Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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A
Educação Ambiental nos Espaços Formais de Ensino: Brinquedoteca
Virtual como instrumento para Capacitação de Professores. Angela Barros Fonseca Berto Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente
– UNIPLI. Professora dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA - Endereço
para correspondência: Rua Nossa Senhora da Conceição, 8 - Parque Fazendinha.
CEP:28027-260 Fones: 22 27246840 - 22 98297553. Campos dos Goytacazes/RJ -
Brasil. angela.berto@ibest.com.br
Sandra Lúcia de Souza Pinto Cribb (orientadora
da pesquisa) Doutora em Engenharia de Produção - UFRJ.
Professora do Centro Universitário Plínio Leite - Niterói/RJ - Endereço
para correspondência: Estrada do Monteiro, nº 545, bloco 01, apto. 302. - Campo Grande/RJ CEP:
23045-830.
Brasil. sandralucribb@yahoo.com.br RESUMO Este
estudo versa sobre a importância de se criar espaços alternativos e democráticos
para a inclusão da Educação Ambiental na formação dos professores. A questão
central é motivar professores para o uso de brinquedos pedagógicos feitos a
partir de material reaproveitável e, ao mesmo tempo, introduzi-los nas questões
da Educação Ambiental. A pesquisa aprofunda as idéias de Kishimoto (2006) com
relação à importância do brincar e de Lévy (2001) quanto ao uso das novas
tecnologias, em especial a da internet,
como ferramenta de trabalho didático e de formação continuada de professores.
A organização metodológica utiliza a pesquisa participante, através da
entrevista com grupo focal composto de 11 professores que atuam em Creches e
Escolas da rede municipal de ensino de Campos dos Goytacazes. Para organizar os
dados e fazer a análise utilizamos o “Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC)
de Lefèvre (2005). Verificou-se que, embora haja projetos desenvolvidos em
Educação Ambiental voltados para a formação de professores, eles ainda não
enfocam o reaproveitamento de materiais para a construção de brinquedos nem
apresentam uma ferramenta de acesso a estes recursos para os professores. A idéia
da construção de uma Brinquedoteca Virtual (“Sucatoteca”)
poderá contribuir, não só para suprir a carência de brinquedos nas escolas
como também para promover o acesso dos professores a um ambiente interativo
voltado para a Educação Ambiental. Palavras-chave:
brinquedoteca virtual – internet
– Educação Ambiental I.
Introdução
Brincar faz parte da história do homem, sua forma de estar no mundo
social e físico e de interagir com ele. É porta pela qual a criança entra em
contato com as pessoas e com as coisas, instrumento para a construção coletiva
do conhecimento. É uma atividade psicológica de grande complexidade; atividade
lúdica que desencadeia o uso da imaginação criadora pela impossibilidade de
satisfação imediata de desejos por parte da criança. O ato de brincar
enriquece a identidade da criança porque ela experimenta outra forma de ser e
de pensar; amplia suas concepções sobre as coisas e as pessoas e a faz
desempenhar vários papéis sociais ao representar diferentes personagens.
A primeira idéia de uma brinquedoteca surgiu em Los Angeles, em 1934,
para evitar os furtos de brinquedos por crianças numa escola próxima da
escola. O espaço foi montado, e os brinquedos do acervo passaram a ser
emprestados. Em 1963, em Estocolmo, na Suécia, surgiu a primeira ludoteca, com
o objetivo de orientar os pais de crianças portadoras de necessidades especiais
a estimularem a aprendizagem com brinquedos. Em 1967, na Inglaterra, surgiram as
Toy Libraries ou bibliotecas de brinquedos.
No Brasil, a montagem dos primeiros espaços para brinquedoteca começou
com a ludoteca da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em
1973, que funcionava sob a forma de rodízio de brinquedos entre as crianças.
