Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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28/05/2009 (Nº 28) UM TRATADO COMPLEXO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DIALÓGICA NA CONTEMPORANEIDADE: O ENCONTRO COM A PERSPECTIVA ECO-RELACIONAL
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Educação Ambiental em Ação

UM TRATADO COMPLEXO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DIALÓGICA NA CONTEMPORANEIDADE: O ENCONTRO COM A PERSPECTIVA ECO-RELACIONAL

 

Luan Gomes dos Santos de Oliveira, Graduando do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Bolsista do CNPq, ambientalista. 59625-000, Mossoró, RN, (084)9906-8332, email: luangomes_fera@hotmail.com.

 

Profª. Drª. Geovânia da Silva Toscano, Departamento de Ciências Sociais e política, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, 59625-000, Mossoró, RN, (084)99068332, email: geotoscano@hotmail.com. Pró-Reitora de Extensão da UERN.

 

Resumo: Com o agravamento da crise ambiental é perceptível no cenário mundial um grande debate acerca da questão sócio-ambiental. Deste modo, entendemos que o mundo passa por uma crise do paradigma de sobrevivência humana. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo instigar o diálogo a respeito da educação ambiental como um instrumento de emancipação humana frente aos desafios postos pelo ideário neoliberal. Fundamentamo-nos principalmente na perspectiva eco-relacional, buscando refletir sobre a relação sociedade-natureza. Desta forma, compreendemos que há a necessidade da formação de um sujeito ecológico, ou seja, é preciso repensar a respeito da nossa condição humana, o que implica socializar que nós humanos somos um fio da teia da vida. Somos dependentes da natureza e por isso devemos procurar estabelecer relações amorosas com ela. Pretendemos por meio deste trabalho, dialogar, de forma a contribuir com a discussão sobre a educação ambiental para a construção uma fênix humana ecológica.

Palavras-Chave: Educação ambiental dialógica; perspectiva eco-relacional; sociedade-natureza; sujeito ecológico. 

Introdução

Laudato si’, mi’ me signore, persora nostra madre Terra, La quale ne sustenta et governa, e produce diversi frutti com coloriti Fiori et herba. (Francesco de Bernardone)

                                                                                    

 

No cenário mundial percebemos o crescente debate acerca da questão ambiental em virtude do agravamento da crise ecológica, sendo esta tratada na maioria dos casos de resolução simples e meramente técnica, a partir de uma visão fragmentada da realidade, olhar típico do cartesianismo.

Neste trabalho, nos preocupamos em discutir o trilhar da educação ambiental dialógica, fundada na perspectiva freiriana, com o objetivo de entender a relação humanidade-natureza para além de uma visão antropocêntrica. Desta forma, iremos recorrer com freqüência aos estudos de Figueiredo (1999 a 2003) para compreender o estado atual da crise ecológico-ambiental criador da perspectiva eco-relacional que se gesta no pensamento de Paulo Freire.

O artigo proposto consiste em uma análise teórica que extrapola a idéia conservadora e fragmentada de educação ambiental que tem sido discutida. Acreditamos assim, que a educação ambiental deve caminhar numa perspectiva holística que leve em consideração o ser humano em suas múltiplas relações com o cosmos.

            Corroboramos com Figueiredo (2003) que é relevante a discussão realizada sobre a crise eco-ambiental no âmbito de análises sob o ponto de vista macroestrutural, detendo-se em estudos estatísticos ou quantitativos, no entanto é preciso aprender a olhar sobre o singular das culturas humanas e a maneira como nelas se dá o ponto de vista popular, enquanto construção da consciência ambiental. Compreendemos que os saberes populares são elementos potenciais, indispensáveis para a construção de uma educação ambiental dialógica freiriana.

