Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
22/11/2007 (Nº 20) Um apelo ao bom senso
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educação ambiental
Um apelo ao bom senso
Data: 1/6/2007

Divulgado no grupo Democracia Verde em 28 de maio de 2007 | Carta à Sociedade Brasileira | A história nos revela, de maneira inequívoca, o imenso desperdício econômico, bem como suas graves conseqüências sociais e ambientais, que devem ser computados entre os passivos dos processos de redução das florestas brasileiras em índices superiores à 90% na Mata Atlântica, 50% no Cerrado e 20% na Amazônia.

Dois terços de toda madeira consumida no Brasil ainda são provenientes de florestas nativas. Em princípio, todos estão muito preocupados com a exploração ilegal de madeira. Ironicamente, tal preocupação, por mais sincera e legítima que seja, ainda não foi capaz de alterar, em larga escala, determinados padrões de consumo.

Ao comprar um apartamento em construção, quem verifica a origem da madeira que serviu para escorar e enformar as lajes, vigas e pilastras do prédio? Ao comprar um móvel de madeira maciça, quem identifica na mobília aquela árvore que viu sendo derrubada pela televisão? Ao construir uma casa, um telhado bem forte e resistente é utilizado "madeira-de-lei", quem verifica se a madeireira do bairro apresenta certificado de origem dos seus produtos? Quem verifica a origem da lenha utilizada nos fornos da padaria? Na pizzaria? Ou no carvão do churrasco?

É esta incoerência cidadã, que reforça, financia e retro-alimenta a exploração insustentável de nossas florestas nativas, e neutraliza a indignação contra os desmatamentos diante do primeiro hábito de consumo. Mais incoerente porém, é a campanha que tem sido levada a cabo contra o único setor produtivo que planta 100% das árvores que utiliza.

Afinal, de onde vem o papel que tem sido utilizado para imprimir os muitos manifestos, panfletos, cartazes e até mesmo livros, usados para difamar e questionar a atividade florestal no Brasil? De onde são extraídas as fibras naturais utilizadas na fabricação de toda a gama de papéis utilizados diariamente pelos cidadãos brasileiros, incluindo entre estes os críticos dos plantios florestais? Dos livros e jornais aos sanitários e embalagens, quem pode dizer que não os usa?

A silvicultura brasileira tem se desenvolvido de tal maneira que já é possível encontrar no mercado madeiras de excelente qualidade provenientes de plantios florestais. Estes produtos, resultados do avanço tecnológico da indústria florestal brasileira, apresentam-se como alternativas viáveis e competitivas às madeiras extraídas das florestas nativas do nosso país, contribuindo de maneira significativa para reduzir a pressão sobre as mesmas.

Nenhum outro setor industrial ou agrícola brasileiro tem cumprido tão rigorosamente normas e leis ambientais, especialmente o Código Florestal. Afinal, que outra atividade rural de larga escala tem averbado praticamente 100% das suas Reservas Legais e têm respeitadas as Áreas de Preservação Permanente, especialmente as margens dos rios e lagos?

Segundo dados do Programa Nacional de Florestas, a área total plantada com espécies de Eucalyptus e Pinus no Brasil é de 55 mil km2, ou cerca de 0,7% do território nacional, distribuídos pelos segmentos produtivos de celulose e papel, da siderurgia, moveleiro, energia, construção civil, resina, painéis estruturados e uma gama de outros produtos oriundos das florestas plantadas.

Além da área destinada à produção florestal, as empresas do setor têm sob seu controle e proteção mais 16 mil km2 destinados à proteção ambiental. Isso significa que para cada dez hectares de plantios comerciais o setor protege outros 5 hectares de nativas, os quais vêm sendo restaurados e protegidos adequadamente, exercendo funções ecológicas importantes como a de repositórios de biodiversidade e corredores ecológicos.

Segundo estudo recente realizado para o Ministério de Ciência e Tecnologia, o setor florestal brasileiro compreende cerca de 60 mil empresas, com um faturamento total estimado em US$ 21 bilhões, correspondendo a 5% do PIB nacional. O setor responde ainda por 14% do total arrecadado em divisas com as exportações brasileiras, sendo responsável pela geração de 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos, equivalente a quase 11% da população economicamente ativa do país. Contribuiu ainda com US$ 3,8 bilhões anuais na arrecadação de impostos.

Por estar vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o setor florestal se desenvolve sob regras e restrições que na prática não têm sido cobradas de outros setores rurais. Ao contrário de ser um problema, esta vinculação representa uma vantagem competitiva. Exemplo disso são as afirmações da ministra Marina Silva, referência internacional do movimento ambientalista, que classificou as florestas plantadas como "o plantio de árvores, acrescido de valores ambientais, sociais, culturais, tecnológicos e econômicos. É a aplicação da soma de conhecimentos gerados pelas universidades, instituições de pesquisas, empresas, com investimentos de mais de 500 milhões de dólares, ao longo dos últimos 35 anos e que contou com a ativa participação de centenas de pesquisadores especializados e milhares de produtores determinados". Ainda, segundo a ministra, "plantios de árvore, de soja, de milho, de arroz, de feijão e outros são realmente muito semelhantes, mas as florestas plantadas se diferenciam pela menor intensidade no uso do solo e no uso de defensivos, pelos ciclos mais longos, a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, a integração com as áreas de Reserva Legal, a manutenção as áreas protegidas na constituição de corredores ecológicos, a implantação de procedimentos de colheita de baixo impacto, a promoção do uso múltiplo dos produtos e serviços, o forte investimento na qualificação, segurança e saúde dos trabalhadores e a ação integrada e construtiva junto à comunidade do entorno através de programas educacionais e de fomento."

Todavia, o que temos visto no caso da campanha contra as florestas plantadas no Brasil é uma crítica ferrenha, mas quase sempre carente de um mínimo de embasamento técnico-científico, numa atitude que tenta demonizar, para a opinião pública, todo um gênero botânico com mais de 2.000 espécies, e de características distintas entre si.

Discursos e textos apontam as florestas plantadas como as principais ou, em alguns casos, as únicas responsáveis por toda uma gama de problemas sócio-ambientais que o país enfrenta, incluindo a falta de uma reforma agrária efetiva e eficiente, a política de juros, o modelo de desenvolvimento em curso no país e no mundo, a falta de trabalho e o desmatamento das florestas tropicais do país.

Esta campanha, levada por algumas organizações com o apoio de movimentos sociais de luta pela terra, e principalmente de entidades internacionais, tem apresentado à sociedade termos e expressões que carecem de um mínimo de conhecimento científico, de respeito à verdade e à dinâmica dos recursos naturais. É evidente que as plantações florestais não se comparam, em termos de biodiversidade, em paisagem e em serviços ambientais, às florestas tropicais nativas de nosso país. Entretanto, ao serem taxadas de "desertos verdes", seus detratores inflamados demonstram um enorme abismo de conhecimento, informação e bom senso. Em contraponto, os resultados obtidos por uma recente pesquisa feita pelo IMAZON, uma das organizações ambientalistas mais respeitadas do país, demonstraram que os assentamentos de reforma agrária têm sido responsáveis por parcela significativa dos novos desmatamentos na Amazônia.

As vantagens comparativas e competitivas da atividade florestal brasileira são reconhecidas mundialmente e têm sido motivo de grandes preocupações entre nossos competidores diretos. O Brasil consolida-se a cada dia como líder mundial na produção florestal, agraciado pelas dimensões territoriais e condições de solo, luz e água, associados ao conhecimento científico gerado pelas universidades, centros de pesquisas e pelos pesquisadores que integram o corpo técnico das próprias empresas.

A exploração de nossas florestas teve início com o descobrimento, e um dos recursos mais explorados deu origem ao nome de nosso país: Brasil. Hoje, com a soberania da nação e o desenvolvimento tecnológico proporcionado pela Ciência Florestal, o Brasil gera empregos e divisas através do mercado internacional de produtos de origem florestal, passando de detentor de uma fatia de 1% em 1990, para aproximadamente 5% em 2005, ao exportar US$ 7,5 bilhões num comércio global que movimentou US$ 160 bilhões no ano. Os produtos oriundos das florestas plantadas no Brasil contribuíram com mais de 75% dessas exportações.

Tudo isso, somado a uma vertiginosa capacidade produtiva, a maior segurança para os pequenos e médios produtores, e a possibilidade de agregar outros valores através de consórcios de culturas, seqüestro de carbono, entre outras, de certo a atividade florestal será um dos fatores de desenvolvimento sustentável de nosso país, à ser consolidado nas próximas décadas.

Não se pode pôr em risco todo este potencial por não conseguirmos, enquanto sociedade democrática, encontrar o caminho do diálogo, do entendimento e da responsabilidade social, econômica e ambiental. É fundamental a criação de espaços qualificados de diálogo entre os diversos setores da sociedade – empresas, governos, ambientalistas e movimentos sociais – nos quais os conflitos de interesse, que são naturais, possam ser debatidos e mediados de maneira transparente, legítima e pró-ativa. É inadmissível e profundamente lamentável que este debate seja conduzido de forma atabalhoada, imprecisa e com base em ideologias políticas ou em concepções equivocadas.

Os Engenheiros Florestais têm a convicção que tanto as florestas quanto a atividade florestal estarão sempre presentes no cotidiano dos brasileiros, no usufruto direto dos bens, produtos e serviços ambientais oferecidos pelos plantios homogêneos e pelas florestas naturais manejadas de forma sustentável.

Temos o nome de árvore, e o completo domínio tecnológico no setor florestal. Falta-nos, no entanto, construirmos juntos uma nação que se orgulhe de sua vocação florestal.

A Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais - SBEF, congrega profissionais com ampla atuação nas mais diversas áreas da Ciência Florestal, e que em comum têm a dedicação de anos de suas vidas ao estudo, pesquisa e desenvolvimento tecnológico na preservação de nossas florestas. Profissionais éticos, isentos, e realmente gabaritados para a análise técnica e científica dos plantios de árvores, suas características ambientais, econômicas e sociais. Como entidade máxima de representação destes profissionais, composta por 31 Associações Regionais de Engenheiros Florestais, a SBEF vem publicamente fazer este apelo ao bom senso, em prol do meio ambiente, do desenvolvimento e do bem estar social da nação.


Eng.º Florestal Glauber Pinheiro
Presidente da SBEF
Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais
www.sbef.org.br

Fonte: http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=12894

Ilustrações: Silvana Santos