Com o acervo precário, as crianças levavam o brinquedo para casa por empréstimo
por um tempo determinado. Um novo encontro era marcado, e os brinquedos eram
novamente trocados. A primeira brinquedoteca brasileira oficial foi criada em
1981, em São Paulo, com uma combinação dos objetivos das primeiras Toy
Libraries, que era o empréstimo de brinquedos, aliado a uma filosofia
fundamentada no ato de brincar e na brincadeira em atendimento às necessidades
da criança. Em 1984, foi criada a Associação Brasileira de Brinquedoteca, que
existe até hoje e que atua na divulgação, incentivo e orientação de pessoas
e instituições e na formação de profissionais brinquedistas. (BALTHAZAR,
2006) Com a difusão rápida
das brinquedotecas, houve uma diversificação na dinâmica de funcionamento e,
embora os objetivos continuassem sendo a criação de espaços para brincar,
atualmente existem diferentes tipos de brinquedoteca, como as escolares, as de
bairro, as de hospitais e clínicas e as de universidades, agregadas às
bibliotecas temporárias e no sistema de rodízio. Conforme Santos (1995), as
brinquedotecas classificam-se em função de diferentes fatores, entre eles, a
situação geográfica, as tradições e as culturas de cada povo, o sistema
educacional, os materiais e espaços disponíveis, os valores, as crenças e os
serviços prestados; entretanto, independente de cada tipo, é sempre preservado
o aspecto lúdico como fator primordial que assegura o direito da criança de
brincar. As brinquedotecas
escolares geralmente são implantadas em instituições de Educação Infantil.
No entanto, o atendimento, na maioria das vezes, é limitado à clientela
institucionalizada para suprir as necessidades de material pedagógico.
Caracterizam-se pela montagem de um acervo, geralmente, na própria sala de aula
como espaço para brincar. Quando o acervo de brinquedos fica localizado numa
sala separada, o material é trazido para a sala de aula e, ao final, retorna ao
acervo. Já as brinquedotecas de hospitais e clínicas existem para dar suporte
ao tratamento medicamentoso, estimulando a brincadeira como forma de amenizar os
traumas de internação ou como terapia. Existem, ainda, as brinquedotecas sem
local fixo, circulantes, também chamadas de ambulantes, móveis ou itinerantes.
Podem ser adaptadas a um ônibus ou instaladas junto aos circos. A finalidade é
levar a brinquedoteca a diferentes lugares, variando o tempo em cada local,
dependendo de cada situação. Conforme Santos
(1995), a brinquedoteca é uma nova instituição que nasceu neste século para
garantir à criança um espaço destinado a facilitar o ato de brincar num
ambiente previamente preparado, agradável, alegre e colorido, onde mais
importante que a diversidade dos brinquedos é a ludicidade que eles
proporcionam. A brinquedoteca é um
lugar onde se aprende a brincar com os brinquedos feitos de sucata, reaproveitáveis
ou artesanais. Os brinquedos artesanais são influenciados pelo meio
sociocultural e os brinquedos feitos de sucata são facilitadores nos projetos
de trabalho voltados à preservação do meio ambiente e ao resgate cultural dos
brinquedos e brincadeiras. Os
brinquedos pedagógicos são subsídios para o processo de ensino-aprendizagem
e, por terem caráter lúdico, proporcionam atividades educacionais mais
criativas e motivadoras às crianças. Nos
últimos anos, nota-se uma tendência mundial em aproveitar cada vez mais os
produtos jogados no lixo para fabricação de novos objetos, através dos
processos de reciclagem, o que representa economia de matéria-prima e de
energia fornecidas pela natureza. Assim, o conceito de lixo tende a ser
modificado, podendo ser entendido como coisas que podem ser úteis e aproveitáveis
pelo homem. É
importante ressaltar que utilizamos, nesta pesquisa, o termo
“reaproveitamento” já que estamos abordando a reutilização de materiais
para a confecção de materiais pedagógicos e, dentro dessa vertente, não há
necessidade que tais materiais retornem ao processo de fabricação (indústria)
como acontece na reciclagem. O processo de reciclagem consiste em processar
determinados produtos novamente. Assim, estes materiais podem voltar para as indústrias
como matéria-prima para a fabricação de novos produtos. O reaproveitamento de
materiais é indispensável quando se pensa em diminuir a quantidade de lixo. É
importante criar o hábito de doar roupas, brinquedos, móveis, livros, garrafas
e outros objetos para que outras pessoas possam utilizá-los. Aproveitar
garrafas e outras embalagens para fazer brinquedos, guardar alimentos, dentre
outros. A utilização de sucata/material reciclável
para fabricação de brinquedos, possibilita aos alunos uma aprendizagem por
meio do desenvolvimento de um processo criativo e também pela utilização
deste brinquedo pela criança, como um recurso concreto. A formação de professores em Educação Ambiental poderia trabalhar com a
idéia de reaproveitamento na confecção de brinquedos, com este tipo de
material, promovendo assim uma maior concientização e, ao mesmo tempo, dotaria
o professor de ferramentas importantes para facilitar seu trabalho pedagógico.