Desse modo, o mundo acadêmico precisa se aproximar mais da sociedade faz-se necessário a interlocução do conhecimento científico com não científico. Assim, por meio deste pequeno diálogo que tem como objetivo principal incitar em cada  leitor o desejo pelo estudo da eco-práxis na educação ambiental dialógica , tendo a formação de uma consciência libertária capaz de transformar ontologicamente a humanidade. Com isso, concordamos com Figueiredo (2003) no que se refere à construção de uma proposta de educação ambiental voltada para os oprimidos deste mundo, que pense sua linguagem e construa um saber parceiro, sob a ótica da Perspectiva Eco-Relacional.

 

A Histórica Emancipação da Educação Ambiental e a Dialogia Freiriana

           

            A dialógica na educação ambiental é de suma importância, pois lhe confere caráter crítico e reflexivo, provocador de mudanças na consciência humana. Cremos que a partir da educação ambiental dialógica respaldada em Freire poderemos construir uma educação que de fato liberte e que revolucione mentes e corações. Como nos afirma Freire apud Figueiredo (2003, p.30), o diálogo constitui a própria intersubjetividade humana, sendo esta relacional e consubstanciadora da democracia, da alteridade, no afeto, na fé, na humildade de saber-se inacabado e histórico.

            Nesse sentido, compreendemos que há uma mudança de paradigma em relação à educação ambiental que deixa de ser uma simples discussão acadêmica, instituição detentora do saber científico, passando a se configurar como uma educação de cunho popular transformadora, isto é, pautada na eco-práxis. Posto isso, consideramos necessário expor um breve relato sobre a história da educação ambiental, pois sua existência proporcionou modificações na sociedade mundial.  

A educação ambiental surge no palco mundial, em meados da década de 1960, a partir do livro “Primavera Silenciosa” da jornalista norte-americana Rachel Carson, que denunciava uma série de desastres ambientais causados principalmente pelas atividades industriais. Neste sentido, com o acirramento dos debates acerca dos problemas ambientais impulsionados pelo livro da jornalista, acontece um evento de Educação na Universidade de Keele, Inglaterra, no ano de 1965. Este evento inaugurou a utilização do termo “Educação Ambiental”. Em 1968, o Clube de Roma reúne especialistas de várias áreas do conhecimento para tratar da temática ambiental em uma perspectiva holística, cuja, analisa a realidade social por meio da relação de interdependência entre os fatores biofísicos, bioquímicos, sociopolíticos e culturais. Um dos pontos máximos de grande relevância da discussão da temática ambiental foi em 1972, a realização da I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, Estocolmo. Lá, estiveram reunidos representantes de 113 países que em conjunto com a Organização das Nações Unidas - ONU pretendia estabelecer uma visão global que servisse como normas para a humanidade, a fim de proporcionar um meio ambiente melhor às condições de vida na terra. Segundo Figueiredo (1999) apud Oliveira (2007, p.72) a Conferência de 1972 recomendou a criação de um Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).

A elaboração do PIEA influenciou contundentemente na concretização do I Seminário de Educação Ambiental Internacional em Belgrado, em 1975, tornando a Educação Ambiental uma área de estudos consolidada a nível internacional. Neste seminário frisou-se a importância da Educação Ambiental como um campo de estudo amplo que abrangia os aspectos sociopolíticos e culturais além de promover o exercício da ética ambiental. Ao refletirmos sobre este caso, entendemos que o processo histórico da educação ambiental é pautado na mudança de valores e comportamentos humanos, entretanto alertamos para que esta mudança não seja limitada às relações com o meio natural, mas que perpasse as relações sociais é importante que nós saibamos nos relacionar com o outro, este outro por meio da linguagem construção do nosso eu. Como Freire (1983) apud Figueiredo (2003, p.31) nos diz:

O ser humano como um ser de rações plurais, capaz de, na organização reflexiva do pensamento, renunciar à condição de simples objeto, exigindo o que por vocação é: sujeito. Para isto precisa desvelar o mundo de opressão mediante um caminho (método) dialógico, por isso ativo e crítico.

