Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Relatos de Experiências
18/08/2021 (Nº 76) AULAS DE CAMPO COMO INSTRUMENTO PARA O DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO BAIRRO DE OURO PRETO EM OLINDA PERNAMBUCO
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=4199 
  

AULAS DE CAMPO COMO INSTRUMENTO PARA O DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO BAIRRO DE OURO PRETO EM OLINDA PERNAMBUCO

Cristiane Silva de Oliveira1



1 Especialista em Ensino de Geografia e Suas Tecnologias pela FABEJA, professora da Rede Pública Estadual de Educação de Pernambuco. e-mail: mockpet38@gmail.com



RESUMO

Aulas de campo correspondem a um instrumento relevante na abordagem de conteúdos geográficos vivenciados em sala de aula, possibilitando desmistificar a Geografia como disciplina decoreba. O aluno, através desta prática educativa pode com experiências de seu cotidiano conhecer mais de perto as transformações que o homem realiza no espaço que vive e estão explícitas na paisagem. Assim, o entorno da escola, o bairro onde se localiza, passam a ser um objeto de estudo muito valioso, especialmente das questões ambientais. Portanto, o bairro Ouro Preto, na cidade de Olinda - PE, onde está situada a EREM Áurea de Moura, é o cerne do estudo de questões ambientais como a poluição do riacho Ouro Preto, a ocupação das margens do riacho Ouro Preto, a coleta de resíduos sólidos no bairro, a importância de resquícios de Mata Atlântica. O procedimento metodológico foi constituído por três etapas: antes da aula de campo, fornecendo orientações quanto a observação, relato escrito e fotográfico. A aula propriamente dita e pós campo onde as informações levantadas foram organizadas e discutidas. Os alunos, diante da aproximação com a realidade ambiental do bairro de Ouro Preto, passaram a olhar diferenciadamente e a compreender fenômenos ambientais presentes na paisagem.

Palavras-chave: Aulas de campo. Diagnóstico ambiental. EREM Áurea de Moura.



ABSTRACT

Field classes correspond to a relevant instrument in the approach of geographic contentes experienced in the classroom, making it possible to demystify Geography as a discipline to learn by heart. The student through this educational practice can with experiences of his daily life know more closely the transformations that man performs in the space that lives and are explicit in the landscape. Thus, the school environment, the neighborhood where it is located, becomes a very valuable object of study, especially environmental issues. Therefore, the Ouro Preto neighborhood, in the city of Olinda -PE, where is located the EREM Áurea de Moura, is the core of the study of environmental issues such as pollution of the Ouro Preto Creek, occupation of the banks of the Ouro Preto Creek, collection of solid waste in the neighborhood, the importance of Atlantic Forest remains. The methodological procedure consisted of three stages: before the field class, providing guidance on observation, written and photographic reporting. The class itself and post field where the information raised were organized and discussed. The students, facing the approach to the environmental reality of the neighborhood of Ouro Preto, began to look differently and understand environmental phenomena present in the landscape.

Keywords: Field lessons. Environmental diagnosis. EREM Áurea de Moura.



INTRODUÇÃO

Os estudos sobre o ensino de Geografia permitem um questionamento da relação conteúdo e metodologia, criticando a chamada “lógica conteudista” de um ensino pautado na mera reprodução de conteúdo predefinido nos livros didáticos (MARTINS, 2006).

As aulas de campo são ferramentas muito significativa mediante as abordagens vivenciadas em sala de aula, sendo uma metodologia que implica na fuga do tradicional, da desmistificação da Geografia como uma disciplina decoreba, entediante, que desestimula o aluno tornando-o desinteressado às referidas aulas (SOUZA; CHIAPETTI, 2012).

A metodologia em questão rompe com a concepção bancária da educação, onde o aluno é visto como vasilha por parte dos professores para depósito de informações e no caso da Geografia, a torna uma disciplina descritiva na Educação Básica (FREIRE, 2011).

