Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
08/12/2007 (Nº 22) COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM CAMPI UNIVERSITÁRIO: UMA MISTURA DE CESTOS, SACOS COLORIDOS, SUCESSO E FRACASSO
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=537 
  
Educação Ambiental em Ação 22

COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM CAMPI UNIVERSITÁRIO: UMA MISTURA DE CESTOS, SACOS COLORIDOS, SUCESSO E FRACASSO

 

 

Daniela Franco Carvalho Jacobucci1

Giuliano Buzá Jacobucci2

 

1 Doutora em Educação, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP/Grupo Formar-Ciências, CEP: 13083-865 - Campinas - SP - Brasil, danielafcj@yahoo.com.br

 

2 Doutor em Ecologia, Universidade Federal de Uberlândia - UFU/Instituto de Biologia, CEP: 38400-902 - Uberlândia - MG - Brasil,

jacobucci@inbio.ufu.br

 

 

Resumo

A temática dos resíduos sólidos está presente na mídia desde o início da década de 1990 e tem sido alvo de diversas pesquisas em nível de mestrado e doutorado. No entanto, poucos estudos têm sido realizados no âmbito da implantação de sistemas de coleta seletiva de resíduos sólidos em ambientes universitários. No intuito de contribuir para o aporte de conhecimentos na temática da coleta seletiva de resíduos em um Centro Universitário, elaboramos o presente artigo. A pesquisa se configurou como um estudo de caso, utilizando-se a observação participante para a coleta dos dados. O objetivo do trabalho consistiu em descrever criticamente as etapas de implantação de um projeto de coleta seletiva de recicláveis e discutir aspectos determinantes do sucesso ou do fracasso da proposta. Projetos de coleta seletiva idealizados e desenvolvidos na perspectiva técnica-administrativa não conseguem sensibilizar os envolvidos para a garantia de uma separação adequada dos materiais recicláveis, pois se fundamentam apenas na transferência de informações. Por outro lado, projetos que se constituam como programas de Educação Ambiental, numa perspectiva crítica e de participação coletiva poderão se mostrar como alternativas viáveis para a mitigação dos problemas ambientais gerados nos campi universitários.

Palavras-chave: coleta seletiva, resíduos sólidos, educação ambiental, universidade

 

 

Coleta Seletiva em Ambiente Universitário

Embora o tema da coleta seletiva de resíduos sólidos já tenha sido abordado de forma ampla por diversos autores nos últimos 15 anos, após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, ainda hoje é uma questão em debate e foco principal de diversos projetos considerados de Educação Ambiental.

Para Cunha e Caixeta Filho (2002), muitas vezes, o lixo é tratado com a mesma indiferença da época das cavernas, quando não era verdadeiramente um problema, seja pela menor quantidade gerada, seja pela maior facilidade da natureza em reciclá-lo. Entretanto, em tempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, além de provocar gastos financeiros significativos, pode provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem-estar da população. Por esse motivo, o interesse em estudar resíduos sólidos tem se mostrado crescente.

Dentre as muitas opções técnicas desenvolvidas nos últimos anos, a coleta seletiva tem se mostrado como uma alternativa viável e econômica para o gerenciamento de resíduos sólidos pois, através da conscientização dos indivíduos envolvidos, permite a seleção e o encaminhamento de diferentes materiais ao processo de reciclagem (JARDIM e WELLS, 1995).

Na maioria dos trabalhos sobre implantação de coleta seletiva é evidenciada a necessidade de sensibilização/conscientização/mobilização das pessoas envolvidas nos projetos, possibilidade de venda dos materiais reciclados obtidos e inclusão social com geração de renda. Como a participação dos envolvidos é imprescindível para o desenvolvimento de um projeto de coleta seletiva de resíduos, muitas pesquisas em Educação Ambiental buscam compreender o comportamento dos indivíduos frente às questões ambientais e os condicionantes sócio-culturais que impulsionam a participação efetiva na separação correta dos materiais recicláveis. Os pesquisadores Corral-Verdugo e Pinheiro (1999), Oliveira (2006), Ruscheinsky (2006) e Torres (2007) fazem um aprofundamento dessa temática.

Dois conceitos têm sido utilizados para descrever a sensibilização dos indivíduos em relação aos problemas ambientais: o princípio da participação e o comportamento ecológico.

O princípio da participação considera a importância de ações ambientais de caráter individual ou coletivo para a consecução do objetivo comum: a preservação e a conservação do meio ambiente. As pessoas tanto podem cooperar isoladamente, não praticando atividades danosas ao meio ambiente, fazendo a separação do lixo orgânico do não orgânico, não desperdiçando água e os demais recursos naturais; ou em conjunto, desenvolvendo mutirões de reciclagem, coleta de lixo, participando da associação do bairro que, dentre outros interesses, deve lutar contra a ocorrência de agressões ambientais no âmbito do seu território, etc. (BRASIL, 2004).

A denominação comportamento ecológico é utilizada no sentido positivo, significando o mesmo que pró-ecológico, ou seja, um agir em favor do meio ambiente. Essa ação pode ser consciente e intencional ou não, podendo ter sido aprendida e internalizada e fazer parte do cotidiano das pessoas (PATO e TAMAYO, 2006).

Para Aragonès e Amèrigo (1998) os programas de Educação Ambiental deveriam objetivar o entendimento da dinâmica ambiental e seus problemas; promover um compromisso do indivíduo com a situação na qual ele está inserido; e proporcionar comportamentos ambientalmente corretos para a modificação das atividades danosas ao meio ambiente.

Justamente por se tratar de um instrumento de gestão, que possibilita congregar ao redor do tema lixo conceitos teóricos sobre a problemática sócio-ambiental e ações práticas de destinação dos resíduos, a coleta seletiva tem sido alvo de várias pesquisas e estudada sob inúmeras vertentes.

