Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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08/12/2007 (Nº 22) A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA AGRICULTURA
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Educação Ambiental em Ação 22

 

A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA AGRICULTURA

CANA-DE-AÇÚCAR

Alessandra Garzotti

 

 

 

O meio ambiente é sensível e atualmente estamos vivendo as conseqüências de nossa irresponsabilidade.

Muito se tem discutido a respeito do biocombustível e bioenergia. Os benefícios, prejuízos, conseqüências e outras mais.

A plantação de cana vem ganhando espaço e trazendo conseqüências ao meio ambiente. Não há como deixar de perceber os problemas ambientais decorrentes de plantações de cana e das queimadas provocadas pelos produtores. É claro que a queima ainda mais nos preocupa.

O meio ambiente não é o único a sofrer, o cortador de cana, a população regional, bem como o meio ambiente são alvos da plantação sem a devida sustentabilidade ambiental a que vem empregando as usinas.

As queimadas são prejudiciais à saúde do cortador de cana e à saúde dos moradores regionais às plantações.

A questão ambiental é complexa e ramificada. Porém há um assunto que sempre está a nos incomodar, o efeito estufa.

“Nos últimos anos, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado cerca de 0,4% anualmente; este aumento se deve à utilização de petróleo, gás e carvão e à destruição das florestas tropicais.”[1]

Diante do exposto resta-nos uma pergunta a fazer. A bioenergia, o biocombustível são atitudes ecologicamente corretas?

 

 

1. CONFLITO AMBIENTAL NO SETOR DA CANA

 

1.1 Prejuízos à saúde dos trabalhadores e moradores das regiões em decorrência de queimadas no corte da cana

 

“As queimadas em plantações de cana-de-açúcar trazem riscos à saúde dos trabalhadores do setor, por causa de compostos cancerígenos presentes na fumaça liberada no processo de queima.

Estudos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) apontaram aumento de HPAs (Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos) --componentes altamente cancerígenos-- no organismo de cortadores de cana e no ar das imediações de canaviais, durante a época de safra da planta.”[2]

“A queima de cana provoca a concentração de monóxido de carbono e ozônio, causa alteração do clima, emite material particulado, provoca a perda da fertilidade do solo e dissemina várias doenças respiratórias. Muitos poluentes resultantes da queima são indutores de lesões precursoras do câncer. Estudo realizado na região de Piracicaba, pelo pneumologista José Eduardo Cançado, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que, quando há um aumento de 10% de partículas resultantes da queima no ar, os hospitais da região registram elevação de 22% no número de internações de crianças e idosos. Em noite de queimada, aumenta em 45% o movimento nos serviços de inalação dos hospitais.”[3]

Diante das reportagens e comentários encontrados nos meio de comunicação, não há como negar a probabilidade de o cortador de cana, bem como os moradores de regiões em que se realiza tal ato, estar suscetível a desenvolver o temido câncer.

 

 

1.2 Outras conseqüências

 

 

As queimadas trazem inúmeras outras conseqüências, provocam a desertificação (como ocorreu no Nordeste Brasileiro), O fogo altera a terra trazendo conseqüências químicas, físicas e biológicas, prejudicando a reciclagem dos nutrientes e causando a sua volatização.

 

 “As queimadas provocam um uso maior de agrotóxicos e herbicida, para o controle de pragas e de plantas invasoras, sendo que esta prática, agrava ainda mais a questão ambiental, afetando os micro organismos do solo e contaminando o lençol freático e os mananciais. A contaminação da água pode atingir níveis de difícil ou até mesmo impossível recuperação.

As queimadas causam a liberação para a atmosfera (segundo foi comprovado pelo INPE de São José dos Campos e UNESP de Jaboticabal) de ozônio, de grandes concentrações de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), que afetam a saúde dos seres vivos, reduzindo também as atividades fotossintéticas dos vegetais, prejudicando a produtividade de diversas culturas. As queimadas liberam grandes quantidades de gases que contribuem para a destruição da camada de ozônio na estratosfera e, assim, possibilitam que raios ultravioletas atinjam em maior quantidade a Terra e causem efeitos cancerígenos e mutagênicos. Por outro lado, os gases que ficam concentrados na atmosfera absorvem a energia térmica dos raios infravermelhos refletidos pela superfície da Terra, contribuindo com o efeito estufa que gera uma reação em cadeia negativa para o planeta.