Vamos continuar a historia da educação ambiental, pois é de forma contínua e crítica que ela deve ser usada e pensada. Em 1977, ocorria em Tibilisi a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, evento de alta relevância, porque discutia acerca dos aspectos socioeconômicos e culturais, dando ênfase aos éticos. Além disso, nessa conferência propunha-se a necessidade da articulação entre meio ambiente natural e ambiência humana. Percebemos que neste momento a Educação Ambiental é revestida pela visão holística buscando ser vista em sua totalidade. Em 1992, estava acontecendo a Rio92, marco histórico para o meio ambiente, neste mesmo período realizava-se em paralelo a Rio92, a Jornada Internacional de Educação Ambiental, onde nela foi produzido o documento Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, estabelecendo uma concordata para a sociedade civil de todo o Planeta.

Como acabamos de mencionar sobre os três importantes eventos que envolvem a história da Educação Ambiental, o de Tibilisi (1977), o Clube de Roma (1968) e o do Rio de Janeiro (1992), vale salientar que todos eles apontam para a Educação Ambiental inserida em uma dinâmica relacional e complexa, enfatizam o holismo, que segundo Oliveira (2007), a percepção holística pretende dar conta da visão multifacetada da realidade, que é própria de tudo que envolve a relação ecologia-meio ambiente. Posto isso, verificamos que a Educação Ambiental se emancipa com a visão holística, contornando o conhecimento científico.

A Educação Ambiental Holística deve prover ao organismo total da epistemologia ambiental o projeto visionário que conglobe as varáveis da problemática ambiental numa perspectiva totalizante, dinamizando relações entre todas as correntes, para produzir, em qualquer contexto, a síntese de seus elementos. (Oliveira, 2003, p. 78)

 

O caminho percorrido pela Educação Ambiental não termina por aqui, está sendo construído a cada dia por cada um de nós, percebemos assim que ela é humana e por este fato, parafraseando Freire é inconclusa, crítica e dialógica.

 

(Re)pensando a relação Sociedade-Natureza por meio da Perspectiva Eco-Relacional (PER)

 

            A sociedade acadêmica contemporânea tem passado por um momento de crise de paradigmas, sendo estes, aqui, compreendidos como as várias visões utilizadas para a leitura da realidade pela ciência de forma dominante. Desta maneira, pretendemos neste trabalho analisar criticamente a relação sociedade-natureza no plano da Perspectiva Eco-Relacional, fundada na Eco-Práxis e como expoente o Profº João B. Albuquerque de Figueiredo seu criador.

            A Sociedade é constituída pelas relações dos humanos com o meio natural, com o cosmos e com eles próprios. Deste modo, o universo se corporifica na vida humana e não-humana, somos construídos pelas relações que mantemos com o nosso outro, portanto a humanidade tem como “impriting” as relações.

            Em meio ao caos da modernidade, conseqüência principal advinda do modo de produção capitalista vivemos a crise dos valores humanos, o mundo do descartável, a objetividade em detrimento da subjetividade, enfim o racionalismo acima de tudo. É perceptível que a relação que a sociedade mantém com a natureza tem se pautado em dominação e desconhecimento do humano na natureza, logo optamos pela Perspectiva Eco-Relacional para ler a realidade socioambiental que adiante nos ateremos a ela com mais profundidade. Ainda é relevante expressar que a Educação Ambiental dialógica se configura um elemento de elevada importância para construir novas relações entre a humanidade e a natureza. Alertamos que a Educação Ambiental constitui-se como um componente da Educação Nacional, ela é intrínseca, portanto não se deve separar Educação Ambiental da Educação Básica.

 

 

O Conceito de relações..., guarda em si, como veremos conotações de pluralidade, de transcendência, de criticidade, de conseqüência e de temporalidade. (...). Estar com o mundo resulta de sua abertura à realidade, que o faz ser o ente de relações que é. (FREIRE, 2000, p.47).