Em consulta ao Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no portal na Internet http://www.capes.gov.br/servicos/bancoteses.html, foi possível acessar dissertações e teses defendidas, a partir de 1987, em programas de pós-graduação no país que contém no título e/ou nas palavras-chave o termo ‘coleta seletiva de lixo/resíduos’. A busca resultou em 189 dissertações/teses no assunto, que abordam desde a caracterização de resíduos sólidos urbanos através de processos de coleta seletiva, até pesquisas de cunho social com catadores de material reciclável.

A implantação de coleta seletiva em municípios foi objeto de estudo de 81 dissertações/teses observadas. O mesmo tema foi analisado em hospitais (5 trabalhos), empresas (2 trabalhos), condomínios (2 trabalhos), escolas da Educação Básica (4 trabalhos) e em shopping centers (1 trabalho).

A descrição e a análise de programas de coleta seletiva em universidades foram abordadas em nove trabalhos, todos em nível de mestrado, com desenvolvimento em anos recentes, entre 2001 e 2006 (MEYER, 2001; SILVA, 2001; ARAÚJO, 2002; FERREIRA, 2003; BOTEGA, 2004; MAYER, 2004; DEL MÔNACO, 2005; GONZALES, 2006; SOTO, 2006).

Desse cenário, é possível destacar que a grande mobilização dos pesquisadores se dá em relação à coleta seletiva em áreas urbanas. Apesar de ser de domínio público que as escolas de Educação Básica freqüentemente realizam projetos de coleta seletiva de lixo como estratégia pedagógica, essas atividades não têm sido exploradas em programas de pós-graduação no Brasil.

Outro ponto para futuros debates é a avaliação de projetos de implantação e acompanhamento de coleta seletiva em ambientes universitários. Da mesma forma que ocorre para as escolas, é de conhecimento geral que muitas universidades públicas e privadas realizam coleta seletiva de resíduos, principalmente de papel, mas poucos trabalhos que enfocam esse tipo de ação. Há pesquisadores pensando, estudando e produzindo sobre coleta seletiva em municípios, mas uma parcela pequena desses foca suas pesquisas no que tem sido feito nos campi universitários.

No intuito de contribuir para o aporte de conhecimentos na temática da coleta seletiva de resíduos em um centro universitário, elaboramos o presente trabalho com o objetivo de descrever criticamente as etapas de implantação de um projeto dessa natureza e evidenciar pontos determinantes do sucesso ou do fracasso da proposta.

 

Metodologia da Pesquisa

O presente trabalho se caracteriza como uma pesquisa qualitativa do tipo observação participante, visto que os autores desse artigo vivenciaram a implantação do projeto e todas as suas fases no período estudado, e se constitui como um estudo de caso (LÜDKE e ANDRÉ, 1986; LAVILLE e DIONNE, 1999), definido por Megid Neto (2001) como um estudo que focaliza indivíduos ou organizações educacionais, utilizando preferencialmente técnicas e métodos característicos da abordagem qualitativa, e que considera um grande número de dimensões e variáveis a serem observadas e inter-relacionadas, para a descrição de uma realidade ampla.

O objeto de estudo dessa pesquisa foi o projeto de Coleta Seletiva de Resíduos do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, no período de 1999 a 2005.

A partir da descrição do projeto de coleta seletiva de resíduos sólidos em campi universitários, são evidenciadas e discutidas etapas bem sucedidas e outras que condicionaram situações sócio-ambientais desfavoráveis que derivaram em insucessos da proposta.

 

Descrição do Projeto

Em 1999, por influência dos debates acerca da problemática dos resíduos sólidos evidenciada na mídia, a autora desse artigo enquanto professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Fundação de Ensino Octávio Bastos propôs à diretoria, a separação dos materiais recicláveis gerados no campus II da instituição, onde funcionava o referido curso. Isso porque, gerava-se uma grande quantidade de resíduos plásticos pelo uso de copos descartáveis, resíduos de papel sulfite e papelão, e latas de alumínio pela venda de refrigerantes na cantina universitária.

Como a direção da Faculdade autorizou o desenvolvimento do projeto, a única empresa de reciclagem de resíduos da cidade foi contatada no sentido de se firmar uma parceria para a implantação da coleta seletiva no campus. Ficou acordado que os materiais recicláveis seriam coletados pela empresa, que se interessaria em comprar os resíduos se os mesmos já estivessem triados por tipo: papel, plástico e metais.

Dada essa condição, foram confeccionados cestos de coleta com identificação do tipo de material reciclável que deveria ser acondicionado em cada lixeira, com as cores de padronagem internacional de reciclagem e sacos coloridos correspondentes. Os sacos eram fornecidos pela própria empresa de reciclagem, que os fabricava com plástico reciclado. Foram utilizados quatro tipos de sacos: vermelho para plásticos, azul para papéis, amarelo para metais e preto para resíduos orgânicos. Não foram confeccionados cestos para coleta de vidros porque esse tipo de resíduo não era produzido no campus.

Os cestos com os sacos coloridos foram fixados em corredores e áreas externas do espaço universitário. No interior das salas de aula e dependências administrativas foram colocados sacos coloridos nos cestos comuns já existentes, de coloração preta, azul e vermelha, de acordo com a quantidade de disposição de um determinado resíduo por local.

No segundo semestre de 1999, foi implantado o projeto de coleta seletiva, com distribuição de panfletos informativos aos alunos, professores e funcionários, sobre reciclagem de lixo e os tipos de materiais recicláveis que deveriam ser acondicionados em cada cesto. Além disso, foi fixado um painel explicativo nos locais onde havia os conjuntos de cestos.

Os funcionários da área de limpeza da Faculdade retiravam diariamente os sacos dos cestos e os colocavam em uma caçamba de coleta fornecida pela empresa de reciclagem. Uma vez por semana, a caçamba era recolhida pela empresa, e os sacos eram separados por cor, pesados e os valores de mercado correspondente a cada tipo de resíduo eram pagos em função do peso. Os recursos obtidos com a venda dos resíduos eram reinvestidos no próprio projeto, para confecção de material informativo.