Durante a queimada da palha da cana-de-açúcar a temperatura a 1,5 cm de profundidade chega a mais de 100º e atinge 800º centígrados a 15 cm acima da terra, afetando gravemente a atividade biológica do solo, responsável por sua fertilidade. O aumento da temperatura do solo provoca a oxidação da matéria orgânica, sendo que houve constatação na Colômbia de redução em 55% a 95% no teor da matéria orgânica em solos após as queimadas.

As queimadas eliminam os predadores naturais de algumas pragas, como as vespas, que são inimigas da broca da cana Diatrea saccharalis (que é a principal praga da cana na região de Ribeirão Preto), provocando o descontrole desta praga e exigindo assim a utilização cada vez maior de agrotóxicos, provocando maior contaminação ambiental. Na mesma linha, o fogo não mata as sementes das gramíneas invasoras e estas, por não estarem cobertas pela palha, germinam rapidamente.Para combater essas plantas invasoras, os agricultores utilizam herbicidas em grande escala e em quantidade cada vez maior, motivo pelo qual a cultura da cana é responsável pelo uso de mais de 50% de todos os herbicidas utilizados na agricultura brasileira.

A queimada eliminando da cobertura vegetal do solo favorece o escorrimento superficial da água das chuvas, agravando o processo erosivo. Esse fenômeno é explicado pela insuficiência de cobertura do solo superficial que sofre forte compactação pelas chuvas e vai ficando impermeável, dificultando a infiltração da água e a brota da vegetação. O solo vai empobrecendo, pela eliminação da matéria orgânica. A queima altera a umidade do solo, por causa das mudanças na taxa de infiltração de água, no volume de enxurrada, na taxa de transpiração, na porosidade e na repelência do solo à água e, conforme suas características, o solo pode ficar mais impermeável, situação esta que torna o terreno excessivamente duro e mais sujeito a erosões.

Depois das queimadas também se verifica aumento do aquecimento na superfície do solo, pela maior absorção da radiação solar, fato causado não só pela perda da cobertura vegetal, mas também pela cor que fica na terra (do cinza ao preto). Se o fogo não fosse utilizado como prática agrícola, seria bem maior o aproveitamento dos fertilizantes químicos e orgânicos (aplicados em quantidades cada vez maiores), haveria melhoria das qualidades físicas, químicas e biológicas do solo com sua melhor conservação e conseqüentemente maior produtividade, ocorreria melhoria da capacidade de infiltração da água na terra aumentando a retenção de umidade e reduzindo a erosão pelo efeito da cobertura com palha que serviria de proteção ao solo.

Em conclusão a prática das queimadas é prejudicial à agricultura pelos seguintes argumentos: a)Deixa o solo desnudo, o que aumenta as perdas por erosão, principalmente em terrenos íngremes; b)Volatiliza substâncias necessárias à nutrição das plantas; c)Destrói grande parte da matéria orgânica do solo; d)Elimina os microorganismos úteis do solo; e)diminui a progressivamente a fertilidade do solo e a produtividade das lavouras.

Considerando a sustentabilidade da própria atividade agrícola, as queimadas provocam mudanças no ciclo hidrológico e na composição da atmosfera, contribuindo para uma degradação ambiental que afeta todos os seres vivos.”[4]

 

As hipóteses existentes por meio das quais o homem se expõe às substâncias tóxicas são o ar, a água e o solo. Portanto, percebemos que um único processo na produção de produtos retirados da cana-de-açúcar é capaz de contaminar as três categorias mencionadas.

Com a utilização da queimada da palha de cana-de-açúcar, temos os gazes emitidos para a atmosfera, inclusive com substâncias cancerígenas, possibilidade de desertificação, contaminação dos lençóis freáticos e os mananciais através da maior utilização de agrotóxicos, eliminação de predadores naturais, agravamento do processo erosivo.

O Estudo dos Impactos causados pelo plantio da cana-de-açúcar nos leva a considerar alguns itens devidamente colocados em matéria encontrada no site: http://www.cana.cnpm.embrapa.br/setor.html, vejamos:

 

“Há sentido em discutir o impacto ambiental (ecológico + sócio-econômico) da queima da palha da cana, por exemplo, na medida em que entendemos o impacto ambiental do conjunto dos componentes que atuam no subsistema do cultivo da cana-de-açúcar. Somente no tocante a impacto ecológico, a figura abaixo dá uma visão simplificada das diversas dimensões envolvidas.

