Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Relatos de Experiências
18/08/2021 (Nº 76) OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA UHE TUCURUÍ NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA: UMA ABORDAGEM DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRITÍCA
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=4204 
  

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA UHE TUCURUÍ NO MUNICÍPIO DE ITUPIRANGA-PA: UMA ABORDAGEM DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

Leandro Laranjeira da Silva1, Mark Carvalho da Silva2, Célia Evangelista Brito3



1 Mestrando em Educação em Ciências e Matemática, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Professor da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga-PA. leandro.laranjeira@unifesspa.edu.br

2 Mestre em Química, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Professor da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga-PA. mark.carvalho@unifesspa.edu.br

3 Mestranda em Educação em Ciências e Matemática, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Professora da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga-PA. celia.evangelista@unifesspa.edu.br



RESUMO

Este trabalho teve como objetivo debater os impactos sociais, ambientais, políticos e econômicos advindos das usinas hidrelétricas, pautados no princípio da Educação Ambiental Crítica e destacando os desequilíbrios promovidos pela UHE Tucuruí no município de Itupiranga-PA. A pesquisa foi do tipo quanti-qualitativa, realizada com moradores da cidade, sendo que a entrevista foi realizada pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ressalta-se que foi de suma importância a participação ativa dos alunos durante o processo de elaboração da pesquisa, despertar neles um aprendizado e uma reflexão crítica acerca da realidade em que estão inseridos é a premissa básica de uma educação ambiental crítica que promove a emancipação das ideias e a construção de novas.

Palavras-chave: Impactos socioambientais, UHE Tucuruí, educação ambiental crítica.



ABSTRACT

This work aimed to debate the social, environmental, political and economic impacts arising from hydroelectric plants, based on the principle of Critical Environmental Education and highlighting the imbalances promoted by the Tucuruí HPP in the municipality of Itupiranga-PA. The research was of the quantitative-qualitative type, carried out with city dwellers, and the interview was carried out by students from Youth and Adult Education (EJA). It is noteworthy that the active participation of students during the research elaboration process was of paramount importance, awakening in them a learning and critical reflection about the reality in which they live is the basic premise of a critical environmental education that promotes the emancipation of ideas and the construction of new ones.

Keywords: Social and environmental impacts, UHE Tucuruí, critical environmental education.



INTRODUÇÃO

O estado do Pará por estar localizado na Região Norte do Brasil tem extensos recursos hídricos, historicamente a sua ocupação e desenvolvimento foi através desse importante recurso natural, ribeirinhos e indígenas, além do restante da população, vivem em função dos rios com uma dinâmica própria e característica da região. Devido a necessidade de produção de energia elétrica no país e observando sua matriz energética majoritariamente proveniente das usinas hidrelétricas, o Brasil tem o Pará como um celeiro de produção de energia, sendo assim inúmeros projetos do plano nacional de energia são contemplados no estado, aproveitando suas bacias hidrográficas. Tucuruí e Belo Monte são duas Usinas Hidrelétricas (UHE) que já estão em operação no estado, além de várias outras que estão em fase de estudos e planejamentos. Essas UHE e suas barragens impactam diretamente a região onde estão instaladas, impactos ambientais como desmatamento, perda da biodiversidade, entre outros, e impactos sociais como o reordenamento da população atingida, como o que aconteceu no município de Itupiranga-PA.

Diante do cenário dos problemas socioambientais acima citados é necessário promover uma reflexão acerca destes nas populações atingidas. A educação ambiental crítica pode, e deve ter esse papel. Tida como uma educação transformadora e emancipatória, busca inserir o aluno em um contexto em que ele seja o sujeito transformador da sua realidade, buscando entender e promover a sustentabilidade e a criticidade no que diz respeito aos aspectos socioambientais.

Este trabalho teve como objetivo principal debater os impactos sociais, ambientais, políticos e econômicos advindos das usinas hidrelétricas, pautados no princípio da Educação Ambiental Crítica e destacando os desequilíbrios promovidos pela UHE Tucuruí no município de Itupiranga-PA.