Com a expansão da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB) e a criação de novos cursos em 2001, o projeto de coleta seletiva foi ampliado para os dois campi universitários e a todos os setores acadêmicos, sob a coordenação do Curso de Ciências Biológicas. No entanto, em maio de 2001, foi organizado um projeto de reciclagem de lixo pela prefeitura de São João da Boa Vista, o Recicla São João. Nessa época, em função da quantidade de material reciclável que passou a ser produzida na cidade, a empresa de reciclagem rompeu a parceria com a Faculdade, e os resíduos coletados no campus passaram a ser destinados à coleta da prefeitura, sem venda dos resíduos. Nesse período também houve uma supressão do fornecimento de sacos coloridos e assim, sacos pretos foram colocados em todos os cestos.

Em 2002, o projeto da prefeitura foi interrompido, voltou-se a contar com a empresa de reciclagem, e o uso dos sacos coloridos foi restabelecido.

Em 2003, foi lançada na cidade a Cooperativa de Prestação de Serviços e Produção de Materiais Recicláveis - COOPERMAX, que operava com 27 cooperados. Visando colaborar para a geração de renda dos cooperados, os resíduos recicláveis da UNIFEOB passaram a ser doados a essa cooperativa.

No intuito de se minimizar o envio de sacos de coleta com materiais recicláveis misturados à cooperativa, em 2004 foi montada no campus II uma área de armazenagem e triagem de resíduos, com um funcionário habilitado para a função. Nesse mesmo período foi possível contratar uma bióloga para gerenciar o projeto.

Em 2005, o sistema de coleta foi ampliado com caixas para acondicionamento de baterias e pilhas, e passou-se a oferecer oficinas de confecção de papel reciclado e palestras sobre resíduos sólidos para a comunidade acadêmica e escolas da Educação Básica.

Atualmente o projeto continua em funcionamento nos dois campi universitários e maiores informações podem ser obtidas pelo endereço eletrônico http://www.unifeob.edu.br/novo/cursos/cbiologicas.

 

Cestos e Sacos Coloridos

Como o projeto foi idealizado com base nas possibilidades de destinação final dos materiais recicláveis, foi criada uma estrutura de coleta específica para atender à necessidade de se separar os materiais por tipo de resíduo, visto que a empresa de reciclagem não dispunha de pessoal para realizar uma triagem posterior à compra dos recicláveis. Dessa forma, as condições impostas pela empresa de reciclagem determinaram, logo de início, a logística da coleta seletiva. Na época de implantação do projeto, essa era a única opção para que os resíduos separados pudessem ter como destino final a reciclagem, pois do contrário, os resíduos seriam destinados ao lixão do município.

A estrutura de coleta centrada nos cestos diferenciados por tipo de resíduo e sacos coloridos é uma das técnicas utilizadas para a coleta seletiva (VILHENA, 2002), válida quando se deseja minimizar a quantidade de mistura de materiais e realizar uma pré-triagem dos resíduos antes do encaminhamento para uma central de triagem ou empresa de reciclagem.

A estrutura de coleta do projeto da UNIFEOB se relacionou historicamente com as condições de destino final dos resíduos recicláveis, mas assim que a coleta seletiva da prefeitura foi implantada, em 2001, com orientação aos moradores para separação do lixo úmido (orgânico) do seco (inorgânico), o sistema de coleta no campus foi questionado. Foi necessário emitir notas de esclarecimento sobre a questão e informar tanto os membros da comunidade acadêmica como a sociedade de forma geral, que o projeto da UNIFEOB não estava equivocado, e sim, que era uma outra proposta de coleta seletiva.

O projeto ficou vulnerável aos captadores de resíduos e à disponibilidade de aquisição de sacos coloridos para os cestos de coleta. Inicialmente dependeu fortemente da primeira empresa de reciclagem de São João da Boa Vista, depois da prefeitura e por último, da cooperativa de materiais recicláveis. Para minimizar essa dependência, a única solução prática seria a instalação nas dependências do campus universitário de uma central de triagem, com pessoal especializado, caçambas de armazenamento, prensa para empacotamento dos fardos de material reciclável e veículo próprio para o transporte e venda dos resíduos, no entanto, essa solução não tem viabilidade econômico-financeira.

 

Mistura de Materiais

Embora a estrutura da coleta seletiva tenha sido escolhida para minimizar a mistura de materiais recicláveis entre si e a mistura dos materiais recicláveis com o lixo orgânico, os cestos de coleta por si só não contribuíram para que houvesse uma separação correta dos resíduos.

Alguns problemas foram freqüentes em todo o período estudado, dos quais pode-se destacar: presença de lixo orgânico em sacos de resíduo reciclável; mistura de tipos de materiais recicláveis entre si; presença de recicláveis nos cestos de lixo orgânico; presença de restos de cigarro em todos os tipos de cestos, embora houvesse cinzeiros distribuídos pelos campi.

Dois acontecimentos relevantes e de importância social e sanitária ocorreram em 2003. O primeiro episódio foi o descarte em um saco específico para coleta de plásticos, de um membro amputado de um animal doméstico; e o segundo, o descarte de material perfurocortante com secreções fisiológicas em um saco destinado à coleta de papel. Ambos os sacos foram abertos pelo pessoal da cooperativa de material reciclável, o que resultou em um descrédito do projeto e em uma imagem negativa da instituição entre os cooperados. Os ocorridos foram investigados no âmbito da coordenação do Curso de Medicina Veterinária, e para se evitar novos problemas dessa magnitude, optou-se por desativar o projeto de coleta seletiva nas dependências do Hospital Veterinário da UNIFEOB.

Vários fatores podem ter influenciado para que a mistura de resíduos fosse uma constante ao longo do projeto: falta de mobilização dos envolvidos para realizar uma escolha correta ao depositar os resíduos nos cestos; ausência de uma comunicação efetiva com os envolvidos acerca da coleta seletiva; ausência de cestos de todos os tipos de resíduos em todas as dependências universitárias; disputa de interesses entre os diferentes setores envolvidos e a coordenação do projeto.