A utilização de material reaproveitado reduz o custo dos brinquedos permitindo
que os mesmos possam ser reproduzidos em escolas que não possuam recursos
financeiros. Para tanto, partimos da hipótese de que o espaço virtual pode ser uma
ferramenta bastante útil no que diz respeito a esta questão ao disponibilizar
para todos o acesso às informações em tempo real. A cada ano mais e mais pessoas estão conectadas à rede
mundial de computadores. O espaço virtual nos
permite refletir sobre o computador como um instrumento mediador no processo de
produção do conhecimento. Estamos
saindo de uma formação institucionalizada (escola, universidade) para uma
situação de troca generalizada de saberes, (...) para chegar a essa cultura
planetária, a escola precisa assumir um papel fundamental: criar modelos de
aprendizagem em que o professor seja um “animador da inteligência coletiva”
do grupo de alunos e não mais um fornecedor de conhecimentos. (Lévy,1999) Esta tarefa não
cabe só aos professores, mas a toda a sociedade porque a velocidade da
aprendizagem possibilita-nos adquirir conhecimentos rapidamente. Faz-se necessário
o acesso à virtualização a fim de entendermos as informações, objetivando
atuar com segurança na mudança da escola, do futuro professor e do aluno,
interligando tecnologia a processo educativo. Com a ampliação
da Informatização no ensino das escolas municipais de Campos de Goytacazes
nosso interesse por trabalhar com o espaço virtual tornou-se cada vez maior.
Como ainda não havia e não há uma “Brinquedoteca Virtual” voltada para o
reaproveitamento de materiais na construção de brinquedos pedagógicos,
optamos por direcionar nossos esforços neste sentido. II.
Metodologia Em
nossa pesquisa priorizamos a metodologia qualitativa
porque ela possibilita trabalhar a relação observador/observado, os elementos
simbólicos e as representações sociais favorecendo a compreensão dos valores
e práticas presentes na realidade. Por meio da entrevista com o grupo focal
selecionado foi possível observar, registrar, analisar interações entre as
pessoas e vivências dos professores nas escolas municipais de Campos dos
Goytacazes. A
entrevista em grupo focal possibilitou a compreensão da realidade vivida pelos
participantes, mediante interpretação de dados, em profundidade e
detalhadamente, detectando comportamentos sociais e práticas cotidianas
(HABERMAS, 1992 apud BAUER; GASKELL, 2003). Foram feitas gravações
da entrevista com os sujeitos da pesquisa (grupo focal) e as falas destas gravações
transcritas na íntegra como forma de expressão das opiniões dos
participantes. Gravuras, sucata, DVD e fotografias foram utilizados como meios
estimuladores do diálogo. Para
tabular os dados e fazer a análise dos mesmos utilizamos a metodologia sobre
“Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC), uma proposta de Lefèvre (2005).
Segundo ele, quando se busca resgatar o pensamento de uma coletividade sobre um
tema, é preciso considerar que o pensamento e/ou opinião dos indivíduos só
podem ser vistos como depoimento discursivo, manifestação lingüística de um
posicionamento sobre um tema, seus conteúdos e argumentos. III.