Para tanto foram realizados levantamentos com base em questionários que foram aplicados em uma amostra da população. Esta entrevista foi realizada por alunos de uma escola municipal, parte de um projeto da feira de ciências da escola onde aconteceu a socialização dos resultados obtidos.

CIÊNCIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Segundo o BRASIL (1998) descrito no Parâmetros Curriculares Nacional de Ciências Naturais (PCN) propiciam, ao aluno, um incremento de habilidades que lhe permitem entender o mundo e agir como cidadão, usando informações de caráter científico e tecnológico. Portanto, desenvolvendo uma capacidade de perceber a natureza como um conjunto de fenômenos mutáveis, e não conhecimentos distintos e estáticos, e o ser humano, juntamente com a sociedade, como atuante de modificações do mundo em profunda sintonia com os seres vivos e seus componentes do meio ambiente.

Entretanto, esses objetivos dificilmente são utilizados no ensino de ciências aplicados nas escolas atualmente, conforme BRUSCHI (2002) que destaca o ensino de ciências como uma fonte de informação desconectada da vida social do aluno onde o mesmo estuda durante oito anos conceitos de biologia, ecologia e educação ambiental, mas não aplica esses conhecimentos na realidade, demonstrando até mesmo descompromisso com a realidade vivida. Já para MARANDINO, SELLES, FERREIRA (2009) os conceitos e a metodologia utilizados em ciências de referência, sendo elas biologia, física, química, geociências entre outras, ganham tanta ênfase em nossas aulas de ciências que não convêm à necessidade de fornecer qualquer utilidade para os conhecimentos ensinados. Sobre essas dificuldades de aprendizagem em Ciências o PCN, BRASIL (1998) relata que:

A despeito de sua importância, do interesse que possa despertar e da variedade de temas que envolvem, o ensino de Ciências Naturais tem sido frequentemente conduzido de forma desinteressante e pouco compreensível. As teorias científicas, por sua complexidade e alto nível de abstração, não são passíveis de comunicação direta aos alunos de ensino fundamental. São grandes sínteses, distantes das idéias de senso comum. Seu ensino sempre requer adequação e seleção de conteúdos, pois não é mesmo possível ensinar o conjunto de conhecimentos científicos acumulados.

Bruschi (2002) propõe que “Se o ensino de ciências tem sido insuficiente para tornar as crianças capazes de mudar sua maneira de se relacionar com o meio ambiente, faz se necessário [...] investigar quais as variáveis dessa situação.” Ainda sobre as dificuldades de aprendizado BRASIL (1998) sugere que “diferentes métodos ativos, com a utilização de observações, experimentação, jogos, diferentes fontes textuais para obter e comparar informações, por exemplo, despertam o interesse dos estudantes pelos conteúdos e conferem sentidos à natureza e à ciência.” Portanto o ensino de ciências, se utilizados métodos eficientes, podem alcançar os objetivos propostos pelo PCN, como ilustra BRUSCHI (2002):

O ensino de ciências pode facilitar um viver melhor tanto ecológica como economicamente. Viver em um ambiente saudável e conservá-lo o máximo possível livre da poluição ou de elementos que o agridem, conhecendo e valorizando as suas riquezas é somar qualidade de vida”

EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

Os avanços em diversos campos de conhecimento científicos gerados mundialmente, e suas aplicações deixaram, e deixam, diversas cicatrizes no meio ambiente. A questão socioambiental gerada pelas aplicações dessas tecnologias gera problemas socioambientais, tanto globais como locais. Portanto é necessária uma reflexão crítica desses problemas e o enfrentamento destes pela sociedade.

A Educação Ambiental surge como uma justificativa de refletir a tríade Educação, meio ambiente e sociedade em perspectiva relacional. Diante disso, encontros no meio científico foram, historicamente, realizados para evidenciar essa necessária reflexão. Neste contexto, surgiram a Conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre o Ambiente Humano – Estocolmo (72), em 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, Tbilisi (1977) e Moscou (1987), em dezembro de 1997 ocorreu a Conferência de Thessaloniki (Grécia), Conferência Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a sustentabilidade, e no Brasil em 1999 é outorgada a Política Nacional de Educação Ambiental, todos esses encontros realizados trouxeram inúmeras contribuições para a implantação e o fomento da Educação Ambiental (GUIMARÃES, 2016).