 

Problemas Externos

Além dos problemas inerentes ao próprio projeto, foi preciso conviver com problemas externos ao centro universitário relacionados à coleta seletiva.

Quando o projeto foi ampliado para os dois campi universitários, o campus central passou a ser alvo de catadores de lixo independentes, que violavam os cestos de coleta em busca, principalmente, de latas de alumínio e papelão. Várias vezes houve arrombamento das caçambas de armazenamento e invasão noturna do campus em busca dos recicláveis. Mesmo concordando com a visão de autores como Ribeiro e Lima (2000) que afirmam que a promoção de parcerias entre a sociedade civil e os catadores pode ser um instrumento para a geração de empregos e renda e ainda melhorar a limpeza das cidades com reflexos positivos sobre a qualidade de vida da população, o gerenciamento de situações como as acima descritas em um ambiente universitário privado é muito complexo.

Nesse sentido, a pesquisadora Mota (2005) coloca que uma disputa importantíssima está sendo travada em torno da coleta seletiva de lixo e da reciclagem nas cidades, a partir da construção de duas propostas diferentes para o seu desenvolvimento. Numa delas, encabeçada pelo setor empresarial, a coleta seletiva fica nas mãos de empresas particulares, excluindo catadores e catadoras e suas "empresas sociais". Na outra, a proposta é a inclusão desses trabalhadores, por meio de sua participação como prestadores de serviços e co-gestores da política de resíduos, principalmente via cooperativas.

Em uma escala reduzida, o que ocorria nos campi universitários se relaciona à primeira proposta da autora, visto que os catadores independentes disputavam recicláveis não com uma empresa de reciclagem, mas com a cooperativa de catadores da cidade, para onde os resíduos eram destinados.

Outra interferência no projeto foi a mobilização de moradores de bairros próximos aos campi. Como o sistema de coleta seletiva na cidade não atendia na época todos os bairros em todos os dias da semana, vários moradores que tiveram conhecimento do projeto de coleta seletiva da UNIFEOB passaram a levar os materiais recicláveis domésticos para os campi.

Nas duas situações, o espaço universitário passou a ser utilizado amplamente pelos munícipes, como fonte de recursos para os catadores e como área de depósito para os moradores interessados em cooperar com as causas ambientais. No entanto, essa movimentação nos campi, acabou acarretando problemas de segurança institucional.

Além dessas considerações, outro ponto que merece destaque foi a atribuição de responsabilidade pela questão do lixo na cidade ao centro universitário, visto que o projeto de coleta seletiva foi pioneiro na região e ficou amplamente conhecido como "Projeto de Reciclagem da FEOB". Dessa forma, quando a prefeitura implementou o Projeto Recicla São João, que teve apoio da UNIFEOB, muitos moradores imaginaram que o projeto da prefeitura era da instituição e cobravam do Curso de Ciências Biológicas, que coordenava o projeto na época, soluções para problemas práticos como o acúmulo de resíduos recicláveis nas casas, falta do caminhão de coleta, aumento na quantidade de insetos, casos de Dengue, entre outros.

 

Sucesso e Fracasso

No período estudado, o projeto de Coleta Seletiva da UNIFEOB teve destaque na mídia em vários momentos e veículos, como na emissora de televisão local, em telejornais regionais de emissora de grande porte, em emissoras de rádio de grande audiência na cidade e em jornais impressos regionais. Além disso, em 2001, após a organização de um evento voltado para professores da Educação Básica sobre Reciclagem de Resíduos e Coleta Seletiva, vinculado ao projeto, a Instituição recebeu uma moção de aplauso da Câmara de Vereadores de São João da Boa Vista.

Seriam esses sinais de sucesso do projeto? Há de se perguntar se a abertura de espaço na mídia para o relato desse tipo de experiência ocorre porque o projeto é considerado de interesse público ou se essas iniciativas ainda são raras, e merecem ser destacadas por isso, para estimular a replicação de propostas dessa ordem.

Nessa linha de pensamento, o pesquisador Mayer (2004) enfatiza a importância da Universidade para a comunidade local e de toda a região de sua abrangência, onde deve dar exemplo às demais empresas e instituições de como devem ser tratados os resíduos, no sentido de causarem o mínimo impacto em relação ao meio ambiente.

Nos momentos em que o projeto foi divulgado na mídia televisiva, houve repercussões positivas no ambiente universitário através de comentários de alunos, membros da diretoria e funcionários da área de limpeza, sobre a coleta seletiva, numa iniciativa de valorização das atividades que estavam sendo realizadas nos campi. De forma oposta, professores e coordenadores de curso que tiveram acesso às reportagens teceram comentários de conotação mais crítica, apontando pontos que deveriam ser modificados. Essas diferenças de percepção entre os envolvidos ocorreram em virtude das relações sociais estabelecidas no ambiente universitário, uma vez que os professores e coordenadores de curso podem ter se sentido mais à vontade de expressar suas opiniões estando hierarquicamente em cargos mais próximos da coordenação do projeto.

Raríssimas vezes os funcionários da área de limpeza conversaram com a coordenação do projeto sobre modificações que poderiam ser realizadas no sistema de coleta seletiva, mesmo quando questionados sobre os problemas que enfrentavam ou em reuniões específicas restritas aos funcionários.

Aqui podemos identificar três vertentes em relação à percepção dos envolvidos no projeto: a) aqueles que percebem o projeto como algo positivo, apesar dos problemas logísticos e de sensibilização, e que se envolvem individualmente para que a coleta seletiva continue sendo realizada; b) aqueles que percebem o projeto como algo positivo, mas que, em virtude dos problemas logísticos e de sensibilização não se envolvem para que haja modificações; c) aqueles que percebem o projeto como algo indiferente e que por não estarem sensibilizados com a proposta, não se envolvem.