 

 

 

Algumas das interações existentes nesse subsistema, como a troca de gases com a atmosfera, por exemplo estão sendo estudadas parcialmente ou monitoradas por instituições, nacionais (INPE, CETESB, Embrapa Monitoramento por Satélite, USP, ECOFORÇA, UNICAMP, CTC etc) e estrangeiras (EPA).

 

Essas interações variam no tempo com o desenvolvimento e a introdução de novas tecnologias (reaproveitamento do vinhoto, controle biológico da broca da cana, colheita mecanizada de cana crua etc.) e no espaço conforme os solos, o relevo, o clima e o uso das terras. O estudo de um componente ou de uma "flecha" de um subsistema não autoriza ninguém a justificar ou condenar o sistema de cultivo ou a produção da cana-de-açúcar em termos de impactos ambientais. Avaliação do impacto ambiental do sistema de produção da cana-de-açúcar não foi realizada de forma completa, ainda que em caráter piloto, em nenhum lugar de S. Paulo ou no Brasil e ao que saiba-se.”

Percebemos através do estudo ora iniciado que a maior preocupação dos ambientalistas gira em torno da queimada da palha da cana. Encontramos ainda preocupações com o solo, possível desertificação, e lençóis freáticos e mananciais quando da utilização de agrotóxicos e possíveis contaminações. Contudo, estudos demonstram que a poluição com o plantio da cana é existente e vidente, mas pouco se sabe do resultado final de tal contabilidade: CANA + PREJUÍZOS AMBIENTAIS= ? (POSITIVO OU NEGATIVO).

A sociedade questiona um desenvolvimento sustentável no setor sucroalcooleiro, mas o “ouro negro - petróleo” também deixa muito a deseja quando o item discutido torna-se desenvolvimento sustentável. Longe de nós criarmos uma desculpa para que o produtor de cana a utilize como apoio, queremos apenas refletir no fato de que o desenvolvimento sustentável no setor sucroalcooleiro é muito mais realidade do que possivelmente no setor petrolífero.

 

 

1.3. Estado de São Paulo antecipa o fim da queimada de cana

 

 

O Brasil possui todos os elementos necessários para ganhar a corrida do biocombustível. Possuímos terra, água e sol. Em Jornal Folha da Região – Araçatuba, quarta-feira, 22 de agosto de 2007 – A-3, em artigo por Aline Gacino:

“O presidente destacou a importância da produção de biocombustíveis no momento em que a economia mundial se volta para produção de energias renováveis e a potencialidade de geração de empregos e renda do setor. ‘O biocombustível é um dos produtos com maior potencialidade de geração de emprego e é uma energia que não tem data marcada para acabar’, disse, comparando os biocombustíveis ao petróleo. ‘Além disso, polui menos o planeta’.”

Acreditamos também no futuro do biocombustível e da bioenergia, contudo alguns cuidados serão preciso tomar.

Em São Paulo queima da palha de cana nas áreas mecanizáveis deverá terminar em 2014. O prazo anterior, definido pela Lei 11.241, permitia a queimada da palha de cana até 2021. As áreas com inclinações, e que tinha data final para a queimada em 2031, vão ter de interrompê-la a partir de 2017.

A Folha da Região de Araçatuba, na data de terça-feira, 05 de junho de 2007, B-2, em artigo publicado por Mauro Zafalon e Denise Brito esclarece que essa determinação do final da queimada é conteúdo de um protocolo assinado entre a Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), p governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e as secretarias estaduais do Meio Ambiente e de Agricultura e Abastecimento.

“O maior desafio com o crescimento do setor é o treinamento dos cortadores de cana para qualificá-los como operadores de máquinas”, comenta José Carlos Moraes Toledo, em reportagem à Folha da Região de Araçatuba, em jornal de quinta-feira, 31 de maio de 2007, A-7.