É evidente que a Educação Ambiental é uma realidade, pautada em leis, orientações e estudos para alcançar seus objetivos, necessitando apenas que ela tenha uma visão mais crítica e reflexiva para agir eficazmente na sociedade.

Inevitavelmente surgiram duas linhas dentro da Educação Ambiental, a conservadora e a crítica. Para Dias; Bonfim (2011) a Educação Ambiental Conservadora é tida “como uma aquisição de princípios ecológicos gerais, que desejavelmente levarão a mudanças comportamentais”. Outrossim, Rodrigues (2015) destaca ainda que “o modelo tradicional, conservador, alcunhado como educação bancária, tende a não pensar o processo educativo como algo que promova mudança nos agentes deste processo, não pretende se imiscuir ao seio social de onde se origina.” Neste contexto, Loureiro (2004) é enfático ao dizer que “a Educação Ambiental conservadora serve para adequar os sujeitos pedagógicos ao sistema, mudar comportamentos sem entender a dinâmica existencial”.

Portanto a Educação Ambiental Conservadora não promove uma necessária reflexão do ser humano como agente transformador do seu meio, as iniciativas estereotipadas, pontuais e pré fabricadas, observadas em projetos em escolas, comunidades, unidades de conservação, meios de comunicação, empresas, como por exemplo, a coleta seletiva de lixo, o plantio de mudas de árvores e a realização de semanas ambientais (GUIMARÃES, 2016) não alcançam a necessária reflexão que a própria educação ambiental requer, foca apenas em atitudes engessadas, mecânicas e repetitivas que tendem a não promover a mudança necessária, tornando assim a EA um conjunto de práticas, pouco críticas, que não questionam as verdadeiras raízes do problema.

Guimarães (2016) aponta uma contundente dualidade no que tange aos aspectos ambientais, onde temos uma sociedade cada vez mais preocupada com questões ambientais, temos espaços educativos onde de alguma forma trabalham a educação ambiental, entretanto vivemos em uma época em que degradamos mais o meio ambiente do que em 20 ou 30 anos atrás. Diante disso ficam os seguintes questionamentos: será que a EA está dando resultados eficazes? Está promovendo a devida reflexão e ação na sociedade?

Assim a Educação ambiental crítica, segundo Dias; Bonfim (2011), divulga uma nova ética ambiental, baseada em ideais coletivos e sociais, visando uma redefinição das relações ser humano-natureza, a fim de romper com a ordem política, cultural, econômica dominante podem ser os primeiros atributos de uma educação ambiental crítica.

Guimarães (2016) é enfático ao afirmar que em uma proposta crítica de Educação Ambiental trabalha-se com uma visão sistêmica de meio ambiente, compreendido em sua totalidade complexa como um conjunto no qual seus elementos/partes interdependentes inter-relacionam entre si, entre as partes e o todo, o todo nas partes em uma interação sintetizada no equilíbrio dinâmico. Assim, Faria; Silva (2012) atribui essa modalidade como uma “Educação ambiental com compromisso social é aquela que articula a discussão da relação entre o ser humano e a natureza inserida no contexto das relações sociais”.

As ações tradicionais realizadas na educação ambiental, como plantação de mudas para reflorestamento, semanas ambientais, projetos de reciclagem, podem ser mantidas, entretanto elas não podem ser o ponto de chegada e sim o ponto de partida. É necessário inserir a criticidade de tais ações, propor aos educandos uma profunda reflexão das questões socioambientais, assim as práticas da educação ambiental, crítica, necessita de uma análise interdisciplinar da relação natureza-sociedade. Dias e Bonfim (2011) destaca que a EA-Crítica deve considerar o olhar dos grupos envolvidos, ser interdisciplinar, posicionar-se criticamente, educar para a formação de cidadãos, ser uma educação política e estar em todos os espaços formais, informais e não formais. Uma educação ambiental crítica deve conclamar os excluídos dos processos básicos das tomadas de decisão a entrar no jogo, mais do que isto, deve lhes dar as condições de indicar e realizar mudanças a seu favor e da natureza.