Mesmo quando há envolvimento no projeto, a interação se dá de forma individualizada, seja através da ação de descartar o resíduo no cesto correto de coleta ou de informar um colega sobre o sistema. Em todo período de realização do projeto, não houve uma participação colaborativa de nenhum membro da comunidade escolar na coordenação das atividades de coleta seletiva, mesmo tendo sido realizados eventos de divulgação, reuniões para discutir as diretrizes do projeto e campanhas via Internet.

Por que mesmo sendo considerado um sucesso pela mídia, e até mesmo um exemplo a ser seguido, o projeto não arrebanhou seguidores em suas próprias salas e corredores?

Muito provavelmente a resposta está na forma com que o projeto foi iniciado. O projeto surgiu da iniciativa individual de uma professora, foi aceito pela diretoria e aplicado imediatamente, sem discussão e compartilhamento com a comunidade escolar. Ou seja, se tornou um projeto unilateral de caráter técnico. A dimensão sócio-emocional não foi considerada no início do projeto, pois se acreditava que a comunidade acadêmica estaria disposta a participar da coleta seletiva, em voga na mídia na época, e que para tanto, bastaria disponibilizar cestos para a separação dos recicláveis.

Nesse aspecto, a pesquisadora Ferreira (2007), estudou o programa de coleta seletiva de papel na Universidade Federal de Minas Gerais e verificou que, embora a coordenação do programa esperasse que a UFMG fosse um local apropriado para a implantação de um projeto de coleta seletiva de papel, por ser uma instituição de nível superior com um público de nível educacional e cultural elevado em relação à população em geral, isso não foi confirmado, pois a Universidade está inserida em um contexto macro, onde as diferenças sociais e culturais também existem e corroboram para o sucesso do projeto.

Essa diversidade sócio-cultural influencia a dinâmica e o envolvimento dos diversos membros da comunidade acadêmica com o projeto. Seria importante a realização prévia à implantação de um projeto de coleta seletiva de uma pesquisa de opinião e intenção de participação em um projeto de separação de recicláveis. Talvez as informações desse tipo de pesquisa sejam mais úteis à gestão de um projeto de coleta seletiva do que a caracterização e quantificação dos recicláveis produzidos nos campi universitários. Isso porque, embora seja adequado saber o quanto se produz de recicláveis nos diversos setores acadêmicos, é fundamental saber de antemão se os funcionários, professores, alunos e administradores da Universidade estarão dispostos a separar os recicláveis de forma adequada.

Na dissertação de Mestrado de Diniz Neto (2005), um dos entrevistados pelo autor colocou que o sucesso de ações de coleta seletiva está baseado em um tripé: comunidade sensibilizada, coleta eficiente e mercado identificado; e que a soma da interação desses atores juntos a uma rede de parcerias forte envolvida no trabalho é o que possibilita a sustentabilidade do projeto.

Acreditamos hoje que para ser possível a estruturação desse tripé, é imprescindível que um projeto de coleta seletiva de resíduos seja concebido e desenvolvido na perspectiva da Educação Ambiental Crítica (LOUREIRO, 2003; GUIMARÃES e VASCONCELLOS, 2006), para que os indivíduos que queiram se envolver não realizem somente a ação de jogar o lixo no cesto correto, mas que possam se perceber como cidadãos mobilizados a refletir sobre a problemática sócio-ambiental e contribuir para a geração de renda a seletores por meio da ação de separar os resíduos nos campi universitários.

Enquanto um projeto de coleta seletiva for considerado meramente um projeto técnico-administrativo, esse será fadado ao fracasso no sentido da tomada de consciência em relação ao lixo e da participação voluntária e cidadã dos envolvidos. Será um fracasso por não estar sendo trabalhado em sua potencialidade plena, por não propiciar a ampliação da visão de mundo dos envolvidos e por não romper a barreira Universidade/população. Será um fracasso interno, mas que poderá ser visto pelos meios de comunicação, pelas escolas da Educação Básica e até mesmo pela sociedade como um sucesso e um exemplo a ser seguido. E é aí que está um dos maiores problemas desse tipo de projeto, pois ao ser considerado um sucesso pelo público externo, de quem vê de fora, pode ser passível de replicação em outras instituições e dessa forma, sem haver uma reflexão aprofundada sobre os problemas logísticos e sociais gerados com a simples instalação de cestos de coleta de recicláveis, replicar-se-ão os mesmos problemas.

 

Coleta Seletiva não é Educação Ambiental

A maioria dos projetos de coleta seletiva de recicláveis em campi universitários é implantada de forma padronizada, seguindo-se em geral um roteiro que abrange o levantamento da quantidade e tipos de resíduos sólidos recicláveis produzidos nas dependências acadêmicas, a adequação de diferentes estratégias de transferência de informação a respeito da seleção dos materiais, a sensibilização dos envolvidos e o monitoramento do sistema.

A descrição dos projetos estudados por Meyer (2001) e Botega (2004) evidencia as etapas acima citadas.

 

Um levantamento dos resíduos sólidos e líquidos da Universidade da Região de Joinville foi realizado, bem como a identificação das ações existentes para minimizar seu impacto ambiental (MEYER, 2001).

 

Foi desenvolvido um projeto piloto de implantação da coleta seletiva no Centro de Tecnologia para posterior implantação na Universidade Federal de Santa Maria. Realizou-se a separação dos resíduos sólidos para diagnóstico, quantificação e caracterização, visando à definição de coletores e a disposição dos mesmos. Posteriormente definiu-se a coleta e a disposição dos coletores. Efetivou-se juntamente com a comunidade do referido centro um trabalho de sensibilização para a participação na separação dos resíduos na origem e disposição correta nos coletores (BOTEGA, 2004).

 

Embora a dimensão técnica dos projetos de coleta seletiva seja importante para a operacionalização do sistema, a estrutura física necessária para que ocorra a separação dos recicláveis e a informação sobre a coleta seletiva não são suficientes para influenciar os membros da comunidade acadêmica a descartar os resíduos de forma adequada.