 

            Na busca incessante por referenciais teóricos, a Perspectiva Eco-Relacional (PER), elaborada por Figueiredo merece destaque, porque estabelece como primordial uma relação intima de amor entre a humanidade e a natureza, bem como não separa o pensar do sentir, unifica-os e os reconhece como componentes inerentes a condição humana. Além disso, finca-se na no pensamento de Paulo freire, utilizando a dialógica para entender as relações societais e compreende a necessidade de uma Educação Ambiental dialógica, crítica e libertária. De acordo com Oliveira (2007, p.93) a perspectiva Eco-Relacional emerge da crítica a visão holística e foi formulada para preencher a carência da dimensão sociopolítica e cultura em suas reflexões de base.

A perspectiva Eco-Relacional (PER) é um neologismo proposto para atender ao anseio de avançar com a perspectiva ecocêntrica (Figueiredo, 1999) numa ruptura epistemológica na direção de uma perspectiva mais ampla e abrangente e principalmente política e solidária. (FIGUEIREDO, 2003, p. 45)

            Identificamos no estudo de Figueiredo que a vida é relação, assim como o universo, o conhecimento, a matéria, a mente/consciência, enfim ‘o ser’ é relação, o que nos move para além da nossa condição humana é relação. Por meio de Figueiredo reafirmamos:

 

 

Essa perspectiva se funda na proposta de enfatizar a Relação como eixo principal dentro do contexto de mundo (sentido, pensado ou vivido), na constituição ontológica e epistemológica do ser. (2003, p.42)

 

 

A simplicidade na complexidade da Perspectiva Eco-Relacional: uma breve síntese

           

            Com o objetivo de ir além de uma visão reducionista e mecanicista, propomos discutir a Educação Ambiental através de uma visão holística de enfoque relacional, ou melhor, Eco-Relacional. Entendemos que os problemas ambientais estão sendo tratados em sua maioria de forma técnica e pragmática, no entanto não percebemos avanços no que diz respeito à preservação do meio ambiente, isto se trata de um problema de consciência ambiental, ou de alienação (re)produzida por meio do modo de produção capitalista, o qual trata a natureza como mercadoria. Na expectativa de reverter esse quadro de crise ecológico-ambiental, a humanidade precisa rever suas atitudes e reconhecer que a natureza é um ser vivo, dotado de um espírito sábio. Desta forma, esperançosos nos ancoramos na Perspectiva Eco-Relacional (Figueiredo, 2003) que prega o amor como fonte da vida, da existência planetária, além de preconizar a Ecopráxis e valorizando o saber popular. A Perspectiva Eco-Relacional pode ser caracterizada por alguns princípios fundamentais:

 

 

 

1) Prioriza o ‘relacional como contexto básico e as relações como princípio do real; 2) O termo ‘eco’, reforça a conjuntura ecossistêmica, as interações sociais entre o vivo e o considerado não-vivo da natureza; 3) O eco-relacional retrata o interativo de ‘tudo com tudo’ e toda totalidade. Na verdade é uma proposta que representa a compreensão do Universo, na qual as totalidades são parcelas entremeadas, inseridas em totalidades ainda maiores, estruturando, desde o nível mais simples ao mais complexo, uma ligação de interdependência em busca da contínua co-evolução. Compreende como essencial à dimensão afetiva, enquanto esfera propiciadora das grandes marcas evolutivas da natureza; 4)Explicita a complexidade e abrangência presente e representada no contexto da evolução das formas de vida. Segundo esse paradigma o ser humano é concebido como uma unidade interativa: um todo interatuante, multidimensional (inteligência cognitiva, emocional, cinestésica, intrapessoal e interpessoal), indivisível (corpo físico, sentimento e psique) embora interligado com o todo ao seu derredor; 5) O argumento essencial dessa perspectiva é poder representar uma boa resposta para a crise atual de paradigmas. O humano, enquanto ser que se edifica continuamente, tem na vivência sociopolítica o espaço privilegiado, na busca do equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos, em uma construção histórica que inclui a transcendência; 6) Essa perspectiva crítica considera que toda amplitude, interior e exterior, objetiva, subjetiva e intersubjetiva se entrelaçam, se comunicam, podendo levar desde o processo de sensibilização, “alfabetização” eco-relacional, à prática eco-relacional (ecopráxis); 7) A dimensão ética emerge como esfera essencial. Uma ética eco-relacional que se estabelece no respeito à alteridade como legítima e importante no contexto da existência e da transcendência própria da co-evolução. (FIGUEIREDO, 2003, p.45)