Resultados e Discussão As
falas[i]
gravadas, referentes à entrevista com o grupo focal, foram analisadas dentro de
uma abordagem qualitativa e, para isso, utilizou-se a metodologia do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC). A confecção dos discursos se dá pela junção de
fragmentos das respostas dos entrevistados, que são expressões-chave, e se
constituem do que é essencial, dentro de uma determinada idéia central, em
torno da qual será elaborado um discurso (LEFÈVRE; LEFÉVRE, 2005). O
DSC descreve e expressa uma determinada opinião ou posicionamento sobre um
tema. Assim, transcrevemos as falas para os quadros, identificando e marcando
cada uma das respostas, com uma cor determinada: as idéias centrais retiradas
das expressões-chave (de amarelo) e, quando há, com outra cor (azul), as
expressões-chave das ancoragens. Em
nossa pesquisa, selecionamos as seguintes categorias (não pré-determinadas),
mas extraídas das falas do grupo focal: A
- O trabalho coletivo na escola B - A existência de brinquedos na escola C - A
satisfação pela profissão D - O conceito de Educação E -
O conceito de Meio Ambiente F - Os brinquedos de sucata G - A capacitação
de professores. Esse
processo pode ser visualizado em tabelas que nos permitiram categorizar
segmentos de falas e elaborar, posteriormente, o DSC do grupo entrevistado. Os
quadros se constituem de “operadores”: expressões-chave[ii],
idéias centrais[iii], ancoragem[iv]
e, por fim, o DSC[v]. Exemplo
de Discurso Coletivo das professoras. Categoria
analisada: EXISTÊNCIA
DE BRINQUEDOS NA ESCOLA
Neste
discurso, comprovamos a tese inicial desta pesquisa: a ausência, quase que
total, de brinquedos pedagógicos nas escolas municipais de Campos dos
Goytacazes/RJ, segundo o discurso das professoras - “Os
brinquedos que existem, compro ou confecciono. Não temos materiais e brinquedos
suficientes nas escolas”. A
Educação Ambiental possui uma perspectiva interdisciplinar que é, atualmente,
necessidade na educação tendo em vista tantos problemas ambientais que
assistimos diariamente. Os brinquedos pedagógicos são subsídios durante o
processo de ensino-aprendizagem e, por terem caráter lúdico, favorecem
atividades educacionais mais criativas e motivadoras (tanto para o professor
quanto para o aluno). Acreditamos,
assim como Kishimoto (2006) que o professor precisa adotar, em sua prática,
propostas e ferramentas que possibilitem o preenchimento de lacunas deixadas no
processo de construção do conhecimento pelo aluno. E os brinquedos pedagógicos
são importantes nesta construção. As
professoras entrevistadas responderam que não existem muitos e variados
brinquedos na escola, mas que, apesar disso, elas confeccionam (na maioria das
vezes com sucata) e/ou compram quando é possível. Segundo Nóvoa (1992), se a
estrutura física e material revela valores assumidos pela organização
escolar, pode-se inferir que a função simbólica, a criatividade e a socialização
da criança são pouco relevantes nas escolas nas quais as professoras
entrevistadas atuam, dada a quase
que inexistência de brinquedos no acervo das unidades. O
espaço do brincar, no contexto da Educação Infantil, necessita de um projeto
pedagógico nas escolas que possibilite espaços e ferramentas necessários à
educação da criança pequena. Conforme
já pontuamos nesta dissertação, a atividade lúdica tem sido considerada
importante elemento importante do desenvolvimento infantil e o brinquedo tem se
tornado centro de interesse dos educadores. Vygotsky
(1984) indica a relevância de brinquedos e brincadeiras como indispensáveis
para a criação da situação imaginária, salientando que “... o imaginário
só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam”.
Dispor de tais imagens é fundamental para instrumentalizar a criança para a
construção do conhecimento e sua socialização. Abrir o espaço para que
criança receba outros elementos da cultura, que não a escolarizada, é muito
importante para que beneficie e enriqueça o seu repertório imaginativo. Os
pressupostos de Vygotsky (idem) que “a cultura forma a inteligência e a
brincadeira favorece a criação de situações imaginárias e reorganiza experiências
vividas”, são também caminhos que abrem as portas para a entrada da cultura
e condiciona o saber a um fazer. Aprendizado esse que começa com brincadeiras
em que se aprende a criar significações, a comunicar-se com outros, a tomar
decisões, decodificar regras, expressar a linguagem e socializar. Quando
partilhamos com a criança a reinvenção de um brinquedo, estamos também
levando-a a descobrir o encanto nas coisas simples e reaproveitáveis. A criação
de brinquedos com sucata é uma proposta de mudança na forma de ver as coisas.