Assim, o aluno percebe que a Geografia vai muito além do que está nos livros didáticos e no dia a dia das aulas. Podendo ser vivenciada a partir de experiências de seu cotidiano, onde se processam as relações que constroem o espaço geográfico e onde, ele, enquanto aluno também participa desta construção e das transformações implícitas nas paisagens (CORDEIRO; OLIVEIRA, 2011).

Amorim (2006) enfatiza que, quando planejada, configura-se como uma eficaz estratégia de ensino-aprendizagem, problematizadora e mobilizadora do artifício de construção do conhecimento, capaz de desenvolver a observação crítica, o espírito científico de investigação, entre muitos outros procedimentos para o ensino da Geografia.

Para Sortegagna e Negrão (2005) é no campo que o aluno poderá perceber e aprender os vários aspectos que envolvem o seu estudo, tanto naturais quanto sociais. A partir do momento em que o aluno pode observar sua realidade com um olhar crítico, e não o olhar de quem está a passeio, poderá levantar questionamentos e por sua vez, reflexões do espaço vivido, aprendendo interativamente.

E por ser atrelado a proposta construtivista, a estratégia pedagógica em questão, favorece a construção de habilidades como a observação, a interpretação, conduzindo o aluno a aguçar sua percepção para a paisagem do seu entorno, entendendo sua gênese e atentando para atuação do homem na formação dos mosaicos paisagísticos (SOUZA; CHIAPETTI, 2012).

Sendo assim, surgiu a proposta em realizar aulas de campo no bairro de Ouro Preto em Olinda - PE com o objetivo de aproximar o aluno da realidade ambiental que o cerca, proporcionando a formação do senso crítico para com certas atitudes que degradam o Meio Ambiente.



PROCEDIMENTO METODÓLOGICO

A prática pedagógica, aula de campo, foi direcionada aos alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Áurea de Moura Cavalcanti, hoje Escola de Referência em Ensino Médio, situada no bairro de Ouro Preto no município de Olinda - PE. Sendo a referida prática, realizada a partir do ano de 2011, sempre no segundo semestre de cada ano letivo.

As aulas de campo foram constituídas de três etapas: uma antes, a aula de campo propriamente dita e o pós campo. Na primeira etapa foram escolhidos os pontos do bairro de Ouro Preto conforme os conteúdos a serem abordados estando os mesmos articulados com a temática meio ambiente. Assim, construindo o roteiro, escolhendo o material a ser utilizado em campo. A segunda etapa se concretizou com a visita em cada ponto estabelecido: o riacho Ouro Preto nas proximidades da Rodovia PE-15 (Figura 1), Trecho arborizado do riacho Ouro Preto, margem ocupada por residências (Figura 2), a praça do Voleibol, o morro do Peludo. A terceira e última etapa foi realizada em sala de aula onde os alunos receberam uma ficha de síntese onde cada aluno foi construindo sua concepção ambiental do bairro fazendo um diagnóstico.



Figura 1 – Riacho Ouro Preto Oliveira, 2015.



Figura 2 – Ocupação das margens Oliveira ,2015.

RESULTADOS E DISCUSSÂO

A referida proposta pedagógica foi realizada de maneira interativa e dinâmica sempre considerando o aluno sujeito ativo na construção do conhecimento, onde todas as informações se processaram de maneira dialogada, buscando aguçar a visão crítica. E neste processo, o professor deixa de ser um mero repassador de conteúdos onde o aluno não é levado a questionar, a opinar, só a escutar.

As aulas de campo se constituem em uma ferramenta que promove a ruptura com a concepção bancária da educação, onde o aluno é visto como vasilha por parte dos professores para depósito de informações e no caso da Geografia a torna uma disciplina de memorização na Educação Básica (FREIRE, 2011).

A partir das sínteses, notoriamente os alunos passaram a ter um olhar diferenciado para o bairro onde a escola está situada, pois muitos transitam diariamente em alguns pontos escolhidos para abordagem geográfica ambiental e não identificavam certos fenômenos presentes na paisagem.

Esta, tão importante ferramenta pedagógica motiva o aluno no aprendizado possibilitando um contato direto com o ambiente favorecendo a compreensão de fenômenos (VIVEIRO, 2006).