Em uma pesquisa com estudantes de graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana, a pesquisadora Nunesmaia (1996) observou que 81% dos alunos consideram simples a separação do lixo em sua fonte geradora e questionou o que pode levar as pessoas a considerarem simples o sistema e ao mesmo tempo não participarem deste processo. Para a autora, o condicionante cultural é o grande responsável por essa contradição.

Um estudo similar desenvolvido por Rocha e colaboradores (2001) investigou 133 alunos de graduação de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sobre os comportamentos e atitudes relacionadas às questões ambientais. Os entrevistados julgam que os procedimentos de reciclagem, coleta seletiva e novas técnicas e materiais ambientalmente corretos são importantes, mas não adotam tais procedimentos.

O trabalho de Arana e colaboradores (2006) investigou 299 alunos de séries iniciais de cursos de graduação da Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE visando um levantamento qualitativo sobre a percepção ambiental dos alunos para a implantação futura de um projeto de coleta seletiva no campus. Metade dos entrevistados afirmou conhecer totalmente a simbologia e cores da reciclagem de lixo. Esse dado nos permite conjeturar que grande parte do alunado universitário obtém informações sobre questões sócio-ambientais em espaços diferentes da Universidade, seja através da mídia ou de grupos de relacionamento.

Apesar dos projetos de coleta seletiva adotarem como prática a realização de campanhas para a sensibilização dos envolvidos, assim como as que foram realizadas no caso estudado nessa pesquisa, essas ações geralmente se restringem a atividades informativas sobre o lixo, materiais recicláveis e procedimentos corretos para o descarte. O conceito de sensibilização utilizado pelos pesquisadores da área de Educação Ambiental vai muito além da mera informação. Para a autora Andréia Aparecida Marin e colaboradores (2003), a sensibilização traz a proposta de transposição do enfoque racional na prática educativa e a busca de se atingir a dimensão emotiva da pessoa na sua interação com a natureza. Sendo assim, para se atingir esse nível de transposição, o indivíduo deve estar, além de informado, emocionalmente comprometido com o projeto.

Um projeto de coleta seletiva fundamentado na dimensão técnica-operacional não pode ser considerado um projeto de Educação Ambiental, uma vez que, mesmo visando a melhoria das condições ambientais, as limitações teórico-metodológicas desse tipo de projeto não permitem que ocorra de fato a sensibilização dos envolvidos e uma mudança de atitudes embasada na ampliação de visão de mundo e no estabelecimento constate de relações entre a problemática dos resíduos sólidos e os problemas sócio-ambientais.

Um projeto de Educação Ambiental na temática da coleta seletiva se fundamenta na perspectiva sócio-política, na qual os problemas ambientais e da sociedade são debatidos de forma ampla, para que ocorra a compreensão das causas reais que geram esses problemas, as conseqüências da situação atual e as possíveis soluções que estão ao alcance da Universidade.

Nessa linha, dois trabalhos recentes apontam a Educação Ambiental e a participação coletiva como elementos fundamentais para a melhoria da gestão da coleta seletiva em ambiente universitário.

Em um estudo de caso na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o pesquisador Gonzalez (2006) demonstrou empiricamente a relação direta entre a Educação Ambiental e a melhoria de funcionamento de sistemas de coleta seletiva e indicou que os processos educativos ambientais merecem atenção especial quando da implementação e do monitoramento de projetos de coleta seletiva, pois são essenciais ao bom funcionamento destes programas.

O trabalho de Del Mônaco (2005) consistiu na formação de um grupo de alunos de graduação para discussão do programa de coleta seletiva da Universidade Estadual Paulista em Bauru- SP. Além da apropriação de conhecimentos sobre a complexa problemática dos resíduos sólidos, a autora concluiu que é primordial a participação coletiva na busca de reais soluções para as degradações do ambiente, considerando-se o ser humano e suas relações sociais, políticas, culturais e econômicas bem como a dimensão ecológica.

A tendência é de que os projetos técnicos de coleta seletiva de resíduos sejam reestruturados como projetos de Educação Ambiental, para garantir uma maior participação da comunidade acadêmica e maior efetividade no sistema de separação dos recicláveis.

Um exemplo de projeto de coleta seletiva em campus universitário idealizado como um programa de Educação Ambiental é o projeto de extensão "Projeto Reciclar", iniciado em 1995 na Universidade Federal de Viçosa - UFV. Segundo Puschmann e colaboradores (2004), atualmente 29% dos resíduos gerados diariamente nas dependências acadêmicas são destinados à coleta seletiva. Para os autores, esse número aponta que muito ainda há de ser feito para a implantação de um sistema de gestão integrada para os resíduos sólidos gerados no campus da UFV, bem como o envolvimento, a participação e maior conscientização da comunidade universitária em relação à questão dos resíduos sólidos ainda têm que ser ampliados.

Isso mostra que mesmo para projetos que incluem a Educação Ambiental como base para as atividades de coleta seletiva, a gestão dos resíduos e a sensibilização permanente dos envolvidos requer um grande comprometimento da coordenação do projeto e dos diferentes setores acadêmicos.

 

O Papel da Universidade

Ao se pensar que projetos de separação de recicláveis devam ser concebidos e desenvolvidos como projetos de Educação Ambiental, para garantir a participação efetiva dos envolvidos há de se pensar também em uma gestão democrática do próprio programa. Talvez, o papel mais relevante da Universidade na implantação de um sistema de coleta de resíduos seja de articular pessoas com diferentes histórias de vida e currículos, em diferentes setores, em torno da temática ambiental. Nessa perspectiva, a coleta seletiva em si passa a ser um eixo para o diálogo e para a consolidação de grupos de trabalho sobre resíduos sólidos no meio acadêmico, os quais poderão, ao longo do tempo, se constituir como grupos gestores do programa de Educação Ambiental, e assim avaliar o que é mais significativo de ser desenvolvido pela e para a comunidade universitária.