“A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) aceitou proposta do governador José Serra de reduzir o prazo estabelecido por lei para eliminação das queimadas de canaviais no Estado de São Paulo. Os produtores assinaram protocolo de intenções que fixa novas metas para a adoção da mecanização da colheita. Nas áreas onde já há mecanização, a queimada deverá ser abandonada em 2014, e nas regiões com nível de inclinação acima de 12% - consideradas de difícil mecanização -, a data-limite será estendida até 2017. A Lei 11.241, aprovada em 2002, estabeleceu prazo até 2031 para que os produtores deixem de atear fogo às plantações. A norma continua em vigor, mas o governador avisou que “o Estado tem mecanismos para forçar o setor a cumprir os novos prazos”.[5]

Diante dos esforços que percebemos nas diversas áreas, política, empresária e sociedade percebemos que a queima da cana-de-açúcar possui seus dias contados. Com isso eliminaríamos várias conseqüências negativas ao meio ambiente. Ponto positivo para o homem, a natureza agradece.

 

 

 

2. PONTOS NEGATIVOS DO CRESCIMENTO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO

 

 

2.1. Prejuízos Sociais

 

 

Existe uma preocupação no sentido de o crescimento do setor sucroalcooleiro aumentar ainda mais as desigualdades sociais, no sentido de que os empresários do setor serão os únicos beneficiados neste processo evolutivo da cana-de-açúcar.

‘Porém, há preocupação que enquanto a expansão da indústria de álcool aumentará o PIB, e alguns brasileiros ficarão muito ricos no processo, a maioria dos brasileiros não se beneficiarão do crescimento das exportações de álcool. A declaração feita por Thomas Friedman, num editorial recente do jornal estadunidense New York Times que "realmente o Brasil pode ser a Arábia Saudita do açúcar" não deixa de ter um cunho perturbador, mostrando que esta pode ser a natureza das relações brasileiro-estadunidense no futuro. Dado os planos estadunidenses em aumentar as importações de álcool brasileiro, é muito provável que o sustento de muitos brasileiros, especialmente o pobre rural, serão sacrificado para manter o consumo daquele país.

Como a indústria segue se expandindo, e para tanto, mais terras são plantadas com a monocultura da cana-de-açúcar, problemas já existentes nas áreas rurais como o grande número de sem terras, fome, desemprego, destruição ambiental e conflitos agrários serão exacerbados. Num manifesto recente do Fórum de Resistência aos Agronegócios, uma articulação de ONGs de todo a América do Sul, diz, "a implementação do modelo de produção e exportação de biocombustíveis representa uma grave ameaça sobre nossa região, e sobre os recursos naturais e a soberania de nossos povos".’[6]

A realidade realmente nos preocupa, contudo uma reação política há de se fazer, a pressão do crescimento de nosso País torna possível uma exigência ainda maior da colaboração de nossos dirigentes. Realmente a possibilidade da exportação salta aos olhos de nossos empresários, mas também de nossos políticos. Esta é a hora de sindicatos, órgãos do terceiro setor, sociedade passem a exigir um resultado positivo, investimentos nas áreas básicas.

Os Municípios que irão receber novas usinas precisam colaborar com seus percentuais de apoio, facilitando moradia digna, saúde, educação, ou seja, apenas o que já seria de direito do povo. Com um apoio de todos os entes federativos há a possibilidade de um saldo positivo com o crescimento do setor.

O Brasil é um País humano, vivemos em clima de festa, é certo que há assaltos, homicídios e outras barbáries, contudo ainda assim somo um povo acalorado. Esse requisito torna o projeto ainda mais próximo do êxito.

“Segundo Marluce Melo, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Recife, Pernambuco, "A pobreza rural sempre esteve intrinsecamente relacionada à economia da cana. Mesmo quando Pernambuco era o maior produtor nacional de cana (até a década de 70), os níveis de pobreza eram dos maiores do mundo".’[7]

A mecanização do processo de colheita e o FAP – Fator Acidentário de Prevenção poderão ser utilizados para a redução do problema exposto no parágrafo anterior.

Através da mecanização será necessária a qualificação de mão-de-obra, ora com a exigência de maior qualificação há necessidade de aumento de salários.

O FAP através de redução de acidentes de trabalhos poderá resultar em planejamento tributários, levando as empresas a uma economia tributária. Contudo, a população precisa fiscalizar e denunciar trabalhos escravos ou semi-escravos, assim há de se atingir um resultado positivo ainda mais rápido.

Os ventos são favoráveis, resta-nos adequarmos.