O ato de criar brinquedos com estes materiais permite à criança descobrir as
diferentes propriedades e características do lixo.
Nesta perspectiva, os brinquedos de sucata, e a construção destes pelas
crianças, têm sido valorizados, pois articula o lúdico e a relação
diferenciada com materiais reaproveitáveis e com o ambiente, na medida em que
contribui para o desenvolvimento da consciência ambiental. O
DSC das professoras evidencia também que meio ambiente é visto como “a
nossa casa”, “o lugar onde vivemos”.
Segundo Capra (1989), essa mudança na imagem da natureza e, conseqüentemente,
na imagem de meio ambiente, conduz a uma atitude mais ecológica. Imagens de
natureza enquanto mãe provedora, ou como criação de Deus, serviam como uma
espécie de “freio cultural” na Grécia antiga. Estavam na base de uma
atitude de reverência diante da natureza que limitava as intervenções do
homem e o distanciava de sua “casa”. Em
contrapartida, a partir da revolução científica (século XV), a natureza se
transformou em objeto da ciência, sendo vítima de exploração e manipulação
sem precedentes. Pelo que
observamos nos DSC das professoras, o homem é apontado como o responsável
pelos danos causados ao meio ambiente - “As
próprias pessoas estão destruindo o meio ambiente. Por falta de informação e
por não terem sido educadas para tal exercício.” Considerar-se inserido
no meio ambiente significa superar visões parciais e especializadas,
compreendendo as complexas interações entre os processos políticos, econômicos,
sociais e culturais que geram esses problemas, tal como nos aponta Reigota
(1994). Tal questão é desconsiderado no DSC das professoras. Durante
a entrevista, as professoras responderam que realizam algumas atividades
voltadas para a Educação Ambiental, tais como: ensinar aos alunos o cuidado
que se deve ter com o lixo e as plantas, não poluir o ambiente, rios e mares, não
riscar as cadeiras, mesas e paredes da escola, cuidar dos animais, trabalho com
rótulos de embalagens, importância da reciclagem. Essa prática realizada em
sala de aula reforça a idéia de Oliveira (2000) que considera que o desafio da
temática ambiental nos currículos escolares deve procurar abordar as questões
ambientais em sua totalidade, evitando enfoques de temas isolados, mesmo que
relevantes. Analisando
o DSC das professoras no que se refere ao uso de brinquedos de sucata na escola,
percebemos o quanto este tipo de recurso é valorizado pelas crianças -
“Os brinquedos de sucata são os
preferidos das crianças porque elas participam da confecção”. As crianças
encontram divertimento no manusear os materiais, buscando novas composições
para as peças disponíveis. Pautam-se, na maioria das vezes, segundo as
professoras, pelo desejo de ter um resultado imediato, ao invés de investirem
num brinquedo mais elaborado. Uma
professora ressaltou que o reaproveitamento valoriza a criatividade, a cooperação.
Considerando a criança como um sujeito social e histórico,
integrante de um ambiente sócio-cultural e como ser integral, dotada das dimensões
afetiva, intelectual, física, moral e social e em processo de desenvolvimento,
a criança é um sujeito ativo da construção de seu conhecimento e nesse
processo de desenvolvimento ela se utiliza das mais diferentes linguagens, num
trabalho de criação, significação e ressignificação da realidade.
Construir brinquedos de sucata promove a autonomia e a criatividade. Como já
dissemos nesta dissertação, os brinquedos são portadores de cultura. Segundo
o DSC das professoras, é mais importante, para as
crianças, construir do que pegar o brinquedo pronto para usar. - “Os
alunos destroem os brinquedos prontos mais rápido que os de sucata porque estes
eles ajudaram a construir. Eles adoram montar os próprios brinquedos”. - A
criança, ao construir, necessariamente, tem que pensar, refletir e interagir
com o grupo e com o meio, estimulando assim, sua imaginação e sua
criatividade. É por meio das brincadeiras que a criança percebe e interage com
o mundo que a cerca. É no brincar que a criança atinge a sua autonomia e
constrói hipóteses sobre o conhecimento. 3.1.