Parece-nos adequada a implantação de sistemas de coleta seletiva nos campi universitários como projetos de pesquisa interdisciplinares, que possam ser utilizados como palco para investigação de diferentes áreas, como Engenharia Civil, Ciências Biológicas, Arquitetura e Urbanismo, Comunicação, Publicidade, Pedagogia, entre outras. Dessa forma, a Universidade colaboraria não somente com conhecimentos acerca da gestão dos resíduos sólidos nos municípios, mas poderia se tornar objeto de estudo. Assim, os pesquisadores se deparariam diariamente com os problemas inerentes à prática da coleta seletiva e de forma colegiada, poderiam desenvolver pesquisas integradas sobre esses problemas e acompanhar constantemente a evolução do projeto.

Outro ponto que deve ser considerado é o papel da Universidade como produtora de conhecimento. Imagina-se que um projeto de coleta seletiva no interior da Universidade seja implantado de forma planejada e fundamentado em teorias e metodologias de vanguarda, visto que os pesquisadores têm acesso à produção nacional e internacional na área. Nesse sentido, a coleta seletiva nos campi universitários passa a ser uma referência para a comunidade, como destacam Puschmann e colaboradores (2004):

 

Cabe ainda ser ressaltado que a UFV [Universidade Federal de Viçosa], em relação à questão dos resíduos sólidos, sempre foi uma das instituições de ensino de referência nacional. Com isto, o equacionamento da questão dos resíduos sólidos gerados no campus, dentro de conceitos e princípios modernos, pode-se constituir em uma referência a ser seguida por outras instituições de ensino e pela própria comunidade de Viçosa.

 

Ainda sobre esse aspecto, cabe destacar que nem sempre os setores e unidades acadêmicas estabelecem parcerias para o desenvolvimento de projetos de extensão universitária, projetos de aplicação ou projetos de pesquisa, e com isso, pode ocorrer de pesquisadores especialistas não serem integrados à coordenação dos projetos, por desconhecimento ou divergências político-administrativas.

Para Menezes e colaboradores (2002), a Universidade assume grande papel na formação de cidadãos críticos, instrumentados para a implementação dessas necessárias mudanças. Como promotora do desenvolvimento de novas tecnologias pode, ainda, estabelecer diretrizes e incentivar pesquisas sobre os diversos aspectos do controle da poluição relacionada com os resíduos. Além disso, a Universidade desempenha importante papel como divulgadora e estimuladora de novas idéias, convidando a população a se empenhar na busca de soluções para a problemática dos resíduos.

Para desempenhar esses papéis de agregar pessoas, produzir e divulgar o conhecimento sobre os resíduos sólidos é fundamental que a Universidade assuma uma posição de mediadora social e que vislumbre a coleta seletiva dos recicláveis gerados nas suas próprias dependências como uma oportunidade para o debate livre e participativo em torno da temática sócio-ambiental.

 

Considerações Finais

Somente se distanciando do projeto de coleta seletiva da UNIFEOB e com uma leitura aprofundada de experiências de separação de recicláveis em campi universitários, foi possível dimensionar os aspectos positivos e negativos que gravitam em torno do programa.

Os problemas que abalam projetos desse tipo podem ser considerados universais, visto que englobam dificuldades de sensibilização dos envolvidos, comunicação deficitária, divulgação ineficiente, falta de avaliação e reformulação das atividades e baixa integração entre os diferentes setores envolvidos. E as soluções também podem ser consideradas universais: educação e participação coletiva.

Ao olhar para a experiência relatada, emergem questões sobre a relevância atual de projetos dessa natureza. Servirão para mostrar aos membros da comunidade acadêmica que a Universidade está se empenhando em mitigar os problemas ambientais gerados nos próprios campi? Servirão como projetos piloto para a produção de conhecimento no tema? Servirão de exemplos a serem seguidos em empresas, escolas e municípios? Servirão para estimular a discussão sobre consumo e desperdício?

Independentemente das razões que levam uma Universidade a implantar um sistema de coleta seletiva de resíduos, todas as etapas devem ser discutidas com a comunidade universitária, avaliadas e reestruturadas continuadamente, para que se configurem como um projeto de pesquisa e não apenas como cestos espalhados pelo campus.

 

Referências Bibliográficas

 

ARAGONÈS, Juan Ignácio; AMÈRIGO, Maria Cuervo-Arango. Psicologia Ambiental. Madrid: Ediciones Pirâmide, 1998.

ARANA, Alba Regina Aazevedo; TORELI, Milene Cristina; AMARAL, Rogério do; YOSHIMOTO, Cícera Rodrigues. A Educação Ambiental na Universidade: um diagnóstico dos alunos da Unoeste. Presidente Prudente: Turismo & Ciência, 3: 7-14, 2006.

ARAÚJO, Valdete Santos de. Gestão de Resíduos Especiais em Universidade: estudo de caso da Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos - SP. São Carlos, 2002. Dissertação de Mestrado. Engenharia Urbana - Universidade Federal de São Carlos.

BOTEGA, Denise Paula. Proposta de Gestão de Resíduos Sólidos no Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2004. Dissertação de Mestrado. Engenharia de Produção - Universidade Federal de Santa Maria.

BRASIL, Rebeca Ferreira. Projeto Cidadania Ativa: Um exemplo de Educação Ambiental no Curso de Direito da Unifor. Rio Grande: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 13: 1-11, 2004.

CORRAL-VERDUGO, Víctor; PINHEIRO, José de Queiroz. Condições para o Estudo do Comportamento Pró-ambiental. Natal: Estudos de Psicologia, 4(1): 7-22, 1999.

CUNHA, Valeriana; CAIXETA FILHO, José Vicente. Gerenciamento da Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos: Estruturação e Aplicação de Modelo Não-Linear de Programação por Metas. São Carlos: Gestão & Produção, 9(2): 143-161, 2002.