 

           

            Nesse sentido, Figueiredo (2003) inaugura no campo da ciência e da ecologia humana um novo olhar fecundo que tem na sua gênese o pensamento freiriano, que aposta na Educação crítica e dialógica. Com isso, deveríamos nos voltar com atenção para a produção do conhecimento, sendo este acessado por uma minoria, que muitas vezes se envaidece por deter algum saber e fazer dele um elemento de ascensão econômica e não de transformação societária. Assim, acontece também com a Educação Ambiental, atualmente sendo objeto de estudo de vários pesquisadores de diversas correntes teóricas, tem se tornado um campo de disputa pelo status ou até mesmo sendo utilizada pelo poder local como um instrumento de alienação. No entanto, preferimos caminhar pela dialógica como uma alternativa de (re)construção de um novo mundo e o pensamento de Freire nos oferece esta possibilidade.

 

 

É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que (...), assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE, 1996; p. 24 e 25).

 

               Acreditamos que a complexidade da questão socioambiental tem como raiz as relações humanas, planetárias. Por esta causa, é urgente a tomada de decisão da sociedade, bem como do Estado e dos órgãos federais pela proteção dos recursos naturais. Refletimos sobre o Art. 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 que trata o meio ambiente como um direito de todos e que precisa ser protegido. Entretanto, esse direito visa garantir uma realidade não efetivada e sim uma realidade mascarada.

            Logo, a educação ambiental aliada a Perspectiva Eco-Relacional é essencial para a construção de uma sociedade sustentável e mais humana. É por meio da educação ambiental que as relações socioambientais podem ser (re)construídas e fincadas na ética salvadora defendida pelo filósofo Leonardo Boff.

A Educação Ambiental e a Ecopráxis: O nascimento do amor na relação humanidade-natureza

 

            Na sociabilidade capitalista as relações sociais estão se desumanizando, sendo isto um desafio para a implementação da Educação Ambiental Dialógica. Contudo, pensadores como Figueiredo (2003) sonham com transformação científica crítica a partir do amor na educação, tendo em vista que as emoções ainda são vistas como obstáculos ao avanço da ciência tradicional. Perdeu-se a dimensão subjetiva do sujeito e frequentemente esqueceu-se esse sujeito como construtor de sua história. Corroboramos com Maturana (1998) que a razão em si não caracteriza o ser humano, pois ela está vinculada diretamente à emoção, o pensar e o sentir, é a unidade na diversidade, podendo então contribuir com a formação de uma Ecologia Humana, para além do antropocentrismo, ou seja, constituindo uma relação amorosa entre a humanidade e a natureza.  

A emoção encontra seu espaço, não para negar a razão, mas para emprestar-lhe perspectivas muito mais abrangentes, permitindo ver mais distante, além das fronteiras estabelecidas pelos entes, num nível de complexidade impossível de ser compreendido pela analítica. (OLIVEIRA, 2007, p.97)

           

            Aliado a educação ambiental dialógica está a ecopráxis, esta instaura um novo modo de pensar-agir, fundamentado na práxis freiriana e na perspectiva Eco-Relacional de Figueiredo (2003). A ecopráxis consiste em uma práxis transformadora e crítica que leva em conta as relações entre a natureza e a sociedade, pautada no respeito mútuo e tratando a natureza como um componente humano. Portanto o ser humano pensa sobre si mesmo e age sobre si mesmo quando degrada a natureza.