 

 

2.2. Prejuízos ambientais

 

 

“O plano nacional de agroenergia do Ministério da Agricultura brasileiro também prevê uma rápida expansão da produção do etanol e um ritmo mais lento para o biodiesel. O BNDES estima que cem novas usinas deverão ser construídas só até 2010, agregando-se às 248 existentes na Região Centro-Sul e 88 no Nordeste (Folha de S.Paulo, 7.2.2007).

O plano postula que as metas sejam alcançadas sem pôr em xeque a segurança alimentar, as exportações agrícolas, e sem recorrer ao desmatamento para criar novas áreas de cultivo.

Este último ponto é particularmente delicado em razão do desempenho pífio do Brasil no que diz respeito à proteção das florestas nativas e à questão polêmica da expansão da cultura da soja na Amazônia Legal.20 Como observou Sérgio Teixeira Jr., "o Brasil vive a situação ambígua de ser o país das hidrelétricas e do etanol, mas também de ser visto como o vilão do desmatamento da Amazônia".21

Embora a substituição dos derivados de petróleo por biocombustíveis contribua em princípio para a redução das emissões dos gases de efeito estufa, é necessário atentar às condições de sua produção. Essas podem ter impactos tão negativos sobre o meio ambiente que o saldo da operação seja negativo. É o que aconteceu com a produção de óleo de dendê na Indonésia e na Malásia, importado como combustível pela Holanda. Estudos recentes detectaram um verdadeiro desastre ambiental, provocado pela destruição por fogo de florestas nativas e drenagem dos solos pantanosos recobertos de turfa, com a conseqüente emissão do carbono. Segundo Amigos da Terra, o estabelecimento de novas plantações da palma dendê responde por 87% do desmatamento ocorrido na Malásia entre 1985 e 2000. Os fogos de floresta na Indonésia lançam no ar 1,4 bilhão de toneladas de carbono por ano, ao passo que a drenagem dos solos de turfa libera 600 milhões de toneladas de carbono.

É absurdo, no entanto, culpar o biocombustível por isso. O impacto ambiental da produção de biocombustíveis vai depender dos cultivos escolhidos, da maneira como são cultivados e processados. O resultado pode levar tanto a uma redução de 90% das emissões de gases estufa quanto a um aumento de 20%, segundo a Agência Ambiental Européia de Copenhagen (cf. Rosenthal, 2007).

Quanto à competição pelos solos agriculturáveis dos biocombustíveis com a produção de alimentos considerada como preocupante por vários ambientalistas, Lester Brown aponta para o perigo do deslocamento pelos biocombustíveis da produção dos alimentos necessários para combater a fome que ainda grassa no mundo. Brown fala do embate entre 800 milhões de proprietários de carros e dois bilhões dos condenados à fome (Fortune, 21.8.2006). O argumento é um tanto demagógico, na medida em que a razão de eles passarem fome não está no déficit de alimentos, mas na falta do poder aquisitivo. Isso não deixa, porém, de colocar na agenda um tema da maior importância: até onde podemos avançar na produção dos biocombustíveis?”[8]

Qual seria mesmo o estrago ambiental provocado por uma das bombas enviadas em razão da guerra do petróleo?

Uma avaliação dos impactos ambientais (AIA) causados pelo plantio da cana-de-açúcar é a solução adequada para um desenvolvimento sustentável, contudo o projeto a ser desenvolvido em uma usina deverá conter um resultado positivo para o planeta como um todo, com soluções ecologicamente corretas.

O estudo do plantio da cana-de-açúcar, de suas conseqüências negativas e positivas, podem nos levar a uma solução viável econômica e socialmente, chegando a um resultado positivo para a saúde dos moradores regionais e dos cortadores de cana, bem como para a saúde financeira do setor e do País.

 

3. CONCLUSÃO

 

A gestão ambiental é instituto que se preocupa com o gerenciamento a uma atuação empresarial responsável, baseada em um desenvolvimento sustentável.

“A ação das ONGs internacionais em favor da diminuição da poluição atmosférica e o eminente risco de guerras entre os países produtores de petróleo vem forçando vários países a reformular a sua matriz energética. Tais fatores valorizam a produção de álcool como substituto do petróleo, o que reduziria a dependência externa do combustível fóssil, contribuindo também para a diminuição do índice de poluentes no ar. Especialmente neste aspecto ambiental, aumenta a cada dia o interesse do mercado mundial pela produção do álcool como combustivel e aditivo à gasolina.