DEL MÔNACO, Graziela. Construção Participativa de Conhecimentos sobre Resíduos no Programa de Coleta Seletiva da UNESP-Bauru: reflexões e ações. Bauru, 2005. Dissertação de Mestrado. Educação para a Ciência - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Bauru.

DINIZ NETO, Américo. Projeto Recicla Três Rios: um caso de sucesso em Educação Ambiental e Empreendedorismo. Niterói, 2005. Dissertação de Mestrado. Sistema de Gestão - Universidade Federal Fluminense.

FERREIRA, Daniela Assis Alves. A informação no projeto de Coleta Seletiva de Papel nas Unidades pertencentes à UFMG. Belo Horizonte, 2003. Dissertação de Mestrado. Ciências da Informação - Universidade Federal de Minas Gerais.

FERREIRA, Daniela Assis Alves. A informação no projeto de Coleta Seletiva de Papel nas Unidades pertencentes à Universidade Federal de Minas Gerais. In: VII CINFORM - Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa da Informação, 2007. Salvador: Anais do VII CINFORM, 2007.

GONZALEZ, Carlos Eduardo Fortes. Educação pela Ação Ambiental: a coleta seletiva de resíduos sólidos em um departamento de Instituição Superior de Ensino. Curitiba, 2006. Dissertação de Mestrado. Tecnologia - Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

GUIMARÃES, Mauro; VASCONCELLOS, Maria das Mercês Navarro. Relações entre educação ambiental e educação em ciências na complementaridade dos espaços formais e não formais de educação. Curitiba: Educar, 27: 147-162, 2006.

JARDIM, Niza Silva; WELLS, Christopher. (coords.). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas: CEMPRE, 1995.

LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. O movimento ambientalista e o pensamento crítico: uma abordagem política. Rio de Janeiro: Quartet, 2003.

LÜDKE, Hermengarda Alves Ludke Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MARIN, Andréia Aparecida; OLIVEIRA, Haydée Torres; COMAR, Vito. A Educação Ambiental num Contexto de Complexidade do Campo Teórico da Percepção. Caracas: Interciência, 28(10): 616-619, 2003.

MAYER, Jesus Luiz. Gerenciamento Integrado dos Resíduos do Campus da UNICRUZ. Santa Maria, 2004. Dissertação de Mestrado. Engenharia de Produção - Universidade Federal de Santa Maria.

MEGID NETO, Jorge. Elaboração de Projetos Técnicos de Pesquisa. Campinas: Faculdade de Educação - UNICAMP, 2001.

MENEZES, Raquel de Luca; SANTOS, Fernando César Almada; LEME, Patrícia Cristina Silva. Projeto de Minimização de Resíduos Sólidos no Restaurante Central do Campus de São Carlos da Universidade de São Paulo. Curitiba: Anais do XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção - ENEGEP, 1-8, 2002.

MEYER, José Paulo Figueiredo. Diagnóstico e Proposta de Gestão dos Resíduos Gerados na UNIVILLE. Florianópolis, 2001. Dissertação de Mestrado. Engenharia Química - Universidade Federal de Santa Catarina.

MOTA, Adriana Valle. Do Lixo à Cidadania. Rio de Janeiro: Democracia Viva, 27: 3-8, 2005.

NUNESMAIA, Maria de Fátima da Silva. Coleta Seletiva no Campus da Universidade de Feira de Santana-Bahia: Avaliação. México (D.F.): Anais do Congreso Interamericano de Ingeniería Sanitaria y Ambiental - Consolidación para el desarrollo, 1-3, 1996.

OLIVEIRA, Nilza Aparecida da Silva. A Educação Ambiental analisada a partir da Percepção Fenomenológica, através dos Mapas Mentais. Rio Grande: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 16: 32-46, 2006.

PATO, Claudia Márcia Lyra; TAMAYO, Álvaro. A Escala de Comportamento Ecológico: Desenvolvimento e validação de um instrumento de medida. Natal: Estudos de Psicologia (Natal), 11: 289-296, 2006.

PUSCHMANN, Rolf; AZEVEDO, Mônica de Abreu; MOLINO, Deive Bruza; CRUZ, Mauro César Cardoso; PINHEIRO, Regina. Projeto Reciclar - Implantação da Coleta Seletiva no Campus da UFV. Belo Horizonte: Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 1-10, 2004.

RIBEIRO, Túlio Franco; LIMA, Samuel do Carmo. Coleta Seletiva de Lixo Domiciliar - Estudo de Casos. Uberlândia: Caminhos de Geografia, 1(2): 50-69, 2000.

ROCHA, Sayonara Sonnaly; MACEDO, Rose Meire de; DOS SANTOS, Esmeraldo Macedo; MARQUES JÚNIOR, Sérgio. Eco-Atitudes e Eco-Comportamentos dos Alunos do Curso de Engenharia Civil da UFRN. Porto Alegre: Anais do XXIX Cobenge - Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, 71-76, 2001.

RUSCHEINSKY, Aloísio. A Pesquisa Social e Meio Ambiente: Educação a partir dos Riscos Sociais e Ambientais. Rio Grande: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 17: 178-194, 2006.

SILVA, Magale Sanguiné da. Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos o Caso do Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS/RS. São Paulo, 2001. Dissertação de Mestrado. Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo.

SOTO, Magda Martina Tirado. Aplicação de Conceitos de Logística Reversa nas Instituições de Ensino Superior Estudo de Caso: Projeto Piloto de Coleta Seletiva na UENF. Campos dos Goytacazes, 2006. Dissertação de Mestrado. Engenharia de Produção - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

TORRES, Maria Betânia Ribeiro. A Interface entre Educação Ambiental e Gestão Ambiental numa Perspectiva das Ciências Sociais. Rio Grande: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 18: 501-512, 2007.

VILHENA, André. Guia da Coleta Seletiva de Lixo. Brasília: Editora CEMPRE, 2002.

Ilustrações: Silvana Santos