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DAS USINAS HIDROELÉTRICAS (UHE)

A necessidade do ser humano em produzir energia remonta desde a época da revolução industrial, inúmeras tecnologias foram aprimoradas para a obtenção de tal recurso, termelétricas, usinas nucleares, usinas hidrelétricas são apenas alguns exemplos. Na contramão, e somente quando o problema ficou aparente, surgiu a preocupação com os problemas ambientais que tais tecnologias ofereciam, a partir disso houve a necessidade de frear esses problemas, procurando alternativas energéticas mais “limpas”.

O Brasil utiliza uma matriz energética essencialmente hídrica, ainda que conta com as outras formas, no que tange a emissão de gases do efeito estufa (GEE) esta é tida como vantajosa em relação às demais, pois não é necessário a queima de combustíveis fósseis que emitem cargas de GEE na atmosfera. Por isso muitos consideram a matriz energética brasileira limpa, que ainda conta com energia extraída da biomassa vegetal, em relação aos outros países. Lima (2015) afirma que uma matriz energética desse tipo faz com que o Brasil tenha um baixo nível de emissões de CO2 e outros gases que causam o efeito estufa. Grande parte dos países industrializados têm níveis altos de emissões devido à elevada utilização de carvão para a geração de energia elétrica, a principal utilizada pela indústria.

Entretanto essa alcunha de “matriz energética limpa” é questionada, deixando um pouco os óbvios problemas socioambientais desses empreendimentos, e analisando as questões de emissão dos GEE é possível presumir a participação das UHE na emissão destes gases.

Fearnside (2012) em seu estudo afirma que a maneira em que as emissões de barragens são comparadas com as de combustíveis fósseis muitas vezes distorce os resultados, particularmente para o valor do tempo. Para o autor a quantidade de emissão varia consideravelmente dependendo da localização geográfica, idade da barragem, entradas externas de nutrientes e de carbono e as características do reservatório, tais como a vazão, o tempo de reposição da água, a área, a profundidade, as flutuações do nível da água e a localização das turbinas e vertedouros. Reforça ainda que as barragens em áreas tropicais emitem mais metano e tem uma enorme emissão nos primeiros anos devido à morte de árvores, à decomposição subaquática do carbono do solo e das folhas de vegetação original e a explosão de plantas aquáticas devido à maior fertilidade de água.

Característicos dessas grandes obras, as águas represadas para a obtenção de energia elétrica causam inúmeros impactos ambientais. Os estudos de Amorim; Jesus (2013) assinalam que o alvo de planejamento e construção das UHE, devido a sua generosa quantidade de recursos hídricos, a Região Amazônica sofre com esses impactos ambientais. Boa parte das represas das hidrelétricas em operação está com problemas gravíssimos de assoreamento, causados pelo arraste de sedimentos em consequência da destruição da mata ciliar, devido à fiscalização deficiente, atingindo proporções preocupantes. Desmatamentos também secam as nascentes (rebaixa o lençol freático) e provoca alterações climáticas, o que reduz drasticamente o volume de água nos rios. “Na maioria dos casos as áreas ‘afogadas’ são áreas produtivas e de grande diversidade de fauna e flora” (MAGALHÃES, 2006).

Fearnside (2015) atenta ainda para o fato que as hidrelétricas amazônicas causam perda de vegetação não só pela inundação direta, mas também por causa do desmatamento estimulado pela atração e o deslocamento da população e a abertura de estradas até os canteiros de obras das barragens.

Os impactos ambientais são os mais aparentes, mas, infelizmente, não são os únicos, no campo social são visíveis as mudanças, muitas vezes drásticas, que a população sofre especialmente na região norte, uma vez que os rios são as bases de subsistência de indígenas e ribeirinhos. Lima (2012) alerta que os impactos sociais “envolvem mudanças na dinâmica de vida das populações que são afetadas pelas construções de represas, envolvendo remoções, aumento da incidência de doenças, perda da fonte de renda dos trabalhadores etc.” Magalhães (2006) cita vários impactos sociais tais como: criação de expectativas, Alteração do cotidiano da população, Alteração demográfica, Intensificação do tráfego, Alteração no quadro de saúde, Perda de terras e benfeitorias, Desestruturação da unidade de produção familiar, Interferência no fluxo turístico da região, alerta ainda que os empregos temporários geram uma falsa sensação de prosperidade local.

Portanto é evidente que a construção das UHE impacta diretamente, e indiretamente, em vários aspectos (ambientais, sociais, econômicos) às populações atingidas. Especialmente na região norte esses impactos são agravados pelo histórico abandono político e social que a região sempre se encontrou, sendo necessário um estudo detalhado, principalmente no campo social, antes e depois da instalação das UHE.

METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado durante a Feira de Ciências da Escola Municipal de Ensino Fundamental Serafina Carvalho (FACASC), da Rede Municipal de Ensino de Itupiranga, Pará, que teve como tema Amazônia: Patrimônio Brasileiro, futuro da humanidade. Considerando que o referido município recebe impactos diretos da UHE Tucuruí é importante, e necessário, promover o debate que leva à reflexão e os questionamentos de todas as consequências, tanto positivas quanto negativas, dos impactos que a construção dessas obras gerou na população.

O projeto denominado “Potencial energético da Amazônia: os impactos ambientais da UHE Tucuruí” foram trabalhados em 6 etapas envolvendo os alunos da 4ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos na disciplina de Ciências Físicas e Biológicas:

1ª etapa: Apresentação do projeto para a turma, onde foi explanada as formas de obtenção de energia, a matriz energética brasileira, destacando as Usina Hidroelétricas.

2ª etapa: Problematização do tema de estudo, apresentados os impactos sociais, ambientais, políticos e econômicos dessas obras na população, destacando as UHE Tucuruí e UHE Belo Monte, ambas instaladas no estado do Pará.

3ª etapa: Pesquisas bibliográficas em livros, revistas e internet sobre o tema estudado. Elaboração e aplicação de questionário com o objetivo de averiguar os impactos da UHE Tucuruí no município.

4ª etapa: Realização do tratamento da informação, tabulação, análise, confecção e exibição de cartazes a partir dos dados coletados nos questionários.

5ª etapa: Construção de uma maquete da UHE (Figura 01 e 02) para ilustrar a estrutura e a dimensão dessas obras.

6ª etapa: Socializar os trabalhos confeccionados na Feira de Ciências (Figura 03 e 04) com o objetivo de instigar, debater e esclarecer os ouvintes sobre o tema proposto.

A pesquisa foi do tipo quanti-qualitativa, realizada com moradores da cidade de Itupiranga, sudeste do Pará. A entrevista foi realizada pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), esses alunos cursam a 4ª etapa- correspondente ao 8º e 9º ano do Ensino Fundamental II, é importante ressaltar que o objetivo da pesquisa foi de aferir a opinião dos moradores mais antigos da cidade sobre os impactos socioambientais.

Figura 01. Construção da maquete. Figura 02. Construção da maquete.

Fonte: Autores,2017.



Figura 03. Socialização dos trabalhos na feira de ciências. Figura 04. Sociliazação dos trabalhos na feira de ciências.

Fonte: Autores,2017.

A amostra da pesquisa foi escolhida pelo critério de experiência vivida pelos moradores que vivenciaram o antes e o depois da construção da UHE Tucuruí, observando todas as mudanças sentidas na cidade. Logo a amostra foi totalizada em 30 moradores, dentre eles havia professores, pescadores, lavradores e garimpeiros. A tabulação, análise e exibição dos dados foram realizadas e exibidas durante a Feira de Ciências da escola, nesta os alunos explanaram os dados para os visitantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o objetivo principal de debater os impactos sociais, ambientais, políticos e econômicos advindos das usinas hidroelétricas, destacando os desequilíbrios promovidos pela UHE Tucuruí no município de Itupiranga-PA, foi realizado um levantamento de dados nos quais implicou nos seguintes resultados.

Considerando a atividade pesqueira na região, devido ao município ser banhado pelo Rio Tocantins, foi elaborado a seguinte pergunta abordando a situação dessa atividade econômica, tendo em vista a implantação da UHE na região.

Gráfico 01: Referente à pergunta 01 do questionário aplicado.

Fonte: Autores, 2017.

O gráfico acima mostra que 56,7% dos entrevistados atribuíram a diminuição da quantidade de peixes devido à construção da barragem da UHE Tucuruí, a de se considerar que 20% dos entrevistados atribuíram a pesca predatória, comum na região devido à falta de fiscalização, 13,3% não souberam opinar e 3,3% atribuíram a motivos diversos. DE SOUSA et. al (2008) em seu estudo sobre os impactos da UHE Tucuruí na região afirma que o s moradores relatam sobre a preocupação no uso desordenado da pesca. Sendo que os moradores garantem que se não houver um controle, certamente o peixe irá acabar. Vale ressaltar que o aparecimento intenso de peixe, assim como sua comercialização, surgiu com a criação do lago. Além disso, as espécies características de água corrente desapareceram com a criação do lago, como é o caso de pescados como o filhote, dourada, pacu, etc. FEARNSIDE (2015) aponta que “no segundo ano após o fechamento da barragem de Tucuruí as capturas de peixe foram três vezes menores do que nos níveis pré-represa.”

Obras como essa impactam economicamente a região, devido a áreas alagadas as construtoras são obrigadas a repassar royalties aos municípios atingidos, diante disso foi questionado quanto a mudança da infraestrutura do município.

Gráfico 02: melhorias na infraestrutura do município.

Fonte: Autores, 2017.

De acordo com o gráfico, 30% dos entrevistados afirmaram que houve melhorias na infraestrutura e que 30% dizem que não houve investimento de nenhuma forma. Entretanto 40% afirmaram que houve investimentos, mas que não foi compatível com a demanda social. DE SOUSA et. al (2008) em seu estudo aponta que o acesso a serviços de saneamento como abastecimento de água ou, universais como a eletricidade, são precários para essa população. As políticas sociais como educação e saúde o cenário é semelhante, no relato dos moradores os recursos da Eletronorte, relativos à assistência para a sede dos municípios, não chega para quem vive no entorno do lago.

A especulação econômica é grande quando se trata de uma construção de grande porte, o município vive atualmente a mesma expectativa diante do derrocamento do Pedral do Lourenço, que viabiliza a hidrovia Araguaia-Tocantins. Diante dessa realidade foi questionado junto aos entrevistados sobre as mudanças econômicas sofridas pelo município após a implantação da UHE.

Gráfico 03: Situação econômica no município.

Fonte: Autores, 2017.

Os entrevistados foram categóricos ao afirmar que não houve melhorias na economia do município, 73,3%, momento vivido atualmente no município que simplesmente ficou estagnado economicamente.

As cidades paraenses que são banhadas por rio têm grande vocação turísticas. As praias fluviais, grandes bancos de areia que surgem na estiagem do rio, atraem inúmeros visitantes. O município de Itupiranga conta com algumas atrações turísticas, como a Praia do Macaco, a Praia da Rainha, entre outros. Diante disto foi questionado sobre as mudanças no cenário turístico após a instalação da UHE.

Gráfico 04: Situação turística no município.

Fonte: Autores, 2017.

Diante disso, 56,7% dos entrevistados afirmaram que houve aumento nas atividades turísticas. 36,7% dos entrevistados afirmaram que o fluxo turístico não mudou e 6,7% afirmaram que não houve aumento.

Com o intuito de verificar a opinião dos entrevistados, foram questionados sobre os principais benefícios e malefícios advindos da UHE Tucuruí no município. Como foram utilizadas duas questões abertas, caracterizando uma pesquisa qualitativa, para a tabulação e análise dos dados foi utilizado o critério de agrupamento por categorias de resposta. Diante disso temos os seguintes dados:

Gráfico 05: opinião dos moradores quanto aos malefícios.

Fonte: Autores, 2017.

O gráfico acima é bem categórico ao apresentar que maioria afirmaram que os impactos ambientais foram uns dos malefícios. A região sofre, e vem sofrendo grandes impactos ambientais, isso é evidente até mesmo para os moradores. O desemprego e o crescimento populacional foram destacados também.

Gráfico 06. Opinião dos moradores quanto aos benefícios.

Fonte: Autores, 2017.

A opinião dos entrevistados ficou bem distintas, serviços essenciais como energia elétrica e aumento de emprego foram citados, diante disso houve consequente melhoria na infraestrutura e economia do município. Distante do ideal, esse cenário de melhorias foi apontado diante da situação em que o município se encontrava antes da instalação da UHE, precária e caótica, como alguns entrevistados apontaram. É importante ressaltar que, apesar de tímidas, houve melhorias no município.

CONCLUSÃO

Ficou evidente que os moradores do município sofreram e sabem dos impactos socioambientais da UHE na região, muitos deles relataram que viram acontecer de perto todas essas mudanças significativas nas dinâmicas sociais dos moradores da região. Essas mudanças alteraram em vários aspectos a realidade vivida na cidade, alguns pontos melhoraram e outros permaneceram inertes. É importante destacar a falta de literatura e de informações a respeito de tais impactos na região, algumas informações dos órgãos estatais não conferem com a realidade encontrada na região.

Diante disso é bom ressaltar a participação dos alunos envolvidos na pesquisa, o despertar do pensamento crítico e observador deles durante a pesquisa, uma vez que os mesmos são originários da região, mas que, por causa da idade, não tem conhecimentos dos impactos que esse empreendimento causou na sua cidade. Portanto foi de suma importância a participação ativa deles durante o processo de elaboração da pesquisa, despertar neles um aprendizado e uma reflexão crítica acerca da realidade em que estão inseridos é a premissa básica de uma educação ambiental crítica que promove a emancipação das ideias e a construção de novas, sendo, portanto eles o sujeito ativo do conhecimento e não um mero espectador.

Há a necessidade de aplicar as premissas básicas da educação ambiental crítica no seio da educação, vários temas geradores podem ser utilizados dentro de uma mesma perspectiva ambiental multiplicando e difundido os conceitos dessa nova educação ambiental. Como temas geradores podem ser explorados o saneamento básico, precário na região, o desmatamento e a exploração vegetal, as poluições de água, ar e solo e etc. Enfim, temas que contribuíram para promover e complementar o ensino de educação ambiental e melhorar o aprendizado nas escolas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Fred Lima; DE JESUS, Antonivaldo. Impactos socioambientais da construção da UHE-estreito na comunidade de Palmatuba em Babaçulândia-to. Geoambiente On-line, n. 7, p. 01-20 pág., 2013.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais; SEF, Parâmetros Curriculares Nacionais. ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DE SOUSA, Nirvia Ravena et al. Lições não Aprendidas: Hidrelétricas, Atores Sociais, Impactos Socioambientais e a Política Nacional de Recursos Hídricos na Amazônia. IV Encontro Nacional da Anppas, Brasília - DF – Brasil. 4, 5 e 6 de junho de 2008

DIAS, Bárbara de Castro; BOMFIM, Alexandre Maia do. A teoria do fazer em educação ambiental crítica: Uma reflexão construída em contraposição à educação ambiental conservadora. VIII ENPEC–Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2011.

FARIA, Walter Júnior; SILVA, Luiz Mauricio. Repensar a Educação Ambiental: Um Olhar Crítico. REFACER-Revista Eletrônica da Faculdade de Ceres, v. 1, n. 1, 2012.

FEARNSIDE, Philip M. Impactos ambientais da barragem de Tucuruí: Lições ainda não aprendidas para o desenvolvimento hidrelétrico na Amazônia. HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA, p. 53, 2015.

GUIMARÃES, Mauro. POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA NA SOCIEDADE ATUAL. Revista Margens Interdisciplinar, v. 7, n. 9, p. 11-22, 2016.

LIMA, GUILHERME RODRIGUES. Análise dos impactos socioambientais de usinas hidrelétricas através do método de análise de grupamento. Monografia de Graduação de Ciências Econômicas, Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

LOUREIRO, C. F. B; Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.

RODRIGUES, Luiza HP Fraga. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA E PROBLEMATIZADORA–NÃO É UMA OPÇÃO, É A ÚNICA SAÍDA PARA DAR EFICÁCIA AO DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. História Geografia, p. 138. Rio de Janeiro, n.2, Mai. 2015.



Ilustrações: Silvana Santos