que tem muita luta pela frente, mas procuremos lutar
juntos. Referências FIGUEIREDO,
João Batista Albuquerque. O Tao Ecocêntrico
– em busca de uma práxis ecológica. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará,
1999. Dissertação (Mestrado). ________________.
Educação Ambiental dialógica e
representações sociais da água em cultura sertaneja nordestina: uma
contribuição à consciência ambiental em Irauçuba – CE (Brasil). São
Carlos: UFSCar, 2003. Tese (Doutorado) FREIRE,
Paulo. Pedagogia
da Autonomia: Saberes necessários à
prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996. ____________
.Pedagogia
da indignação: Cartas Pedagógicas e
Outros Escritos. São Paulo, SP: Ed. Unesp, 2000. OLIVEIRA,
José Arnóbio Albuquerque. As contribuições de Paramahansa Yogananda à
Educação Ambiental Holística: superando a fragmentação do pensamento do
sujeito na ação ambientalista. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará,
2007. Dissertação (Mestrado). |