SUCATOTECA: a brinquedoteca virtual
Com a ampliação
da Informatização no ensino das escolas municipais de Campos, nosso interesse
por trabalhar com o espaço virtual tornou-se cada vez maior. Como ainda não
havia e não há uma “Brinquedoteca Virtual” voltada para o reaproveitamento
de materiais na construção de brinquedos pedagógicos, optamos por voltar
nossos esforços nesta direção. Assim
a “Sucatoteca[vi]”
é, ao mesmo tempo, o “produto” final de uma dissertação de Mestrado
Profissional[vii]
e mais que isto, instrumento de formação e capacitação contínua dos
professores municipais de Campos dos Goytacazes, além de ser a primeira
brinquedoteca virtual brasileira voltada para um trabalho em Educação
Ambiental. A “Sucatoteca” é um espaço que reúne muitas possibilidades e
potencialidades para desenvolver trabalhos sérios e relevantes para as crianças
através da brincadeira e funciona como um meio de virtualizar os brinquedos
construídos durante as aulas a partir de material reaproveitado. IV.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Se
o cotidiano das escolas infantis carece de brinquedos e materiais pedagógicos,
cabe questionar não só a ausência desses materiais, mas se os cursos de formação
inicial e continuada têm incluído em seus currículos a temática do
reaproveitamento e da Educação Ambiental como parte da formação
profissional. Dar subsídios para que as crianças
desenvolvam seu grande potencial na descoberta do mundo, através da manipulação
de brinquedos e de objetos desafiadores, é favorecer o estímulo à
criatividade e a vivência de etapas fundamentais no processo de
ensino-aprendizagem. O que se propõe é uma práxis educativa e social
que visualize a construção de valores, conceitos e atitudes para a formação
de uma consciência individual e coletiva de como conciliar o consumo dos
recursos com a preservação e sustentabilidade. Parece
evidente que uma das chaves para o desenvolvimento da Educação Ambiental está
na formação de educadores. Entretanto, um dos desafios mais difíceis desta
formação é a de que, devido à natureza transversal da Educação Ambiental,
todo o professorado é afetado. A formação e a capacitação de docentes para
a Educação Ambiental é, na atualidade, objetivo reconhecido e inclusive
prioritário de muitas administrações educativas assim como de numerosas
instituições e organismos, oficiais ou não, sensíveis a esta necessidade.
Trata-se de uma tarefa complexa que não pode ser abordada sem contextualizá-la
aos problemas gerais do sistema educativo, nas
políticas de desenho de currículos e nas específicas características da
Educação Ambiental. O
entrelaçamento da EA com os mais diversos ramos do saber torna-se cada vez mais
urgente. A necessidade e urgência deste tipo de formação têm sido alvo,
desde há muito anos, às distintas administrações educativas, bem como de
diversas instituições internacionais. Isto se deve, com certeza, a crescente
consciência da problemática do meio ambiente e a constatação de que desde o
sistema educativo podem ser estabelecidas respostas ao desafio de solucionar tal
problemática de forma eficiente. Isto tem levado, desde há décadas, a introdução
da EA e a conseguinte necessidade de formação do professorado. Faz-se
necessário colocar em prática ações consideradas saudáveis, procurando
incorporá-las no cotidiano da escola e da família do aluno, no sentido de
promover mudanças significativas de conduta, com vistas à formação de indivíduos
capazes de agir, individual e coletivamente, na busca por um ambiente mais
equilibrado, entendendo os processos naturais e sociais que influenciam na
qualidade ambiental. O
ser humano precisa modificar o quadro de insustentabilidade existente no
planeta. Para tanto, será necessário buscar um novo estilo de vida baseado
numa ética global que resgate e crie novos valores e hábitos de consumo. Para
Reigota (2002), a sociedade como um todo é responsável pela preservação do
meio ambiente, então, é preciso agir da melhor maneira possível para não
modificá-lo de forma negativa, pois isso terá conseqüências para a qualidade