A ecopráxis dialógica inicia-se com o Diálogo, elemento indispensável e mobilizador de todo o processo educativo. Em seguida, objetiva-se a expectativa de cada participante do processo que visa a constituir uma teia representacional – nela, situações-problemas locais são codificadas por meio de múltiplas linguagens, tais como as músicas, imagens e/ou depoimentos, enfocando tensões do cotidiano. (FIGUEIREDO, 2003, p.71)

 

 

            Concordamos que a ecopráxis é necessária a efetivação da educação ambiental como um elemento vivificador, que reconhece a necessidade da formação de uma ecologia humana libertada do pensamento ortodoxo e hegemônico. A educação ambiental deve estar situada no plano da libertação dos corpos e mentes, se configurando como um instrumento político, democrático e relacional, capaz de promover a união da humanidade, isto de forma integrada, humanidade-natureza.

 

Considerações Finais

 

            As diferenças não são barreiras e sim riquezas, neste sentido é preciso saber aprender com os novos olhares, o medo de errar muitas vezes nos impossibilita de criar e de expor a beleza que se esconde por traz da natureza humana. O fazer ciência não deve se limitar aos muros da universidade, a ciência é inerente ao homem e a mulher, ela deve libertar e não aprisionar.

            O modelo fragmentador presente na ciência tradicional é um trunfo do cartesianismo, esse modelo tem se alastrado e atingido a Educação Ambiental, embora existam profissionais que discutem em perspectiva humana, para além da sociabilidade capitalista. Entendemos assim que há formação de novos valores comprometidos com o ideal de sociedade sustentável. A pesar de saber que a conjuntura política tem travado um embate com a execução das políticas públicas, não podemos deixar de sonhar, pois o sonho nos impulsiona e revigora as nossas forças para a luta.

            A Educação Ambiental no Brasil tem crescido nos debates efervescentes e tem encontrado inimigos, ela tem mexido com o pensamento de diversas pessoas, que amam a natureza e reconhecem nela. Acreditamos que a Perspectiva Eco-Relacional contribuiu para a formação da consciência ambiental e principalmente com a educação ambiental libertária.

            Segundo Figueiredo (2003, p.258), Freire acontece em nossos corações, florescendo o prazer de encontrar a riqueza do saber popular, da cultura residualmente oral, expressa em sua plenitude de vida, de ‘saber de experiência feito’, de metáforas, de causos do mundo vivido. É por este pensamento que esse trabalho foi conduzido, se corporificando em uma discussão crítica e humana. Sabemos que o importante não é ter vários paradigmas, cujos se tornam elementos de disputa na academia, mas uma visão que unifique o humano no humano e apóie a ecopráxis. Esperamos poder contribuir com o diálogo acerca da Educação Ambiental, reconhecemos que tem muita luta pela frente, mas procuremos lutar juntos.

 

Referências

 

FIGUEIREDO, João Batista Albuquerque. O Tao Ecocêntrico – em busca de uma práxis ecológica. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 1999. Dissertação (Mestrado).

________________. Educação Ambiental dialógica e representações sociais da água em cultura sertaneja nordestina: uma contribuição à consciência ambiental em Irauçuba – CE (Brasil). São Carlos: UFSCar, 2003. Tese (Doutorado)

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996.

 

____________ .Pedagogia da indignação: Cartas Pedagógicas e Outros Escritos. São Paulo, SP: Ed. Unesp, 2000.

 

 

OLIVEIRA, José Arnóbio Albuquerque. As contribuições de Paramahansa Yogananda à Educação Ambiental Holística: superando a fragmentação do pensamento do sujeito na ação ambientalista. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2007. Dissertação (Mestrado).

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos