Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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18/08/2021 (Nº 76) A ESCOLA DA FLORESTA NA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SANTARÉM, PARÁ
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A ESCOLA DA FLORESTA NA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SANTARÉM, PARÁ

Norma Ester Silva Santos1, Maria Mirtes Cortinhas dos Santos2, Helionora da Silva Alves3

1Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: normaester33@gmail.com

2Professora no Instituto de Ciências da Educação e no Mestrado em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida da Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: mmcortinhas@gmail.com

3Professora no Instituto de Biodiversidade e Florestas e no Mestrado em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida da Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: helionora.alves@ufopa.edu.br

Resumo: O objetivo da pesquisa foi analisar as contribuições da Escola da Floresta como promotora da Educação Ambiental na região de Santarém, Pará. A abordagem empregada foi qualitativa, utilizando técnica descritiva e explicativa, a qual é sustentada por análise documental do Projeto Político Pedagógico, registros históricos de criação, além da identificação e descrição dos espaços naturais e construídos, bem como as atividades vinculadas à prática da educação ambiental da Escola da Floresta. Foi realizada análise descritiva textual dos dados obtidos e percebeu-se que a referida escola se pauta em princípios metodológicos a partir da construção do pensamento crítico, bem como na sustentabilidade ambiental. As atividades mais pontuais idenficadas foram: trilhas ecológicas, aulas no meliponário e na casa de fazer farinha, entre outras atividades, consideradas incentivadoras para a aprendizagem sobre a relação entre o ser humano e a natureza, atuando, assim, como promotora e difusora da Educação Ambiental.

Palavras-Chave: Meio Ambiente; Laboratório Vivo; Atividades Educativas; Escola de Atendimento Complementar; Amazônia.

Abstract: The objective of the research was to analyze the contributions of Forest School as a promoter of Environmental Education in the region of Santarém, Pará. The approach used was qualitative, using a descriptive and explanatory technique, in which a documental analysis of the Political Pedagogical Project, the historical records of creation, in addition to the identification and description of natural and built spaces, as well as activities linked to the practice of environmental education, of the Forest School. Descriptive textual analysis of the data obtained was performed. It was noticed that the referred school is based on methodological principles from the construction of critical thinking, as well as on environmental sustainability.The more specific activities idenficadas were: nature trails, classes at the meliponário and in the flour-making house, among other activities, considered boosters for learning about the relationship between humans and nature acting in this way, as a promoter and diffuser of Environmental Education.

Keywords: Environment; Living Laboratory; Educational Activities; Complementary Service School; Amazon.

Introdução

A Educação Ambiental é um campo da educação, que visa difundir conhecimentos científicos sobre o meio ambiente, no sentido de contribuir para a formação de cidadãos mais comprometidos com o meio em que estão inseridos e assim gerar novos valores e comportamentos em prol de um meio ambiente de qualidade.

Vieira et al. (2020) destacam que Educação Ambiental é uma importante ferramenta que pode contribuir no processo de sensibilização da humanidade para o uso racional do meio ambiente ao preservar, conservar e recuperar este, por meio da articulação entre diferentes áreas do conhecimento.

A atual Carta Magna Brasileira, no artigo 225, estabelece como princípio constitucional que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, e enfatiza em seu primeiro parágrafo, no inciso VI, que a educação ambiental deve ser promovida “em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988).

A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional Brasileira de Educação Ambiental, destaca que a Educação Ambiental deve ser contínua e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo (BRASIL, 1999). Devido ao seu caráter holístico, humanista, interdisciplinar e participativo, a Educação Ambiental contribui muito para auxiliar o processo educativo, trazendo o envolvimento dos educandos em ações concretas de transformação da realidade.

Considerando, então, que a Educação Ambiental é uma exigência nos aspectos legais do Brasil, os estados, o Distrito Federal e os municípios têm a responsabilidade de implantar políticas públicas para sua efetivação, haja vista que, no município de Santarém, localizado no Estado do Pará, existe uma experiência inovadora, disseminadora de Educação Ambiental, a Escola da Floresta.

Essa escola constitui-se em um modelo para implementar a Educação ambiental a partir das orientações políticas da área; onde seu espaço físico é cercado de floresta secundária e incorpora em seu Projeto Político Pedagógico distintas ações educativas, pautadas na prática da sustentabilidade ambiental, bem como na transformação social. Nesse sentido, a pesquisa apresentada neste artigo teve como objetivo analisar as contribuições da Escola da Floresta como promotora da Educação Ambiental na região de Santarém, Pará.

Metodologia

A Escola da Floresta, o lócus de estudo (Figura 1), situa-se na Rodovia Dr. Everaldo Martins, no Km 26, na Comunidade do Caranazal, região do Eixo Forte do Município de Santarém, localizada na região Oeste do estado do Pará. A área escolar possui uma floresta secundária, com 33 hectares de extensão territorial, pertencente ao CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros).

Figura 1 – Localização da Escola da Floresta, em Santarém, Pará.

Fonte: Santos (2016)

A pesquisa foi desenvolvida por meio de abordagem qualitativa, aplicando técnica descritiva e explicativa. Nesse sentido, em novembro do ano de 2016, a Coordenação Pedagógica da Escola da Floresta foi ouvida com intuito de se conhecer o contexto histórico de sua criação, também realizou-se análise documental do Projeto Político Pedagógico da escola, além de análise em referências bibliográficas que abordassem esse espaço para identificação e descrição dos espaços naturais e construídos, bem como as atividades vinculadas à prática da Educação Ambiental. Ademais, análises descritivas textuais foram empreendidas.

Raízes Históricas da Escola da Floresta: Realidades na Amazônia Paraense

No ano de 1998, os dirigentes do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) adquiriram uma área de terra e mata nativa secundária medindo trinta e três hectares, localizados na Rodovia Dr. Everaldo de Sousa Martins, km 26, na Comunidade de Alter do Chão, no município de Santarém, Pará.

Em 1990, o CNS enviou um projeto para o governo de Finlândia com a justificativa da necessidade de conservação dos recursos da flora e da fauna, da extração e a coleta dos recursos da floresta, e a consolidação da reserva extrativista Tapajós/Arapiuns (Tapajoara), com o proponente de criação de mais áreas de conservação (Reservas Extrativistas) em todo o Estado do Pará.

Esse projeto foi assinado, naquela época, pelo Presidente da República Federativa do Brasil, pelo Governador do Estado do Pará, pelo Prefeito Município de Santarém, pelo presidente do CNS, pelo Presidente da Reserva Extrativista Tapajós/Arapiuns - Tapajoara, pela Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores (as) Rurais de Santarém (STTR-STM) e pelo Presidente da Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER).

O objetivo geral do projeto era o melhoramento das condições de vida das famílias que viviam na área de abrangência prevista no projeto. O valor previsto para execução desse plano foi um milhão e quinhentos dólares, dos quais, 60% desse montante deveriam ser investidos dentro da Reserva Extrativista Tapajós/Arapiuns - Tapajoara e 40% seriam investidos dentro do Estado do Pará. Assim, no ano de 2001, o projeto foi aprovado e, em 2002, a primeira etapa passou a ser executada, esse projeto foi denominado de Projeto Puxirum. Como não havia uma estrutura física administrativa, foi construída uma estrutura no terreno do CNS.

A previsão de execução foi de três anos, nesse sentido, no mês de dezembro de 2005, tal programa foi finalizado, porém, o espaço continuou a ser utilizado pela equipe do Projeto Peixe Boi e do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), sendo administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), no qual as atividades vinculadas a esse outro projeto e ao Centro foram desenvolvidas até o ano de 2006.

Após isso, a diretoria do Centro Agroextrativista da Amazônia (CAAM) e a diretoria executiva do CNS fizeram entre si um comodato com a duração de dez anos, entre os anos de 2006 a 2016, no qual foi firmado no documento que o CNS daria poder ao CAAM de administrar a estrutura deixada pelo Projeto Puxirum e, assim, porém, destaca-se que o CAAM não detinha recursos financeiros para manutenção do espaço no período em que ficou responsável pela concessão, considerando que o espaço já estava apresentando danificações na estrutura.

Sendo assim, a diretoria do CAAM, no ano de 2006, enviou um ofício solicitando apoio para a prefeitura de Santarém, a qual, na época, conduzia um projeto de produção de mudas de espécies nativas, frutíferas, ornamentais e medicinais, que poderia ser interessantemente ampliado para esse espaço. Nesse sentido, o documento foi encaminhado para a Secretaria de Finanças do munícipio, para verificar essa possibilidade, porém, o apoio a tal projeto e a sua aplicabilidade foram um engano, devido à prefeitura já ter um convênio estabelecido com outras instituições quanto a execução do projeto de mudas. Diante dessa resposta, a então Prefeita do município de Santarém realizou uma visita na área deixada pelo projeto Puxirum no intuito de verificar a realidade do local.

Após isso, outras visitas foram realizadas pelo Secretário de Planejamento, pelo Secretário de Governo, pela Secretária de Educação e Desporto e pela Diretora de Educação das Regiões de Rios, eles informaram que o local era de utilidade pública e que a Prefeita tinha pretensões de criar uma escola no local e o nome seria Escola da Floresta. A partir destas visitas foram realizadas reuniões, discussões e encaminhamentos dos trabalhos de restauração do local. No mês de fevereiro do ano de 2008, iniciaram-se os trabalhos de recuperação dos barracões, tablados e passarelas. Com isso, no dia 02 de junho de 2008, foi inaugurada a Escola da Floresta, um cenário singular, dotado de beleza naturais, caracterizando-se como um laboratório a céu aberto, onde os recursos naturais sobrepujam os espaços construídos.

Espaços Naturais e Construídos na Escola da Floresta: realidades propícias às vivências de Educação Ambiental

Nesse tópico, apresentaremos uma análise dos espaços naturais e construídos presentes no Projeto Político Pedagógico da Escola da Floresta.

Os ambientes naturais da Escola da Floresta possuem inúmeros tipos de plantas nativas da Amazônia como: seringueira, açaizeiro, bacabeira, entre outras. Também há a presença de animais de diferentes espécies, tais como: macaco prego, pássaros, preguiça, borboletas, aranhas, entre outros. Esse contexto propicia um ambiente adequado para se discutir uma proposta pedagógica direcionada para sustentabilidade, além de favorecer o envolvimento e a participação da comunidade local em determinadas ações presentes na proposta pedagógica da escola, para que haja um processo de aprendizagem contínuo acerca das vivências de Educação Ambiental.

Quanto aos espaços construídos, pode-se mencionar o barracão das aulas interativas (Figura 2), viveiros de plantas e meliponário (Figura 3), a Casa de Fazer Farinha e Auditório Central (Figura 4), além de outros espaços que podem ser utilizados como ferramentas didáticas.

Figura 2 - Representativo da casa das aulas interativas. A - Modelo rústico de barração construído a partir de materiais da própria floresta; B - Entrada do Barracão de aulas interativa

Fonte: Santos (2016)

Figura 3 - Mosaicos típicos da Escola da Floresta. A - Viveiro de plantas medicinais; B – Meliponário

Fonte: Santos (2016)

Figura 4 - Modelo típico da realidade Amazônia. A - Casa de faze farinha; B - Auditório Central

Fonte: Santos (2016)

Nota-se que esses espaços são dotados de uma simplicidade, com tons de uma beleza natural, num cenário ímpar, que normalmente é encontrado em ambientes que favoreçam a prática da sustentabilidade ambiental, nesse sentido, são realizadas aulas interativas a respeito da destinação correta dos resíduos sólidos, cuidados que devem ser tomados com animais peçonhentos e sua importância para o equilíbrio do meio ambiente, produção de medicamentos, além de conhecimento sobre os diferentes ecossistemas (CAVALCANTE, 2016).

Sendo assim, entende-se que as aulas interativas realizadas na Escola da Floresta muito contribuem para a troca de conhecimentos no processo ensino aprendizagem dos alunos, pois promovem o compartilhamento de suas vivências e realidades, além de amplificar a visão de muitos sobre outros contextos sociais. E, por tratar se de espaços naturais, onde se apresenta enorme biodiversidade, como é o caso da Amazônia, na qual há inúmeros atrativos naturais, tornam-se elementos facilitadores de aprendizagem aos alunos, pois têm, em suas mãos, um material concreto para a absorção do conhecimento.

A cerda do viveiro de plantas medicinais, sua presença em qualquer espaço se torna uma ferramenta para a Educação Ambiental, pois permite que os alunos conheçam e cultivem esse tipo de planta, aprimorando seus conhecimentos, além de promover o resgate dos saberes tradicionais de suas comunidades.

O meliponário, local destinado à criação racional de abelhas sem ferrão da fauna nativa, composto de um conjunto de colônias alojadas em colmeias especialmente preparadas para o manejo e para a manutenção dessas espécies, é visto como uma prática educativa de promoção e valorização econômica, bem como sustentável.

Sobre a casa da farinha, a estrutura é rústica, típica do povo da região amazônica e que permite retratar o mecanismo de produção artesanal da farinha de mandioca. Segundo Pinto (2002, p. 2), a farinha de mandioca é o produto mais popular da alimentação brasileira desde o início da Colonização:

Preparada de diferentes formas, a farinha, seu principal produto, é usada por todas as camadas da população. Presente tanto nos pratos cotidianos mais simples quanto em outros mais finos e elaborados, ocupa lugar de destaque no sistema culinário nacional e regional desempenhando em algumas regiões do país relevante papel na construção de identidades culturais. Os múltiplos e variados aspectos que envolvem o seu cultivo e transformação em alimento conferem-lhe considerável importância histórica, econômica e social. Da produção ao consumo final, um conjunto de práticas, relações sociais, cosmologias e representações simbólicas expressam significados cujos conteúdos revelam elevado valor cultural. Fortemente presente no imaginário popular, a mandioca é portadora de tradições que vão dos mitos indígenas às diferentes formas de expressão na linguagem popular, como ditados e modinhas. Produzida de norte a sul do país, o baixo custo da produção permite o seu cultivo pela população mais pobre, da qual constitui alimento básico, sendo, por isso, chamada de “pão de pobre”.

Assim sendo, a farinha de mandioca, normalmente está presente no cotidiano da alimentação dos amazônidas, como um acompanhamento em pratos mais simples e/ou mais sofisticados, considerada um integrante da culinária paraense.

É importante ressaltar que a casa da farinha constitui o espaço onde é realizada a maior parte das atividades, arrolados com o trabalho da mandioca; mas também é o lugar onde se pode fazer um resgate cultural dos povos indígenas e da agricultura familiar da região, que utilizam essa prática como uma das estratégias de subsistência da família.

A respeito do auditório central, este é o local adequado para reuniões de educandos e educadores ambientais, onde podem ser realizadas diversas atividades, como apresentações e palco também de debates envolvendo temas relevantes, entre os quais pode-se citar: o aquecimento global, a importância da água, o ciclo da água, a cadeia alimentar, o resgate cultural, a floresta, o desmatamento, entre outros, temas estes que estão sendo abordados rotineiramente na mídia escrita e televisiva, ao alcance de toda população humana (CALVACANTE, 2016; SANTOS, 2015).

Os temas discutidos pelos educadores e educandos servem como alerta e cuidados, analisados e discutidos de forma crítica e reflexiva, além de que possa fazer uma aprendizagem da Educação Ambiental que prima pela articulação das dimensões naturais e social, bem como pelo tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, os problemas decorrentes dessas relações e suas causas subjacentes (LOUREIRO, 2012).

Loureiro (2012, p. 34) destaca ainda que:

A Educação Ambiental promove a conscientização e esta se dá na relação entre o “eu” e o “outro”, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida.

Dessa maneira, é importante que os alunos percebam que a Educação Ambiental deve ser trabalhada no cotidiano escolar, para que possam compreender a importância desta educação que prima pela sensibilização quanto a relação ser humano e meio ambiente, por meio de uma transformação social, de reflexões críticas e diálogo a partir de diferentes conhecimentos e realidades.

Uma análise a partir do projeto político pedagógico da Escola da Floresta e as práticas da educação ambiental

O Projeto Político Pedagógico é a base que norteia as atividades pedagógicas e é o suporte para o desenvolvimento das ações no processo de ensino-aprendizagem. Por meio deste, visa-se poder garantir de forma efetiva o processo coletivo de participação e decisão dos profissionais da educação, além da participação da comunidade escolar.

Ressalta-se que para a construção do Projeto Político Pedagógico de qualquer escola é preciso que haja uma participação democrática, em que alunos, educadores e família possam discutir as prioridades do processo educativo. Assim, deve ser o fruto da ação coletiva entre escola, alunos, família e comunidade, pois será o meio utilizado para mostrar os anseios em relação à formação educativa que desejam fornecer ao público discente, para tanto, essa formação deve ser pensada em preparar pessoas críticas, éticas e atuantes na sociedade.

Gadotti (2015, p. 03), ressalta que no Projeto Político Pedagógico: “a autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria natureza do ato pedagógico”. A gestão democrática da escola é, portanto, uma exigência da em sua construção. Gadotti (2015, p. 02) destaca que:

O projeto da escola não é responsabilidade apenas de sua direção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção é escolhida a partir do reconhecimento da competência e da liderança de alguém capaz de executar um projeto coletivo. A escola, nesse caso, escolhe primeiro um projeto e depois essa pessoa que pode executá-lo. Assim realizada, a eleição de um diretor, de uma diretora, possibilita a escolha de um projeto político-pedagógico para a escola. Ao se eleger um diretor de escola o que se está elegendo é um projeto para a escola. Na escolha do diretor ou da diretora percebesse já o quanto o seu projeto é político.

Dessa forma, a construção do Projeto Político Pedagógico exige também ação política no constructo das necessidades reais da escola; o qual deverá ser o alicerce de toda e qualquer atividade da escola, assim, não deve ficar “engavetado”, mas sim ao alcance de todos, para que tomem conhecimento de todo referencial acerca da escola.

Cordeiro (2007, p. 91), a respeito do Projeto Político Pedagógico, diz que “este documento tem por finalidade ser uma forma de organização do trabalho pedagógico, caracterizando a identidade da escola e servindo de referencial, de direção balizadora das práxis educativa”.

A Escola da Floresta aponta em seu Projeto Político Pedagógico que é uma escola referência em Educação Ambiental, no município de Santarém, como instituição de ensino que transmite aos indivíduos conhecimentos voltados ao meio ambiente, tanto local quanto global, para poder vir a conservá-lo e, assim, contribuir social, cultural e sustentavelmente.

Sua visão, como instituição disseminadora da Educação Ambiental, pretende promover a sensibilização de alunos e professores das escolas municipais, bem como da sociedade civil organizada, além de oportunizar aprendizagem em Educação Ambiental através do exercício da cidadania, contribuindo para sua formação integral. Já a missão da instituição é promover uma Educação Ambiental de qualidade, no sentido de contribuir para um ambiente ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e primando pelo desenvolvimento sustentável, mudança de comportamento e postura de todos os envolvidos no processo educacional no Município de Santarém, pautada nos valores respeito, integridade, solidariedade e liberdade.

É bem notório que os propósitos apresentados na visão e missão estão bem articulados, no sentido de que a Educação Ambiental possa instrumentalizar o despertar da sensibilidade em busca de uma qualidade ambiental. Porém, é relevante mencionar que a busca da cidadania à luz da missão e visão da escola em discussão deva ser trabalhada no cotidiano da escola, pois é a partir da cidadania que os seres humanos devem saber os seus direitos e deveres e colocá-los em prática.

A questão sensibilização das pessoas quanto a relação estabelecida com a natureza está presente no objetivo geral da escola que é realizar atividades práticas visando a mudanças de comportamento e valores quanto à preservação e à conservação do meio ambiente, através de um espaço de compartilhamento de experiências e ações de Educação Ambiental junto à comunidade escolar municipal e à sociedade civil organizada.

Nessa perspectiva, os princípios metodológicos da Escola da Floresta pautam-se, essencialmente, na proposta de Paulo Freire, em que as atividades realizadas têm como essência o desenvolvimento da consciência crítica do educando, por meio do diálogo, do respeito, oportunizando a relação entre a teoria e a prática por meio do seu conhecimento como meio natural. É a mais sagaz realidade do ecossistema florestal amazônico (PPP – ESCOLA DA FLORESTA, 2008, p.7).

Ademais, entre as atividades educacionais realizadas mais pontuais no espaço escolar “Floresta”, encontram-se as trilhas educativas, as aulas práticas no meliponário e de educação alimentar, programa radio educativo, oficinas, etc. Esta última aplicando temas tais como: eu e o meio ambiente, ecossistemas, cadeia alimentar, a fauna e a flora, a água nossa do dia a dia, a história da comunidade, a higiene pessoal, a renda familiar, solo e agricultura, entre outros. Entende-se que estes temas valorizam o espaço amazônico que apresenta um laboratório a céu aberto e fazem com que haja a valorização do pensamento crítico dos alunos, de forma a compreender a efetiva realidade que existe em seu meio, bem como é o momento de aprender a cuidar do seu corpo e a valorização cultural da região amazônica: raça e etnia, folclore, comidas, etc); que precisam ser discutidos e entendidos a sua realidade e de outras realidades.

A abordagem dos temas nas oficinas é considerada o momento em que se pode ajudar a construiro pensamento crítico dos alunos. E para pensar criticamente é fundamental encorajar a reflexão crítica, a autonomia de pensar e conceber ideias, quanto as realidades existentes na sociedade, no sentido de se formar agentes pessoas atuantes para contribuir nas transformações da sociedade (JACOBI; TRISTÃO; FRANCO, 2009).

Quanto as atividades desenvolvidas nas trilhas ecológicas, há possibilidade de se ter o contato mais próximo com os recursos que a natureza disponibiliza, revelando os significados e as características do ambiente que está bem à frente do alunado. Porém, é importante destacar aos cuidados que se deve ter em relação aos tipos de vestimentas adequadas e utensílios essenciais, que se deve utilizar em uma prática educativa desta natureza.

Sob esse prisma, o tipo de profissionais para atuar na escola da Floresta é diversificado, entre os quais podem ser citados: biólogos, pedagogos, técnica de enfermagem, gestores em educação ambiental, técnico em meio ambiente, geógrafos, turismóloga, advogados, técnicos agrícolas, educadores ambientais e pessoal de apoio, uma equipe multidisciplinar que muito pode contribuir para o processo ensino-aprendizagem em uma região onde vivem os amazônidas. Portanto, esses profissionais precisam sempre buscar qualificações e atualizações no seu processo de aprendizagem, além de conhecerem a realidade e os elementos da região amazônica, para que possam promover o processo educacional com qualidade.

Destarte, finaliza-se com as palavras de Reigota (1999, p. 9):

Sabemos que a educação ambiental veio para ficar e que a sua continuidade depende da pertinência das nossas respostas aos desafios que surgem nas escolas, nas florestas, nos sindicatos, nas igrejas, nos movimentos sociais, nas empresas, nas universidades, nos museus, nas ruas, etc., esperando torná-la elemento intrínseco do nosso cotidiano.

Considerações Finais

O Projeto Político Pedagógico da Escola da Floresta não deixa claro sobre o desenvolvimento de uma prática educativa integrada, contínua e permanente

Mesmo que os princípios metodológicos da Escola da Floresta tenham como essência o desenvolvimento da consciência crítica do educando, no Projeto Político Pedagógico não transparece.

A Escola da Floresta é uma “escola sem muros” onde os alunos constroem o conhecimento com base no material concreto, participativo (ato político) que proporciona um contato mais próximo e ao mesmo tempo mais eficaz às questões ambientais amazônicas, favorável ao ensino, à pesquisa e à extensão, como instrumentos do ato de ensinar e aprender.

O papel da Escola da Floresta é promover e disseminar a Educação Ambiental, por meio de diferentes atividades. Os espaços naturais e construídos, presentes no Projeto Político Pedagógico, são laboratórios a céu aberto e são utilizados como ferramentas didáticas para o processo de ensino-aprendizagem a partir da Educação Ambiental, e que os conhecimentos ali construídos poderiam contribuir de maneira mais eficaz para a prática contínua em busca do resgate da consciência ambiental para a promoção de um meio ambiente amazônico de qualidade.

Referências

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BRASIL. Lei No 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 07 de julho de 2021.

CAVALCANTE, N. da S. P. Educação Ambiental na Amazônia e Neoliberalismo: uma análise das experiências desenvolvidas no Munícipio de Santarém-PA (dos anos 1990 a 2010). (Tese de Doutorado) Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2016, 220p.

CORDEIRO, J. Didática. São Paulo: Contexto, 2007. 1ed., 2007, 189p.

GADOTTI, M. O Projeto Político-Pedagógico da Escola na Perspectiva de uma Educação para a Cidadania. Disponível em: http://files.professorivo.webnode.pt/200000095-f1511f24b6/PPP%20-%20Moacir%20Gadotti.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2015.

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LOUREIRO, C. F.B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 4ed. São Paulo: Cortez, 2012. 165p.

PINTO, M. D. N. Mandioca e Farinha: subsistência e tradição cultural. Série Encontros e Estudos. Seminário Alimentação e Cultura-Projeto Celebrações e Saberes da Cultura Popular. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/FUNARTE/Secretaria do Patrimônio, Museus e Artes Plástico-Ministério da Cultura,2002. Disponível em: https://docplayer.com.br/15801463-Mandioca-e-farinha-subsistencia-e-tradicao-cultural-1.html. Acesso em: 24 de outubro de 2016.

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Ilustrações: Silvana Santos