A importância do álcool ficou evidente no Congresso Internacional sobre Açúcar e Derivados da Cana – Deversificacion 2002, realizado em Havana, Cuba, de 17 a 21 de junho, que abordou a questão dos usos alternativos para a cana-de-açúcar. Trata-se de uma preocupação comum aos diferentes países produtores, que sofrem com a expectativa de diminuição dos preços internacionais do açúcar e do aumento do petróleo no mercado internacional. No mundo inteiro, a busca de novas alternativas para o setor sucro-alcooleiro tem incentivado a realização de pesquisas sobre temas como produção de celulose a partir do bagaço da cana e ração animal do bagaço, entre outras, muitas delas apresentadas e discutidas em Havana.”[9]

A cana gera hoje, açúcar, álcool anidro (aditivo para a gasolina) e álcool hidratado para os mercados internos e externos, podendo ainda colaborar na produção de papel, alimentos, plásticos e produtos químicos, além de fornecer energia elétrica.

As tentativas do governo estadual, através do Protocolo assinado com a Única mencionado no corpo de nosso trabalho, demonstra a preocupação com o término da utilização da queimada como método para a colheita. O processo da mecanização poderá ter um final feliz, basta analisarmos o projeto da CTBio – Centro de Tecnologia em Bioenergia, projeto idealizado pela UDOP – União dos produtores de Bioenergia, Única, SIFAÇÚCAR, SIFAEG,ALCOPAR SIALPAR SIAPAR, SIAMIG E SINDICATO DA INDÚSTRIA DA FABRICAÇÃO DO ÁLCOOL DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. O mencionado projeto visa promover um Centro de Tecnologia, capaz de formar profissionais capacitados, aptos a desenvolver seus trabalhos no mercado sucroalcooleiro.

Com a assinatura do protocolo mencionado concluímos pela preocupação do setor em produzir um combustível verde nos mais variados aspectos.

Acreditamos em uma sustentabilidade ambiental no meio sucro alcooleiro, o mercado do álcool brasileiro, vive um momento estratégico, com isso ganha força política, podendo reverter a situação e tirar a mancha de poluidor ambiental que lhe é própria desde a origem da plantação de cana-de-açúcar.

O conflito ambiental imposto pelas plantações sem a utilização de uma gestão definitivamente correta e aplicável, pode ser facilmente revertida através de Avaliação dos Impactos causados pela plantação, colheita e industrialização da cana e derivados associando-se a isso um Projeto inteiramente verde, com isso traz-se as conseqüências positivas econômicas para o nosso País, bem como as ambientais, este último no sentido de troca dos combustíveis fósseis e meio de energia por um combustível verde, sem guerras, poluindo menos o nosso meio ambiente.

“A bioenergia traz a possibilidade de se ingressar em uma era inédita na humanidade, o desafio inédito de conviver em paz em torno de uma energia distribuída, sem as características sangrentas da civilização do petróleo.”[10]

Acreditamos que o desenvolvimento sustentável no setor sucro alcooleiro é possível, rentável e ecologicamente possível, façamos realidade o combustível verde.

 



[1] BORTHOLIN, Érika. GUEDES, Bárbara Daniela. Efeito Estufa. http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Efeito_Estufa.html

[2] GUIMARÃES, Thiago. Queima de cana-de-açúcar pode causar câncer em cortadores. Endereço Eletrônico: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u108437.shtml.

[3] /www.cenbio.org.br/pt/noticia_mostra.asp?id=2734

[4] FERREIRA. Manoel Eduardo Tavares. http://www.sucre-ethique.org/A-queimada-da-cana-e-seu-impacto

[5] www.cenbio.org.br/pt/noticia_mostra.asp?id=2734. A queimada dos canaviais. Notícias Cenbio

[6] Kenfield. Isabella. 8 de março de 2007Versão Original: Brazil's Ethanol Plan Breeds Rural Poverty, Environmental Degradation.Traduzido por: José Maria Tardin. http://www.ircamericas.org/port/4061

[7] op. Cit. http://www.ircamericas.org/port/4061

[8] http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142007000100003&script=sci_arttext

[9] http://www.cna.org.br/Gleba02/Julho/CanadeA%C3%A7ucar.htm

[10] NASSIF. Luís. Folha da Região de Araçatuba. Terça-feira, 5 de junho de 2007. texto: Gonzáles e a bioenergia

Ilustrações: Silvana Santos