de vida da atual e das futuras gerações. No momento em que conseguirmos
sensibilizar a nós mesmos, bem como as nossas crianças, para essa consciência
de responsabilidade pela gestão da qualidade ambiental, pela geração de resíduos,
pela preservação dos recursos naturais do planeta, talvez possamos começar a
construção de uma nova época, que possa reverter o quadro crítico que
vivemos e contrariar as caóticas estimativas futuras, ajudando a garantir às
gerações que nos seguem, a sobrevivência em um ambiente um pouco mais justo,
próspero e limpo. É extremamente importante aliar a preservação dos recursos
naturais e determinadas espécies animais e vegetais às questões econômicas e
culturais entre a humanidade e a natureza e entre os homens, fazendo-nos
entender a educação ambiental como formadora de cidadania nacional e planetária,
fundamentando as relações sociais e com a natureza na ética, portanto, uma
educação ambiental como educação política (REIGOTA, 1994:10). A
presença da Educação Ambiental não só
nos currículos escolares, mas, principalmente, nas práticas educativas é
fundamental para que as pessoas compreendam melhor como funciona o ambiente no
qual estão inseridas. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS BALTHAZAR,
Maria da Paz Nunes Costa. FISCHER, Julianne. A Brinquedoteca numa visão educacional moderna. Revista de
divulgação técnico-científica do ICPG Vol. 3 n. 9 - jul.-dez./2006 ISSN
1807-2836. BAUER,
M. W.; GASKELL, G. (Orgs..) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e
som: um manual prático.
Tradução: Pedrinho A. Guareschi. 2.ed. Petrópolis/ RJ: Vozes, 2003. CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1989. KISHIMOTO,
Tizuko Morchida. Jogo, brincadeira e a educação. 9.ed. São Paulo: Cortez 2006. LEFÈVRE,
F.; LEFÈVRE, A. M. O
discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa. 2.ed. Caxias do Sul/RS: EDUCS, 2005. LÉVY,
P. Cibercultura.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1999. NÓVOA,
A. Os professores e a sua formação.
Lisboa: Dom Quixote, 1992. OLIVEIRA, E. M. Educação
Ambiental: uma possível abordagem. 2.ed. Brasília: IBAMA, 2000. REIGOTA,
M. Meio
Ambiente e representação social.
5.ed. São Paulo: Cortez, 2002. ____________.
O que é Educação Ambiental.
São Paulo: Brasiliense, 1994. SANTOS, Santa Marli Pires. Brinquedoteca:
sucata vira brinquedo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. VYGOTSKY, L. S. A
formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. [i]
As falas das professoras foram bastante objetivas, o que justifica a concisão
da respostas. Nem todas se manifestaram, verbalmente, durante todos os
momentos da entrevista. Várias acenavam que estavam concordando com a fala
da colega de grupo. [ii]
Expressões-chave:
trechos selecionados dos depoimentos que melhor descrevem seu conteúdo. [iii]
Idéias
centrais: fórmulas sintéticas que descrevem os sentidos presentes
nos depoimentos década resposta e também nos conjuntos de respostas de
diferentes indivíduos que apresentam sentido semelhante ou complementar. [iv]
Ancoragem:
fórmulas sintéticas que descrevem valores, crenças, presentes no material
verbal das respostas, sob a forma de afirmações genéricas destinadas a
enquadrar situações particulares. As
ancoragens, diferentemente as idéias centrais, que estão sempre presentes
nos depoimentos, só são consideradas, na metodologia do DSC, quando
estiverem concreta e explicitamente presentes nesses depoimentos, o que nem
sempre acontece. (LEFÈVRE; LEFÉVRE, 2005). [v]
DSC
(Discurso do Sujeito Coletivo): é a reunião das expressões-chave
presentes nos depoimentos que têm idéias centrais ou ancoragens de sentido
semelhante ou complementar. Essas expressões-chave de sentido semelhante
foram depoimentos coletivos, na pessoa de um só Sujeito Coletivo de
discurso (LEFÈVRE; LEFÉVRE, 2005). [vi]
Disponível no endereço: www.sucatoteca.hd1.com.br [vii]
Dissertação do Mestrado Profissional em Ciências da Saúde e do Ambiente
do Centro Universitário Plínio Leite, localizado em Niterói, Rio de
Janeiro. |