Por outro lado, um alicerce voltado a consciência ambiental foi estabelecido mediante a exposição textual e atitudinal do alunado no ambiente escolar como fruto desta experiência tão rica do ponto de vista pedagógico.

Portanto, a aula de campo permite que o estudante se reconheça como protagonista, construindo seu conhecimento e participando da produção e reprodução do meio em que vive (SILVA, 2016).



CONSIDERAÇÕES FINAIS

As aulas de campo possibilitam atrelar a abordagem de conteúdos da realidade cotidiana dos alunos e professores. Se revestem de um teor ímpar de motivação, quebrando o tradicionalismo que muitas vezes impregna as aulas de Geografia e que de certa forma distancia o aluno do processo de aprendizagem, criando um preconceito com a referida disciplina.

A Geografia tem essa ferramenta pedagógica como um aporte promotor de interação e diálogo entre alunos e professores que contribui no rompimento do processo de ensino e aprendizagem unilateral, conhecido ainda como concepção bancária da Educação.

O novo e diferente cenário de aula, permite que o aluno se sinta à vontade e mais descontraído, ao ponto de perder o medo de dar suas opiniões, levantar questionamentos e construir prazerosamente o conhecimento.

As aulas de campo, direcionadas aos alunos do Ensino Médio da EREM Áurea de Moura Cavalcanti trouxeram como resultados o olhar diferenciado aos fenômenos, especialmente os ambientais que ocorrem no bairro onde a escola está situada. Contribuindo na construção da consciência ambiental, mediante a percepção de cada aluno. Sendo um outro resultado nítido, o reconhecimento do papel como agente modificador do ambiente em que vivem.



REFERÊNCIAS

AMORIM, M. E. O trabalho de campo como recurso de ensino em Geografia, em unidades de conservação ambiental. 2006. 170 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Porto Alegre, 2006. Disponível em: https://lume.ufrg.br/bitstream/handle/10183/12504/

000625718.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 jun. 2020.

CORDEIRO, J. M. P.; OLIVEIRA, A. G. A aula de campo em geografia e suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem na escola. Geografia Londrina. v. 20, n. 2. p. 99-114, maio\ago. 2011. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index/php/geografia/article/view/7416. Acesso em: 20 jun. 2020.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 50ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

MARTINS, R. E. M. W. Os caminhos da geografia como disciplina escolar. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 13, Recife, 2006. Anais... Recife: UFPE, 2006, p. 18-24.

SORTEGAGNA, A.; NEGRÃO, O. Trabalhos de campo na disciplina de Geologia Introdutória: a saída autônoma e seu papel didático. Terra e didática. v.1, n. 1. p. 36-43. 2005. Disponível em: http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/td/

article/view/8637443. Acesso em: 20 jun. 2020.

SOUZA, S.O.; CHIAPETTI, R.J.N. O trabalho de campo como estratégia no ensino em geografia. Revista Ensino de Geografia. v.3, n.4. p. 3-22. jan/jun. 2012. Disponível em: http://www.revistageografia.ig.ufu.br/N.4/Art1v3n4.pdf. Acesso em: 30 jun. 2020.

VIVEIRO, A. A. Atividade de campo no ensino das ciências: investigando concepções e práticas de um grupo de professores. 2006. 172 f. Dissertação. (Mestrado). Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências. Bauru, 2006. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/90877. Acesso em: 15 jun. 2021.

SILVA, M. S. Potencialidades pedagógicas da aula de campo para a promoção da alfabetização científica: O circuito ‘trilha da pedra da Batata – mirante do Sumaré’ do Parque estadual da Fonte Grande (Vitória/ES). 2016. 172 f. Dissertação. (Mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo. Programa de Pós - Graduação em Educação em Ciências e Matemática - Educimat. Vitória, 2016. Disponível em: https://repositorio.ifes.edu.br/handle/12

3456789/121. Acesso em: 15 jun. 2021.

Ilustrações: Silvana Santos